sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Estações

BUTANTÃ

Geladão de coco com leite
Salgado seco no Charme de Paris
Um minuto para salvar as crianças da Unicef
Quando menina eu fui atropelada em frente à Padaria Estrela
A gente se encontra ali perto do elevador
Te trouxe coxinha, querido, você precisa comer alguma coisa
Tec Tec Tec Tec Tec
Não aguento mais essa bengala.

PINHEIROS

Tia Elza falou
Tia Elza pediu
Tia Elza rezou
Tia Elza sorriu
Tia Elza
Tia Elza
Tia Elza
Tia Elza foi minha madrinha de crisma

Tchelza, irmã da Tcholanda
O nome das duas sempre esteve na letra T da agenda telefônica

Tia Elza. Rua Atuaú, 107
E eu nunca soube, afinal, o quer dizer Atuaú.
(o Google está logo ali mas tem coisas que a gente não precisa saber)

- Mãe, eu tô cansado
- Mãe, eu quero água
- Mãe, eu tô com fome
- Calma, menino, a gente toma um lanche no final

(mas só no final, senão todo mundo fica triste
e não quer mais passear)

Barracão
Cunha Gago
Antônio Bicudo
Pedroso de Moraes
João Moura
E as pernas passam
Enormes
apressadas
convulsas
pelas calçadas infinitas da Teodoro Sampaio

- mas eu tô com fome, mãe!


FARIA LIMA

Bim Bão
Bim Bão
Bim Bão
Que bonito faz o sino
Da igreja que seu irmão casou
Abençoado padre Alberto
Que morreu lá na Itália
Bim Bão
Bim Bão
Bim Bão

Por que não tem batatas no Largo da Batata?


FRADIQUE COUTINHO

- Fradique é um frade bem pequenininho?


OSCAR FREIRE

- Isso é coisa de gente rica igual sua tia Vera, menino! 
Vamos, 
vamos tomar um lanche 
e voltar pra casa
que daqui a pouco vai chover.


PAULISTA

Entrei na rua Augusta a 120 por hora
Botei a turma toda do passeio pra fora
Laralaralararalaralará
Hay Hay Johnny
Hay Hay Alfredo

Ajuda sua mãe com louça, menino

Quando mocinha, eu era tirada pra dançar em todas as músicas

Mariana, depois vai com a mãe lá pra cima

Do Carmo
Ifigênia
Kimie
Dona Matilde
Cícero
Anas todas
Cidas todas
Marias todas
Goreth

(Orlando)

E a tarde cai
devagar
preguiçosa
sonolenta
levando com ela
a senhora da sacola verde
e os dois pequenos
gêmeos
que lhe seguem
gêmeos
pelas ruas
gêmeas
do Jardim Arpoador

HIGIENÓPOLIS - MACKENZIE

- Eu estudei até a quinta série
Mas tenho um filho que fez USP
O que mesmo você fez lá, querido?


REPÚBLICA

Não posso deixar de amar
alguém
que é mãe
de minha neta

Ricardo
        Lívia
             Flávia
                   Catarina
                              Júlia
                                    Bianca


LUZ

Até na Linha Amarela existe luz no fim do túnel.

A piada é boba
velha
sem graça
infame
igualzinho
à esperança.


SÃO BENTO

São Bento, águas claras
Jesus Cristo no alto
O que tiver de mal no meu caminho
Afaste para mim passar

- Mim não faz nada, mãe...
- Ê menino que não para de me corrigir! Oração não se corrige!




Quando menina eu namorei um menino chamado Jesus


LIBERDADE

A

m
a
ç
ã

sempre 
repartida
dividida
retalhada
uma 
fatia 
pra 
cada 
um
como
nosso 
senhor
fazia

até 
dia
em 
que 
escondi 
uma 
maçã 
na 
calcinha
saí 
pela 
rua

escondida            escondida
              livre  livre
           plena     plena
          só                    só

não 
sabia
o prazer
           que era ter
                            uma maçã inteirinha, vermelha, perfumada, brilhante, só pra mim.

SÃO JOAQUIM

Que bonita pode ser uma vida, 
meu Deus, 
entre a bolsa amniótica 
       e a bolsa de sangue.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Eita que quase que esqueço!

Valei-me, rapaziada!
Só agora me dei conta de que já são onze e onze da noite. 
Liguei meu PlayStation 4 para jogar ou assistir algo enquanto espero a liberação de Anthem (jogo da EA com a Bioware que será liberado pra quem comprou em pré-venda logo mais às duas da manhã), e lembrei de que hoje é 21, meu dia de postar pra vocês!

No mês passado, lembro que postei de dentro do ônibus, e por isso, uma postagem super simples e crua, direto do meu app no Android.

Hoje, entrei rapidinho aqui, pois queremos trazer conteúdo a quem espera tão carinhosamente!
fato é que a vida anda corrida por demais, e que sabemos que por isso, muitos não postaram/postam mais. De minha parte, peço desculpas. Ontem, eu havia lembrado da data, mas hoje, foi só por Deus... Cheguei há pouco do trampo (tenho dois empregos, e por isso, trabalho literalmente o dia todo).

Queria MUITO trazer algo com mais qualidade pra vocês, por isso, tomo a liberdade de recomendar a última postagem (a mais recente) que fiz no meu blog, falando um pouco sobre minhas impressões de um filme que pra mim já é um clássico, "As vantagens de ser invisível"!

Para me dar a honra de sua visita, basta clicar aqui nesse link!

Tenham todos um ótimo final de dia!

Mês que vem, espero trazer novidades! 
Grande abraço!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Ayahuasca - primeira tentativa

São Paulo começava a entrar no ritmo do carnaval, mesmo estando há dois fins de semana da festa. No metrô, próximo à última estação e já quase vazio, uma moça fantasiada usava o vidro do vagão como espelho para beliscar os mamilos e deixá-los salientes sob a blusa sem sutiã, rendendo piadas de seus dois amigos que formavam um casal.

Na contramão desse clima de prazeres carnais eu chegava para minha primeira experiência com o chá de ayahuasca, a bebida indígena conhecida por aguçar os sentidos e facilitar a busca pelo autoconhecimento daqueles que a provam.

Era um ritual urbano, bem diferente de toda a conexão com a natureza condizente com o histórico da bebida. Meu maior contato com a natureza naquele dia foi através do temporal que caía sobre os 400 metros que separam a casa, onde se realiza o ritual, da estação de metrô.

Conforme os participantes chegavam, preenchiam uma anamnese básica e assinavam o termo de participação, enquanto Rose, a coordenadora, falava um pouco sobre o Universo Místico – a associação com valores espirituais, que congrega religiões para, segundo Rose, evoluirmos como seres humanos. O chá, ou vegetal, como dizem os associados, é uma ferramenta a ser usada nessa evolução.

Uma das observações feitas por Rose é que não deveríamos criar expectativas sobre como será a experiência com a ayahuasca. Justo eu, que não consigo ir à padaria sem a expectativa de que algo surpreendente aconteça no caminho? Eu já tinha ouvido relatos suficientes para que a falta expectativas estivesse fora de questão.

Preferia não ter diarreia. Eu sempre prefiro não ter diarreia. Se desse para não vomitar, também seria bom; ainda mais sozinho entre duas dezenas de desconhecidos. Já eventuais alucinações seriam bem-vindas, mesmo que desnecessárias quando o objetivo é o autoconhecimento, eu ficaria bem satisfeito em me sentir dentro de uma pintura de Salvador Dalí.

O fato é que as expectativas são ruins porque aos que bebem o chá pode acontecer de tudo, inclusive nada. Adoraria seguir com estórias extraordinárias, mas bebi a primeira dose e fiquei sentado na sala levemente iluminada por uma luz azul, ouvindo mantras orientais intercalados por músicas com referências ao cristianismo. Nada mais.

Bebi a segunda dose. O chá é levemente adocicado, um pouco amargo da fermentação. Desanimado com a falta de reação comecei a sentir um leve enjoo acompanhado de queda de pressão. Os organizadores haviam dito que isso poderia acontecer, e foi o que me salvou de não ter nenhuma reação para contar.

Levantei e saí da sala. Seguia determinado a não vomitar (nem desmaiar) entre desconhecidos. Sobretudo agora, quando estavam concentrados, muitos curtindo o transe em que não entrei. Mas não cheguei ao extremo. Lavar o rosto e esperar um pouco, olhando a chuva que insistia em cair do lado de fora, foi suficiente para que eu me recuperasse e voltasse ao ritual.

A ayahuasca é imprevisível. Mesmo os adeptos mais antigos não sabem qual será a reação do corpo. Entre tudo o que poderia ter me acontecido, não me aconteceu nada. Talvez pela falta de um rito mais elaborado, quem sabe as músicas voltadas ao cristianismo que tanto me incomodaram, mas não consegui um transe ou uma reflexão mais ampla do que estou habituado.

Não desisti. Acredito que apenas após essa experiência conseguirei seguir a recomendação que me foi dada. Da próxima vez, não terei expectativas.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Não acredito que disse isso

É fevereiro, véspera de carnaval.
Sei disso porque moro perto de umas ruas que recebem multidões, escuto o barulho.

O carnaval é imparável, tatuado na alma do brasileiro. Nem no meio do pior fevereiro da história do país, ele para.

Se passaram apenas quarenta dias desde o começo do ano e já sentimos o peso, como se fossem cinco anos. Tudo parece desmoronar, explodir, arrebentar, sair voando.

Dá a impressão de que março não vai chegar à tempo, tudo vai sumir antes.
Mas brasileiro resiste, ainda mais se a data estiver perto do carnaval. Nele ninguém encosta, o país pode virar pó, mas o carnaval fica inteiro.

E apesar de não ser fã do carnaval, fico feliz este ano, sei que pelo menos vai trazer um pouco de alegria, aliviar o ar, tirar a melancolia do nosso cotidiano.

Nunca pensei que iria dizer algo assim, mas é verdade, a chegada do carnaval pode melhorar os ânimos e fazer as pessoas esquecerem durante uns dias que o país navega no meio de uma tempestade.

Abençoado carnaval. Até pessoas que não gostam da data, como eu, estão ansiosas por um pouco de felicidade no ar.

Bem vindo. 

Iara De Dupont 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Sobre a vida

1-
A vida é uma merda.
a gente enrola, coloca granulado e fala que é brigadeiro.
Mas é uma bosta.

2-
A vida é como sair de casa e achar uma nota de dois reais:
você fica feliz, compra um picolé, senta na praça, se sente feliz e com sorte.
Quando chega em casa percebe que perdeu a nota de cinquenta reais que tinha no bolso.

Moral da história: aproveite as pequenas alegrias, pois são elas que fazem a vida ser boa, entre pequenas alegrias terão grandes tristezas e você terá que lidar com tudo da melhor maneira possível.
Moral da história: a vida é uma bosta.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Histórias a dois.


Já pensou em ser vento? Uma espécie de super-heróina, só que invisível? Não, só o vento mesmo, sem super poderes. Não se é o vento, o vento é só ar em movimento. Quer ser ar? Não, quero ser eu mesma mas, às vezes, penso que seria bom ser vento. Sabe o que te falta? Imaginação? Loucura!
Na cama, adormeceram de frente um para o outro. Apenas as mãos e o ar que expiravam era toque.
Ele acordou primeiro, na verdade tem dúvidas até se chegou a dormir, a cabeça ficou às voltas, maquinando. De frente ao espelho do banheiro, só lhe sobrou uma dúvida: batom vermelho ou lápis de olho preto. Os olhos ardendo e o sorriso na boca emoldurando o fundo, das letras gigantes, no vidro: “Em tempos sombrios se manter lúcido é loucura”.
Quando ela viu, o sorriso escapou da boca instantaneamente, foi engraçado acordar.
Ao voltarem para cama, na noite seguinte, os olhos dele ainda ardiam.
Tudo isso é alegria, ainda? Fiquei pintando espelhos o dia todo. Mentira! Foi loucura! E o que escreveu? “Lula Livre”