Por trás da saudade Há sempre uma lembrança Por trás da lembrança Há sempre um desejo Por trás do desejo Há sempre um sentir Por trás do sentir Há sempre um viver Por trás do viver Há sempre um amor Por trás do amor Há sempre um nome Por trás do nome Há sempre um sorriso Por trás do sorriso Há sempre um beijo Por trás do beijo Há sempre um alguém Por trás de alguém Há sempre um outro Por trás de nós dois Há sempre isso tudo Por trás disso tudo Haverá sempre nós dois...
Sofro de uma síndrome terrível, a qual eu chamo de Síndrome do Viajante. Todas as vezes que saio da minha casa e conheço uma nova cidade - pode ser uma cidade vizinha ou a mais distante - sou tomada de um deslumbramento enorme. Imagino como seria morar ali, as coisas que poderia fazer, as comidas que poderia comer, as pessoas que poderia conhecer. Assim, viajar é ao mesmo tempo uma alegria e um tormento para mim. Alegria pela oportunidade de conhecer inúmeras vidas diferentes da que levo, mas ao mesmo tempo, é um tormento por saber que sempre haverá um lugar mais sedutor, mais bonito e mais feliz. Se estou em uma cidade litorânea, imagino o quanto seria bom também ter a vista da montanha e se estou na montanha, quero a brisa do mar. Paradoxos. Desde que passei a levar uma vida mais séria - entenda-se: emprego fixo com carteira de trabalho - esta é a primeira vez que saio de férias. Passei as últimas três semanas viajando por várias cidades de Portugal e Espanha. Minha última cidade é Barcelona, de onde escrevo agora. Eu não conhecia a Europa e, acredito que seja por isso, a Síndrome do Viajante se manifestou com mais força: quero morar em todas as cidades em que estive. Chego ao final dessa minha travessia pela Península Ibérica um tanto confusa e encantada - de um modo meio quixotesco, eu diria.
Na mochila, trouxe comigo um livrinho do MoacyrScliar chamado "Dicionário do Viajante Insólito", que reúne crônicas sobre viagens e viajantes. No final de cada página há uma frase célebre sobre o tema. Selecionei algumas:
"Viajar expande a nossa capacidade de simpatia, redimindo-nos da reclusão e da modorra dos limites da nossa personalidade”. (José Enrique Rodo)
“Não há trem que eu não tomaria. Não importa o lugar para onde vai”. (EdnaSt. VincentMilay)
“Uma bela viagem é uma obra de arte” (André Suares)
“Viajar! Perder países!/ Ser outro constantemente,/ Por alma não ter raízes/ De viver de ver somente!/ Não pertencer nem a mim! Ir em frente, ir a seguir!/ A ausência de ter um fim,/ E da ânsia de o conseguir!”. (Fernando Pessoa)
“A viagem pode ser uma das mais compensadoras formas de introspecção”. (LawrenceDurrell)
“O mundo é um livro. Quem não viaja, só lê uma página”. (Santo Agostinho)
“Não viajo para chegar a algum lugar. Viajo para viajar”. (RobertLouisStevenson)“Viajar faz com que a realidade regule a imaginação”. (SamuelJohnson)
“Navigarenecesseest, viverenonestnecesse (Navegar é preciso, viver não é preciso)”. (Provérbio latino)
“Não viajamos só pelo prazer de ver, mas pelo prazer de contar”. (Blaise Pascal)
“Viajar é conversar com os séculos”. (Descartes)
PS. Aqui dia 27 já foi ontem. Para os atrasados, essa é a vantagem de estar cinco horas na frente!
Antes, devo falar do meu
silêncio. Que é de palavras. Mas também um silêncio interior. Eu e uma amiga
organizamos um evento científico aqui na floresta.
E foi muito bonito. Demos tanto de nós mesmas que ficou difícil por meses
pensar em qualquer outra coisa. E durante os dias do evento, noites sem dormir,
eu vivenciei tudo numa espécie de nuvem. E quando finalmente terminou, eu me vi
perguntando::: “maspraquêtudoissomesmopraquetantoesforço?". E essa pergunta
sem resposta me emudeceu. E se não fosse a Tatiana me trazer aqui, confesso, eu
não teria vindo.
Porém, se no meu blog, eu não me
furto de falar do que vai aqui por dentro, neste lugar de 30 pessoas, eu penso
sempre que devo dizer algo que, saindo de mim, possa interessar às pessoas que
por aqui passam.Porque o escuro de nós só
deveria interessar quando podemos transformá-lo.
A arte faz isto. Traz até nós a dor, o sofrimento, o horror, o abjeto, de um modo transformado,
a ponto de dali inspirar alguma experiência. Não falo só de transfiguração. Ou
do contato com o belo. Falo de uma experiência maior que possa nos proteger de
nós mesmas. Eu sinto que hoje há palavras demais. Todos querem falar dos seus
tormentos, como se isso marcasse a sua “diferença”. Mas poucos querem colocar
algo distinto no lugar – como se bastasse o lamento.
Kafka, que soube como ninguém nos
mostrar o que é o sofrimento, em seu diário, escreve:
“Eu escrevi isto certamente impulsionado pelo desespero que me provoca
meu corpo e o porvir desse corpo. ... Quando o desespero se exprime de modo tão categórico, quando é tão solidamente
preso a seu objeto como se fosse mantido às costas porum
soldadoque vigia seu posto e se deixa morrer por ele,
não é odesesperoreal. O verdadeiro desespero sempre e imediatamenteultrapassa sua meta...
Você está
desesperado?
Sim? Você
está desesperado?
Você vai
fugir? Você quer se esconder?”
Há aí um ponto muito incômodo,
que se situa, de algum modo, no próprio questionamento do que seja o desespero. Ou a
dor. Como se, ao expor o que há de performativo no desespero, ele apontasse
nossa própria performatividade que advém da escrita, do ato de escrever. Talvez,
quando desesperados, deveríamos ler mais livros, ver mais filmes, como um modo
de sair de nós e de parar de contemplar nosso próprio deslocamento. Haveria
mais beleza na vida, e também na blogosfera, se assim fosse. O que eu sei falar
sobre o que me rodeia? Qual o último grande livro que eu li? Quando eu parei
para escutar um cd inteiro, deixando que toda a música entrasse em mim? Quando eu
fui ver uma peça de teatro e saí dela com os olhos marejados de espanto? Quanto
tempo passei diante de um quadro num grande museu? Quando li um texto de mais
de dez páginas?
Deveríamos escrever sobre isso. Sobre nossas experiências com a arte e com a vida. E
não sobre nossa face no espelho. Porque, na maioria das vezes, a face é só face
mesmo. Não há nela nada de sublime. E se essas questões me importam é porque,
de algum modo, me tocam, sem que eu saiba exatamente onde. Não sei onde dói.
Mas sei que há muito além da dor. E é deste além que agora ando atrás.
Tati, um abraço bem abraço.
Obrigada por me devolver a escrita, ainda que pareça tão sombria.
Cansado
das previsões que, outrora, edificaram meu destino mal fadado por antepassados,
conservei no que me restava de (in)sanidade aqueles sonhos já sonhados na
infância, impregnados de barro e naftalina.
Como se a lembrança olfativa fosse tão real quanto o toque, resgatei nos
cheiros àquilo a que me apeguei como um garoto à sua bola, como a mãe ao seu
filho, como o vento à suas infinitas folhas. Porque me era por direito
modificar meus traços, fazer com que as linhas dançassem pela palma da minha mão.
Porque me era de direito o saber e o fazer, e, acima de tudo, o ‘eleger’. Na significância dos verbos,
cada um há de conjugar o que achar mais capaz. Eu tiraria da voz o timbre, da
corda a nota, do papel, qualquer palavra. Cada passo, uma dança. Em que mudança
viveria sua nova vida, pobre coitado? – debochariam meus antigos parentes,
descrentes que a maldição tivesse fim. Eu, que desdenhado, desdenhei da vida,
resolvi parar de olhar pelo espelho retrovisor.
Então é isso. São exatamente...o quê? Uma e quarenta? Uma e quarenta e dois da manhã e você entra aqui, cheia de verdade, e acha que é assim? Que eu vou só ouvir, baixar a cabeça e acatar tudo que você disser? Nããão. Não é assim que funciona, não. Eu sei que você gosta de um drama. De um teatro. Você devia ter sido atriz, minha filha. É. Novela da globo ia vir com seu nome em destaque. Pior, novela mexicana. Com aquele monte de grito e e e aquele negócio que passam no cabelo. Saquê. Não. Laquê. Laquê. Muito.Mas aqui não é assim. Aqui você chega e a gente conversa. E você me ouve bem atentamente, pra não repetir nada errado depois. É! Pensa que eu não sei? Tudo que eu te conto vai parar no ouvido das suas amigas. Aliás, tudo que a gente faz vai parar nas conversas de vocês. É. Não existe mais esse negócio de monogamia, não. Acabou. Falar em monogamia em pleno 2012 é que é sinal do fim do mundo. Apocalipse. A gente se casa com a mulher, as amigas, a mãe, a irmã, as primas... Eu já trabalhei com mulher, sei como é. Vocês falam tudo. Tamanho. Direção. Tempo. Inclinações físicas e políticas. Morria de medo de sugerir uma coisa mais diferente pra você e na próxima reunião de família todo mundo me olhar feio. Monstro. Tarado. Seu pai me expulsaria de lá, avisando pra nunca mais voltar. Certeza.
Mas, ó. Lembra quando começamos a namorar? Você tava cheia de bagagem. E nem me refiro à tua bunda não. Que, aliás, ainda dá um caldo. Mas tou me desviando. Bagagem. Se eu falasse tal coisa ou se reclamasse, você dizia que tinha sofrido muito por causa disso, já. Chorava e chorava. Não me atendia mais. Porque Raulzinho tinha te largado por causa do seu braço. E eu lá queria saber de Raulzinho ou de Huguinho, Zezinho e Luisinho? Faça-me o favor! Queria era teus braços enrolados em mim e você sabia disso! Que saco. Não tinha nada que aguentar trauma que ex-namorado tinha botado em você, mas vamos lá. Aguentei tudo firme e forte. Conversando. Sendo paciente. Levando flor pra você. Levando porta na cara. Levando esculacho dos amigos, que mandavam eu partir pra outra. Mas não. Aguentava firme e forte. Te disse. Queria ficar contigo. Esperava passar todos os chiliques. E não me olha assim! Chilique, sim, senhora. Você me pegava pra cristo e ficava contando de como um tinha te largado no bailinho do seu vizinho, de como o outro te comeu e jogou fora. E eu lá, todo compreensivo e psicólogo, mas no fundo pensando que ia virar teu amigo e só. Aguentei tudo isso. Você lembra, né? Você lembra.
Nem vou falar das vezes que fiquei contigo de madrugada, curtindo cólica. É muita graça. Nasci homem e sofro com cólica. Sempre esquentei água pra bolsa térmica. Precisei ter um arsenal de travesseiros aqui em casa porque não tinha jeito de você dormir sem sentir dor. Segurei a onda quando você quis mudar de emprego. Comprei seriguela - seriguela, veja só! - de madrugada quando você achou que tava grávida. E nem tava. Fiquei do teu lado durante a Grande Briga de 2009 com a minha mãe. Aquilo foi barra. Mas não arredei pé. Sempre, sempre do seu lado.
Em suma: eu te amo. Te amo desde o primeiro beijo. Não, um pouco depois. Mas, pera, não faz essa cara. Eu te amo. A gente tá junto há...que dia é hoje? Olha. Semana que vem faz sete anos. (Cacete. Tudo isso?) A gente passou por muita coisa junto. Eu encaro qualquer problema do seu lado, você sabe. Com um sorriso no rosto.
E aí você vai jogar tudo isso fora só porque me pegou com sua prima?
Pablo Gutiérrez de Oliveira Pinto, vulgo Pablito, é um pequeno proprietário rural. Todas as manhãs, exceção feita aos domingos e dias feriados, ele se levanta antes mesmo do nascer do sol para tirar leite de sua vaca malhada. Sem perder tempo, porque Pablito não tem tempo a perder, ele alimenta seu pequeno burro, animal não menos inteligente do que os outros e que já dobrara de tamanho desde o último acesso de Pablito. Ao chegar ao galinheiro, entretanto, Pablito reparou frustrado que lhe faltavam alguns ovos.
Mariana P. P. Lopez, vulgo Mari, fora quem furtara os ovos do galinheiro de Pablito. Mari nunca teve tendências cleptomaníacas e não havia nada em sua vida pregressa que botasse em xeque sua índole. Mas naquela noite, antes de se desconectar do mundo, resolvera cometer aquele pequeno furto, nada que a impedisse de ter belos sonhos. Sonhara com sua verdadeira paixão, muito mais intensa e honesta que suas investidas agrícolas. Mari estava se aventurando na vida empresarial e adquirira um café que era a sua grande mania. O sistema ainda não lhe tinha concedido moedas suficientes para ampliar o seu promissor negócio, de modo que ela estava tentada a se desfazer de suas próprias moedas verdes para abrir uma filial na praia.
Ideia semelhante teve Ricardo Emanuel Cardozo, vulgo Rick, que também roubava ovos de Pablito e era forte concorrente de Mari no ramo do fast food. Rick era muito popular e curtia tudo o que todos faziam. Adorava cutucar e ser cutucado. Defendia a tese de que tudo deva ser compartilhado.
Pablito, Mari e Rick eram pessoas pra frente e descoladas. Eram pessoas felizes e motivadas. Pablo Gutiérrez de Oliveira Pinto, Mariana P.P. Lopez e Ricardo Emanuel Cardozo são introspectivos e quase nunca saem de casa. Morrerão sem nunca terem se conhecido.
Andando por essa estrada, que me leva nem sei pra onde, vou lembrando de você!
Sempre me encantei com seu olhar que penetrava a alma! Seu sorriso que me fazia me perder em meio aos pensamentos que iam e vinham...
Mais do que palavras! O sentimento era tudo! Foi tudo!
Simplesmente inesquecível!
Penso comigo: Por quê determinadas coisas acabam?!
Será que é por que a gente não cuida direito?!
Puxa vida... A história teria sido tão diferente!
Queria ter feito de você a pessoa mais feliz nessa Terra, quiçá do Universo!
Não... Ainda seria muito pouco...
Prefiro dizer que seria algo que não fosse temporal. Que duraria a eternidade.
Que não fosse eterno enquanto durasse, mas que prevalecesse em meio a tudo e em meio a todos!
Restaram as lembranças!
Do seu cheiro! Do seu perfume! Do seu xampu!
Enquanto escrevo, vou rindo, lembrando das brincadeiras que fazíamos! E também desses detalhes que citei no parágrafo acima, que podem até parecer banalidades, mas que fazem parte das coisas que mais gosto de lembrar em você!
Bendita vida essa que faz com que cada um de nós tomemos caminhos diferentes...
Lembro que adorava fazê-la chorar... Mas de felicidade!
E também de quando te fiz chorar de tristeza. Disse à você e à mim mesmo que eu não era digno do seu amor, que a mulher que eu amava não deveria chorar por aquele motivo.
E você me abraçou, e continuou dizendo que me amava...
Sei lá... Engraçado, sabe?! Por quê coisas assim acabam?!
Acho que a pior parte disso tudo, é que nunca saberei a resposta...
Hoje você está tão longe de mim! E eu de você!
Entre tantos "por quês" que eu gostaria de entender, está também o por quê de eu ser tão saudosista!
Não é que isso me faça triste. Muito pelo contrário!
Gosto muito dessas recordações!
Só queria que não fossem recordações! Queria que fosse o presente!
Agora, já!
Mas...
A vida apronta o que ela bem entender...
Será que você lembra daquele dia que eu coloquei a música, quando estávamos sozinhos na sua casa, e disse que queria dançá-la com você?! Ahahaha!
Você me chamou de louco! Doido!
E eu disse que era mesmo! E que você era a culpada!
No final das contas, você topou!
Aaaaah... O olhar... Janela da alma...
Parecia que eu te conhecia tão bem... E acho que até conhecia!
Cada acorde, cada palavra... Cada balançar pra lá e para cá dos nossos corpos, embalados ao sabor daquela música... Mas o olhar... Era impossível não amar o seu olhar!
Que me falava tanto em meio ao silêncio!
Que me entendia tanto quando nem eu mesmo me entendia!
Como é bom lembrar de você... E sorrir, lembrando do seu olhar!
Lembro de uma amiga que fazia um bolo sempre que sentia tristeza ou desespero. A ideia de poder compartilhá-lo a acalmava e o bolo a fazia preocupar-se mais com calorias do que com calor humano.
Fui correndo pra cozinha, mas a única coisa que achei de interessante foi um miojo. Praguejei. Miojo não é feito bolo, que aquece a casa e dá pra dividir; mas fica pronto em três minutos (dizem), e eu tinha pressa. Além disso, era o que tinha.
Aconteceu que, no meio do processo todo, o gás acabou. Mas será possível, maior frio lá na rua, meu peito aqui ardendo em exageros e não tem gás? Sentei no chão da cozinha e fiz meditação, pensamento positivo, pra que alguém chegasse e me convidasse pra jantar. Não deu certo. Resolvi ir pra cama mais cedo roendo uma maçã. Mas o que as maçãs entendiam de solidão? O melhor que uma maçã poderia fazer naquela hora era descer de qualquer jeito e entupir o esôfago, causando um engasgo, só pra animar mais a noite.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho do celular, chegou mensagem. Era a tal da amiga:
Detesto quando o dia 19 chega de surpresa, sem eu ter percebido sua aproximação e eu sou levado a ter que escrever aqui assim, de supetão, sem ter pensado em algo especial pra dizer. Aí hoje decidi escrever sobre essa minha mania de, de tanto pensar demais no jeito que eu queria que as coisas fossem, acabo esperando sempre o inusitado acontecer de forma que me surpreenda. Mas é claro que, por isso, eu já penso no jeito como gostaria de ser surpreendido e fico esperando essa surpresa esperada acontecer do jeito que eu achei que ela deveria acontecer pra ser mais interessante do que é. E nunca acontece, porque eu acabo esperando demais.
Daí que eu acabo esperando a vida me surpreender de tantas formas, cada uma mais surpreendente que as outras, que tudo que acontece acaba sendo muito morno perto de tudo que poderia ter sido.
Então, pra não gerar pretensões de que esse texto vai ser melhor do que eu esperava que ele fosse se tornar ao longo da narrativa, eu finalizo por aqui acabando, assim, com expectativas frustadas.
Portanto, até o próximo dia 19, quando eu espero voltar com o pé mais no chão, e o coração mais perdido. Bem mais perdido.
Embora haja toda a correria de compra de presentes, ceia de Natal, rodoviárias e aeroportos abarrotados, creio que no final do ano as pessoas estão mais aliviadas. O ciclo está fechando, outro ano está começando e, apesar dos pessimistas insistirem que tudo continuará igual, os ritos de passagens mostram que a mente precisa, e digo precisa, acreditar no novo, no recomeço. Faz parte de nós essa necessidade de vigor novo. Faz parte de mim, pelo menos. E é por isso que acho que o meio do ano é a época mais propensa a irritações, estresses e surtos. Metade do ano passou, metade do ano de trabalho, de trânsito, de medo da violência passou e agora tem (ainda!) mais outra metade do ano pela frente. Uma colega de trabalho foi ao médico essa semana e ele a aconselhou:
- Tenta tirar umas férias...
- Mas eu acabei de tirar férias, doutor!
É o meio do ano que faz isso com a gente. E, pra ajudar, julho e agosto têm 31 dias e nenhum feriado nacional, morram! Como não se pode passar incólume por essa época ingrata, sugiro uma grande festa, um réveillon fora de época. Fogos, champagne, toda a sorte de superstições, todo mundo de branco, bem esperançosos comemorando a chegada de mais um meio de ano. Não se trata de mudar o calendário. Só um ritual para segurar o tranco. Como diz Drummond, 12 meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Já que estamos cansados antes disso, nada melhor do que o milagre da renovação para amaciar o meio do ano, deixando-o mais tragável.
Já estou com minha lentilha, 6 uvas e champagne a postos. Que comece a contagem regressiva!
Num comércio perto de casa, logo após da lombada eletrônica que foi retirada do lado que desce e mantida no lado que sobe, esse era informação escrita em letras de forma maiúsculas numa embalagem com capacidade para 10 cigarros. Incomum nos dias de hoje.
Incomum hoje também é a existência de um legítimo barbeiro, na infância tinha o Carlos e o Manoel. O primeiro era o dono da barbearia, minha mãe dizia que o casamento dele era estranho devido às contas serem matematicamente divididas, fumante e isso era evidente quando efetuava o corte. Já o Manoel tinha um violão e assumiu o papel de tutor sexual quando aos meus nove anos aconselhou que eu deveria comer as minhas primas que tinham mais ou menos a mesma idade que eu. Lembro-me que não tinha o odor de escova progressiva, nem conversas sobre a diferença entre bissexual e homossexual. Os assuntos eram sempre sobre futebol, com exceções para adjetivar as gostosas que passavam na calçada.
Gostosas essas que agora precisam mostrar muito mais e encantam muito menos, as partes pudicas hoje não são mais segredo para ninguém, nem mesmo a garotos de 9 anos. Muitos justificam que é devido à evolução, seja ela TV a cabo ou mesmo a Internet.
Evolução que fez Bob Dylan me agradar ao abandonar o violão e migrar para a guitarra, coisa que não funcionou para Jorge Ben, pois vamos ser sinceros, Jorge Ben Jor é um cara cheio de frescura. Alías, frescura é algo que deveria ser reservado as fêmeas, pois somente ela sabem fazer isso com graça.
Não basta você saber que é branquelo (um dedal a menos de melanina e você teria nascido albino) e viver ouvindo todas as variações de piadinhas sobre seu bronze Chamex. Você também foi premiado pela natureza com a abominável tendência a ficar vermelho. Em qualquer circunstância. E já que a ciência não sabe exatamente o porquê de isso acontecer e, consequentemente, não existir tratamento ou cura para tal mal, você é obrigado a lidar com a eterna tortura de saber que determinadas situações farão você ficar vermelho, mas de não poder fazer absolutamente nada a respeito.
Todas as técnicas que falam por aí são inúteis: respirar fundo, antecipar os cenários para não ser pego de surpresa, pensar positivo, fazer o nome do pai... se você se depara com aquela situação embaraçosa, seu corpo irá mandar um bombardeio gigantesco de sangue para o seu cérebro e, a não ser que o seu sangue seja de cor diferente, você irá ficar vermelho. Pior: dependendo da influência de Murphy na sua vida, o aspecto 'tomate' pode durar horas.
E aí, já que virar avestruz para poder enfiar a cara no chão nem desaparecer no ar são truques que possam ser cogitados, o jeito é aprender a fazer piada das piadinhas que as pessoas fazem sobre sua vermelhidão, esperar o rosto esfriar e levar a vida adiante, esperando pela próxima metamorfose colorida.
Entretanto... se isso serve de consolo, meu amigo ruborizado, saiba - e faça propaganda disso! - que uma pesquisa recente mostrou que pessoas que tendem a ficar vermelhas são mais generosas e realmente merecem a confiança dos outros. Está duvidando de mim? Então leia aqui e confira. Mas não vá ficar vermelho, só por que eu mostrei que você estava errado. Viu só? Bastou eu falar para você não ficar vermelho e aí está você, todo 'entomatado'.
Nesses tempos de extensa solidão no mundo, onde somos 7 bilhões de seres sós ocupando um espaço reduzido, nós os jovens buscamos com toda a nossa força uma luz, um exemplo, uma inspiração. E eis que o meu feixe apareceu bem perto de mim ...
Fernando Conte, meu amigo há um pouco mais de dois anos, surpreendeu a todos e a ele mesmo com a iniciativa mais simples e contagiante que ele podia fazer. Ele foi à Av. Paulista com um banquinho, uma toalha, uns quitutes e a seguinte pergunta: "Você já fez um amigo hoje? Sente-se!" e abriu uma porta no meio daquele buraco de solidões, deu a chance das pessoas falarem e deu a ele mesmo a chance de aprender com todas aquelas histórias. Incrível, não é mesmo?
Essa iniciativa faz parte de um movimento maior que se chama "DIGA NÃO A INÉRCIA", que encoraja todos a sairmos do nosso estado constante e fazermos coisas que não estava nos planos, que saia do comum, etc. No próximo sábado, ele vai com mais um bando de malucos CONTAGIAR SÃO PAULO. O evento chama CONTAGIE-SP e a ideia é novamente fazer a diferença no meio do caos, e fazer as pessoas pararem pra pensar em coisas que não pensariam normalmente.
CONVITE FEITO!
Eu não sei o quanto realmente estamos dispostos a sair das nossas bolhas de conforto, mas precisamos beber numa fonte muita mais limpa se quisermos ser luz no mundo.
Vamos ser jovens! Vamos nos amar! E o resto vem como consequência ...
Hoje é dia dos namorados! Mas azar o deles,porque é o dia do meu post e não vou escrever em rosinha nem distribuir flores. Aviso que não vai ter algodão,beijos e corações voando.Também não vou sortear uma caixa de bombons, nem publicar mensagens de amor aqui. Segundo minhas contas hoje é dia 12, que vem depois do 11 e antes do 13, ou seja, nada mudou,o famoso dia dos namorados não significa nada para mim. A minha questão é a seguinte -Não acredito nas relações humanas.Simples assim. Todo aquele cristal de almas gêmeas, amores eternos, acho tudo conversa mole. E como cheguei a essa conclusão ? Bom, não foi nos braços do George Clooney. Ralei pra caramba em relacionamentos amorosos, de trabalho, familiares e com estranhos. Eu tinha boas intenções e acreditava que os outros também tinham.Com o tempo aprendi que todos nós somos movidos por interesses próprios e isto nem sempre inclui o bem estar do outro. Isso é crime ? Não,é a natureza humana.Não estamos aqui movidos pelo amor,estamos aqui pela biologia.Se meus pais se amassem loucamente,mas nunca tivessem tido sexo,eu não existiria, então não é o amor que move o mundo. E existe amor ? Não sei, mas é lindo de acreditar nessa corrente do bem, o amor universal que nos une e nos faz melhor, também acho fofo pensar assim. Por outro lado essa noção de amor cristaliza e esconde muitas coisas, crescem expectativas e o amor faz o ser humano parecer maior do que é. Quem ama perdoa, quem ama cuida, quem ama protege, quem ama faz o impossível. Mentira.Somos todos humanos e nossa idéia de amor pode nos guiar,mas nem sempre indica o caminho e nem por isso deixamos de ser o que somos,pessoas,e sendo assim estamos sujeitos as nossas paixões e vontades e para conseguir o objeto do nosso desejo somos capazes de disfarçar nossas más intenções,nossos impulsos egoístas,nossos objetivos suspeitos. Quando eu acreditava no amor,lá pelo século XV, quando era uma inocente garota,o amor parecia acima de qualquer coisa e escolher um príncipe era divertido.Mas com o tempo o amor começou a fechar meu círculo de exigências e ficou tudo mais difícil.O meu príncipe me amava,mas fazia questão de ter um comportamento humano,então conclui que não era amor.Como pode ser amor se ele é humano e comete erros que apenas os humanos cometem ? Demorei para entender,o amor não canoniza ninguém,não santifica,a maneira como agimos continua mais ligada a seres rasteiros do que a anjos. Depois de um longo período de agonia,quando percebi o motor das relações humanas,renasci e vi a maravilha que era estar livre de idéias cristalizadas e noções distorcidas de amor. Não sei se é amor,mas gosto de príncipes desencanados,com facilidade de admitir suas fraquezas.Não preciso de frases de efeito,nem de promessas eternas,prefiro mesmo conhecer o ser humano que está diante de mim. Sem essa noção de amor o que resta é muita diversão .Ver que todos são humanos, todos erram e cada um age de acordo a sua vontade me deixa livre para ser quem eu sou, já que minha roupa de princesa se perdeu no meio do caminho. Os outros querem alguma coisa de mim ? Bom, eu também quero alguma coisa deles.Mas assim dito de maneira transparente é um bom negócio,somos isso,pessoas em um planeta tentando sobreviver e se divertir um pouco. Tem os românticos que curtem flores,frases e coisas assim.Tudo bem, cada um escolhe como viver, para mim não deu certo,não foi um caminho agradável. Gosto de coisas mais cruas,mais diretas.Relacionamentos entre dois seres mortais,cheios de erros e de defeitos.É amor ? Não sei.Talvez seja humana demais para saber,mas quando não corremos atrás desse famoso amor,dessa idéia vendida, percebemos como a vida pode ser divertida, seres humanos são um caos ambulante e viver no meio disso em vez de sonhar com tempos melhores pode ser libertador.E tudo que liberta transforma a vida em uma experiência que vale a pena ser vivida.
Há quem diga que amar é ver o pôr do sol, há quem diga que é dançar na chuva. Tem os que dizem que amar é acordar com um dia ensolarado de domingo.
Pode ser que seja apenas uma questão de gosto ou opinião. Pode ser que só o fato de acordar ao lado de quem se ama seja o suficiente, ou de repente, nem dormir para aproveitar mais o tempo.
Pode ser que dançar na chuva seja sinal de um amor frio, ou ver o sol morrer por trás das colinas signifique querer que com ele se vá o amor.
Arrisco também dizer que esperar para amar aos domingos ensolarado seja o mesmo que arremessar pelas janelas do universo as noites de lua cheia, ou ainda, esperar o nascer do sol seja em vão se o dia amanhecer nublado.
Eis que dizer que tudo é motivo pra amar englobe momentos das quais não queremos passar.
Então me resta dizer que devemos amar enquanto há vida e mesmo assim me questiono se não estaria limitando demais o alcance desse tal de amor.
Seus olhos verdes me encantavam mais e mais. Olhar para eles era tão profundo quanto ver o fundo do mar. Ser olhado por eles era mais denso do que um raio-x na alma. A cada dia você me conquistava mais e mais com seu sorriso silencioso. Um sorriso de canto. Um sorriso seguido do meu nome. Eu não gostava muito do meu nome, mas em sua boca, era a mais bela canção. Não gostava muito de mim, nem do meu corpo. Mas meu corpo no seu era como se eu tivesse sido elevado à categoria de obra-prima de Michelangelo. A beleza tinha nome, endereço. Penso por horas que o endereço dela era o seu nome, o seu corpo. No entanto, você insistia em me dizer, em me ensinar que tal beleza só existia por causa da junção dos nossos corpos, dos nossos beijos e desejos. E eu, aqui, sentado nessa cama. Duas horas da madrugada. Chorando silencioso. Chorando feliz. Agradecendo a alguém, lá em cima, por me ter dado você. Porque através de você, eu sou melhor a cada manhã. Te amo!
Ela tinha dez aninhos, mas já era uma mulher. Grandona. Cabelos dourados, rosto redondo. Sardas saltavam nas bochechas. Já usava batom e botas com salto. Chamava a atenção na rua. Todo mundo soltava um risinho como se dissesse: que gracinha. A mais bonita, era sempre escolhida para ser a oradora dos eventos da escola. Nas férias, na casa de praia, todo mundo dizia: está uma mocinha, seu Alberto. Os concursos do bairro, ganhava todos. Garota isso, garota aquilo. Os garotos queriam tirar uma casquinha. Os pais dos garotos, queriam o sorvete inteiro, passavam a mão no queixo, na cintura. A estrela sorria sem jeito. Eu não queria que ninguém chegasse perto da minha pequena. Só podia sentar no meu colo. E no colo dos colegas da firma, que eu confio.
Não sou muito de ver televisão. E quando ligo, é para treinar o inglês vendo um pedaço de filme do Telecine. Eu ia falar noticiários, mas parei pra pensar um pouco e me dei conta de que estaria mentindo. Mês passado, numa dessas poucas incursões ao controle remoto, resolvi dar uma chance ao Top 10 (ou seria Top 20?) do TVZ, que apresenta os clipes mais "votados" pelos telespecatadores. Votados está entre aspas porque, na verdade, quem comanda aquilo não é necessariamente os votantes, mas essa discussão fica para um outro post. De todo modo, lá estavam os clipes e as músicas que estão bombando no rádio, nas festas dos pré-adolescentes, nos consultórios dentários, nos iPods coloridos e no aparelho de som turbinado do vizinho. Não digo que as músicas e os clipes sejam ruins, mas parece que existe uma espécie de fórmula de produção para todos esses artistas e acho que é justamente aí que mora o problema. Não sou tão xiita quanto os metaleiros e adoradores de jazz ou música clássica. Convivo muito bem com Miley Cirus, Madonna, J Lo, Britney Spears, Ke$ha e cia (acho que sei pescar/identificar as melhores músicas e melodias desses artistas e não tenho vergonha disso), mas é muito estranho você assistir 4 ou 5 clipes desses artistas na sequência e ver que quase todos falam de "zoar a noite toda", "pegação sem compromisso", e isso sem contar a estrutura das músicas, a ponte para o refrão, a sonoridade, a tomada das câmeras, os olhares, os closes, as roupas.
Mesmo não sendo um super fã de Adele, fiquei extremamente feliz em ver o seu clipe no meio de tanta falta de criatividade e mesmice. O clipe de "Someone Like You" é em preto e branco. Só isso já seria motivo de aplausos. Mas a coisa não para por aí. Ela não está lançando um sorriso plástico para as câmeras como quem pede mais seguidores no twitter. A letra é verdadeira, tem força e é bem escrita. O clipe não tem homens musculosos sem camisa, tampouco piriguetes se esfregando em alguma pilastra de uma festa milionária. Vemos apenas Adele, andando calmamente, e põe calmamente nisso, à beira do rio Sena. Sim, o clipe deve ter custado muito pouco para ser produzido, mas ainda assim, vale mais que os clipes dos seus colegas das paradas de sucesso.
nossa relação já não estava boa há muito tempo e acabou, de fato. demorou um pouco pra me acostumar a acordar e perceber quenão estávamos mais juntos. acontece que depois de algum tempo tive a certeza que não, não dava mesmo para continuar. a cada dia ficávamos mais distantes e vi que apenas insistíamos em algo sem futuro. não conseguia tirar isso da minha cabeça.
no começo era tudo curtição. constantes passeios, teatro, livraria, cinema, shows, bares, restaurantes, era como se eu necessitasse de sua presença, que me proporcionava umasensação de segurançasem par. só de imaginar sua ausência, eu já me sentia sem direção, não enxergava um palmo à minha frente.
acontece que o que era pra ser uma relação fugaz tornou-se cada vez mais íntima. eu sabia que não podíamos dormir juntos, mas às vezes esquecia que isso era uma atitude 'errada' e quando via, o despertador do celular anunciava que já era o dia seguinte e você estava ali, no meu travesseiro. não conseguíamos ficar distantes e desde a hora em que acordava até o momento de dormir,eu só tinha a mesma coisa na cabeça, enfim, uma dependência que, aos poucos, foi tomando conta da minha vida a ponto de chegar a pensar que seria pra sempre.
lógico, como toda a relação havia aquele período de indiferença. às vezes eu enjoava e trocava por outros só pra não cair na rotina. acabei até meencantandocom outros mais bonitos, feios, mais finos, mais velhos ou novos, mais atraentes e charmosos. mas não adiantava, era como um imã ou um bumerangue, que quanto mais longe eu arremessava, com mais força voltava.
obviamente não foi fácil lidar com o fim e tive de procurar ajuda médica, tanto antes do término como depois. passei a tomar remédios fortes que me faziam dormir. assim que tudo acabou, apesar de sentir um alívio, fiquei uns cinco dias em casa.
é... pra quem nunca usou óculos pode parecer besteira, mas para mim, que os tive comigo durante vinte anos, sei bem do que falo. acontece que foi preciso dar um fim neles e agora, que rompemos de vez, sei que fiz a escolha certa e tenho sido uma pessoa mais feliz desde o dia 9 de junho de 2009, quando fiz a cirurgia para correção de miopia e astigmatismo.
agora eu não dependo mais deles e se antes eu via desfocado, sei que os graus que me impediam de enxergar são apenas números sem importância que desapareceram com a aplicação de um laser, assim como espero que aconteça com algumas lembranças cujas duas lentes de vidro tanto presenciaram.
e apesar do charme que - dizem - os óculos me proporcionavam, não há mais tesão da minha parte por eles e um relacionamento entre nós não daria mais certo mesmo. por isso, posso dizer, mesmo sabendo que um dia voltarei a usá-los e cobrir minhas vistas nuas:
óculos,
eu não preciso mais de vocês.
[texto publicado originalmente em 2009, agora repaginado e atualizado]