Este texto tem uma primeira parte; você pode encontrá-la neste mesmo blog no dia 6/6. Mas também pode ficar à vontade para pegar o ônibus 4010-32 nesta parada.
Primeira parada
Desenhou com a ponta dos dedos a silhueta na capa do livro, um ato de amor, sabor em iniciar um novo caso; chegava mesmo a passar a ponta da língua nos lábios, não premeditado, os dedos descendo pela lombada do objeto, agora segurando firme para que a outra mão dedilhe o outro lado das folhas livres.
Alana, que não gostava de escolhas: Alana, que todos os dias pegava o mesmo ônibus, que todos os dias sentava no mesmo lugar, que todos os dias fazia a mesma refeição — café preto, sem açúcar, com pão amanhecido de ontem — que todos os dias lia no 4010-32. Essa Alana tinha prazer em escolher histórias.
Por onde escolher livros? Pela capa? Pela quantidade de folhas? Uma indicação… uma crítica…? Uma escritora da qual já se gosta… um autor já conhecido?
O último livro tinha sido um desafio para Alana. Detestava o jornalista que o escrevera, achava-o de uma dramaticidade burguesa medíocre, mas foi traída por sua curiosidade quando um colega da faculdade colocou a obra à sua frente: "Este, sem dúvida, é o livro da minha vida". O que poderia haver depois disso? Qual preconceito ao jornalista a transportaria para longe da brochura entregue? Entregue, foi como ela sentiu o colega, completamente entregue, desnudo naquelas palavras/letras do miserável.
Sua reação foi perdoar o autor e abraçar sua obra, tentar desvendar o livro pela capa e depois mergulhar história adentro.
.... continua