E o bar será sua segunda casa, seu “Bar, doce lar” como seus amigos dirão – os que ainda restarem, se é que restará algum, já que o Divórcio não costuma tolerar concorrentes. E quando você estiver no bar, tarde da noite, só mais dois ou três velhos palitando dentes ou cantarolando boleros, quando as portas já estiverem baixadas e o dono bigodudo começar a te olhar de modo insinuante, como quem diz ou fode ou sai de cima, o Divórcio sentará ao seu lado e pedirá uma cerveja e encherá o seu copo e o dele. Gentil como ele só, encherá o seu primeiro. Entre uma bebericada e outra, Ele lhe dirá coisas, lhe aconselhará a ficar o máximo tempo possível naquele bar, porque absolutamente qualquer outro lugar do mundo (e o Divórcio até deixará escapar um pouco de saliva ao lhe lembrar disso) será melhor do que aquele seu quarto alugado, de paredes mal pintadas, mobiliado apenas com aquela sua patética cama-box de solteiro, do guarda-roupa meio mofado de duas portas e de uma reprodução já meio amarelada de um dos quadros mais amarelados de Van Gogh. E você virará aquele copo e o próximo e pedirá outra garrafa (porque o Divórcio lhe ensinará muitas e impensáveis coisas, entre elas beber, mas beber mesmo, quantas garrafas for preciso, e sem fazer aquela sua tradicional cara de bebê tomando remédio) e beberá até a companhia do Divórcio lhe parecer aceitável, tolerável, por que não dizer desejável? Mas você precisará tomar cuidado, bastante cuidado, porque depois da sétima ou oitava garrafa, é bem capaz de você não conseguir mais enxergar os contornos do Divórcio e achar que Ele nem existe mais. Depois da sétima ou oitava garrafa, será você quem vai cantarolar o bolero e pedirá uma garrafa para cada um dos velhos, beijará na boca o dono bigodudo do bar e chorará em seus ombros assim que ouvir as primeiras notas do tema de abertura do filme noir que nesse momento vai começar (na TV que nunca é desligada, logo acima da geladeira de refrigerantes), lhe lembrando que é noite, que você está num bar sujo e que ninguém, absolutamente ninguém, te espera em casa.
segunda-feira, 22 de julho de 2019
sábado, 20 de julho de 2019
Chernobyl à brasileira
Membros do alto escalão do governo se unindo para omitir da população um mal invisível e letal, que ao longo dos anos faz com que a quantidade de pessoas com câncer aumente drasticamente. A série Chernobyl trouxe esse cenário macabro à tona e muitas vezes não percebemos o quanto essa realidade está próxima dos brasileiros.
Isso nada tem a ver com as duas usinas nucleares de Angra. O problema aqui são os agrotóxicos, que os ruralistas querem chamar de defensivos agrícolas ou produtos fitossanitários. Eufemismos para veneno.
Não é de hoje que o Brasil utiliza agrotóxicos proibidos em outros países. Também não é de hoje a pressão da bancada ruralista para que agrotóxicos ainda mais nocivos sejam liberados, com o pretexto de aumentar a produção e reduzir o preço final.
A novidade é que com o novo governo a liberação de novos agrotóxicos tem acontecido com uma rapidez nunca antes vista. Só neste ano, até o fim de junho, foram liberados 239 novos agrotóxicos. Um recorde inglório para um país que já não tinha bom retrospecto em relação aos venenos utilizados na lavoura.
Alegar que menos agrotóxicos traria prejuízo econômico é ignorar o custo incalculável do impacto que o veneno traz ao meio ambiente. A água contaminada desde o campo até a cidade, por produtos que não são eliminados após o tratamento, será consumida pela população, com efeitos diretos sobre o sistema de saúde.
É impossível estabelecer uma relação de causa e efeito inquestionável entre um problema de saúde e o uso intensivo de agrotóxicos, porém os danos à saúde da população é o que faz qualquer país, capitalista, que visa o lucro, vetar produtos que vêm sendo liberados amplamente no Brasil.
Oficialmente o desastre de Chernobyl teve 31 mortes confirmadas. Um número patético para uma tragédia daquela magnitude. Não é possível calcular o número exato. O perigo era invisível e a relação de causa e efeito com as mortes sempre foram questionadas pelo governo. Destino triste para uma população negligenciada pelo governo.
sexta-feira, 12 de julho de 2019
Voando
Já estamos no começo do segundo semestre, metade do ano. E passou voando. Digo, lento, mas voando. Tem sido um ano duro, cheio de surpresas ruins, mas resistimos, porque somos bons nisso, na resistência.
Mas sempre fica aquela pergunta, até quando poderemos resistir a tantas barbaridades? Que tão longe podemos ir debaixo de todas as pancadas sociais possíveis e impossíveis?
É difícil se concentrar na própria vida quando vivemos em um país cheio de incertezas e governado pelos piores tipos de pessoas. É tenso pensar em sobreviver quando todos os dias mudam o jogo.
Mas temos que seguir. Os livros de história nos apoiam e garantem: já enfrentamos touros mais ferozes, podemos enfrentar mais um, apesar do cansaço que sentimos.
Dizem que tempos melhores vão chegar. Estamos ansiosos. Esperamos que cheguem logo. Até lá só nos resta resistir.
Iara De Dupont