segunda-feira, 27 de abril de 2020

Quarentena

Estou há quarenta dias literalmente sem praticamente sair de casa. Fui ao mercado por três ou quatro vezes e só. Todos os dias em casa. Todos os dias. Todos os dias. É muito estranho viver em 2020.

Por outro lado, passaram-se quase dois meses e não sinto tédio, a repetição dos dias. Ao contrário: acordo, faço refeições e já é hora de dormir de novo. É como se os dias tivessem duas horas apenas. É uma tensão constante tanto pelo avanço da pandemia, os negacionistas, o medo da morte, mas nada comparado ao efeito que a política nacional tem sob os meus pobres nervos.

Desde o resultado das eleições presidenciais de 2018, minha ansiedade se agravou muito. A junção do totalitarismo com fanatismo religioso equivale pra mim ao que os cristãos chamam de inferno. Fico esperando a notícia de que a constituição democrática será substituída por outra autoritária a qualquer momento. Conversando com uma amiga sobre isso, ela lembrou do filme “Mate-me, por favor”, pois ele aborda como a angústia da ameaça pode se tornar insuportável a ponto de a morte ser preferível a essa espera. Às vezes, a tortura está na imaginação do futuro terrível que pode, inclusive, não se materializar.

Numa das madrugadas em que a ansiedade não me deixava dormir, acabei caindo numa vídeo-aula de Tai Chi Chuan. Três horas da manhã e estava eu ali “braços flutuando para cima, braços flutuando para baixo”. Foi bom, consegui dormir. No dia seguinte, continuei a saga refletindo sobre o conceito de fluxo presente no Taoísmo. É uma ideia que encontra eco dentro de mim, porque no meu íntimo sei que a vida está em constante movimento e que não cabe a ninguém o controle dela. Mas minha paz é roubada pelo medo de algo pior do que o presente acontecer, o que me faz ansiar por receber de uma vez a sentença final.

Há uma entrevista com o ator Bruce Lee na qual ele dá o famoso conselho “seja como a água, meu amigo”. Acho que é um bom conselho. Faço muito esforço para segui-lo. E quem sabe até o final desse período de confinamento eu consiga me desenvolver mais. 


sexta-feira, 24 de abril de 2020

“E se...?”

“Fernanda, pelo contrário, procurou-a unicamente nos trajetos do seu itinerário cotidiano, sem saber que a procura das coisas perdidas é dificultada pelos hábitos rotineiros e é por isso que dá tanto trabalho encontrá-las” (Cem Anos de Solidão – Gabriel García Márquez)

A primeira vez que li o romance do García Márquez, tinha por volta de 19 anos, aproximadamente 1 ano e meio após a morte do meu pai. Fiquei apaixonada, tanto pela complexidade da história, que de tão complexa se torna simples, quanto pelo cíclico e interminável resgate de memórias, vivências e traumas familiares, e naquele momento estas questões eram muito importantes pra mim.

Reli o livro ano passado e ao mesmo tempo fui relida. Destacaria muitos trechos que trouxeram reflexões, mas sem dúvida esse com que inicio o texto, foi o mais profundo de todos. E o mais surpreendente é que esse excerto continua a se reatualizar e ressignificar muitas histórias e contextos na minha vida.

Quando estava relendo o livro, vivia o retorno de um relacionamento que desde o início esteve fadado ao fracasso, mas que estava ali, novamente impondo-se no meu cotidiano e ao qual ainda era apegada e tinha grande dificuldade em “deixar ir”. Era um recomeço, era como “encontrar algo perdido”. Ao mesmo tempo, sentia García Márquez conversando comigo (para além da coincidência entre meu nome e o da personagem), era eu tentando reencontrar a mim mesma, em meio a um turbilhão de sentimentos que se colocavam naquele momento em minha vida pessoal e profissional.

Talvez já esteja posto, ou ainda precisarei de muito tempo pra deixar isso minimamente mais claro, que os textos que coloco aqui trazem reflexões de mim mesma. “Claro”, qualquer um diria, “escrevemos para isso”. Mas não é somente isso, as reflexões sobre mim mesma estão muito relacionadas ao que sou, e a como me coloco e expresso no mundo. Uma de minhas maiores preocupações na vida é ter sentido, fazer sentido, e pra isso é fundamental conhecer a mim mesma.

Dito isto, voltando ao livro, e mais particularmente ao trecho que destaquei, penso, neste momento em que decidi fazer uma reflexão sobre ele pra postagem de hoje, que talvez as nossas concepções sobre os trajetos de nossos "itinerários cotidianos", nunca mais voltem a ser as mesmas. Seria ótimo, se assim fosse, por um passo adiante, o avanço de um degrau, pelo rompimento de algumas certezas às quais éramos apegados, etc.; mas como tem se dado, diante de uma crise mundial de saúde pública, forçosamente estamos tendo que reaprender e criar dia a dia um novo cotidiano que em nada se assemelha ao que tínhamos antes, quando tudo era previsível e racionalizado.

“E se...?” é o que mais tenho me perguntado nestes dias, sem conseguir definir planos e metas que ultrapassem dois, três dias, no máximo uma semana. Perdemos todos os prazos, adiamos compromissos, fechamos nossas casas e não sabemos como vai ser amanhã. É sensato, manter a mente tranquila, comprometidos com nossos afazeres, sejam eles quais forem, mas não há como negar que a insegurança quanto ao amanhã, como a chegada dos feriados esperados para nos reunirmos com aqueles que nos são caros, os aniversários dos amigos, os abraços apertados, as longas conversas na mesa do bar, os beijos apaixonados e o vai e vem cotidiano da vida não nos deixe tristes e assustados. “E se...?”.

Tenho me voltado muito pra mim, respeitando meus limites, os meus “quereres”, os meus pequenos talentos, capacidades para coisas que antes não sabia possuir, minha preocupação com aqueles que amo, com meu trabalho, enfim... tenho aprendido muito sobre mim mesma e isso, por si só, é grandioso. Mas como é difícil querer me encontrar fora dos meus “itinerários cotidianos”, em um lugar em que tudo é dúvida e incerteza. Talvez, se García Márquez fosse vivo hoje e estivesse escrevendo seu romance, Cem Anos de Solidão tivesse outro sentido,  com muitas “coisas perdidas” e poucos “hábitos rotineiros”.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Cão que lattes

O professor universitário
Mestre em pós-modernidade
Doutor em fenomenologia
Pós-doutor em Filosofia da Consciência
Que fala com desenvoltura
Sobre ética em Espinosa
Epistemologia em Kant
A esfera pública em Habermas
O poder em Foucault
Ontologia em Nietzsche
Não sabe ligar o ventilador.


segunda-feira, 20 de abril de 2020

Gados não fazem escolhas

Ontem foi Dia do Índio. Não fosse a pandemia, muitas crianças teriam vestido fantasias ridículas, feitas com papel crepom, para estereotipar os povos indígenas com cocares e tangas, de uma forma que só existe no imaginário preconceituoso. Pelo menos a pandemia livrou uma geração de ter que esconder pelo resto da vida uma foto de gosto duvidoso.

Aos indígenas a pandemia não trouxe alívio algum. Em São Paulo a Construtora Tenda luta na justiça para expulsar indígenas Guarani Mbya do minúsculo território demarcado no Pico do Jaraguá. Para erguer cinco prédios para cerca de 800 moradores a Tenda teria que derrubar mais de 4 mil árvores, na cidade que já quase não tem áreas verdes.

Longe dos centros urbanos a situação é ainda pior. Na floresta, 4 mil árvores derrubadas seriam uma pequena parte do ataque às reservas. A promessa de quem hoje ocupa o Palácio do Planalto sempre foi não dar mais terras aos índios, sem perceber que as tais terras sempre foram de indígenas, expulsos há séculos de terras que ocupam há milênios.

Em meio à crise do Covid-19 a notícia de uma safra acima da média traz respiro à economia, defendida até a morte, desde que a morte de pessoas que supostamente merecem morrer. Para quem ainda vê os povos indígenas como um mero empecilho ao progresso e as mortes em decorrência do vírus como um mal necessário em prol da economia, é a prova de que o caminho correto é o desmatamento para a agricultura ou para a criação de gado.

Difícil saber quantas pessoas têm esse pensamento, mas não são poucas.  Muitas chegam a se aglomerar em passeatas a favor do presidente. Não, não são gado, são pessoas, como eu ou você. Animalizar adversários políticos, sobretudo quando defendem a barbárie de forma tão explícita, é tentador, mas não ajuda em nada. Gado não tem opção. Age da única forma que poderia agir. Manifestantes, de qualquer espectro político, têm a possibilidade da escolha.

Entre passeatas que parecem dar fôlego ao presidente e os panelaços que parecem desejar fritá-lo, melhor uma análise de pesquisas. Não são tão empolgantes, não ganham no grito, muito menos na bala, mas revelam um perfil mais preciso da população.

Segundo o Datafolha, o mesmo instituto que a extrema-direita exaltava ao indicar baixa popularidade de Dilma e agora desqualifica, como desqualifica qualquer coisa que não exalte o presidente como unanimidade inquestionável, indica que entre líderes mundiais, o brasileiro é um dos poucos que não teve sua popularidade aumentada com a crise. Também indica que é a pior popularidade de um presidente em primeiro mandato, desde Fernando Collor.

Pode parecer empolgante para quem nunca se conformou com a cadeira presidencial ocupada por um demente incapaz. Por outro lado, só 17% daqueles que elegeram o presidente se arrependeram do voto. A popularidade foi estabilizada há meses e se algo entre 30 e 35% de aprovação é pouco em condições normais, diante de todas as insanidades, ignorâncias e barbáries cometidas, é suficiente para que o presidente se sinta confortável e livre para fazer o que quiser.

Não são gados, são pessoas. Assim como observado pela filósofa Hannah Arendt, ao criar o conceito de “banalidade do mal”, são pessoas comuns. Se intitulam até de “pessoas de bem”, que ao tirar a camiseta da CBF que vestem para protestar contra a corrupção (!) costumam ir para a igreja, falam em nome de deus, se vestem bem, vão a shoppings, fazem compras, confraternizam com amigos e familiares.

Tudo isso ao mesmo tempo que defendem um regime autoritário que reprima ou eventualmente aniquile opositores. São aqueles que justamente por viverem da exploração do trabalho, não admitem que trabalhadores fiquem em casa. São os que, beneficiados pelo alto desemprego, sabem que caso os trabalhadores morram, basta contratar outros. Se indígenas morrerem, diminui a dificuldade de obter mais terras.

Não são gados, são pessoas, conscientes e sórdidas ao ponto de relativizar os fatos mais evidentes. Gados agem por instinto, da única forma que poderiam agir. Pessoas têm escolhas e podem optar pelo pior, fechando os olhos para as consequências nefastas em quem não reconhecem como semelhantes.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

A pandemia e a viagem cancelada

Olá leitores queridos e leitoras queridas,

Se você acompanha o blog, deve saber da minha paixão e saudosismo por Manchester , Inglaterra, onde morei por um ano. Deve saber também que todos os meus textos são de alguma forma relacionados com a minha experiência morando fora. Se você não acompanha, bem-vindo/bem-vinda! Deixarei no final desse texto um link para todos os posts deste ano de 2020.

Gosto tanto de Manchester que tinha planejado uma viagem de um mês para lá. Seria um misto de férias e trabalho. Eu iria trabalhar com os meus colegas de lá e ao mesmo tempo iria visitar outros colegas e lugares queridos. Foram meses planejando a viagem, articulando e organizando tudo. Eu embarcaria em 18 de março de 2020. Acontece que um vírus começou a se espalhar, uma pandemia se instalou e os aeroportos pareciam estar fechando.

Todo mundo que eu conheço começou a me perguntar: Jacque, e como é que fica a sua viagem? Eu respondia: igual, porque eu mudaria? Na minha cabeça, nada nesse mundo me faria desistir da minha tão sonhada e planejada viagem de volta para Manchester, nem mesmo uma pandemia. O plano seria mantido.

Até que dois dias antes do meu embarque, minha chefe de Manchester me escreveu um e-mail dizendo: Jacque, se eu estivesse no seu lugar, eu não viria me visitar. Sou teimosa, mas não sou burra. Então, entendi que ela estava me pedindo para não ir. Amigos/amigas, isso foi um soco no meu estômago. Com muito choro e pesar, cancelei a viagem e passei os próximos dias das minhas supostas férias trancada, isolada e sozinha no meu apartamento.

Minha equipe de Manchester é tão incrível, que decidiu manter a nossa agenda. Então, praticamente todas as atividades que faríamos juntos quando eu estivesse por lá, fizemos juntos por videochamada. Foi bastante animador! É o tipo de coisa que chamo de "pequenas alegrias na quarentena". 

Aposto que assim como eu, você deve ter alguma coisa que te dá fôlego e ânimo nesses tempos de pandemia. Adoraria saber quais são as pequenas alegrias que te ajudam a manter a sanidade nesses tempos difíceis. Deixe ali nos comentários.

Finalizo esse post, compartilhando uma das pequenas alegrias que me mantém sã nesses dias difíceis.

Fim de tarde no Cambuci, São Paulo


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quinta-feira, 9 de abril de 2020

Poesia na pandemia

Álcool em gel para matar os vírus, álcool destilado para matar o tédio.
Mercado cheio, botijão de gás vazio.
Falta dinheiro, falta ânimo, falta de ar.

Céu limpo, consciência suja.
Coronavírus, mate o presidente.

Fique em casa. E quem não tem casa?
Lave as mãos. E quem não tem água e sabão?

Tempo de solidariedade, de coragem, de recolhimento.
Tempo de repensar hábitos, modelos, prioridades.
Tempo de valorizar a pesquisa, a ciência e a saúde pública

Quando isso vai passar?
Quando essa loucura vai acabar?

Medo de nada mais ser como antes.
Medo de tudo voltar a ser o que era antes.


quarta-feira, 8 de abril de 2020

Parte II
Terapia de izquierda y psicoanálisis: algunos aportes de la mirada psicodinámica.
Las teorías psicodinámicas, en sus versiones trabajadas en los años 60 y 70 en la Argentina, han generado aportes sumamente enriquecedores a la perspectiva transformadora de la psicoterapia de izquierda. En nuestros días, el psicoanálisis conocido de corte lacaniano ha seguido trabajando en la perspectiva de la emancipación del sujeto. Veamos de qué se tratan estos aportes para comprender la complejidad de las intervenciones de nuestra propuesta.
Por un lado, en la historia de la Argentina, las teorías psicodinámicas se han retrabajado y reconstruido conceptualmente en función de su inserción en las instituciones, como los hospitales, entre otros. Autores reconocidos de la época han reconceptualizado las teorías para posibilitar su implementación en grupos de personas en tratamiento, generando la oportunidad de reconocerse a si mismos como sujetos con un lugar en un espacio grupal con la posibilidad de avanzar en pos de objetivos comunes. Asimismo, los entrecruzamientos entre lineamientos teóricos y psicodramáticos han colaborado a la propuesta de trabajar creativamente en grupos, contribuyendo a enriquecer las líneas sistémicas de las psicoterapias de izquierda.
No obstante, sectores críticos han cuestionado la apuesta de algunos sectores de reconceptualizar el psicoanálisis, aduciendo la falta de consistencia teorica en la aplicación del dispositivo analítico, en otros contextos ajenos al psicoanálisis, entendido en estos casos como lógica. Sigue habiendo un debate caluroso al respecto.
Por otro lado, la mirada desde la subversión del discurso del amo, han aportado la posibilidad de pensar nuevas aristas de emancipación del sujeto, en el sentido de que, el sujeto al ir encontrando su propio camino/deseo desde lo simbólico, posibilita una separación de lo que pareciera venirle impuesto desde un otro lugar (del cual si se quiere, se emancipa). La cuestión del discurso capitalista, como un “amo sin entidad concreta”, diluido, al cual hay que captar, complejiza la cuestión aún más en la actualidad. 
Tema para otro capítulo de aportes a la psicoterapia de izquierda: “el amo sin rostro”.


terça-feira, 7 de abril de 2020

Hay quienes dicen que estamos viviendo una nueva edad media…


Hay quienes dicen que estamos viviendo una nueva edad media…


     Hace un tiempo leí un par de artículos[1] que decían que estamos viviendo en una nueva edad media. Sorprendido, como cada vez que uno se enfrenta a lo desconocido y es tomado por sorpresa, “salté” mentalmente hacia atrás y dije, “jjjmmm…”. Pero continué leyendo ya que algo me resultaba familiar en la idea. Igualmente, extraño porque en el secundario no habíamos estudiado nada relacionado, y menos en la facultad; los canales de noticia no decían nada al respecto. Ni siquiera los blogs que versan sobre innumerables conspiraciones y que suelen estar en la cresta de la ola de las informaciones secretas a punto de revelarse.

     Tratemos de reflexionar si esto es posible:

¿A qué se llama Edad Media?


     Si nos vamos hacia atrás en el tiempo, la idea de comprender la historia en edades resulta tan antigua como el propio ser humano probablemente ya que puede observarse dentro de los relatos orales y escritos de antiguas civilizaciones.

     Entre algunos de los ejemplos que hoy nos llegan, podemos ver en el Mahabharata, libro sagrado de la tradición hindú con al menos 5000 años de antigüedad, que el tiempo está compuesto por cuatro “yugas” o eslabones. Estas cuatro etapas “comienzan” con una Edad de Oro, llamada Satya Yuga y atravesando tiempos relacionados con la plata y el cobre, se llega con una Edad de Hierro, conocida como Kali Yuga.

     Así mismo Hesíodo en Grecia, hacia finales del siglo VIII a.C. en su poesía Trabajos y días relata que la humanidad atravesó 5 edades a lo largo de su existencia hasta nuestros días. En la Edad de Oro mujeres y hombres vivían como dioses, pero fueron degenerándose hasta alcanzar la actual estirpe de Hierro, donde los humanos, nunca exentos de fatiga, estarán sujetos a ásperas y constantes preocupaciones. Nociones semejantes pueden encontrarse también en escritos de Ovidio, en las civilizaciones de América o de China, por ejemplo.

     Si bien estas edades nos hablan de ciclos largos -podríamos decir cósmicos-, el tiempo era visto como fractal, o sea que las mismas leyes para el macrocosmos, se aplicarían en esferas más “pequeñas”. Es fácil ver estos conceptos durante el día, por ejemplo, cuando el Sol alcanza su punto más alto en el cielo y en la noche se esconde bajo la superficie; o también en las estaciones del año. Los seres humanos, por ser parte de la naturaleza, no estamos exentos y también tenemos un nacimiento, alcanzamos nuestro “mediodía” en la juventud y a partir de ahí nos vamos preparando paulatinamente para nuestro invierno.


                ¿Qué características tienen las edades de oro?

     Para los hindúes, la Satya Yuga es el período donde la virtud en los hombres está completa; donde se vive en armonía entre todos los planos y seres, semejante a las épocas en que gobernaban los dioses (según tradiciones egipcias, por ejemplo).

     Según Hesíodo, los primeros humanos de dorada estirpe:

“Vivían como dioses, con el corazón libre de preocupaciones, sin fatigas ni miseria; no se cernía sobre ellos la vejez despreciable, sino que, siempre con igual vitalidad en piernas y brazos, se recreaban con fiestas, ajenos a cualquier clase de males. Morían como sumidos en un sueño…”


                ¿Y las edades de hierro?

     Las edades oscuras, que llevan este nombre por la falta de claridad en las personas, encuentran características coincidentes tanto los relatos hindúes como griegos. Algunas de ellas son:



         ·         La virtud se ve disminuida en mujeres y hombres.
         ·         Las instituciones caen en desuso y los gobernantes se vuelven irrazonables.
         ·         Impondrán impuestos injustos y se convertirán en un peligro para el mundo.
         ·         El crimen alimentará las ciudades y las personas migrarán.
         ·         La avaricia, la ira, la ignorancia y la lujuria serán costumbres.
         ·         Ni los pueblos ni sus habitantes encontrarán un sentido común o natural, olvidando para qué viven.
         ·         Las personas se volverán adictas a la falsedad al hablar, a las bebidas y drogas intoxicantes.
         ·         Los justos y los honrados no obtendrán reconocimiento, por el contrario, se beneficiarán los malhechores y los hombres violentos.
         ·         Los amigos no apreciarán a los amigos y los hermanos no se querrán como antes.
         ·         En esta época las estrellas y los grupos estelares estarán destituidos de brillantez[2].



Entonces…, ¿a qué se llama edad media?

     En todas sus escalas, la concepción del tiempo estuvo sujeta a períodos que oscilan entre puntos altos y puntos bajos. Por lo tanto, las sociedades y los mismos seres humanos estaríamos constantemente moviéndonos entre etapas “de oro” y etapas “oscuras”.

     En base a las tradiciones filosóficas, se puede decir que la humanidad alcanza un zénit cuando las culturas están vivas, y esto ocurre cuando los valores humanos alimentan a los pueblos y la virtud es el anhelo de las personas.

     Como contrapartida, en las edades de hierro prima el egoísmo, la búsqueda de reconocimiento personal sobre el bien común, se ignora el sentido de las cosas y se encuentra refugio en el materialismo. Las personas así viven sujetas al miedo.

     Como el tiempo oscila, luego de un punto alto, comienza el descenso hacia una edad media, para luego volver a ascender a nuevos tiempos dorados.

Las edades medias, son aquellas épocas de la historia que se encuentran entre medio de dos edades de oro. De ahí su nombre.



¿Tiene esta, algún parecido con la Edad Media que todos conocemos?

     Podemos encontrar numerosas similitudes con la edad media que transcurrió entre el siglo V y el siglo XV de nuestra era. Imagínense su dimensión, que duró 1000 años. Estas coincidencias, no son en la forma de los sucesos, pero si en la esencia de los mismos.

     O sea, hoy no vamos a ver caballeros protegidos con cotas de malla, escudos con insignias y espadas; pero si vamos a encontrar guerrilleros y fuerzas militares en prácticamente todas las naciones del mundo.

     Los tiempos de oscurantismo estaban caracterizados por un terror religioso, que hacía ver que la vida del ser humano no valía nada y todo era una especie de castigo divino; perdiéndose el contacto con lo profundo de la existencia. Hoy ocurre algo semejante, pero en lugar de la religión, es la ciencia la que, a través de un enfoque materialista de la naturaleza, “desconectó” el alma del cuerpo, o el espíritu de la materia. De esta forma, tanto ayer, como hoy, la gente olvida el sentido de las cosas y de la vida en general.

     En la edad media europea primaba la pobreza, salvo para pequeños grupos que podían recabar provisiones. Hoy ocurre algo similar, algunas estadísticas dicen que el 99%[3] de la riqueza mundial está concentrada en el 1% de la población.

     En síntesis, si una edad es de oro o de hierro no lo determina el nivel tecnológico, los medios de comunicación o las formas de pago que existan; las edades sol altas o bajas, según los valores humanos que sustentan a las sociedades. En las edades medias el egoísmo, las pasiones, la corrupción y el fanatismo inundan el aire; las enfermedades y las pestes son moneda corriente; ayer y hoy.


¿Existe alguna solución?

     Pero no todo es tan dramático y siempre hay una luz esperando ser vista. Si pensamos que el ser humano es parte de la naturaleza, sus ciclos están sujetos a las leyes naturales. Por lo tanto, podemos buscar una solución natural.

     Estudiando la historia encontramos que las distintas edades medias vieron su fin en épocas donde la filosofía, la ciencia, la política, la religión y las artes (o alguna de estas vertientes) volvían a la vida. Estos tiempos fueron llamados períodos de renacimiento. Así, la edad media que mencionamos finalizó con el Renacimiento europeo.

     En esta etapa del ciclo, las artes principalmente, y las ciencias cobraron vida nuevamente; el ser humano volvió a descubrir que es parte de un todo y que la vida no es un castigo. Los valores atemporales resurgieron y se volvieron a plasmar ideas trascendentes. En el Renacimiento se volvió a encontrar el sentido de las cosas, entre ellas de la vida humana[4]. Se recupero el significado bien común.

     Según algunos filósofos, artistas, científicos y personajes de variados ámbitos, este renacimiento va a llegar a la sociedad, cuando llegue a cada uno de nosotros. En la medida que podamos alcanzar la coherencia entre nuestros pensamientos, sentimientos y acciones, se van a desarrollar sociedades armónicas, que sabrá convivir entre ellas y con la naturaleza que las rodea. Salir de la edad media y atravesar este valle de la historia está al alcance de nuestra mano. Ya que como cantaba Patricio Rey y sus Redonditos de Ricota:


“Cuando la noche es más oscura, despunta el día en tu corazón”.


Franco P. Soffietti



[1] “¿La historia se repite?” Delia Steinberg Guzmán: https://biblioteca.acropolis.org/la-historia-se-repite/

[2] Hoy en las grandes ciudades no se ven las estrellas de noche, mientras que en ciudades chinas el Sol debe ser proyectado en pantallas para enterarse que existe, pues la niebla y el smog y no permiten verlo.

[3] “El 1% más rico tiene tanto patrimonio como todo el resto del mundo junto” de Ignacio Fariza: https://elpais.com/economia/2015/10/13/actualidad/1444760736_267255.html

[4] Esta idea se puede ver plasmada en el “Discurso sobre la dignidad humana” de Pico della Mirandola.

sábado, 4 de abril de 2020

Mais um dia em sp

Venho encarando meus dias o mais tranquilo possível. Poucas conversas, boas músicas, ideias interessantes, natureza e arte. Procuro ouvir mais e falar menos.

Nem tudo é como espero; o imediatismo, a necessidade, o medo, a incerteza sempre batem na minha porta. Esses já não hospedo mais. 

Foco em pequenos atos de coragem, evitando dar espaço a toda negatividade que me cerca. Estive no sertão, no mar, no céu e no inferno. Me adaptei a todos eles; frio, calor, vertigem, fome, dor, amor... 

Na minha jornada finita pelo mundo aprendi carregar menos peso, pois quando surgirem os obstáculos minha armadura será leve, refinada e transparente. 

Tenho dançado com a morte, bebido pouco, lido muito, treinado forte e trabalhado intensamente. Em meio a tanta guerra, vejo no futuro como sair vivo dela. O mundo muda e lá fora o sol responde quase tudo vendo aqui da minha janela. 

Vai dar tudo certo.

Minha janela

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Imagine a vida de um baixinho...


Na última quarta a lâmpada do meu quarto queimou. Pé direito com mais de 2,50m de altura, nem subindo na cadeira eu seria capaz de trocar.
Depois de algumas tentativas que incluíram levar a mesa da cozinha até o quarto, colocar a cadeira em cima e criar uma perfeita cena para um acidente doméstico, decidi viver no escuro mesmo. E foi a pior coisa que decidi fazer! 
Não sei se você já percebeu, mas a bagunça parece triplicar no escuro. Eu já não encontrava nada no meu quarto. Nem de manhã quando deixava a janela aberta, e muito menos a noite quando só me restava a luz do cômodo adjacente. 
Jogado na cama, pensei seriamente em chamar um contatinho. 1,80m é a média dos caras por quem me apaixono. Talvez se eles subissem na cadeira conseguiriam um resultado melhor do que o meu.
Mas eu não estava afim de depender de alguém. Tem mais orgulho em mim do que é saudável caber em 1,64m de altura. 
Eu precisava de uma escada, mas onde achar uma em plena quarentena?

Missão impossível! dava até pra ouvir a música tema do filme como trilha sonora da minha vida.
Sem perspectiva de conseguir trocar a lâmpada, fui acometido pela loucura. Por que não pegar a mesa de volta, e colocar alguma coisa macia e fofinha no chão caso eu caísse? Minha sanidade não me deteve.
Trouxe a mesa mais uma vez, joguei o colchão, roupas, lençóis e travesseiros pelo chão. Consegui uma base fofinha. Era até reconfortante saber que se eu caísse e morresse, pelo menos teria caído no meus lençóis.

Com muito cuidado, em cima daquela pilha de móveis instável e perigosa, me segurei com uma mão na estante, e na ponta do pé, torcendo pra não morrer, consegui conectar a lâmpada. Me senti o cara! Venci meus 1,64m sem ajuda de ninguém.
Desci antes que a Lei de Murphy pudesse agir. Liguei o interruptor pra apreciar meu trabalho. Funcionou! Comecei a escrever uma mensagem para contar a novidade para alguns amigos. 

A luz pisca. Não dou bola e continuo digitando...
Ela pisca de novo. Olho desconfiado: "Será que não conectei direito?"
Ela pisca, agora com mais frequência. Pisca e pisca. 
“Virou uma balada?” Pisca, pisca, pisca!

Poft!



Então amiguinhos, antes de arriscar a vida por segundos de claridade, é melhor confirmar se comprou a lâmpada na voltagem correta.