Pedida, medida, dada
Para cada pessoa
Uma palavra
Para cada palavra
Uma leitura
Em cada uma, eu
E então adjetivada
Me torno quem sou
Na boca de cada um
Na frase de todos eles
No contexto que me traduz...
Perguntei ao homem sentado na estação de trem como se chegava a tal local. Humildemente, ele me passou a informação como se pedisse desculpas. "Não tem placa aqui, né? A gente desce perdido". Puxamos conversa mutuamente. O homem negro, de cabelos grisalhos, perguntou para onde eu ia. "São Paulo". Os olhos pequenos nostalgearam: morei lá. E quase como se não precisasse perguntar, ele completou: ali perto da estação Santa Cruz.
Encontrar um homem em uma estação de trem de Osasco, para quem eu justamente pedi informação, que morava perto de onde eu morava hoje era uma coincidência que não deveria surpreender. Mas surpreendeu. "Foi na década de 70, 80", os olhos se perderam na imensidão das palavras. "Eu andava de carrinho de rolimã na rua Loefgren”. E riu.
A Loef, apelido que lhe dei, é uma descida. É a descida que eu desço todo dia para chegar em casa. Imaginei o homem em versão miniatura descendo a rua toda pilotando o carrinho. Rindo. Difícil imaginar. A minha Loef é cheia de semáforos e carros desembestados.
Como moro numa travessa da Loefgren, falei o nome da minha rua, ele falou a dele e descobrimos que não fomos vizinhos por uns 30, 40 anos. Ele então me fez descobrir que onde eu moro hoje funcionava uma tecelaria, e que a lavanderia bem em frente ao meu prédio era da família de um tal de Marcos, que perdeu os movimentos acidentado em uma moto na rua debaixo. O homem se surpreendeu que a Lavanderia Mirassol ainda existisse. Depois, contou-me que na esquina em frente morava um tal de Rodolfo, homem grande (personalidade indefinida), “que nem sei se existe mais”, e os olhos se perderam de novo na imensidão.
“Tempos outros”, comentei, imaginando que a vizinhança toda deve ter se mobilizado com o acidente do Marcos, devaneando ainda que as crianças da rua deviam se reunir todas as tardes para brincar de rolimã. “Hoje eu não sei nem o nome dos meus vizinhos, não sei quem mora no apartamento do lado”, continuei.
O homem falou ainda um pouco mais, mas pouco, o calo no coração meio que pedindo arrego. Suspirou baixo bem umas três vezes enquanto conversávamos. O trem chegou, nos dispomos em frente a portas vizinhas, mas separadas por vagões distintos. “É, velhos tempos. Bons tempos” e entrou. O homem nunca mais vi. Me deixou com nostalgia de uma São Paulo que jamais conheci.
Fui à janela indagar da noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não continuam mais. A noite não me respondeu logo. Estava deliciosamente bela, os morros palejavam de luar e o espaço morria de silêncio. Como eu insistisse, declarou-me que os sonhos já não pertencem à sua jurisdição Quando eles moravam na ilha que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os fazia sair com as suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os sonhos antigos foram aposentados, e os modernos moram no cérebro da pessoa. Estes, ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha dos sonhos, como a dos amores, como todas as ilhas de todos os mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e dos Estados Unidos.Quando Machado de Assis escreveu o texto acima, jamais imaginou que os USA deixariam de ser um triple A e que a Europa teriam milhões de jovens que acordaram devido a impraticabilidade dos seus sonhos. Que o suor do seu trabalho e aquelas milhares de horas gastas em estudo não é garantia de nada, que terão lidar com o incerto e com o inseguro. Pior, não há como aqui o refúgio dos concursos públicos da inamovibilidade e a garantia do emprego eterno.
Hoje fez um dia lindo no Rio de Janeiro. Um sábado de sol reluzente e céu bem azul. Me disseram pois não vi. Passei a tarde toda num hospital.
Fui apenas refazer um exame de sangue que tinha feito na quarta-feira para confirmar os efeitos da picada daquele mosquitinho sacana que voa por aí fantasiado de branco e preto.
Entre a minha chegada e todas as outras etapas passaram se quatro horas e meia.
A maior parte do tempo passei sentado, lendo Um estranho no ninho e escutando um tipo de bingo de nomes narrados por um computador com sotaque lusitano.
As cenas foram todas tristes; Várias senhoras precisando de atendimento, pessoas que foram assaltadas e agredidas, gente com dor e várias outras querendo atenção para suas enfermidades.
Durante a espera, o seu nome é chamado várias vezes numa tela com a indicação de onde você precisa ir. Você fala com várias pessoas e nenhuma delas toca em você, inclusive o médico que escuta os seus sintomas olhando para a tela do computador e digitando tudo sem parar.
Em horas como essa você fica frágil com a situação e triste com de tudo o que vê. Sem o peso dos 28 anos eu penso alto:
- Eu só queria minha mãe.
Mas nessas horas também você se sente humano ao extremo, se coloca no patamar de todas as outras pessoas independente de qualquer coisa. A dor e a doença nivelam.
Ao sair do hospital ainda escuto uma das atendentes dizer que é uma afronta trazer Copa do mundo e Olimpíadas para o Brasil na situação que a saúde se encontra. Eu concordo e saio.
Nessa hora o sol do dia bonito no Rio se foi, mas lá de dentro, entre sangue, tubos e agulhas, eu imaginei a praia, o mar, as ondas e pensei que tudo poderia ser pior.
Ao voltar para meu livro leio “a imaginação é capaz de atravessar qualquer prisão”.
Tchau sábado 13.
Bem-vindo Agosto.
Mês passado, em uma básica divagação sobre o tédio das minhas próprias férias, recebi alguns comentários no meu post aqui no blog sobre como ler o que eu escrevi esclarecia um pouco sobre a geração da qual faço parte. Lembro-me bem de terem dito: “seu universo não é o meu, e por isso gosto de te ler”. O mais curioso é que agora, de novo no dia 03, quando finalmente consegui a inspiração para elaborar meu texto para o blog, que deve ser publicado em três dias, é justamente esse assunto que me vem a cabeça. Sou uma pessoa muito inquieta, e muito analítica, e talvez nasça daí minha obsessão estranha por decifrar minha própria geração (e, no caminho, decifrar a mim mesmo). A título de mais um capítulo nessa viagem, acho que cabe aqui uma pequena história e uma observação retirada da discografia de uma das mais proeminentes artistas pop dos últimos anos e, talvez até, a dona da música que melhor defina esse meu objeto de observação.
Se você me perguntasse alguns meses atrás sobre Kesha Rose Sebert, conhecida pelo nome de palco Ke$ha, jamais ouviria esses elogios saindo da minha boca. A verdade é que eu tive um problema sério com a americana de 24 anos, uma mistura meio estranha de falta de sorte (meu caminho nunca cruzou com o do seu melhor single, “Animal”) e preconceito pelo simples fato da canção que a lançou no mercado, “Tik Tok”, ser um tipo de pop pouco digerível que colava o estilo de uma cantora francesa alternativa e ainda tinha a harmonia parecida com um hit de Kylie Minogue, de quem tenho sido fã há tempos. Acontece que, num desses casos raros e deliciosos de boas surpresas, ouvir a discografia de Ke$ha, composta por dois álbuns até agora (Animal e Cannibal), é tirar um raio-x curioso, de música bem composta e cantada, da minha geração. Sem colocar o envolvimento emocional de fã recém-formado, é inegável que canções como “Your Love Is My Drug”, “Hungover” e “C U Next Tuesday” tem muito mérito compositivo.
Mas enfim, propaganda feita, vamos ao que interessa. Agora de pouco, ouvindo de novo o setlist do Cannibal e pensando no show da cantora que ocorre no final de Setembro em São Paulo (e ao qual este que vos fala estará orgulhosamente presente, eu espero), uma interessante dicotomia posta lado a lado me fez pensar. Propositalmente (como eu aposto) ou não, a jornada do ouvinte por essa fatia do álbum vai da seguinte maneira. “The Harold Song”, a quinta faixa, é a típica canção do adolescente apaixonado por quem não deseja estar. É um sentimento platônico comum a qualquer geração, o de um namoro terminado ou de um que nunca foi, mas que em qualquer caso faz o refrão entoar, em seu final, um clichê e ressonante “eu daria tudo para não estar dormindo sozinho”. A noção de que o amor é doloroso é uma descoberta tipicamente jovem. E essa minha geração tende a deixá-la muito latente. A faixa seguinte é “Crazy Beautiful Life”, e uma rápida olhada nas letras de Ke$ha é o bastante para descobrir que se trata de uma chamada intensa, talvez um pouco exagerada, mas na verdade bem honesta, para o fato de que em meio a divertida e apaixonante vida que os mais velhos tendem a chamar de “vã” da nossa geração, a verdadeira luta ainda é por algo real e certo. Sem meias palavras, pelo amor. Ou pelo menos pelo que a gente ache que é o amor.
Isso é uma pílula pra começar a saber o quanto Ke$ha entende essa geração, e o quanto faz sentido para ela se apoiar nas músicas de uma garota que construiu para si uma imagem meio suja, um tipo de glamour sem intenção, animalesco. Nos moldes de Gaga, que surgiu antes dela, Ke$ha não quer ser a perfeita popstar das capas de revistas. Ela quer ser aquela que vai servir de apoio, de identificação, para uma geração que encontra tudo isso na música pop. E isso não é só reconfortante, mas é também muito bonito. Nada mais emocionante, afinal, do que ouvir alguém cantar “estou apaixonada pelo que somos, não pelo que deveríamos ser” enquanto o resto do mundo está tentando te fazer mudar.
Pensava que era entregar o ouro nas mãos de assaltantes. Ei, por favor, sequestre meu filho. Ou no caso daqueles que é só uma mulherzinha: Por favor finja bater no meu carro e me estupre.Depois achei que era exagero meu. Law and Order SVU demais. Certeza. Bem que eu falava pra minha amiga Lorena, que adora, que aquilo não fazia bem pra alma.
O curioso foi ver depois esses adesivos em um episódio do Dexter, na temporada do Trinity, o serial killer que sequestrava menininhos. Um deles ele sequestra depois de colher informações nesses adesivos da família. Bem, eu não era tão insana assim. O risco existe. Pelo menos na minha cabeça e do roteirista do Dexter.
Depois a tia da banca de revista me disse que viu uma matéria na Ana Maria Braga, e meu pai também leu uma matéria do Estadão, disse que falavam que era um convite ao sequestro. Viu? Viu? Muito perigoso.
Adesivo vai, adesivo vem, até que já não achava tão arriscado assim. Eu moro em uma cidade no interior de Minas, acho que não temos muitos assassinos em série por aqui, não é mesmo? E é bonitinho, gosto da valorização da família quando muitos apontam o contrário.
Gosto de ficar no trânsito olhando aqueles bonequinhos e imaginando a vida daquelas pessoas. Gosto dos que tem a figura dos avós, acho fofo. E corajoso aquele com quatro filhos, hoje em dia, com o preço que está uma escola? E aquele casal mais sete cachorrinhos enfileirados? Espero que sejam da raça pinscher. Vejo a figura de uma mãe e duas crianças, esses aos montes, e fico pensando na separação. Será que as crianças sofreram? Crio toda uma novela ali, enquanto não abre o sinal.
Agora, o adesivo da família mais legal que eu vi foi esses dias no shopping. Achei tão bacana, tão peito aberto, que resolvi tirar uma foto pelo celular e publicar aqui. Não é bonito?