sexta-feira, 30 de julho de 2010
Dias melhores pra sempre
Pra quem já passou da fase escolar, é possível aproveitar essa transição de períodos para avaliar o que rolou até agora em 2010. Parece ½ obsessão de maluco por organização, mas descobri tardiamente que sem disciplina até a diversão pode ser prejudicada pela falta de tempo, dinheiro ou os dois juntos.
Não é preciso recorrer às pesquisas para comprovar que a maioria das promessas de Ano Novo ficou circunscrita à esfera da intenção. Como todos sabem, desejar sem agir é o mesmo que aguardar a Larissa Riquelme bater na porta de casa e se oferecer para guardar seu celular nas peitcholas. Contrariando o profeta, “quem (só) acredita (nem) sempre alcança”.
Se você ainda está divorciado do espelho porque não se matriculou na academia, continua monoglota porque tentou aprender línguas apenas em aulas práticas com seu par e a única viagem turística que fez foi para Diadema, tenho boas e más notícias pra você.
Comecemos pela parte ruim. Se abandonar projetos é algo recorrente e você tá naquela vibe Zeca Pagodinho (“deixa a vida me levar”), pode começar a rezar para os deuses “Sorte” e “Acaso”. Sem a ajudinha deles pouca coisa de legal vai acontecer e as páginas de sua existência serão tão líricas como as letras do Restart. #megatenso
A alternativa é tão simples que parece um tanto pueril: descomplique. Divida as distâncias longas em pequenos trechos e comece a andar hoje mesmo. Se perder míseros 200 gramas por semana vai terminar o ano com quase 5 quilos a menos. Cinco páginas por dia e em dezembro você terá lido os 2 volumes de Guerra e Paz, do Tolstói. Duzentos reais por mês e a passagem para a sonhada viagem à Europa tá garantida no próximo ano. Essa poupança mensal pode ser aplicada num nariz novo ou em outro tipo de recauchutagem e funilaria.
Ainda há 3.696 horas na caixa de 2010. Descole sua porção calipígia da cadeira e espane a poeira dos sonhos engavetados. Lembrando a frase de Benjamin Franklin, “pessoas boas em arranjar desculpas raramente são boas em qualquer outra coisa”. Feliz resto de ano pra você!
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Preenchendo o vazio : flores e cores
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Por que fomos alfabetizados mesmo?
Ok, está certo que existem pessoas que falam bobagens de nível avançado e fazem a gente perguntar: “Deus, por que alfabetizaram essa pessoa?”. Antes eu culpava uma seleção natural fajuta, governos do PT de inclusão social e excesso de SBT na vida. Hoje, já não tenho mais certeza. Temos uma convenção, regras, formatos e tudo que rege a ortografia. Mas não é legal pensar que a língua é dinâmica e se adapta às necessidades das pessoas?
Com tantos blogs por aí, gente escrevendo rápido, tom informal, falta de domínio de teclado, excesso de cafeína no sangue, é fácil cometer erros. Erros grandes. Virgulas ausentes, palavras trocadas, verbos conjugados de forma errada. É óbvio que devemos valorizar um texto impecável, bem escrito, claro, mas será que erros (até os de nível avançado), fazem a mensagem perder seu valor? A linguagem é capaz MESMO de destruir bons argumentos?
Falo isso porque não raro vejo por aí (ou até por aqui) fulanos dizerem: “Ah, mas olha, você nem sabe escrever. Conjugou o verbo errado”. Sabe, pra mim, isso nada mais é do que um equivalente gramatical ao “Ah, mas, mas, você é feio” ou “Ah, o jogo é meu, a gente brinca como eu quiser”.
Apontar erros nos textos serve muitas vezes para empobrecer a discussão, ser raso, evitar o raciocínio e desqualificar argumentos alegando que a estrutura utilizada é uma bosta. Mas isso vale mesmo? Não é jogar baixo? Por mais que possa ser difícil como decifrar códigos, prefiro um texto mal escrito mas coerente a um correto e vazio [viu, Lia Luft?].
Soa como discriminação quando alguém conta uma história na TV e troca as letras, erra os “érres”, resolve “pobrema” com o “adevogado” ou vai direto na “poliça”. É errado?Sim, é. Vai contra a cartilha da pré-escola, contra ao que a tia disse no primário e o que sua professora pregou na sua cabeça no ginásio. Mas é a história do cara, a linguagem do cara, e desconsiderar o que ele tá falando por isso, como se não tivesse valor, é besteira sim.
Nós já dividimos a cidade entre os que pegam ônibus e os que tem carro, os que usam iPod e os que tem iPobre, aqueles que fazem faculdade paga ou pública, os de cabelo ruim e os de cabelo bom…por favor, não vamos usar as letras e as palavras para discriminar alguém ou fazer com que o outro se sinta humilhado e ignorado. Palavras machucam, sim. Cuide bem das suas e, se for exigir respeito às normas gramaticais de alguém, limite-se às palavras que saem da sua boca, por favor.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Outros 500
Acho que muita gente aqui do blog dos 30 deveria estar lá.
Outros500 from Outros 500 on Vimeo.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Vocabulário Pernambucano
Abestalhado é tipo besta, abilolado, leso,tabacudo, mongol, mamão mesmo. Mas mamão é mais pesado, cuidado. Na dúvida, e já com alguma intimidade, diga tabacudo – tipo boludo, do castellano. Há quem diga, ainda nos tempos de hoje, abigobal - mas ai é gíria antiga já. Isso tudo é diferente de cabeçudo, gente teimosa, que é diferente de cabeçoide, gente metida a cult que frequenta Cinema do Parque e Apolo e quer ficar por dentro dos cenosos – é que Cinema da Fundação já tá pop demais. Todas essas cabeças são diferentes de cabeção, que é gente com cabeça grande mesmo. Tá, não tão diferente porque, dependendo do uso, cabeção pode ser tipo tabacudo, bobo, que é diferente de João-bobo - que é aquele boneco que você bate e ele volta, bate e ele volta, sabe qual é?
Falando em João, esse nome é bem comum por aqui. Como José, Zé, Zezin, Josefa, Zefa, Zefinha, Maria, Mariinha, Marinete, Nildete, Detinha, Tinha, na verdade, a gente aqui bota tudo no diminutivo: painho, mainha, voinho, voinha… massinha. Massinha vem de massa, que quer dizer legal, bacana, xuxu. Mas massa também que dizer outro tipo de massa, aquele cigarrinho de artista, beck, dola, chero, parada, fininho (mas que, dependendo da habilidade, da experiência e/ou da ansiedade mesmo, nem precisa ser tão fino assim). Ai, se você tem um desses, você tá de cima, se num tem tá de baixo, se já puxou tá lombrado, se puxou mto tá fritado (mas, assim, normalmente não se fica fritado de massa - tem que ser sequela grande ai), e, no dia seguinte, sempre bate aquela larica básica. Mas assim, fritar também pode ser se jogar na pista e dançar loucamente, pode ser fritar no sol porque não passou sundown, essas coisas.
As coisas aqui constumam ter muitos significados e a palavra Coisa substitui todas elas: vou ali naquela coisa, ou naquele coisa, ou naquele coiso, tô coisando uma coisinha aqui, que coisa, neh? Também se usa muito Negócio para um objeto não identificado: pega esse negócio, trás aquele negócio, sabe o negócio que a gente falou ontem…? É, eu sei, já devo tá causando um rebuliço na tua cabeça né? Mas fique peixe, tem um bocado, um mói, uma danação de coisa ainda por contar.
Por exemplo, se jorgar, que eu já tinha falado antes, é tipo se desprender, se lançar na vida, ser desavergonhado, sem medo de se mostrar, que é diferente de se amostrar – porque amostração é negativo e ninguém gosta de gente amostrada, visse? Só pra tu se ligar. Então, se jogar é exatamente o oposto de bueiro porque bueiro é fossa braba, normalmente de dor de amor – que pode ser platonismo ou gaia mesmo. O estado de bueiro também pode ter sido por causa de um ré do boyzinho ou da boyzinha lá. Ou pode ser a falta de boyzinhos ou boyzinhas, a eterna falta deles. Então, quem vive no bueiro se chama emo. Esse povo, inclusive, merece mesmo um “pedala robinho” pra ver se toma jeito. Jeito também é uma palavra esquisita. Uma pessoa pode ser jeitosa, que quer dizer bem apessoada, pode dar um jeito no pé, num quebrou, mas deu um jeito, saca?, e tem gente que precisa tomar jeito na vida, tipo esse povo emo ai. Pois é, aqui na minha terra pra tudo dá-se um jeito, é só deixar de onda e levar as coisas na moral.
Ah, já ia esquecendo umas expressões fundamentais do vocabulário pernambucano: foda e do caralho. Então, do caralho é só quando a coisa é Do caralho mesmo, tipo fuderosa! É complicado explicar do caralho porque não existe nenhum termo no vocabulário brasileiro que alcance tamanho esplendor. Então, uma coisa do caralho é do caralho e ponto. Deu pra entender, né?
Se do caralho foi complicado, foda fudeu tudo. Tudo começa porque foda é adjetivo (foi foda, fudido, fodão), substantivo (a foda), verbo (foder, tipo “fodeu com a minha vida” ou “me fodi hoje”) e ainda pode superlativizar as coisas (fodíssimo, fodástico, fuderoso, fuderozérrimo, e por ai vai). E assim, ele pode ser positivo ou negativo, depende sempre da construção frasal e da intenção de seu interlocutor. O que salva essa humilde linguista amadora é que o termo foda e suas ramificações não é exclusivo das pernambucanidades. E, provavelmente, vocês já devem saber usá-lo em algumas versões. As demais, vocês vão aprendendo com a convivência. É foda, eu sei. Mas, fazer o quê?
Tem outros termos importantes, e bem mais simples, da cultura breguística como os cafuçus, as piriguetes e as rarius. Cafuçus, ou cafusús, ou cafussus, a grafia é o menos importente, é aquele tipo de macho peão de obra, suado, de barba, cabelo no peito e camisa regata. Cafuçu não é usado, exclusivamente pra peão de obra carteira assinada. A cafuçuzisse é uma coisa que tá na essência, mesmo que o sujeto use Givenchi, não tem jeito. É importante dizer que cafuçu é diferente de cafa, que quer dizer cafajeste. Entenda assim: cafuçu is a way of wear e cafa is a way of life. Pode ter cafuçu cafa (e normalmente eles são). Mas não vamos generalizar, neh? Dá um crédito ai. Já tem pouco homem nessa cidade…
Quanto às piriguetes e as rarius, elas são as boyzinhas dos cafuçus. Eu ainda to entendendo direito essa parte maaasss, eu acho que as rarius são as mulheres mesmo e as piriguetes as concorrentes. Mas não levem isso tão a sério, é só uma teoria minha. Mas assim, ambam são ousadas, usam roupa apertada, colorida ou de oncinha, tamanco, kollene no cabelo, batom vermelho e vai pro Clube Internacional todo sábado de brega.
Bom, tem as palavrinhas dos olindences também, tipo pintinho. E aqueles tocos da calçada que aqui se chama "puta que pariu" ou "eita porra". Mas assim, é o tipo da coisa… se eu for falar tudo tudo, não vai sobrar margem de novidades pra quando vocês chegarem. Tirando que esse post já tá muito grande eu preciso trabalhar. Então assim, só pra terminar, pra confirmar tudo, você diz: com certeza! E, dependendo da receptividade, vaza ou se joga.
domingo, 25 de julho de 2010
Viva os 35 graus!
Pois ela entrou de repente no quarto, acendendo a luz. Era o último andar do prédio vizinho, a poucos metros de mim e meu pão e, com a janela totalmente aberta, cruzou de uma vez meu campo de visão, sem mesmo notar minha expressão de susto. Presumo que voltava de uma festa, pelas roupas. Permaneci estarrecido durante aqueles dois ou três segundos que, na película de um filme, durariam muito mais. Recobrada a consciência, num impulso instintivo e intuitivo, voei até o interruptor e apaguei a luz. Esperei, sem agachar ou me esconder numa posição imoral. Pelo contrário: apagado no escuro, eu aguardava confortavelmente, como numa poltrona de cinema. Generosa, ela reapareceu. Somente com as roupas de baixo. O branco da lycra contrastava com a pele morena. A cintura poeticamente delineada dividia em dois o corpo de proporções áureas: nem grande, nem pequeno. Ideal. Sempre de costas, procurou algo na cama, achou e vestiu: um pijama de seda. Amarelo. Mas por cima da lingerie, que falta de cuidados com o conforto! Depois saiu do quarto. Como deixara a luz acesa, julguei que voltaria para o bis.
Creio que logo se arrependera do show deveras tímido porque, poucos minutos mais tarde, voltou. Na minha tela widescreen, de costas, tirou o pijama, sem suspense. E depois o sutiã. E depois tudo. Morena - já disse, eu sei. Analisou uma camiseta, levantando-a com os braços. Não, outra. Deixe-me ver... não, também. Tão feminina. Nesse decide-não-decide, ameaçava, mas não virava de frente. De repente virou-se de lado, de perfil. Caprichosamente, seu umbigo tocava a linha esquerda da janela, de modo que os seios se esconderam nos bastidores de um ponto cego. Alguém que a filmasse nua e depois censurasse colocando mosaicos nas partes íntimas não as delinearia com a mesma precisão com que a janela o fez, irônica. Calmamente, virou-se de costas mais uma vez e finalmente vestiu outro pijama, azul. E apagou a luz. Nem foi até a janela para me dizer boa noite. Mas não precisava: é como se o tivesse feito, já que começava aí um longo, longo relacionamento.
sábado, 24 de julho de 2010
Caído
sexta-feira, 23 de julho de 2010
O Amor
Nem o choro do norte-coreano na hora do hino,
Nem o frango do goleiro da Inglaterra,
Nem o show do Maradona,
Nem o vexame da França (na entrada e na saída),
Nem a defesa com as mãos do atacante uruguaio,
Nem o polvo vidente,
Nem a pisada do Felipe Melo,
Nem a voadora do Holandês,
Nem os palavrões do Kaká,
Nem os erros de arbitragem,
Nem o pé frio do Mick Jagger,
Nem a insuportável vuvuzela,
Nem a catota do técnico da alemanha,
Nem a Larissa Riquelme,
Nem a vontade própria da Jabulani,
Pra mim o melhor da copa foi isso:
quinta-feira, 22 de julho de 2010
“Enquanto ela dormia...
terça-feira, 20 de julho de 2010
Sou um pai jovem
A cada dia que passa, percebo minha inocente e infante filha dar lugar a uma insolente e infame adolescente. E agora?
As transformações impostas pelo estrógeno de minha pequena parecem fazer efeito também em mim... a cada dia que ela se torna mais independente e rebelde, eu me torno mais conservador e tirano. Um insensível quanto aos seus gostos musicais, opressor quanto ao seu vocabulário e desconfiado quanto aos seus amigos. Me tornei um daqueles pais de amigos que tememos pelo mal humor constante e pela disposição em dizer sempre não.
Mas espera aí...eu fazendo isso? Porra, quem me conhece pode não reconhecer o parágrafo acima como uma descrição da minha pessoa. Sim... estou me tornando um hipócrita e tudo indica que pagarei com a mesma moeda tudo o que fiz minha pobre mãezinha sofrer, já que minha filha está cada vez mais parecida com a versão 1.7 de mim mesmo.
E o pior de tudo isso é que ainda tenho 30 anos – ou seja – eu ainda saio, fico bêbado, toco numa banda, faço merdas que não quero que minha filha faça... puts.
Na internet então, cada dia quero menos ser amigo da minha filha no Orkut. Tenho medo do que posso encontrar em seus scraps qualquer dia desses. Um dia me deparei com a frase no MSN: “Lino e Francis – mais que amigos”... enfurecido tive que me segurar para não bombardeá-la com inquéritos e castigos descabidos, não... tenho que agir com astúcia. Preciso ganhar sua confiança. Quero me tornar seu confidente, o “paisão” pra toda obra. Preciso suportar as pressões externas, o ciúmes e o instinto protetor para que ela traga a vítim...quero dizer, o seu namoradinho para nosso círculo familiar, assim eu poderei esfaq... quero dizer, apertar sua mão e dizer: “meu genro querido”.
Estou assistindo bastante “Dexter” para aprender a ser um bom anfitrião.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Entorpecente
domingo, 18 de julho de 2010
Vou te dizer
sábado, 17 de julho de 2010
Vago
O meteorologista disse que a semana seria instável. Chuva, rajadas de vento, geada, mais chuva. E o frio, o único constante. As alterações climáticas coincidiram com minha última semana na cidade gelada. Enfim, fui embora. Despedi-me de algumas pessoas com pompa e circunstância. Chorei, enxuguei as lágrimas. Vi as lágrimas derramadas por mim. Para alguns dei tchau como se fosse o até amanhã de todo dia. Melhor assim. Odeio despedidas. Fico insegura, medrosa. Acho sempre mais doloroso para quem fica, mas dessa vez deixar para trás me doeu. Não foi dramático o luto, mas marcou a perda. Carrego, porém, a confiança de que o roteiro está correto. Algumas coisas vão mudar, mas ora, é a vida. Ora, era a hora.
Minha última semana foi de choro, alegria, alívio, dor, ciúme, mágoa, cura. Instável, como o clima. Mas o dia está limpo e claro. O tempo, quem diria, parece estar a meu favor.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Eu fico
quinta-feira, 15 de julho de 2010
despedida
vim aqui para dizer que estou abrindo uma vaga para este dia 15.
estou no blog dos 30 desde o começo e escrever por aqui nunca deixou de ser legal.
gostei de ver meus poemas por aqui.
gostei de conhecer as gentes e textos que andam e andaram por aqui.
e vou gostar de continuar lendo tudo o que se diz por aqui.
estou em um período de silêncio, então não vai ter poema de despedida...
se alguém quiser, pode me encontrar aqui, aqui ou aqui.
valeu!
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terça-feira, 13 de julho de 2010
Finalmente, um post feliz
domingo, 11 de julho de 2010
Não há o que lamentar quando chega o fim do dia
sexta-feira, 9 de julho de 2010
No meio do nada
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Ciências sem sentido versão ilustrada
Mais adiante reparei que sei diferenciá-los por meus próprios meios e faço isso sem um motivo maior, só por lazer, pelo prazer de observar, analisar, assim como tento adivinhar do quê são descendentes, qual o parentesco, no que trabalham, ou onde moram.
Abaixo, minhas observações ilustradas:
quarta-feira, 7 de julho de 2010
A bonitona encalhada
E essa frase, infelizmente, não é minha, é da Clarice Lispector. Claro que não a parte de ser a bonitona encalhada, que eu sou, mas a Clarice Lispector não era (até onde eu sei). Clarice Lispector era a mulher que matou os peixes, e o conto “A mulher que matou os peixes” começa com a frase: A mulher que matou os peixes infelizmente fui eu.
Já eu, que nunca matei peixes, gatos ou animais em geral (no máximo dois coelhos com uma cajadada só), sou só uma bonitona encalhada e este texto é um primeiro desabafo.
Porque, sobre mim, além de saber que sou a bonitona encalhada, é necessário que você saiba que sou a rainha dramática e exagerada dos desabafos, sempre suspirosa e sonhadora. Sou eu assim.
Por muito tempo esperei chegar mais perto do coração selvagem, aliás, acho que desde que eu conheci o “Perto do Coração Selvagem”, da Clarice, que sonhei escrever uma coisa tão perto, tão do coração e tão selvagem, arrebatadora. Acontece que o tempo foi passando, e, num momento epifânico (o exato momento em que me tornei a bonitona encalhada) constatei que, se ficasse esperando ser a Clarice Lispector não ia escrever nada nunca. E comecei a escrever essas linhas...
Então, antes de mais nada, peço desculpas por não conseguir produzir nenhum primor de literatura, e desde já não prometo nada além de uns casos que aconteceram comigo ou com alguém que eu conheço bem. Quanto ao coração selvagem, bem...posso dizer que meu coração já foi bem mais selvagem.
Minha admiração por Clarice começou na infância, com o texto da mulher que matou os peixes, que já apresentei. Achei essa frase tão forte, na maturidade dos meus nove anos, que nunca mais esqueci. Usei-a com várias aplicações distintas, e posso garantir que afirmar tão categoricamente que você fez alguma coisa sempre traz um certo efeito impactante.
Adorei, desde a primeira leitura, a sinceridade arrebatadora da confissão.
Testei as possibilidades dessa assertiva. Era só minha mãe descobrir alguma coisa que tinha saído errado na rotina que eu usava a frase, mais ou menos assim:
- Laura, você fez dever?
E eu, séria:
- A menina que não fez dever, infelizmente, fui eu.
A menina que sujou a roupa, infelizmente, fui eu. A menina que tira meleca, rabisca a parede, tudo havia sido eu. Muito boa essa Clarice. Sempre achei.
A fase Clarice da minha infância passou no exato dia em que a professora recomendou a leitura de outro livro da mesma autora: “A vida íntima de Laura”.
Foi o ápice da felicidade, eu, que já amava Clarice, eu, que já chamava Laura, não podia me conter quando chegou a recomendação da leitura. Achando-me a figurinha carimbada do álbum, a mais importante das pessoas, atazanei minha mãe para comprar logo o livro.
E qual não foi minha surpresa, quando li o primeiro parágrafo (pelo visto, as primeiras linhas de Clarice Lispector são sempre significativas).
Meu mundo caiu. É só contar esse caso que todas as lembranças voltam à minha mente. Não podia ser verdade. Como eu ia voltar pra escola depois daquilo?
Você não conhece o livro?
Entao, só porque sou muito curiosa, e compreendo com ternura a curiosidade alheia, vou te contar.
A vida íntima de Laura começa assim:
“Vou logo explicando o que quer dizer “vida íntima”. É assim: vida íntima quer dizer que a gente não deve contar a todo mundo o que se passa na casa da gente. São coisas que não se dizem a qualquer pessoa.”
E você, lendo isso, ainda não entendeu o problema, não é?
O problema é que Clarice continua:
“Pois vou contar a vida intima de Laura”.
Entenda, o problema começou a começar, mas o texto continua:
“Agora, adivinhe quem é Laura”.
É, você mesmo, adivinhe quem é Laura!
E eu, naquela época, pensando, esperançosa: Laura sou eu! Sou eu!
Mas Clarice, impiedosa:
“Dou-lhe um beijo na testa se você adivinhar. E duvido que você acerte!”
Esse beijo na testa, era o beijo da morte, o beijo de Judas que Clarice me mandou:
“Dê três palpites. Viu como é difícil?”
Pode dar seus palpites também. Eu espero aqui, não faço nenhuma questão que você saiba disso mais rápido. Porque o livro continuava:
“Pois Laura é uma galinha. E uma galinha muito da simples”.
Laura era uma galinha! Como assim? Eu era Laura e estava na segunda série (e tinha colegas que iam adorar aquele livro, um livro de motivos para me perturbar).
Naquela época, eu ainda não atribuía à galinha, a palavra, o significado vulgar que se costuma atribuir a algumas mulheres, ditas galinhas. O problema é que a galinha, em si, não é exatamente um animal glamouroso, nem bonitinho, desses que você admira quando tem oito anos de idade, mesmo porque não existe galinha rosa. Eu poderia tolerar várias espécies: uma gatinha, uma peixinha, uma ursinha, uma borboletinha...mas uma galinha? Era demais.
A autora, certamente adepta da técnica “bate depois sopra”, tratava de emendar:
“Peço a você o favor de gostar logo de Laura porque ela é a galinha mais simpática que já vi”.
É, não tinha jeito. Laura era uma galinha. E por mais simpática que pudesse ser essa galinha, Clarice contava que ela era bem burrrinha (nessas palavras, mas não quero ficar citando mais), e que tinha o pescoço mais feio do mundo, o pescoço de Laura era horrível.
Por isso, depois da vida íntima de Laura, me distanciei de Clarice. Foi uma fase difícil na vida, dessas que você não quer sair de casa. Ainda tenho complexo de pescoço e complexo de burrinha... Até hoje, quando meu pai me chama, carinhosamente de primogênita, eu retifico: primoburrita. Até hoje me lembro dessa fase difícil da infância. Que falta de sensibilidade dessa professora...
Abandonei Clarice por um longo e tenebroso inverno. Quase uma década.
Andei por outros caminhos, outras estradas literárias lindas. Conheci Machado de Assis. Ácido. Conheci Guimarães Rosa. Grande e prolixo sertão. Graciliano Ramos e Baleia. Saramago e seu ensaio sobre a cegueira, suas intermitências da morte, o evangelho segundo Jesus Cristo.
Amei Isabel Allende e o inevitavelmente perfeito Gabriel Gárcia Marquez.
Tentei escrever realismo fantástico. Se, na ficção alguma coisa se cria é na literatura infantil e no realismo fantástico. Mas para escrever realismo fantástic é necessário que se tenha uma sensibilidade superiormente aguçada e um quê de genialidade, e não sou assim, tão criativa.
Juro que esse livro se baseia integralmente em fatos reais, porque eu não crio nada, só gosto de aumentar o que ouço (pelas minhas contas, aproximadamente uns 30%), pras coisas ficarem um pouco mais leves e a vida ter um pouco mais de graça, mas só faço esses aumentos quando escrevo – porque se falasse seria fofoca, e tiro sempre o nome das pessoas, pra não perder amigos por bobagens. Como na natureza, na literatura, salvo raras exceções, não é muito o que se cria, mas muito o que se transforma.
Sempre sonhei ser escritora, mas nunca tive coragem.
Certo é que, carente de encontrar minhas amigas, comecei a escrever emails para contar meus casos, refletir sobre as coisas que aconteciam na minha vida e, aos poucos, fui gostando muito de fazer isso. Minha vida foi seguindo um rumo de correria, muitas mudanças, que eu vou contando aos poucos, mas o que interessa saber, nesse ponto de partida, é como me tornei a bonitona encalhada.
Tenho uma família pequena. Eu, meu pai, minha mãe e minha irmã, mais nova. Sempre fomos muito felizes e ainda somos, claro que não ininterruptamente felizes, porque senão isso não seria uma família, mas uma versão família do Teletubbies. Enfim, felizes.
Também sempre tive boas amigas, e bons amigos. Vida normal, básica.
Acontece que, de uns dois anos pra cá, surgiu uma epidemia de casamentos em minha vida.
Todo mundo ao meu redor começou a querer casar, marcar datas, fazer orçamentos, olhar vestidos, e emocionar, e blábláblá. Nessa mesma época, há uns dois anos, a Veja publicou uma capa sobre isso: sobre as mulheres quererem se casar.
A capa, de 29/11/2006 (pode conferir, está no site da revista - http://veja.abril.com.br/291106/p_084.html), trazia as chamadas: 9 entre 10 brasileiras que passam dos 40 solteiras continuarão solteiras e confira as chances de uma mulher se casar no Brasil aos 25, 30, 40 e 45 anos...
Pronto. Era o que me faltava. Aquilo caiu como uma jaca na minha cabeça. Corri para a matéria e ela dizia que, a chance de uma mulher se casar entre os 20 e 24 anos era de 68,9%, entre 25 e 29 anos, de 39,9% e de 30 a 34 anos, de apenas 23,1%. Ainda está tudo no site da Veja, pode conferir.
Naquela época, eu estava a um mês dos meus 25 anos, quando, subitamente, acordaria com trinta por cento a menos de chance de me casar. Fiquei meio abalada com a notícia, mas não dava pra arrumar um casamento em 15 dias. Pelo menos eu estava namorando, pensei.
Hoje, dois anos depois, já rumo aos 27, a epidemia de casamentos ao meu redor prossegue. Minha irmã – mais nova – não custa lembrar, meio que casou. Só este ano, já fui a 12 casamentos e ainda estamos no primeiro semestre. O pior? Não peguei nenhum buquê.
Já estive em festas em que crianças de 9, 10 anos, pegaram o buquê. Segundo a Veja, isso é o correto, antes dos 24, qualquer mulher tem quase 70% de chance de se casar. Já eu...
Nesse clima de desprendimento de qualquer ideal de constituir família, estava eu assistindo televisão com meu pai um dia desses e me deparei com o programa: três noivas gordas, um vestido magro.
Trata-se de um reality show em que três competidoras, morbidamente obesas, tentam desesperadamente emagrecer pra caber num vestido de casamento maravilhoso. Morbidamente obesas, é verdade, mas NOIVAS.
Meu pai, horrorizado com a filmagem das mulheres, feita pelos ângulos mais desfavoráveis possíveis, sem tirar os olhos da tela, disse:
-Essas moças, coitadas, estão se esforçando a toa. Como é que vão arrumar marido?
- Não, pai, expliquei, já tem que ter noivo pra se inscrever no programa.
Ele, então, voltou-se para mim em silêncio, ficou me olhando e disse: as gorduchinhas todas casando, e a bonitona aqui encalhada!
E foi assim que me dei conta do que eu havia me tornado. Esse foi meu humilde, quase pífio, momento epifânico.
Agora, já acomodada com o novo codinome, venho fazer o que Clarice Lispector expressamente me desaconselhou. Vou contar um pouco da minha vida íntima, mas quero deixar bem claro: Laura, aqui, não é uma galinha.
Laura é a bonitona encalhada.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Troféu Latão
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Pastel de vento
sábado, 3 de julho de 2010
E agora?
Claro que eu estou triste com a derrota do Brasil na Copa do Mundo. Eu nem consegui comprar minha camisa retro, e pronto, já acabou. Chato, né? E triste mesmo foi ver o pessoal do shopping desmanchando as vitrines no dia do jogo mesmo. Nada mais de verde amarelo. Nem esperaram o defunto esfriar, poxa. E eu, ainda com minha roupa verde, fiquei pensando:
- -Bem que podemos ficar sem trabalhar nos horários correspondentes aos jogos que deveriam ser do Brasil, né? Assim, como consolo.
- -Esses manés, que juram ter torcido pela Holanda, são mentirosos, sociopatas, ou o que?
- - Torco pra Espanha ou pra Alemanha? Será que dá Uruguai? Não, Argentina não.
- - E as campanhas publicitárias com jogadores? Continuarão no ar ou ficaremos livres dos guerreiros? Se saem do ar, alguém paga rescisão de contrato? Se sim, quem? Quem contratou ou quem teve a imagem desvalorizada?
- -E o Felipe Melo? Conseguirá ser escalado pra pelo menos uma propaganda de lingüiça?
- -Pra onde vai toda aquela infinidade de roupas, esmaltes, e chinelos verde e amarelo?
- -E as comidas personalizadas? Miojo da copa, refrigerante da copa. Tanta coisa no supermercado. Será que eles desempacontam e empacotam de novo? Será?
E por último, a maior curiosidade de todas:
- -Alguém, enfim, comprou ou viu alguém comprar aquela latinha da Skol que “fala”?