Que a economia de um país é assunto importante, ninguém duvida. Independente de ideologia, classe, estilo de vida, ou qualquer outra coisa, vivemos em um mundo em que cedo ou tarde precisaremos de dinheiro até para os consumos essenciais à vida. O quanto esse assunto é importante, já abre espaço para interpretação.
Diariamente vemos jornais e telejornais abrindo amplo espaço para taxa Selic, inflação, cotação do dólar, Fitch, Moody's, Standard & Poor's, etc. É bem provável que se ao invés de martelar porcentagens que a maioria da população mal compreende os jornais abrissem espaço para a discrepância salarial entre gêneros ou entre cor de pele (!) esse aspecto da economia, que atinge muito mais diretamente os trabalhadores, seria encarado com mais relevância.
Claro, ainda que os aspectos técnicos da economia não sejam plenamente compreendidos por leigos, em tempos de crise eles chegam com força na vida da população. Com a inflação em alta o salário encurta, com o desemprego em alta o salário some, levando junto uma série de bens materiais e imateriais.
O papel do governo na economia de um país é sempre complexo. Deve alocar recursos de forma eficiente, sofrendo pressões por todos os lados. Quando a economia vai bem o mérito é do trabalho, quando vai mal o demérito é do governo, e não há frase mais apreciada por um político recém-empossado do que “precisamos salvar a economia”.
Sobretudo em um país tão heterogêneo quanto o nosso, o que significa “salvar a economia”? Em relação ao trabalhador assalariado o governo não tem nenhuma medida para que seu salário aumente, mas poderia muito bem atuar para reduzir seus gastos, fornecendo serviços básicos de qualidade, como saúde, lazer, educação e cultura – duas coisas distintas.
O problema é que essas medidas vão na contramão da visão mais imediatista que se tem da economia. Em meio às sutilezas da linguagem, investimentos em áreas voltadas para a população são noticiados como gastos e o corte nesses investimentos vira redução de gastos do governo.
A tal salvação para a economia costuma ser a mais ortodoxa, aumentar juros que atraem capital de especuladores, conceder isenção de impostos a quem já paga uma quantia ínfima sobre a própria renda e cortar os tais “gastos sociais”. Dependendo do ponto de vista, em pouco tempo a economia está salva.
Seguindo essa receita podemos voltar ao início do texto, ou seja, o crescimento aumenta, o dólar cai – não muito, para não prejudicar os empresários –, a confiança sobe e o noticiário pode indicar a recuperação da economia, afinal os números não mentem, antes estavam vermelhos e agora estão azuis.
O problema são os efeitos colaterais dessa receita tão simples. A conta é paga de forma unilateral. Superada a crise os trabalhadores terão média salarial reduzida e terão de enfrentar mais gastos com setores básicos, enquanto detentores de grandes fortunas continuarão contribuindo proporcionalmente muito menos para a recuperação.
Quem já tinha dinheiro de sobra para cuidar da própria cultura, educação, saúde, segurança e uma série de outros serviços indispensáveis, segue em frente como se nada tivesse acontecido. Enquanto isso à ampla maioria resta apertar o cinto e abrir mão de itens essenciais, tudo pelo bem da economia.