sábado, 22 de dezembro de 2018

Melhores livros lidos em 2018

Eis minha lista de 10 melhores livros lidos (e não necessariamente escritos) em 2018, com toda a injustiça que uma lista como essa pode gerar. Reparo que não consigo disfarçar minha tietagem aos autores latino-americanos contemporâneos. A ordem em que eles aparecem representa a ordem em que foram lidos e só. Podem ler sem medo cada um deles. Eu garanto! (aos mais chegados, tenho quase todos para empréstimo :))

Festa no covil, de Juan Pablo Villalobos (México) – um romance muito breve, de linguagem leve, narrado sob o ponto de vista de um garoto curioso, que é filho de um poderoso narcotraficante, e que vive este mundo sombrio de uma maneira muito sua, tentando entender o misterioso mundo em que vive o pai, com toda imaginação que só uma mente infantil pode ter. 

Deixa comigo, de Mário Levrero (Uruguai) - Um livro sobre um escritor em apuros financeiros (que familiar...) que recebe a missão de viajar pelo interior do Uruguai em busca de um tal de Juan Pérez, que enviara dias antes, sem endereço de remetente, o manuscrito de um romance genial a uma editora. Delicioso!

Como me tornei freira e La mendiga, de César Aira (Argentina) – César Aira não tem compromisso algum com o verossímil, com a realidade. Você pode esperar tudo deste que é um dos autores mais inventivos da literatura argentina contemporânea (cuja vastíssima obra está, pouco a pouco, chegando no Brasil). 

Poemas, de Wislawa Szymborska (Polônia) – Poesia pra ser boa não precisa ser hermética. Passando por temas pesados como a guerra, a vencedora do Nobel consegue nos atingir fundo, com temas pesados como a guerra e o exílio, mas de forma leve, que consegue sensibilizar até mesmo os leitores menos familiarizados com a linguagem poética.

Garotas Mortas, de Selva Almada (Argentina) – Um livro necessário sobre o feminicídio na Argentina. Um belo exemplo de jornalismo literário que busca investigar a morte de 3 mulheres argentinas durante os anos 80.

Múltipla Escolha, de Alejandro Zambra (Chile) - Um romance todo construído em forma de uma prova de múltipla escolha (baseada na Prova de aptidão Verbal, aplicada no Chile entre 1966 e 2002) e que consegue, nas entrelinhas, fazer uma crítica ácida ao horror da ditadura chilena. Estranho, sim. Incrível, também sim. 

Pássaros na boca, de Samantha Schweblin (Argentina) – São dezoito contos (absurdamente bem construídos) que começam com situações corriqueiras e que acabam ganhando ares de fantástico, na melhor tradição de Júlio Cortázar. Por mais absurdas que pareçam as situações narradas (uma menina que come pássaros, por exemplo) a gente lamentavelmente se reconhece em cada um deles. 

O pai da menina morta, de Tiago Ferro (Brasil) – Um pai que perde uma filha de 8 anos em decorrência das complicações de uma gripe. Este é o mote (tristemente real) deste livro em que Tiago Ferro torna seu luto público. Não se trata de uma narrativa tradicional, linear, mas uma coleção de fragmentos, que vão desde mensagens no Whattsapp até mergulhos na cabeça do médico que tentou salvar a menina em seus últimos momentos, o que torna tudo mais potente, mais real. Fazia muito tempo que eu não chorava lendo um livro.

O peso do pássaro morto, de Aline Bei (Brasil) – Parece poesia, tanto pelo lirismo, tanto pela disposição das
palavras
no papel
assim
bastante
experimental, 
como 
se 
as 


palavras


vo


       as


              s     e                    m


mas a autora diz que é romance. Suas escolhas narrativas tornam tudo bastante sutil, apesar do peso da história da protagonista, desde os 8 anos até sua morte, um romance de formação de uma mulher, mãe, sonhadora, humana.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Mito

Já faz trinta anos, mas lembro como se fosse ontem. Meu primo havia dito que Papai Noel não existe e eu fui contar isso para minha mãe, certo de que ela daria risada dele. “É verdade” ela respondeu, “não existe mesmo”. Estávamos perto do Natal, além de lidar com a inexistência do velhinho eu ainda tinha a sensação de ter sido tapeado.

Decidido a não perpetuar as frustrações familiares, parti logo para a verdade com meu filho. De forma lúdica, em meio aos brinquedos e tentando tomar todo o cuidado, cheguei ao ponto fatídico: “Filho, o Papai Noel não existe. Ele é só um mito. ”

Para minha surpresa o garoto abriu um sorriso e perguntou: “Então ele vai salvar o Brasil?”. Era só o que me faltava! Já era a segunda vez que essa revelação me desconcertava.

Ele havia ouvido, na casa de um amiguinho, que o mito ia salvar o Brasil e por isso a confusão. Dessas amizades de qualidade duvidosa a gente trata depois. Era hora de desconstruir o mito do mito.

Tentei ser o mais didático e ilustrativo possível para fazer com que uma criança de seis anos entendesse que um mito não existe no mundo real. É uma história inventada e, justamente por não existir, o personagem faz coisas grandiosas e fora da realidade.

Pensei que sendo racional e explicando porque o mito não pode ser transferido do imaginário para o real aquela criança de olhos esperançosos ia se convencer. Depois de muitos exemplos e fatos achei que tivesse dado certo. Ele fez cara de pensativo e começou: “Então... agora o jeito é torcer para dar certo e o Papai Noel cumprir a promessa de trazer um presente.”

Desisto. Por enquanto não vai dar para convencer o garotinho. Falta experiência prática e talvez daqui a um ano a realidade se sobreponha ao sonho. Não dá para negar que é tentadora a ilusão de personificar um mito que realize um desejo.

É tão tentador que meu primo, tão racional no auge de seus seis anos, esfregando na minha cara a dura realidade da inexistência do Papai Noel, esse ano tem se mostrado bastante seduzido por alguns outros mitos.

Encarei a crença dele como minha chance de revanche. Era minha vez de revelar a verdade. Expliquei porque um mito não existe no mundo real e suas promessas de façanhas são restritas ao mundo da ficção. Finalizei dizendo ser necessária a inocência de uma criança de seis anos para acreditar nesses mitos.

Nesse ano o Natal em família será tenso. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

O último mês

Dezembro é o último mês do ano. E a sensação que paira no ar é bem estranha, é o último mês do ano, mas será o último mês democrático que vivemos?

No dia primeiro de janeiro, de 2019, o presidente eleito vai tomar posse, um candidato polêmico que desenha um futuro sinistro.

E qual serão os rumos que este país vai tomar? Não sei, mas parecem assustadores.

Ah, mas talvez estou errada! Pode ser, mas no último mês do ano tudo parece fora do lugar, não temos ideia do que nos aguarda, por isso este dezembro está sendo tão longo e lento, como se o relógio segurasse cada segundo.

Não somos os únicos que estamos passando por mudanças, muitos países também vivem seus enigmas políticos e quem paga a conta é a população.

Janeiro não parece atraente, pelo contrário, sabemos que vai trazer notícias mais quentes do que o verão. Mas seguimos aqui, esperando dezembro acabar. Esse dezembro quente, sufocante, lento e devagar. Talvez seja o último dezembro democrático. Talvez.


Iara De Dupont