De que serve mentir a idade se a tua
cara já está tão cheia de cronologia?
(Millôr Fernandes)
Lendo um artigo recente da antropóloga
Mirian Goldenberg, publicado na Folha de São Paulo com o título “Ridículas”,
conheci mais alguns exemplos das brilhantes comparações que ela faz entre
opiniões masculinas e femininas sobre determinado tema. No caso, como ambos os
sexos lidam com o envelhecimento. Elas sempre mais preocupadas em como
envelhecer bem, sem passar ridículo com um visual que não corresponda às
expectativas sociais, e eles sempre mais relaxados, sem abrir mão do estilo que
desenvolveram na juventude.
A maior preocupação feminina com a
própria aparência é socialmente um hábito antigo. Herdamos da sociedade de
corte, que contava com uma estratificação social bem menos diversificada. A
plebe era extremamente simples: homens, mulheres e crianças trabalhando no
cultivo da terra. A nobreza, mais segmentada, tinha homens que se dividiam
entre herdeiros, guerreiros e clero. Às mulheres não havia as mesmas opções, já
que o exército e a igreja estavam fora de questão.
Restava às cortesãs passar o dia
cuidando de si. Daí os vestidos espalhafatosos, penteados artísticos,
maquiagem, unhas, adornos, cremes e mais um milhão de itens que a maioria dos
homens sequer saberia como usar. A moda, dinâmica, mudou muito, mas respeitando
hábitos antigos e adaptando-se as necessidades. Seria impensável andar pelas
cidades contemporâneas com vestidos com armação de arame ou passar horas
seguidas se arrumando todos os dias.
Com o tempo os homens também passaram
por mudanças. Infelizmente o contingente militar e clerical ainda não foi
extinto, mas dentro das novas opções o machismo continuou sendo bem trabalhado
para que os homens levem determinadas vantagens.
Não é que não deixamos de usar algo quando
envelhecemos por falta de vaidade. O sentimento existe, nos preocupamos quando
surgem os primeiros fios de cabelo branco, de barba então, nem se fale (eu que
o diga), mas socialmente os cabelos grisalhos são muito mais aceitos nos
homens, o desleixo com a forma física é mais motivo de brincadeiras do que
críticas e a relação de homens mais velhos com mulheres mais novas é muito
menos censurada que o inverso.
Que na vida em sociedade nossa medida
seja influenciada pelo olhar do outro, é até aceitável, mas abrir mão de coisas
que gostamos com base no possível julgamento por parte de quem muitas vezes nem
conhecemos? Acredito que o ideal seria um pouco mais de personalidade,
independente do gênero.
Mas isso implicaria em dizer que se a
velhinha toda esticada por plásticas faz isso porque gosta, não por se
preocupar com os outros, ela estaria certa. Aceitar que aquele senhor sem mais
espaço para rugas no rosto, que pinta o cabelo e o bigode (cuja própria
existência anacrônica contradiz a meta de se manter jovem) com o preto mais
escuro, faz isso por opção, não por pressão. De fato, não estão errados, mas
caímos em outro problema.
A busca incessante pela juventude eterna
anda tão exacerbada que as pessoas se esquecem de viver a própria idade. Crianças
cada vez mais cedo se esforçam para se comportarem como adolescentes, que por sua
vez querem ser adultos. A partir de certa idade todos querem retornar a
qualquer custo para quando eram balzaquianos, já vi gente roubando dez anos da
própria idade, crente de que todos acreditavam. E os jovens? Esses que estão na fase mais almejada costumam
se preocupar mais em evitar a velhice do que em aprender a envelhecer.
De fato, podemos pensar que quanto mais
velhos, mais dificuldades enfrentamos, não apenas por parte da estética, mas
começamos a pagar o preço do tempo, nos tornamos mais dependentes, frágeis. Apesar
disso, e sem alternativas viáveis, cada fase tem seus problemas e vantagens,
que não podem deixar de ser vividas, tão pouco vividas fora de sua própria
época.
Ontem foi aniversário do meu irmão mais velho e por conta disso esses dias eu pensei no tempo que passa. Costumo contar o tempo nos meus parentes, especialmente nas crianças, que vão crescendo e se tornam adolescentes. Não vejo o tempo passar em mim, simplesmente porque não me reparo muito e sempre tem alguém pra reparar (rs). Ontem foram as tias me dizendo como engordei ou qualquer coisa do tipo. Vai ver elas também adotaram minha estratégia de contar o tempo no outro e não em si mesmo. Ia dizer que melhor seria não mensurar o tempo, mas isso seria escapismo, né? Teria algo de esquizofrênico fingir que o tempo não passa. A propósito, tem uma poesia sobre a passagem do tempo que gosto tanto, que até já postei por aqui: http://blogdas30pessoas.blogspot.com.br/2011/05/das-coisas-que-me-apetecem.html
ResponderExcluirÉ Híndira, o tempo parece sempre mais implacável com os outros ;)
ResponderExcluirNo meu caso, eu percebo que estou ficando velho quando vejo meus amigos casando. E eu percebo que estou ficando idoso quando vejo meus amigos tendo filhos! (né não, Felipe Lários???)
Relaxa, Alexandre... eu que sou precoce... ao menos nos dias atuais, porque minha mãe com minha idade já tinha 2!
ResponderExcluirPano pra manga essa discussão... conheço muito adolescente se achando "velho demais"... meu cunhadinho de 9 se preocupando em ter o corpo sarado... aiai..
Ótimo texto!
Alex,vou te contar....pra mim a tragédia do ser humano é existir...o resto a gente vai driblando,vou até tem contar meus segredinhos para atrasar o tempo.
ResponderExcluirMas a idade pesa porque as coisas vão mudando,o corpo avisa,isso é deprimente.
Vou te dar uma dica para retardar o envelhecimento,todos os dias de manhã você bebe água morna,com metade um limão ralado,que tem que ser congelado de noite.Isso limpa o organismo,purifica o sangue e aumenta a imunidade.E come bastante chocolate amargo,porque tem fatores anti envelhecimento,assim como o arroz integral.E um coisa fundamental,nunca,nunca,nunca lavem o rosto com água da torneira ou no chuveiro,isso acaba com a pele e envelhece,lavem com água de rosas ou água de coco.E pronto,você fica com cara de novinho pra o resto da vida...
Nossa, só tem gente velha aqui....ainda bem que tenho só 15 anos. rsss
ResponderExcluirIara, o chocolate eu posso transformar na minha filosofia de vida! Do arroz integral o bandejão dá jeito, mas o resto... acho que terei que me intoxicar com botox mesmo ;)
ResponderExcluir