Há tanta filosofia na língua que, nós falantes, mal podemos
imaginar.
Depois de quase 5 anos ensinando português para estrangeiros
eu tenho uma pequena coleção de histórias, dilemas, dificuldades e curiosidades
sobre o processo de aprendizagem dos gringos com a “última flor do Lácio”.
Quer coisa mais filosófica do que explicar a diferença dos
verbos ser e estar? (Principalmente para os falantes da língua inglesa)
Parece fácil. Ser =
permanente e estar = temporário. Mas por que Sou professor se amanhã posso Ser
fotógrafo?
Por que Sou
católico se semana que vem posso Ser
do candomblé?
E uma das perguntas mais frequentes: Por que sou casado e não estou casado? Ou então, quando é estou solteiro e quando é Sou
solteiro?
É difícil pensar em coisas que realmente são permanentes
nessa vida tão transitória; ou ainda é difícil entender que carregamos coisas,
títulos e nomes para a vida toda, mesmo quando não os queremos mais.
Há ainda aquelas velhas palavras que arrastam seus sacos de bagagem
e que são quase impossíveis de serem explicadas sem uma vistoria nas memórias
que elas levam. Foi o caso da palavra “assanhada”, sobre o significado fui
questionado essa semana. Seria possível explicá-la sem a visão machista que a
cerca?
Ou ainda o significado de “Ele é um galinha” e “ela é uma
galinha”.
Uma aluna do Uzbequistão, em uma mesa de um jantar de
casamento, ao ser questionada sobre qual trabalho fazia aqui no Brasil não hesitou
em responder que nada e arrematou com um sonoro: - Sou vadia! Se todos
entenderam o que ela quis dizer já é outra história.
Há de se explicar ainda que, na língua portuguesa, Eu tenho 32 anos – por que são meus,
vividos por mim – e não se pode falar que “eu sou 32 anos” e que Eu nasci
em 83 – foi minha vontade sair da barriga – e não “Eu fui nascido em 83“(I was born in 83).
Existem aquelas palavras como amor, paixão, saudade,
carinho, cafuné, que não precisam de muita explicação. Essas são facilmente entendidas
quando sentidas.
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