Hoje é dia 25 de setembro, data de eventos importantes como o início da Guerra de Independência de Moçambique (1964), a Proclamação da República Democrática Popular da Argélia (1962) e a assinatura da Convenção sobre a Escravatura na Sociedade das Nações, em 1926. Para outros marcos históricos, pesquisar a data no wikipedia (de onde extrai essas informações). Além disso, dia 25 é o dia que escolhi para escrever neste blog, o que talvez possa causar surpresa à/ao leitor(a) a data que dá nome a este texto
Dia 27 de julho também testemunhou fatos relevantes como a prova de que a insulina regula o açúcar no sangue (1921), a assinatura do acordo para o armistício da Guerra da Coréia (1953) e o nascimento da ex-vereadora Marielle Franco (1979). Há outras ocorrências históricas também (vai lá ver na wikipedia). Contudo, do ponto de vista deste que vos escreve, houve um nascimento muito importante no dia 27 de julho do ano de 2021: o da minha filha Nailah. Há exatos 60 dias. O que não quer dizer que ela já tenha completado dois meses, uma vez que julho e agosto têm 31 dias. Logo, faltam ainda dois dias para o seu segundo mesversário.
Enfim, hoje venho aqui resgatar seu processo de vinda à luz. Posto, que isso não se deu sem algumas peculiaridades. E, antes de começar, preciso destacar logo de início uma pessoa sem a qual nada do que será narrado nas próximas linhas seria possível, minha companheira e mãe da Nailah, Luciane.
Nailah começou a chegar, parecendo materializar a letra de Gonzaguinha, isto é, como se o fosse o sol desvirginando a madrugada e fazendo Luciane sentir a dor dessa manhã, nascendo, rompendo, rasgando. Ainda que não tenha sido nada tão imediato assim, como partos de novelas. Às cinco da manhã ela começou a sentir, segundo ela, algumas cólicas. Que lhe incomodaram nas primeiros momentos do dia.
Já hora do almoço, as cólicas se intensificaram, tomando a forma das tais contrações. O que notamos após comprar um buscopam que só serviu para termos certeza de que era o trabalho de parto de fato. Porque não adiantou, absolutamente, de nada.
Com o passar da tarde, mentalmente preparada para o pior, Luciane enfrentava as dores crescentes do parto, não sem sofrimento, mas com muita determinação e serenidade. Enquanto eu intercalava a arrumação da casa, com um apoio moral a cada contração. Era uma lavada de louça, seguida de uma massagem, intercalada, com a passagem de pano na cozinha, e um suporte na hora dos picos de dor.
Por volta das 17 horas, o trabalho de parto parecia entrar em sua reta final, saiu o tampão e a bolsa, finalmente se rompeu. Não era o caso de sair desabalados para o hospital (como nas novelas), mas já era hora de começarmos a nos encaminhar para lá. Liguei para um amigo, também chamado Thiago, que viria de não muito perto. Mas confiando que o tempo seria suficiente para chegarmos na maternidade. Até porque, até ele chegar, Luciane tomou banho, se arrumou e botou um vestido; logo depois, trocou de roupa, pois esta se sujou, e ainda pediu, com muita tranquilidade, que passasse hidratante em suas pernas. O que são prioridades, afinal, para quem lamentou ter parido, sem ter feito os cílios, que estavam agendados para aquela tarde.
O Thiago chegou a tempo, com uma performance, digna de um piloto de corrida, ainda que, seguindo, sem dúvidas, todas as leis e regras de trânsito. Descemos (moramos no oitavo andar) e entramos no carro, com a Luciane alertando-o para os gritos que daria ao longo do trajeto.
Num dado momento da viagem, Luciane disse que achava que Nailah estava nascendo. Mas, eu nem olhei pra ela, falei que tava tudo bem e que já, já, chegaríamos. Tava tudo certo para chegarmos a tempo no hospital.
Se não errássemos caminho
Logo após acharmos a rota correta (o que nos atrasaria não mais de 10 minutos), Luciane repetiu que achava que Nailah tava nascendo, eu nem olhei pra ela, fique conversando com o Thiago, como se nada tivesse acontecido, só disse que tava tudo bem.
ATENÇÃO: o diálogo a seguir não foi reproduzido com precisão, por motivos óbvios, mas vou me servir da licença poética, mesmo sem ser escritor, ainda que me desculpando, por não ser escritor, como diz outra música que fala sobre cartas de amor.
Alguns segundos depois, Luciane exclamou: “Nailah tá nascendo!”, ao que eu falei (me fazendo de bobo): “O hospital já está ali, 200 metros, vamos chegar”.
“Olha”, ela disse; e eu me virei e olhei. Nailah já se encontrava com metade do seu corpo para fora (do corpo da mãe, não do carro). Eu tomei um leve choque e fiquei olhando aquela criança que, após alguns segundos, chorou. Fato que só me toquei da importância alguns minutos depois.
Luciane me tirando de um transe, falou: “Pega”. E eu a tomei, suavemente, em minhas mãos, apenas metade do seu corpinho ainda.
Até que Luciane atentou para o fato de que a outra metade de Nailah ainda estava dentro dela e salientou: “Puxa”, e terminei de conduzir sua vinda à luz. Fazendo o Thiago (o motorista) saber que ela tinha nascido de verdade, que não era só desespero da mãe.
Rapidamente, chegamos ao hospital, porque, de fato, ele estava perto. Entreguei Nailah à Luciane e fui à recepção, não sem correr e anunciar que minha filha tinha nascido no carro. Eu, com um leve desespero (pois é, Capital Inicial...), e uma enfermeira (ou médica… não sei), com toda a calma do mundo, me perguntou se a bebê havia chorado, eu disse que sim e ela respondeu que eu podia ficar tranquilo, que tava tudo bem.
E, como nos filmes, ou mesmo nas novelas, sei lá, uma equipe do hospital chegou ao carro retiraram Luciane, com Nailah no colo, enquanto fui preencher a ficha hospitalar. Foi o tempo certinho de subir até a sala de parto, para terminar o serviço e cortar o cordão umbilical.
Mentira, esse final foi só para dar um grand finale, pois o parto só termina mesmo quando nasce a placenta (pelo que me disseram no cartório, no dia seguinte), mas neste ponto, já havia dado meus préstimos de parteiro, estava cansado. Não sei se vocês sabem, mas conduzir um trabalho de parto é muito extenuante. E esses procedimentos finais ficaram a cargo das profissionais da maternidade mesmo.
P.S. No mesmo 27 de julho, na mesma cidade do Rio de Janeiro, outra criança nasceu num carro, só que num táxi, o que fez com que nas semanas seguintes ao nascimento, quando falávamos que Nailah nasceu no carro, muita gente perguntasse se fosse a história do táxi, que passou no telejornal local.