Em Campinas, no Centro de Convivência, todos os fins de semana tem a feira hippie. Existe há mais de 40 anos. Já mudou de nome, agora oficialmente é feira de artesanato. Justo, afinal, fundada por hippies foi aos poucos ganhando barracas fixas e ultimamente vemos apenas um ou outro ‘neohippie’ sentado em algum canto para vender seus trabalhos. De hippie mesmo restou somente o apelido da feira de artesanato.
Há alguns anos eu queria presentear uma pessoa com um par de brincos. Fiz o esboço do que queria em um papel e fui até a feira e mostrei a um bicho-grilo, que com um alicate de bico e um pedaço de arame foi moldando minha ideia enquanto conversávamos.
Não lembro como chegamos a falar de pirataria, mas ele comentou, bem humorado, que deveriam combater a pirataria contra os hippies, pois estavam chegando produtos da China imitando a indumentária artesanal, trocando sementes, penas, pedras por similares de plástico.
Este ano novamente eu tive a intenção de um presente mais personalizado. Diferente da última vez, não sabia bem o que queria, mas tive a ideia de ir até a feira, imaginando que em uma ‘feira de artesanato’ haveria ao menos algum produto manufaturado, portanto original.
Nunca havia reparado que a feira hippie, que passou para feira de artesanato por não ter mais hippies, também não tem mais artesanato. Roupas, colares, brincos, pulseiras, os itens de sempre, porém tudo industrializado.
Não quero cair na armadilha do saudosismo e dizer que no início essas feiras – suponho que essa industrialização tenha se espalhado por todas do mesmo estilo – eram melhores. Mas isso me fez pensar no que significa um presente, que foi para mim a origem de toda essa história.
Variando de pessoa para pessoa, alguns acham que presente tem que ser caro, outros que deve ser uma coisa necessária, às vezes associam à utilidade. Uma definição interessante que encontrei é que presente ideal é o que a pessoa não sabia que desejava – ótima, mas que faz da escolha de um presente a tarefa mais difícil do mundo.
Diria que um presente tem que ser marcante. Não precisa ser caro, nem necessário ou útil. Poderia ser um guardanapo rabiscado em uma mesa de bar, por isso considero que quando o presente é um livro, o mais importante é a dedicatória.
Enfim, como a definição de um bom presente é variável, nessa época do ano as pessoas aproveitam para colocar em prática o verdadeiro espírito do Natal: ir às compras gastando tudo e mais um pouco com presentes que muitas vezes não vão agradar.
Este comportamento típico está relacionado à industrialização, não das quinquilharias hippies, mas da sociedade como um todo. A produção em massa abastece o comportamento padronizado de quem vive a vida como uma linha de produção. Não há espaço para originalidade. Consumir. Consumir o mesmo. Consumir o mesmo ao máximo.
Boa, Alexandre! Pensar num presente bacana é mesmo difícil. Sempre fico reconstruindo a história do produto antes de comprá-lo: de onde é? quem o fez? é legal? E me lembro dessa foto e desse texto de Eliane Brum: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/05/um-abraco-em-bangladesh.html Tão triste, não é? Abraço, Luana
ResponderExcluirTambém gosto mais das dedicatórias. Os presentes simples, em geral, são os mais valiosos.
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