Eis minha lista de 10 melhores livros lidos (e não necessariamente escritos) em 2018, com toda a injustiça que uma lista como essa pode gerar. Reparo que não consigo disfarçar minha tietagem aos autores latino-americanos contemporâneos. A ordem em que eles aparecem representa a ordem em que foram lidos e só. Podem ler sem medo cada um deles. Eu garanto! (aos mais chegados, tenho quase todos para empréstimo :))
Festa no covil, de Juan Pablo Villalobos (México) – um romance muito breve, de linguagem leve, narrado sob o ponto de vista de um garoto curioso, que é filho de um poderoso narcotraficante, e que vive este mundo sombrio de uma maneira muito sua, tentando entender o misterioso mundo em que vive o pai, com toda imaginação que só uma mente infantil pode ter.
Deixa comigo, de Mário Levrero (Uruguai) - Um livro sobre um escritor em apuros financeiros (que familiar...) que recebe a missão de viajar pelo interior do Uruguai em busca de um tal de Juan Pérez, que enviara dias antes, sem endereço de remetente, o manuscrito de um romance genial a uma editora. Delicioso!
Como me tornei freira e La mendiga, de César Aira (Argentina) – César Aira não tem compromisso algum com o verossímil, com a realidade. Você pode esperar tudo deste que é um dos autores mais inventivos da literatura argentina contemporânea (cuja vastíssima obra está, pouco a pouco, chegando no Brasil).
Poemas, de Wislawa Szymborska (Polônia) – Poesia pra ser boa não precisa ser hermética. Passando por temas pesados como a guerra, a vencedora do Nobel consegue nos atingir fundo, com temas pesados como a guerra e o exílio, mas de forma leve, que consegue sensibilizar até mesmo os leitores menos familiarizados com a linguagem poética.
Garotas Mortas, de Selva Almada (Argentina) – Um livro necessário sobre o feminicídio na Argentina. Um belo exemplo de jornalismo literário que busca investigar a morte de 3 mulheres argentinas durante os anos 80.
Múltipla Escolha, de Alejandro Zambra (Chile) - Um romance todo construído em forma de uma prova de múltipla escolha (baseada na Prova de aptidão Verbal, aplicada no Chile entre 1966 e 2002) e que consegue, nas entrelinhas, fazer uma crítica ácida ao horror da ditadura chilena. Estranho, sim. Incrível, também sim.
Pássaros na boca, de Samantha Schweblin (Argentina) – São dezoito contos (absurdamente bem construídos) que começam com situações corriqueiras e que acabam ganhando ares de fantástico, na melhor tradição de Júlio Cortázar. Por mais absurdas que pareçam as situações narradas (uma menina que come pássaros, por exemplo) a gente lamentavelmente se reconhece em cada um deles.
O pai da menina morta, de Tiago Ferro (Brasil) – Um pai que perde uma filha de 8 anos em decorrência das complicações de uma gripe. Este é o mote (tristemente real) deste livro em que Tiago Ferro torna seu luto público. Não se trata de uma narrativa tradicional, linear, mas uma coleção de fragmentos, que vão desde mensagens no Whattsapp até mergulhos na cabeça do médico que tentou salvar a menina em seus últimos momentos, o que torna tudo mais potente, mais real. Fazia muito tempo que eu não chorava lendo um livro.
O peso do pássaro morto, de Aline Bei (Brasil) – Parece poesia, tanto pelo lirismo, tanto pela disposição das
palavras
no papel
assim
bastante
experimental,
como
se
as
palavras
vo
as
s e m
mas a autora diz que é romance. Suas escolhas narrativas tornam tudo bastante sutil, apesar do peso da história da protagonista, desde os 8 anos até sua morte, um romance de formação de uma mulher, mãe, sonhadora, humana.