sexta-feira, 30 de julho de 2010

Dias melhores pra sempre

Hoje é um dia triste para a maior parte das crianças do país (e para alguns adolescentes mais ainda). As férias estão chegando ao fim. Na segunda-feira voltam as aulas e as brincadeiras vão rolar apenas em minutos cronometrados.

Pra quem já passou da fase escolar, é possível aproveitar essa transição de períodos para avaliar o que rolou até agora em 2010. Parece ½ obsessão de maluco por organização, mas descobri tardiamente que sem disciplina até a diversão pode ser prejudicada pela falta de tempo, dinheiro ou os dois juntos.

Não é preciso recorrer às pesquisas para comprovar que a maioria das promessas de Ano Novo ficou circunscrita à esfera da intenção. Como todos sabem, desejar sem agir é o mesmo que aguardar a Larissa Riquelme bater na porta de casa e se oferecer para guardar seu celular nas peitcholas. Contrariando o profeta, “quem (só) acredita (nem) sempre alcança”.

Se você ainda está divorciado do espelho porque não se matriculou na academia, continua monoglota porque tentou aprender línguas apenas em aulas práticas com seu par e a única viagem turística que fez foi para Diadema, tenho boas e más notícias pra você.

Comecemos pela parte ruim. Se abandonar projetos é algo recorrente e você tá naquela vibe Zeca Pagodinho (“deixa a vida me levar”), pode começar a rezar para os deuses “Sorte” e “Acaso”. Sem a ajudinha deles pouca coisa de legal vai acontecer e as páginas de sua existência serão tão líricas como as letras do Restart. #megatenso

A alternativa é tão simples que parece um tanto pueril: descomplique. Divida as distâncias longas em pequenos trechos e comece a andar hoje mesmo. Se perder míseros 200 gramas por semana vai terminar o ano com quase 5 quilos a menos. Cinco páginas por dia e em dezembro você terá lido os 2 volumes de Guerra e Paz, do Tolstói. Duzentos reais por mês e a passagem para a sonhada viagem à Europa tá garantida no próximo ano. Essa poupança mensal pode ser aplicada num nariz novo ou em outro tipo de recauchutagem e funilaria.

Ainda há 3.696 horas na caixa de 2010. Descole sua porção calipígia da cadeira e espane a poeira dos sonhos engavetados. Lembrando a frase de Benjamin Franklin, “pessoas boas em arranjar desculpas raramente são boas em qualquer outra coisa”. Feliz resto de ano pra você!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Preenchendo o vazio : flores e cores

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Hoje, um dia escuro e triste...[ 29/07/2010 ]

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Por que fomos alfabetizados mesmo?

Ok, está certo que existem pessoas que falam bobagens de nível avançado e fazem a gente perguntar: “Deus, por que alfabetizaram essa pessoa?”. Antes eu culpava uma seleção natural fajuta, governos do PT de inclusão social e excesso de SBT na vida. Hoje, já não tenho mais certeza. Temos uma convenção, regras, formatos e tudo que rege a ortografia. Mas não é legal pensar que a língua é dinâmica e se adapta às necessidades das pessoas?

Com tantos blogs por aí, gente escrevendo rápido, tom informal, falta de domínio de teclado, excesso de cafeína no sangue, é fácil cometer erros. Erros grandes. Virgulas ausentes, palavras trocadas, verbos conjugados de forma errada. É óbvio que devemos valorizar um texto impecável, bem escrito, claro, mas será que erros (até os de nível avançado), fazem a mensagem perder seu valor? A linguagem é capaz MESMO de destruir bons argumentos?

Falo isso porque não raro vejo por aí (ou até por aqui) fulanos dizerem: “Ah, mas olha, você nem sabe escrever. Conjugou o verbo errado”. Sabe, pra mim, isso nada mais é do que um equivalente gramatical ao “Ah, mas, mas, você é feio” ou “Ah, o jogo é meu, a gente brinca como eu quiser”.

Apontar erros nos textos serve muitas vezes para empobrecer a discussão, ser raso, evitar o raciocínio e desqualificar argumentos alegando que a estrutura utilizada é uma bosta. Mas isso vale mesmo? Não é jogar baixo? Por mais que possa ser difícil como decifrar códigos, prefiro um texto mal escrito mas coerente a um correto e vazio [viu, Lia Luft?].

Soa como discriminação quando alguém conta uma história na TV e troca as letras, erra os “érres”, resolve “pobrema” com o “adevogado” ou vai direto na “poliça”. É errado?Sim, é. Vai contra a cartilha da pré-escola, contra ao que a tia disse no primário e o que sua professora pregou na sua cabeça no ginásio. Mas é a história do cara, a linguagem do cara, e desconsiderar o que ele tá falando por isso, como se não tivesse valor, é besteira sim.

Nós já dividimos a cidade entre os que pegam ônibus e os que tem carro, os que usam iPod e os que tem iPobre, aqueles que fazem faculdade paga ou pública, os de cabelo ruim e os de cabelo bom…por favor, não vamos usar as letras e as palavras para discriminar alguém ou fazer com que o outro se sinta humilhado e ignorado. Palavras machucam, sim. Cuide bem das suas e, se for exigir respeito às normas gramaticais de alguém, limite-se às palavras que saem da sua boca, por favor.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Outros 500

Você conhece o Outros500?
O Outros 500 é a experiência de colaboração entre o Multishow e 500 das pessoas mais conectadas da internet brasileira, que selecionam e compartilham o que há de mais legal e novo em entretenimento.

Acho que muita gente aqui do blog dos 30 deveria estar lá.


Outros500 from Outros 500 on Vimeo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vocabulário Pernambucano

*Texto feito para o blog Carnavalizemos, de Circe Ferrario.  A proposta do blog era apresentar Pernambuco a umas amigas paulistas que vinham passar o carnaval 2010 por aqui.

Abestalhado é tipo bestaabiloladoleso,tabacudomongol, mamão mesmo. Mas mamão é mais pesado, cuidado. Na dúvida, e já com alguma intimidade, diga tabacudo – tipo boludo, do castellano. Há quem diga, ainda nos tempos de hoje, abigobal - mas ai é gíria antiga já. Isso tudo é diferente de cabeçudo, gente teimosa, que é diferente de cabeçoide, gente metida a cult que frequenta Cinema do Parque e Apolo e quer ficar por dentro dos cenosos – é que Cinema da Fundação já tá pop demais. Todas essas cabeças são diferentes de cabeção, que é gente com cabeça grande mesmo. Tá, não tão diferente porque, dependendo do uso, cabeção pode ser tipo tabacudo, bobo, que é diferente de João-bobo - que é aquele boneco que você bate e ele volta, bate e ele volta, sabe qual é?
Falando em João, esse nome é bem comum por aqui. Como José, Zé, Zezin, Josefa, Zefa, Zefinha, Maria, Mariinha, Marinete, Nildete, Detinha, Tinha, na verdade, a gente aqui bota tudo no diminutivo: painho, mainha, voinho, voinha massinha. Massinha vem de massa, que quer dizer legal, bacana, xuxu. Mas massa também que dizer outro tipo de massa, aquele cigarrinho de artista, beck, dola, chero, parada, fininho (mas que, dependendo da habilidade, da experiência e/ou da ansiedade mesmo, nem precisa ser tão fino assim). Ai, se você tem um desses, você tá de cima, se num tem tá de baixo, se já puxou tá lombrado, se puxou mto tá fritado (mas, assim, normalmente não se fica fritado de massa - tem que ser sequela grande ai), e, no dia seguinte, sempre bate aquela larica básica. Mas assim, fritar também pode ser se jogar na pista e dançar loucamente, pode ser fritar no sol porque não passou sundown, essas coisas.
As coisas aqui constumam ter muitos significados e a palavra Coisa substitui todas elas: vou ali naquela coisa, ou naquele coisa, ou naquele coiso, tô coisando uma coisinha aqui, que coisa, neh? Também se usa muito Negócio para um objeto não identificado: pega esse negócio, trás aquele negócio, sabe o negócio que a gente falou ontem…? É, eu sei, já devo tá causando um rebuliço na tua cabeça né? Mas fique peixe, tem um bocado, um mói, uma danação de coisa ainda por contar.
Por exemplo, se jorgar, que eu já tinha falado antes, é tipo se desprender, se lançar na vida, ser desavergonhado, sem medo de se mostrar, que é diferente de se amostrar – porque amostração é negativo e ninguém gosta de gente amostrada, visse? Só pra tu se ligar. Então, se jogar é exatamente o oposto de bueiro porque bueiro é fossa braba, normalmente de dor de amor – que pode ser platonismo ou gaia mesmo. O estado de bueiro também pode ter sido por causa de um  do boyzinho ou da boyzinha lá. Ou pode ser a falta de boyzinhos ou boyzinhas, a eterna falta deles. Então, quem vive no bueiro se chama emo. Esse povo, inclusive, merece mesmo um “pedala robinho” pra ver se toma jeitoJeito também é uma palavra esquisita. Uma pessoa pode ser jeitosa, que quer dizer bem apessoada, pode dar um jeito no pé, num quebrou, mas deu um jeito, saca?, e tem gente que precisa tomar jeito na vida, tipo esse povo emo ai. Pois é, aqui na minha terra pra tudo dá-se um jeito, é só deixar de onda e levar as coisas na moral.
Ah, já ia esquecendo umas expressões fundamentais do vocabulário pernambucano: fodado caralho. Então, do caralho é só quando a coisa é Do caralho mesmo, tipo fuderosa! É complicado explicar do caralho porque não existe nenhum termo no vocabulário brasileiro que alcance tamanho esplendor. Então, uma coisa do caralho é do caralho e ponto. Deu pra entender, né?
Se do caralho foi complicado, foda fudeu tudo. Tudo começa porque foda é adjetivo (foi fodafudidofodão), substantivo (a foda), verbo (foder, tipo “fodeu com a minha vida” ou “me fodi hoje”) e ainda pode superlativizar as coisas (fodíssimofodásticofuderosofuderozérrimo, e por ai vai). E assim, ele pode ser positivo ou negativo, depende sempre da construção frasal e da intenção de seu interlocutor. O que salva essa humilde linguista amadora é que o termo foda e suas ramificações não é exclusivo das pernambucanidades. E, provavelmente, vocês já devem saber usá-lo em algumas versões. As demais, vocês vão aprendendo com a convivência. É foda, eu sei. Mas, fazer o quê?
Tem outros termos importantes, e bem mais simples, da cultura breguística como os cafuçus, as piriguetes e as rarius. Cafuçus, ou cafusús, ou cafussus, a grafia é o menos importente, é aquele tipo de macho peão de obra, suado, de barba, cabelo no peito e camisa regata. Cafuçu não é usado, exclusivamente pra peão de obra carteira assinada. A cafuçuzisse é uma coisa que tá na essência, mesmo que o sujeto use Givenchi, não tem jeito. É importante dizer que cafuçu é diferente de cafa, que quer dizer cafajeste. Entenda assim: cafuçu is a way of wear e cafa is a way of life. Pode ter cafuçu cafa (e normalmente eles são). Mas não vamos generalizar, neh? Dá um crédito ai. Já tem pouco homem nessa cidade…
Quanto às piriguetes e as rarius, elas são as boyzinhas dos cafuçus. Eu ainda to entendendo direito essa parte maaasss, eu acho que as rarius são as mulheres mesmo e as piriguetes as concorrentes. Mas não levem isso tão a sério, é só uma teoria minha. Mas assim, ambam são ousadas, usam roupa apertada, colorida ou de oncinha, tamanco, kollene no cabelo, batom vermelho e vai pro Clube Internacional todo sábado de brega.
Bom, tem as palavrinhas dos olindences também, tipo pintinho. E aqueles tocos da calçada que aqui se chama "puta que pariu" ou "eita porra". Mas assim, é o tipo da coisa… se eu for falar tudo tudo, não vai sobrar margem de novidades pra quando vocês chegarem. Tirando que esse post já tá muito grande eu preciso trabalhar. Então assim, só pra terminar, pra confirmar tudo, você diz: com certeza! E, dependendo da receptividade, vaza ou se joga.

domingo, 25 de julho de 2010

Viva os 35 graus!

O relógio marcava 1h35 de uma madrugada de dezembro. O calor era de pelo menos 35 graus. Com a janela escancarada e sentado sobre a máquina de lavar eu mordiscava um sanduíche, quando ela apareceu pela primeira vez. Ela, a moradora da janela em frente. Não, não cabe aqui chamá-la moça, mulher, garota ou rapariga. Nestas condições só o que importa é que ela era a moradora-da-janela-em-frente – ainda que não se possa morar em uma janela.

Pois ela entrou de repente no quarto, acendendo a luz. Era o último andar do prédio vizinho, a poucos metros de mim e meu pão e, com a janela totalmente aberta, cruzou de uma vez meu campo de visão, sem mesmo notar minha expressão de susto. Presumo que voltava de uma festa, pelas roupas. Permaneci estarrecido durante aqueles dois ou três segundos que, na película de um filme, durariam muito mais. Recobrada a consciência, num impulso instintivo e intuitivo, voei até o interruptor e apaguei a luz. Esperei, sem agachar ou me esconder numa posição imoral. Pelo contrário: apagado no escuro, eu aguardava confortavelmente, como numa poltrona de cinema. Generosa, ela reapareceu. Somente com as roupas de baixo. O branco da lycra contrastava com a pele morena. A cintura poeticamente delineada dividia em dois o corpo de proporções áureas: nem grande, nem pequeno. Ideal. Sempre de costas, procurou algo na cama, achou e vestiu: um pijama de seda. Amarelo. Mas por cima da lingerie, que falta de cuidados com o conforto! Depois saiu do quarto. Como deixara a luz acesa, julguei que voltaria para o bis.

Creio que logo se arrependera do show deveras tímido porque, poucos minutos mais tarde, voltou. Na minha tela widescreen, de costas, tirou o pijama, sem suspense. E depois o sutiã. E depois tudo. Morena - já disse, eu sei. Analisou uma camiseta, levantando-a com os braços. Não, outra. Deixe-me ver... não, também. Tão feminina. Nesse decide-não-decide, ameaçava, mas não virava de frente. De repente virou-se de lado, de perfil. Caprichosamente, seu umbigo tocava a linha esquerda da janela, de modo que os seios se esconderam nos bastidores de um ponto cego. Alguém que a filmasse nua e depois censurasse colocando mosaicos nas partes íntimas não as delinearia com a mesma precisão com que a janela o fez, irônica. Calmamente, virou-se de costas mais uma vez e finalmente vestiu outro pijama, azul. E apagou a luz. Nem foi até a janela para me dizer boa noite. Mas não precisava: é como se o tivesse feito, já que começava aí um longo, longo relacionamento.

sábado, 24 de julho de 2010

Caído


Andando apressadamente para voltar ao trabalho após o almoço, o jovem se deparou com um homem caído no chão, aparentava ser de meia idade, estava bem trajado, com um terno preto e seus sapatos eram tão lustrosos que era possível refletir a luz do sol que naquele horário ardia. Outras pessoas passaram por ele e nada fizeram para ajudar, mas ele parou, talvez por ainda não possuir o coração gelado das pessoas dali. Ou pela boa aparência do homem. Ele sabia que não teria a mesma preocupação por um maltrapilho. Cruel, mas verdadeiro.
Ao se aproximar pode notar que o homem estava com os olhos abertos, com o rosto grudado na calçada, os braços estendidos com as palmas da mão viradas para baixo, e as pernas afastadas e levemente dobradas.
- Senhor? O que houve? Posso ajudar?
- Saía daqui! Eu estou bem...
Assustado com a aspereza do homem reparou que não havia vestígio de sangue em seu corpo, seu terno estava impecável.
- Mas senhor, não pode ficar aqui, deixe-me levantá-lo.
- Não! Não toque em mim! Não ouse tocar em mim! Eu já disse que estou bem, por favor, me deixe... Deixe-me em paz!
Outras pessoas pararam para ver o que acontecia. Uma mulher perguntou a ele o que havia com aquele senhor, e o jovem respondeu: É o que estou tentando descobrir. Mas ele não me deixa ajudá-lo.
- Queremos ajudá-lo senhor.
- Eu não preciso de ajuda. Não da ajuda de vocês!
- Credo! O senhor está bêbado? Só pode estar bêbado... Uma hora dessas e já está de porre.
- Eu não estou bêbado. Algo horrível aconteceu.
- O que aconteceu? – perguntou o rapaz novamente, ajoelhando se ao lado do homem.
- Não devo lhe contar. Já disse que estou bem, voltem para seus afazeres... Deixem-me em paz.
- Por Deus homem! Essas pessoas querem te ajudar diga logo o que está acontecendo. – disse um homem placa; que anunciava comprar ouro.
- Já disse. Não esta acontecendo nada.
- Mentiroso! Você acabou de dizer para mim e para esse rapaz que algo horrível tinha acontecido. – gritou a mulher
- Não é dá conta de vocês! Estou bem já disse.
- Ele é louco! Não perceberam ainda? Este homem esta pirado da cabeça. Cada coisa que a gente vê nessa cidade viu? – reclamou desapontada
E a aglomeração em volta do homem caído aumentou mais e mais. E isso atraiu a atenção dos policiais que naquele exato momento faziam ronda. Alguns que ali estavam comemoraram ao ver os oficiais se aproximarem.
- Agora quero ver se esse vagabundo não levanta daí rapidinho. – esbravejou um senhor que interrompeu o passeio com seu cão para ver o que acontecia.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou o oficial.
- Esse homem senhor, está caído aqui faz um tempo já, e não deixa ninguém ajudá-lo.
“ELE É LOUCO!” – gritou alguém no meio da multidão.
- Calma pessoal, afastem-se! Deixe me falar com ele. Edgar chame os paramédicos.
O policial agachou em frente ao homem.
- O senhor está bem?
- Eu já disse que estou. Mas essa gente não me deixa.
“PRENDA ELE!”
“LEVA PRO XILINDRÓ”
“DÁ UMA SOVA NESSE VAGABUNDO”
- Senhor, me desculpe, mas é evidente que não está bem, esta deitado em plena calçada, estamos na Paulista, está atrapalhando os transeuntes.
- Eu já disse, está tudo bem, vão embora! Vai ficar tudo bem se forem embora.
- Como assim vai ficar tudo bem? O que está havendo?
- Nada.
- Mentira senhor policial, ele disse para gente que algo horrível tinha acontecido. – esbravejou um dos curiosos.
- Qual seu nome senhor?
 - Meu nome não importa agora. Nada importa! Droga, mas que diabos? Deixem-me em paz.
O policial esboçou pegar em seus braços.
- NÃO TOQUE EM MIM! NÃO TOQUE EM MIM! Vocês querem saber a verdade? Vou lhes contar a verdade.
- Conta logo homem! Vamos acabar com isso. – disse o homem placa
- Tudo bem! Eu vou contar... Mas que Deus tenha piedade de mim, e de todos vocês, vocês não sabem o que estão fazendo. Estão cometendo um grande erro.
- Anda com isso! Não temos o tempo todo. – disse o policial
E o homem proferiu algumas palavras, quase que sussurrando. E aqueles que ouviram caíram ao seu lado e lá permaneceram.

Conto de Fernando Ferric
Impossível - Col. de Contos F. Ferric

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Amor

Nem o álbum de figurinhas,
Nem o choro do norte-coreano na hora do hino,
Nem o frango do goleiro da Inglaterra,
Nem o show do Maradona,
Nem o vexame da França (na entrada e na saída),
Nem a defesa com as mãos do atacante uruguaio,
Nem o polvo vidente,
Nem a pisada do Felipe Melo,
Nem a voadora do Holandês,
Nem os palavrões do Kaká,
Nem os erros de arbitragem,
Nem o pé frio do Mick Jagger,
Nem a insuportável vuvuzela,
Nem a catota do técnico da alemanha,
Nem a Larissa Riquelme,
Nem a vontade própria da Jabulani,
Pra mim o melhor da copa foi isso:



quinta-feira, 22 de julho de 2010

“Enquanto ela dormia...

...Nas almofadas daquele pequeno e intimista bar, envolta em seus braços, ouvindo o quarteto que estava no palco tocar um delicioso jazz, ele acariciava sua orelha, lançava-lhe um olhar apaixonado, apreciava a música que tocava e simplesmente a amava.”

terça-feira, 20 de julho de 2010

Sou um pai jovem

O caso é que minha filha também está se tornando uma jovem... é aí que começam meus problemas.

A cada dia que passa, percebo minha inocente e infante filha dar lugar a uma insolente e infame adolescente. E agora?

As transformações impostas pelo estrógeno de minha pequena parecem fazer efeito também em mim... a cada dia que ela se torna mais independente e rebelde, eu me torno mais conservador e tirano. Um insensível quanto aos seus gostos musicais, opressor quanto ao seu vocabulário e desconfiado quanto aos seus amigos. Me tornei um daqueles pais de amigos que tememos pelo mal humor constante e pela disposição em dizer sempre não.

Mas espera aí...eu fazendo isso? Porra, quem me conhece pode não reconhecer o parágrafo acima como uma descrição da minha pessoa. Sim... estou me tornando um hipócrita e tudo indica que pagarei com a mesma moeda tudo o que fiz minha pobre mãezinha sofrer, já que minha filha está cada vez mais parecida com a versão 1.7 de mim mesmo.

E o pior de tudo isso é que ainda tenho 30 anos – ou seja – eu ainda saio, fico bêbado, toco numa banda, faço merdas que não quero que minha filha faça... puts.

Na internet então, cada dia quero menos ser amigo da minha filha no Orkut. Tenho medo do que posso encontrar em seus scraps qualquer dia desses. Um dia me deparei com a frase no MSN: “Lino e Francis – mais que amigos”... enfurecido tive que me segurar para não bombardeá-la com inquéritos e castigos descabidos, não... tenho que agir com astúcia. Preciso ganhar sua confiança. Quero me tornar seu confidente, o “paisão” pra toda obra. Preciso suportar as pressões externas, o ciúmes e o instinto protetor para que ela traga a vítim...quero dizer, o seu namoradinho para nosso círculo familiar, assim eu poderei esfaq... quero dizer, apertar sua mão e dizer: “meu genro querido”.

Estou assistindo bastante “Dexter” para aprender a ser um bom anfitrião.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Entorpecente

Passeando em São Paulo, cruzei com uma dessas criaturas tão bonitas que a gente nem acredita que é de verdade. Alta, magra, com o cabelo bem curtinho e platinado, olhos azuis e roupas elegantes de inverno.

Mais tarde, quando voltei para casa, mamãe comentou ter visto o que ela disse ser uma versão melhorada de Adriana Calcanhoto no supermercado próximo (nota minha: queria Adriana Calcanhoto). A moça, a mesma que eu tinha visto, era tão linda que ela nem conseguiu se concentrar nas compras.

Me chamem de frívola, mas eu trocaria uns bons aninhos da minha vida para ser bonita como ela. Invejo profundamente essa capacidade desintencionada de reduzir a inteligência alheia a pó com um olhar, um sorriso ou a simples presença...

domingo, 18 de julho de 2010

Vou te dizer

Que o problema não é acordar cedo, e sim te deixar sozinha na cama.

sábado, 17 de julho de 2010

Vago



O meteorologista disse que a semana seria instável. Chuva, rajadas de vento, geada, mais chuva. E o frio, o único constante. As alterações climáticas coincidiram com minha última semana na cidade gelada. Enfim, fui embora. Despedi-me de algumas pessoas com pompa e circunstância. Chorei, enxuguei as lágrimas. Vi as lágrimas derramadas por mim. Para alguns dei tchau como se fosse o até amanhã de todo dia. Melhor assim. Odeio despedidas. Fico insegura, medrosa. Acho sempre mais doloroso para quem fica, mas dessa vez deixar para trás me doeu. Não foi dramático o luto, mas marcou a perda. Carrego, porém, a confiança de que o roteiro está correto. Algumas coisas vão mudar, mas ora, é a vida. Ora, era a hora.
Minha última semana foi de choro, alegria, alívio, dor, ciúme, mágoa, cura. Instável, como o clima. Mas o dia está limpo e claro. O tempo, quem diria, parece estar a meu favor.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Eu fico

Quero dizer que não vou sair do Blog dos 30. Não sou adepto a grande mudanças, procuro sempre um padrão. 
 
Ainda hoje tenho mesma conta do Orkut. Tenho a do Facebook, mas ainda não me acostumei acho muito cheio de novidade. Compro a mesma Folha de sempre, não gosto de comida agridoce e sempre sento no mesmo lugar e no mesmo restaurante, sempre que posso.
 
Sempre torci para o Corinthians, no Pacaembu sento no setor da curva e sei que não é o melhor lugar. O meu pai sempre sentava ali e pq mudar, então? Esse negócio de ter mais uma mulher na cama, também nunca fiz e prefiro assim. Mesmo tendo sonhado uma vez com isso e neste sonho eu estava muito feliz.
 
Nada me faz mais feliz que um prato de arroz e feijão, bife acebolado e ovo. Se tive uma pimenta melhor, esse história de pailard, croton é coisa de fresco. Inclusive essa história de sair do blog dos 30.
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 15 de julho de 2010

despedida

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vim aqui para dizer que estou abrindo uma vaga para este dia 15.

estou no blog dos 30 desde o começo e escrever por aqui nunca deixou de ser legal.

gostei de ver meus poemas por aqui.
gostei de conhecer as gentes e textos que andam e andaram por aqui.
e vou gostar de continuar lendo tudo o que se diz por aqui.


estou em um período de silêncio, então não vai ter poema de despedida...

se alguém quiser, pode me encontrar aqui, aqui ou aqui.


valeu!


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terça-feira, 13 de julho de 2010

Finalmente, um post feliz







a ligação. a surpresa. a expectativa. o tímido lance. a deambulação. os cliques para direita. o lugar privilegiado. o espetáculo. o minimalismo da apresentação. o labirinto da Sé e seus perigos a cada esquina. a impossível entrada do metrô. a Paulista à noite, quando tudo é possível. a longa conversa no bonito restaurante, até ser irremediavelmente tarde. o beijo com a coca-cola de fundo. os pés que doem na longa caminhada (pharmakoi: veneno, remédio, futebol). a descida ao augusto inferno das contradições. e tudo mais que são no mínimo o máximo. o calor no meio do frio. o chuvisco do chuveiro. a porta aberta em luz. esse enlaçar complicado, que é o reconhecimento de campo do desejo. (eu roubei isso de um poema de Safo) a conversa muito honesta de que não somos quem somos. o sucesso no fracasso. e o dormir enlaçado quando é manhã e a paisagem sem janela não nos avisa que a vida já iniciou outro tempo. acompanhar no café rápido da despedida. e na janela do veículo que te leva, eu viro a cabeça. é um adeus silencioso, à lispector. mas eu te levo comigo, por enquanto, no metrô e no trem que chacoalham famintos para a casa. querendo só o teu bem. o maior bem do mundo para nós.

[Hoje o post era para ser triste, tristíssimo, mas então eu me lembrei disso que escrevi e não te mandei nunca, e que já é passado, mas eu faço presente este presente, carente de futuro. onde houver o MAR.]


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[PLAY]

sexta-feira, 9 de julho de 2010

No meio do nada

Já não sei há quantos dias estou aqui. Cheguei numa sexta e hoje é quinta-feira, o que se supõe que vivo no meio do nada há uma semana. Mas, como boa cigana que sou, já esqueci como é o som da descarga e a cor de unhas demasiado limpas. Parece que sempre trabalhei das 6:30 às 10:30 arrancando as ervas daninhas que sugam a água das berinjelas, podando os pés de tomate e colhendo batatas vermelhas e brancas.

Removo a terra com as minhas próprias mãos atrás das raízes e nem percebo se há alguma minhoca, besouro, grilo ou plantas espinhosas ao meu redor. Descobri que existe minhoca verde.

Minha casa tem paredes brancas e teto verde. É feita de nylon e a porta é do mesmo tamanho que a janela, as duas se fecham com zíper. Dentro, um colchão, meu saco de dormir, um travesseiro, uma mala com algumas roupas, alguns livros e a minha revista de palavras-cruzadas, que já chega perigosamente ao final.

Os dias duram 16 horas. O calor é tão forte que saio da ducha suando e até a água do lago deixa de refrescar a partir do quinto segundo. Para se referir ao calor infernal, insuportável, sufocante, dos diabos, por aqui empregam uma palavra que também existe em Português, mas que eu nunca tinha escutado antes: canícula. Agora entendo os velhinhos que literalmente morrem de calor no verão francês e viram notícia mundial.

Meu vocabulário continua limitado: chaud, chaleur, canicule, été, lac, douche, eau são os substantivos que eu mais uso. O ser vivo mais citado é a mouche, ou seja, a mosca. Ontem Marielle montou uma tenda para Salomé poder dormir em paz. Aos dois anos e três meses, ela já fala fluentemente a frase « as moscas perturbam », com o sotaque do sul da França, para diversão dos pais, emigrantes do norte.

Amanhã à noite faremos uma receita brasileira: arroz com feijão, e brigadeiro como sobremesa. Até agora não entendi que raciocínio me fez decidir não carregar comigo um pacote de pão de queijo, acho que esse é o fim da minha carreira internacional como garota-propaganda da Yoki, atuando no Canadá, Alemanha, Dinamarca, Inglaterra, País de Gales, Espanha, Bélgica, Holanda, Argentina e Suíça.

Espero comentários, posto que tive que subir uma ladeira e atravessar o galpão das abelhas para usar o computador do vizinho com teclado francês faltando varias teclas. E já anoiteceu, portanto vou fazer o caminho de volta na escuridão total.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ciências sem sentido versão ilustrada

Li por aí, há algum tempo atrás, que os rodomoinhos de cabelo dos homossexuais giram no sentido inverso dos heterossexuais. Simples assim? Certo ou errado, passei um breve período reparando em nucas nas filas do banco, nas filas da lanchonete, em todas as filas.
Mais adiante reparei que sei diferenciá-los por meus próprios meios e faço isso sem um motivo maior, só por lazer, pelo prazer de observar, analisar, assim como tento adivinhar do quê são descendentes, qual o parentesco, no que trabalham, ou onde moram.

Abaixo, minhas observações ilustradas:





Mês que vem posto minha teoria do "Ângulo Axial".

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A bonitona encalhada

Oi, gente! Meu nome é Laura Henriques e, a partir desse mês, estou contribuindo também com o blog das 30 pessoas! Para começo de conversa, acho que cabe uma apresentação, né? Pensando muito, resolvi trazer pra vocês o primeiro post do meu blog pessoal...Depois desse primeiro post, muita coisa mudou na minha vida, mas, de qualquer forma, acho que é um bom início de conversa...
 
 
A bonitona encalhada, infelizmente, sou eu.

E essa frase, infelizmente, não é minha, é da Clarice Lispector. Claro que não a parte de ser a bonitona encalhada, que eu sou, mas a Clarice Lispector não era (até onde eu sei). Clarice Lispector era a mulher que matou os peixes, e o conto “A mulher que matou os peixes” começa com a frase: A mulher que matou os peixes infelizmente fui eu.

Já eu, que nunca matei peixes, gatos ou animais em geral (no máximo dois coelhos com uma cajadada só), sou só uma bonitona encalhada e este texto é um primeiro desabafo.

Porque, sobre mim, além de saber que sou a bonitona encalhada, é necessário que você saiba que sou a rainha dramática e exagerada dos desabafos, sempre suspirosa e sonhadora. Sou eu assim.

Por muito tempo esperei chegar mais perto do coração selvagem, aliás, acho que desde que eu conheci o “Perto do Coração Selvagem”, da Clarice, que sonhei escrever uma coisa tão perto, tão do coração e tão selvagem, arrebatadora. Acontece que o tempo foi passando, e, num momento epifânico (o exato momento em que me tornei a bonitona encalhada) constatei que, se ficasse esperando ser a Clarice Lispector não ia escrever nada nunca. E comecei a escrever essas linhas...

Então, antes de mais nada, peço desculpas por não conseguir produzir nenhum primor de literatura, e desde já não prometo nada além de uns casos que aconteceram comigo ou com alguém que eu conheço bem. Quanto ao coração selvagem, bem...posso dizer que meu coração já foi bem mais selvagem.

Minha admiração por Clarice começou na infância, com o texto da mulher que matou os peixes, que já apresentei. Achei essa frase tão forte, na maturidade dos meus nove anos, que nunca mais esqueci. Usei-a com várias aplicações distintas, e posso garantir que afirmar tão categoricamente que você fez alguma coisa sempre traz um certo efeito impactante.

Adorei, desde a primeira leitura, a sinceridade arrebatadora da confissão.

Testei as possibilidades dessa assertiva. Era só minha mãe descobrir alguma coisa que tinha saído errado na rotina que eu usava a frase, mais ou menos assim:

- Laura, você fez dever?

E eu, séria:

- A menina que não fez dever, infelizmente, fui eu.

A menina que sujou a roupa, infelizmente, fui eu. A menina que tira meleca, rabisca a parede, tudo havia sido eu. Muito boa essa Clarice. Sempre achei.

A fase Clarice da minha infância passou no exato dia em que a professora recomendou a leitura de outro livro da mesma autora: “A vida íntima de Laura”.

Foi o ápice da felicidade, eu, que já amava Clarice, eu, que já chamava Laura, não podia me conter quando chegou a recomendação da leitura. Achando-me a figurinha carimbada do álbum, a mais importante das pessoas, atazanei minha mãe para comprar logo o livro.

E qual não foi minha surpresa, quando li o primeiro parágrafo (pelo visto, as primeiras linhas de Clarice Lispector são sempre significativas).

Meu mundo caiu. É só contar esse caso que todas as lembranças voltam à minha mente. Não podia ser verdade. Como eu ia voltar pra escola depois daquilo?

Você não conhece o livro?

Entao, só porque sou muito curiosa, e compreendo com ternura a curiosidade alheia, vou te contar.

A vida íntima de Laura começa assim:

“Vou logo explicando o que quer dizer “vida íntima”. É assim: vida íntima quer dizer que a gente não deve contar a todo mundo o que se passa na casa da gente. São coisas que não se dizem a qualquer pessoa.”

E você, lendo isso, ainda não entendeu o problema, não é?

O problema é que Clarice continua:

“Pois vou contar a vida intima de Laura”.

Entenda, o problema começou a começar, mas o texto continua:

“Agora, adivinhe quem é Laura”.

É, você mesmo, adivinhe quem é Laura!

E eu, naquela época, pensando, esperançosa: Laura sou eu! Sou eu!

Mas Clarice, impiedosa:

“Dou-lhe um beijo na testa se você adivinhar. E duvido que você acerte!”

Esse beijo na testa, era o beijo da morte, o beijo de Judas que Clarice me mandou:

“Dê três palpites. Viu como é difícil?”

Pode dar seus palpites também. Eu espero aqui, não faço nenhuma questão que você saiba disso mais rápido. Porque o livro continuava:

“Pois Laura é uma galinha. E uma galinha muito da simples”.

Laura era uma galinha! Como assim? Eu era Laura e estava na segunda série (e tinha colegas que iam adorar aquele livro, um livro de motivos para me perturbar).

Naquela época, eu ainda não atribuía à galinha, a palavra, o significado vulgar que se costuma atribuir a algumas mulheres, ditas galinhas. O problema é que a galinha, em si, não é exatamente um animal glamouroso, nem bonitinho, desses que você admira quando tem oito anos de idade, mesmo porque não existe galinha rosa. Eu poderia tolerar várias espécies: uma gatinha, uma peixinha, uma ursinha, uma borboletinha...mas uma galinha? Era demais.

A autora, certamente adepta da técnica “bate depois sopra”, tratava de emendar:

“Peço a você o favor de gostar logo de Laura porque ela é a galinha mais simpática que já vi”.

É, não tinha jeito. Laura era uma galinha. E por mais simpática que pudesse ser essa galinha, Clarice contava que ela era bem burrrinha (nessas palavras, mas não quero ficar citando mais), e que tinha o pescoço mais feio do mundo, o pescoço de Laura era horrível.

Por isso, depois da vida íntima de Laura, me distanciei de Clarice. Foi uma fase difícil na vida, dessas que você não quer sair de casa. Ainda tenho complexo de pescoço e complexo de burrinha... Até hoje, quando meu pai me chama, carinhosamente de primogênita, eu retifico: primoburrita. Até hoje me lembro dessa fase difícil da infância. Que falta de sensibilidade dessa professora...

Abandonei Clarice por um longo e tenebroso inverno. Quase uma década.

Andei por outros caminhos, outras estradas literárias lindas. Conheci Machado de Assis. Ácido. Conheci Guimarães Rosa. Grande e prolixo sertão. Graciliano Ramos e Baleia. Saramago e seu ensaio sobre a cegueira, suas intermitências da morte, o evangelho segundo Jesus Cristo.

Amei Isabel Allende e o inevitavelmente perfeito Gabriel Gárcia Marquez.

Tentei escrever realismo fantástico. Se, na ficção alguma coisa se cria é na literatura infantil e no realismo fantástico. Mas para escrever realismo fantástic é necessário que se tenha uma sensibilidade superiormente aguçada e um quê de genialidade, e não sou assim, tão criativa.

Juro que esse livro se baseia integralmente em fatos reais, porque eu não crio nada, só gosto de aumentar o que ouço (pelas minhas contas, aproximadamente uns 30%), pras coisas ficarem um pouco mais leves e a vida ter um pouco mais de graça, mas só faço esses aumentos quando escrevo – porque se falasse seria fofoca, e tiro sempre o nome das pessoas, pra não perder amigos por bobagens. Como na natureza, na literatura, salvo raras exceções, não é muito o que se cria, mas muito o que se transforma.

Sempre sonhei ser escritora, mas nunca tive coragem.

Certo é que, carente de encontrar minhas amigas, comecei a escrever emails para contar meus casos, refletir sobre as coisas que aconteciam na minha vida e, aos poucos, fui gostando muito de fazer isso. Minha vida foi seguindo um rumo de correria, muitas mudanças, que eu vou contando aos poucos, mas o que interessa saber, nesse ponto de partida, é como me tornei a bonitona encalhada.

Tenho uma família pequena. Eu, meu pai, minha mãe e minha irmã, mais nova. Sempre fomos muito felizes e ainda somos, claro que não ininterruptamente felizes, porque senão isso não seria uma família, mas uma versão família do Teletubbies. Enfim, felizes.

Também sempre tive boas amigas, e bons amigos. Vida normal, básica.

Acontece que, de uns dois anos pra cá, surgiu uma epidemia de casamentos em minha vida.

Todo mundo ao meu redor começou a querer casar, marcar datas, fazer orçamentos, olhar vestidos, e emocionar, e blábláblá. Nessa mesma época, há uns dois anos, a Veja publicou uma capa sobre isso: sobre as mulheres quererem se casar.

A capa, de 29/11/2006 (pode conferir, está no site da revista - http://veja.abril.com.br/291106/p_084.html), trazia as chamadas: 9 entre 10 brasileiras que passam dos 40 solteiras continuarão solteiras e confira as chances de uma mulher se casar no Brasil aos 25, 30, 40 e 45 anos...

Pronto. Era o que me faltava. Aquilo caiu como uma jaca na minha cabeça. Corri para a matéria e ela dizia que, a chance de uma mulher se casar entre os 20 e 24 anos era de 68,9%, entre 25 e 29 anos, de 39,9% e de 30 a 34 anos, de apenas 23,1%. Ainda está tudo no site da Veja, pode conferir.

Naquela época, eu estava a um mês dos meus 25 anos, quando, subitamente, acordaria com trinta por cento a menos de chance de me casar. Fiquei meio abalada com a notícia, mas não dava pra arrumar um casamento em 15 dias. Pelo menos eu estava namorando, pensei.

Hoje, dois anos depois, já rumo aos 27, a epidemia de casamentos ao meu redor prossegue. Minha irmã – mais nova – não custa lembrar, meio que casou. Só este ano, já fui a 12 casamentos e ainda estamos no primeiro semestre. O pior? Não peguei nenhum buquê.

Já estive em festas em que crianças de 9, 10 anos, pegaram o buquê. Segundo a Veja, isso é o correto, antes dos 24, qualquer mulher tem quase 70% de chance de se casar. Já eu...

Nesse clima de desprendimento de qualquer ideal de constituir família, estava eu assistindo televisão com meu pai um dia desses e me deparei com o programa: três noivas gordas, um vestido magro.

Trata-se de um reality show em que três competidoras, morbidamente obesas, tentam desesperadamente emagrecer pra caber num vestido de casamento maravilhoso. Morbidamente obesas, é verdade, mas NOIVAS.
Meu pai, horrorizado com a filmagem das mulheres, feita pelos ângulos mais desfavoráveis possíveis, sem tirar os olhos da tela, disse:

-Essas moças, coitadas, estão se esforçando a toa. Como é que vão arrumar marido?

- Não, pai, expliquei, já tem que ter noivo pra se inscrever no programa.

Ele, então, voltou-se para mim em silêncio, ficou me olhando e disse: as gorduchinhas todas casando, e a bonitona aqui encalhada!

E foi assim que me dei conta do que eu havia me tornado. Esse foi meu humilde, quase pífio, momento epifânico.

Agora, já acomodada com o novo codinome, venho fazer o que Clarice Lispector expressamente me desaconselhou. Vou contar um pouco da minha vida íntima, mas quero deixar bem claro: Laura, aqui, não é uma galinha.

Laura é a bonitona encalhada.
 

terça-feira, 6 de julho de 2010

Troféu Latão




Decepção da Copa, Jogador = Cristiano Ronaldo. – Fora o gol circense que fez contra a Coréia do Norte só foi notado quando cuspiu em direção a uma câmera. Estatísticas finais: 1 gol, 5 piscadelas e 897 arrumadas no cabelo.

Decepção da Copa, Seleção = Inglaterra. – Com Capello no comando se esperava mais do English Team. Estatísticas finais: 1 (”o”)pé frio, 1 gol que entrou mais não valeu, 8 hooligans presos , 3 torcedoras bonitas(e com dupla cidadania...) e 1 Mc Chicken

Vergonha da Copa = França. – Saiu na primeira fase, jogadores e técnico deram xilique, virou assusto de Estado. Estatísticas finais: 3 vezes a Marselhesa sendo tocada, 23 Au Revoir, 55 croissant de queijo, 23 de presunto e 1 (se) Fondeau

            Porque troféu latão?  Nesta época de Copa do Mundo foram feitas muitas reportagens sobre o continente africano e a África do Sul, uma das que mais me chamaram a atenção foi feita pela ESPN Brasil, sobre as cidades de lata [1]. Chamadas de campo de concentração pelos moradores “abrigam” pessoas sem condições para ter uma casa, hã... convencional. Bom, pelo menos é isto que o governo diz (governo este presidido por negros, para se ver como a estupidez humana, esta sim, não é racista ou coisa do tipo, aceita qualquer um do que jeito que é e os abraça como uma mãe orgulhosa) é a justificativa que dá ao mundo para maquiar o que realmente acontece, uma espécie de tentativa de higienização social, jogando quem (a sua visão) não presta ás margens da civilização (na reportagem se nota que, cercados, eles não podem sair do local).
              Talvez a maquiagem acabe após a Copa, afinal não terão mais tantos turistas, de qualquer jeito o troféu latão (ou troféu cagada) da Copa vai para quem teve a idéia e para quem mantém as cidades de lata, vuvuzela neles.


[1]  - Reportagem da ESPN Brasil sobre as cidades de lata: http://www.youtube.com/watch?v=sUWWa2Zir_I

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Pastel de vento

Gostoso, mas oco por dentro. Como ou não como?

sábado, 3 de julho de 2010

E agora?

Claro que eu estou triste com a derrota do Brasil na Copa do Mundo. Eu nem consegui comprar minha camisa retro, e pronto, já acabou. Chato, né? E triste mesmo foi ver o pessoal do shopping desmanchando as vitrines no dia do jogo mesmo. Nada mais de verde amarelo. Nem esperaram o defunto esfriar, poxa. E eu, ainda com minha roupa verde, fiquei pensando:

  • -Bem que podemos ficar sem trabalhar nos horários correspondentes aos jogos que deveriam ser do Brasil, né? Assim, como consolo.

  • -Esses manés, que juram ter torcido pela Holanda, são mentirosos, sociopatas, ou o que?

  • - Torco pra Espanha ou pra Alemanha? Será que dá Uruguai? Não, Argentina não.

  • - E as campanhas publicitárias com jogadores? Continuarão no ar ou ficaremos livres dos guerreiros? Se saem do ar, alguém paga rescisão de contrato? Se sim, quem? Quem contratou ou quem teve a imagem desvalorizada?

  • -E o Felipe Melo? Conseguirá ser escalado pra pelo menos uma propaganda de lingüiça?

  • -Pra onde vai toda aquela infinidade de roupas, esmaltes, e chinelos verde e amarelo?

  • -E as comidas personalizadas? Miojo da copa, refrigerante da copa. Tanta coisa no supermercado. Será que eles desempacontam e empacotam de novo? Será?

    E por último, a maior curiosidade de todas:

  • -Alguém, enfim, comprou ou viu alguém comprar aquela latinha da Skol que “fala”?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

autorretrato...


estão dizendo por aí que ontem foi dia das mídias sociais e o blog, segundo dizem, é uma delas. na época da graduação - e durante muito tempo antes e depois - estudei blogs. e uma das coisas em comum a quase todos eles é a sua essência, ou seja, um blog é um diário virtual. gradativamente, a maioria deles se tornou algo comercial, um lance muito mais rentável que apenas um espaço para divagações pessoais. pensando em não perder o estilo diarinho deste post, resolvei publicar algumas fotos da última semana. ok, seria mais um fotolog, também em extinção... mas hoje não importa se o post - ou minha vida - é interessante ou não. o que importa é resgatar o caráter inicial dos weblogs [diários de bordo on line] e trazer pro nosso blogão um pouco do meu bloguinho...


o carinho do sobrinho...

abertura da Bienal de Arte e Tecnologia do @itaucultural - Emoção Art.Ficial

no beco do aprendiz, vila madalena

no museu de arte moderna de são paulo - mam

no parque do ibirapuera - fabiana cozza

festa junina na igreja da minha rua, brigadeiro luis antonio - sp

no centro cultural rio verde - dona jandira

Fotos by Rafael Munduruca (exceto a primeira, que é de Priscila Raunaimer...tks)