sábado, 29 de setembro de 2012

humrum, 1rum

extremamente, demasiadamente, nitidamente, cansada.
não por nada, mas por tudo, simplesmente cansada.

da fagulha de vida, renasce alguma escrita, 
por mais chula que possa parecer, é a única que eu tenho, sendo minha.
não é cópia, é fruto de muita troca, inclusive neste espaço.

espero nunca atingir a perfeição, caso aconteça, deixará de ser importante, 
pois ego cheio não precisa de dias cheios em leituras, como neste, tão cansativo. 
erro vários, gastos desnecessários, mas no final, leitura em dia, pelo menos uma.

o homem é, assim, um ser dividido, quem diz é Rubem Alves, acertou dividida estou, 
entre tomar banho bem quente, comer algo, tomar remédio para dor de cabeça, colocar um adesivo apenas no ombro ao invés de vários, efeito recente da tão almejada fisioterapia, 
ou 

compartilhar informações, impressões, concepções
sobre partidos que desceram o nível em reintegrações criminosas e incendiárias em terrenos próximos ao centro da cidade, 

no afastamento somente agora do capitão do mato quer dizer da rota, finalmente o geraldo resolveu agir, afinal não fica bem não é, o aniversário da ação carandiru quem o diga, 

do ato que rolou mais cedo e do qual não fui devido ao desencontro de informações do curso, na perda em conhecer a integrante arretada do Movimento Mães de Maio, 

na organização deslavada da direita ao garimpar conservadores em todo e qualquer virtual, para contratação, discussão, produção e partilha de ideias através do Instituto Millenium que não manifestou interesse até o fechamento do artigo da Caros Amigos em negar ou pelo menos fingir, desdizer o artigo, brincar de debate sabe;

na contramão, sem  grandes investidores, sem grandes articulações, exceto, no esforço de  professores, alunos e militantes interessados numa sociedade igualitária, sucesso em preencher cada canto dos auditórios na usp para saber, ouvir mais da esquerda na america latina;

na fala precisa e aguçada do Ricardo Antunes e tantos outros, na minha irritação absurda de pessoas que não tem o bom senso, o discernimento, quando pegam/tocam no microfone pra dizer: "eu quero fazer uma colocação" e recita parágrafos vários, solicita discussões das quais não contempla a mesa/debatedores sempre no âmbito global, muita irritação com direito a: "cadê a pergunta?" gritado,  da próxima prometo, vou a 25 de março, compro vários e entrego: "tô pra quem adora  microfone, sai recitando todo manifesto nas ruas"

na alegria em saber que minha mãe é a mais recente aluna do eja, no vale do ribeira, na surpresa do descaso, em saber que há tantos querendo aprender, sem incentivo, afinal contratação por cargo de confiança não inclui no pacote, boa vontade, ética profissional, é salário, amigo do amigo de outro amigo que conheci o prefeito, do partido do psdb.

na falácia da nova classe média que não tem dinheiro, apenas cartão, na discussão sobre as eleições, se vale a pena ou não votar no menos pior e exercendo a democracia fantasiada de ditadura, damos ou não manutenção ao poder? anulamos como protesto, votamos como descaso? sentamos e esperamos alguém mudar nosso rumo?

na multidão cercando a polícia, o poder, a corrupção na espanha/portugal, no ato, protesto nu das uruguaias contra o veto sobre o aborto, na repercusão da marcha das vadias em outros estados, cidades, agora é santos!

na praça ocupada, o teatro da Z.L (zona leste), mais precisa,  Dolores Boca Aberta representou a comunidade, ocupou, fez lindo monumento, som e adendos, ousadia é o nome disso.

na participação especial e enriquecedora do encontro com IDDAB e GERESS (Grupo de Estudos das Relações Étnicorraciais Serviço Social ) com local "emprestado" por não ter o próprio, sem recursos e investidores, apenas apoiadores, solidários, fazem discussões, se organizam, se articulam para discutir, pesquisar, debater  o racismo e todas problemáticas envolvidas, inclusive de profissionais que dizem não existir racismo no brasil, oi? um? imagina, é impressão será? ou na grata surpresa de ouvir a fala de duas alunas de universidade shopping center que discorreram de forma magistral o tema de pesquisa, ou tcc criticando inclusive a universidade e profissionais que desmerecem alunos militantes, ativos em movimentos sociais e na boa vontade de apropriar-se do tema. diga-se na excelência quanto ao entendimento e compreensão,  incorporando, vivenciando a frase da rosa que não tem cheiro, é luxemburgo mesmo:

" quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem"

movimentando-me dentro das não possibilidades, por que se paro para pensar nunca as tenho,
todavia se em curtos e tão poucos passos, caminhada, sinto-as, eu grito.

porém hoje,
muito cansada e quando, resta-me ouvir o que apraz.


" lutar com palavras parece sem frutos. 
não têm carne e sangue... 
entretanto, luto."

guardo na alma, no coração, os dizeres do drummond, ganhado em mãos
entre um ato e outro no tetro arena, ópera dos vivos, no movimento, sem correntes...

 lembrando antes de ir, por que amanhã acordo cedo:

"o que decide o propósito da vida é simplesmente o princípio do prazer" 

valeu rubem, 
e prazer em trocar sempre, aqui, lá, na rua, nos atos, em todo espaço, é prazer sempre, trocar vida ou partículas dela.
e para viver precisa ser louco, rodar na cadeira, rodar a cabeça, cantar bem alto, estrondar o desafinado, tudo por que o vizinho ordinário que construiu a parede em frente da janela, me impedindo de ver o sol, a lua, as nuvens, agora  recebendo convidados, e um tal de feliz não sei o quê e picas mais tantas prá lá e prá cá, com o som no último volume tocando calcinha preta, aviões (taqpariu!!!) sertanejo e desci  a ladeira do inferno. 
ta vendo rubem, tem partilhas que a gente não aguenta, é osso d+. 
ok aguento, aumento o meu,
sabendo que o cansaço, muda, assim, como a vinheta.
. graças a deus, fui e adeus.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Filantropia digital


môdeus, meus amigos viraram personagens de desenho animado! tiveram infância? claro, né, joão! eles tiveram e, pra mostrar mesmo que tiveram, optaram por esta foto para ajudar a divulgar um projeto de idealizador desconhecido e de crianças que não conhecem, tendeu, joão? é, com a foto de algum personagem de desenho animado dá pra ajudar e fazer isso tudo. entendeu ou quer que eu desenhe? já entendi, não precisa desenhar. então, eles tem referências, meu fio, e não pesquisaram, como você, lá no google o nome de algum desenho animado para poder escrever sobre. entendo, flor, e, como toda modinha (me lembrei agora daquela #eusougay, onde um gay ou um ‘cabeça aberta’ escrevia num papel algo contra à homofobia e olhando bem, vamos combinar, isso não resolveu nada e acho que o único papel cumprido foi tirar muita gente do armário), tudo que vem passa. recordo agora de uma afirmação que diz que ‘o artista morre e a arte fica’. concordo muito com isso e estava até outro diz comentando com a queridamiga tânia consuelo sobre as porcaria postas à venda no mercado e onde as pessoas, iludidas, compram e dão vez a estas. mas parece que o retorno desta modinha, que tem como impulso maior e único o de modificar a foto do perfil, veio pra ficar. lembro-me que ano passado teve essa mesma caretice de amigos passarem no meu facebook solicitando a troca em pró do dia das crianças e à exploração das mesmas. teve gente que mudou e até hoje, pelo desinteresse com a rede, continua ainda a mesma foto, ou melhor, o mesmo personagem lá no seu perfil. certo, mais uma vez. me pergunto se isso ajuda em alguma coisa. meu, essa é a forma mais simplista e careta de se dizer que estamos sim preo com este mundinho dito por alguns que vai bater, agora em dezembro, as botas. concluo aqui no escuro do quarto, às 23:53h, que não vou trocar a minha foto por tom e jerry e tenho peninha elevada ao cubo de quem acha que pode contribuir desta forma com o outro. quer ajudar mesmo? de verdade? dique 100, baby, e denuncie as saidinhas do seu vizinho cinquentão com aquela menina de treze anos da outra rua. ou então vá na loja de $ 1,50 e compre algum brinquedo, mesmo o mais pebinha, e doe em alguma creche perto de sua casa, afinal sempre tem. acho que isso já é um grande passo. só com ele dá pra rodar o mundo. mas assim, sempre achei que essas pessoas que seguem estas modinhas só fazem merda, só pensam merda e, ainda por cima, cheiram a merda. estragada. mas tudo bem, tudo bem, afinal ‘é fazendo muita merda que se aduba a vida’. ok, quase agora vim do banheiro! informado de tudo um pouco, sei também que não existe o errado, existem eras e esta eu bem eu sei que é a da caretice.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pour Elise

Aos oito anos comecei a fazer aulas de piano. Dona Maria Amélia era a minha professora. As aulas eram pela manhã na casa dela, na ladeira, em cima da loja de quinquilharias do marido libanês. Eu subia as escadas e lá estava ela, volumosa, ao lado do piano: não tinha sobrancelhas e no lugar fazia um traço vermelho com lápis, usava roupas floridas, se abanava com um leque. Eu me sentava tímida no banquinho do piano e então a aula começava: dó-ré-mi-fa-sol-la-si-la-sol-fa-mi-ré-dó. Depois do aquecimento, as valsinhas. Os olhos ficavam atentos tentando ler a partitura corretamente e as mãozinhas de dedos curtos tocavam desordenadamente. "Disciplina nos dedos", dizia. "Atenção ao ritmo! Toque mais uma vez! Mais uma vez! Mais uma vez! Mais uma vez! Outra vez!" Até que um relógio cuco anunciava o fim da aula: "lembre-se de estudar mais", ela advertia, "como você que tem piano em casa, não há desculpas para não estudar". E ela comentava para me provocar: "a próxima aluna, a coreaninha, não tem piano e estuda mesmo assim em casa; com fita crepe ela faz as teclas na mesa e treina o movimento dos dedos. Ela já toca maravilhosamente!". Na época, eu morava com a minha avó e ela tinha um piano. Mesmo tendo o instrumento e uma avó pianista, abandonei as aulas de piano com a Dona Maria Amélia. Faltava-me talento e, principalmente, disciplina. Nunca mais estudei música. Não consigo distinguir um dó de um ré. Nem mesmo as letras das canções eu consigo decorar. A única música que aprendi a tocar  - muito mas muito mal - com a Dona Maria Amélia foi Pour Elise, do Beethoven. Essa é, segundo o Tom Zé, a música que mais identifica São Paulo porque toca no caminhão de gás em todo canto da cidade. Para mim, Pour Elise é o hino do meu fracasso musical.



terça-feira, 25 de setembro de 2012

Tango


descompassados
aqueles passos de um tango
onde dois
foi dançar sozinho.

na minha morada em você
mal durou o meu caminho.

com uma nota só
eu tinto meus dissabores
em versos soltos

do eu para o nada.



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ainda

A primeira sentava na minha frente na sala de aula. Na frente de todos, pra falar a verdade. Dava aula pro primeiro ano e me ensinou a amar antes que eu aprendesse a soletrar. Nossa relação era impossível, mas meus sete anos não me permitiam ver isso. Sofri. Calado, mas sofri. A segunda sentava atrás de mim na classe. Uma aluna, dessa vez. Colega, mesma idade. Primeiro beijo. O romance durou um ano até ela resolver namorar outro. Um amigo meu. E depois outro. E outro. Primeiro beijo e primeira decepção. Demorou pra me recuperar. Anos depois, outra amiga de escola. Já tinha até um bigodinho. Eu, não ela. Mas me achava mais adulto do que realmente era e errei feio. Outro tombo. Ela preferia os alunos que já estavam no colegial, aqueles com um pouco de barba. Meu corpo agia contra mim.

Quando cheguei ao colegial fui gostar logo da menina que já namorava. Sempre, sempre fazendo boas escolhas. Mas algo mudou na faculdade. A timidez deu lugar a uma desenvoltura fingida. Dava certo, dava. Conheci uma garota. Estávamos sempre juntos. Não éramos namorados porque, honestamente, nenhum de nós tinha parado pra pensar nisso. Calor da juventude, talvez. (Já tenho idade pra falar isso?) Pois bem. Um dia ela apareceu com um anel de compromisso. Hoje vejo como essa ideia – anel de compromisso – é besta, mas na época me abalou bastante. Tanto que o filme que passava na nossa frente, ótimo, desceu bem indigesto. Demorei anos pra voltar a vê-lo. Traumas da juventude. (Sério, posso?)

A próxima não demorou tanto. Noivado desmanchado pelo outro. Ela viu em mim a chance de recomeçar. Eu vi nela a chance de ver uma mulher com pouca roupa em muitas ocasiões. Durou pouco, mas foi intenso. Explosivo. Como eu nunca tinha namorado, achei que estava tudo certo, mas em algum ponto aquilo de terminar e voltar me pareceu estranho. Na quinta ou sexta vez, acho. A melhor coisa que ela fez foi terminar comigo. Ombro dos amigos e outras partes de algumas amigas. Não convém entrar em detalhes, mas a vida era boa de novo. Até que aparece outra mulher, mas ela se muda para longe. A dor da separação, agora geográfica. Depois, outras. Umas que apareceram por acaso, outras que marcaram pra valer. Noites mal dormidas e noites não dormidas. Uma casou. A encontrei por acaso um dia e me contou que estava grávida. Deu pra ver que esta feliz. Outra casou, mas não está tão contente assim. Talvez fosse ela. Talvez fosse eu. Agora não somos nós.

Em algum ponto do trajeto, comecei a observar mais as pessoas. De repente, assim eu entenderia melhor o problema. Se houvesse um problema. O que vi foram casais que juntam e separam de acordo com a estação do ano, outros que são compostos de três, às vezes quatro pessoas ao mesmo tempo. Foi quando passei por uma frustração ideológica. Se essas eram as condições pra um relacionamento, eu não queria. Os amigos me mandaram parar de frescura e passaram a me apresentar pra outras mulheres. Cansei depois da terceira tentativa furada. Talvez eu seja muito chato, talvez muito exigente. Não sei. Só sei que não desisti. Ainda encontro a fórmula do amor.

domingo, 23 de setembro de 2012

sábado, 22 de setembro de 2012

Aconteceu...

Os livros nos convenceram a atravessar a América e conhecer Machu Picchu, uma das sete maravilhas do mundo moderno... o que os livros esqueceram de nos contar é que a maior de todas as maravilhas já estaria ali, tão pertinho da gente... crescendo dentro da gente...

Os especialistas, sempre tão alarmantes, afirmaram que o mundo acabaria em 2012... mas no momento em que ouvi aquele coraçãozinho bater, estive certo do contrário! Ele estava só começando...

Muitos não acreditam em amor à primeira vista... Mas então o que será isso que sentimos? O que dizer deste amor que antecede e prescinde a qualquer visão?

Aconteceu...




Aconteceu quando a gente não esperava 
Aconteceu sem um sino pra tocar 
Aconteceu diferente das histórias 
Que os romances e a memória 
Têm costume de contar 
Aconteceu sem que o chão tivesse estrelas 
Aconteceu sem um raio de luar 
O nosso amor foi chegando de mansinho 
Se espalhou devagarinho 
Foi ficando até ficar 
Aconteceu sem que o mundo agradecesse 
Sem que rosas florescessem 
Sem um canto de louvor 
Aconteceu sem que houvesse nenhum drama 
Só o tempo fez a cama 
Como em todo grande amor
(Adriana Calcanhoto)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Três meses para o fim do mundo

Olhou para o calendário e notou: era 21 de setembro.
Pensou consigo mesmo que se os maias estiverem certos, o mundo teria apenas mais três meses para existir.

Mas e as coisas que ele ainda não conquistou? O tão sonhado emprego? Aquela menina bonita? A casa... O carro?

Uma leve esperança também veio dentro dele, com esse pensamento: Tudo de ruim também terminaria!

Sorriu!
Quem sabe essa seria a chance de melhorar aquilo que não estava tão bom?


Resolveu anotar numa folha tudo o que ele ainda precisava fazer, pessoas que ainda precisava ver...

E era muita gente!

Precisava então começar o quanto antes!

De repente se viu tão preocupado quanto as pessoas que viu dando entrevista no Discovery Channel, tempos atrás, num programa sobre o fatídico 21/12/12.

Se sentiu ridículo. Sentou no sofá, e começou a falar sozinho:

- Não... Não... Não! Eu não sou assim! Eu não acredito nisso! Não há verdade nessa baboseira!

Rasgou então a folha. Jogou no lixo da cozinha. Mas não tirava os olhos do cesto.

Era incrível a angústia que tomara conta do seu ser. Pegou o celular e ligou pra uma discagem rápida qualquer. Ligou pra Linda, amiga de longa data. Que dormia ainda.

- Alô... 
- Oi... Linda? 
- Pois não... Quem é?!

A vontade era perguntar "quem me enche a uma hora dessas", mas mesmo no mau humor típico de quem acaba de acordar, preferiu ser mais agradável.

- Oi Linda, sou eu! Desculpa eu te ligar a essa hora, mas...

- Fala, seu mala!

- É que tô meio preocupado com uma coisa...

E nos próximos quinze minutos explicou o quê o atormentava.
Contou da lista (que parecia ter vida própria e olhava pra ele, do cesto), das pessoas que ainda precisava ver, das coisas que precisava conquistar...

Linda ouvia, do outro lado da linha, meio incrédula no que ouvia.
Seu amigo sempre havia sido "pé-no-chão". Que loucura era aquela agora?!

- Olha... Faz o seguinte... Esquece isso. Ainda faltam três meses para que isso aconteça. Não esquente com isso. Vá viver, ter uma vida!

Ele ouvia atentamente a cada palavra de sua amiga confidente.
Era aparente o fato de que cada palavra por ela proferida, estar fazendo efeito.

Três meses...

- Mesmo que o mundo acabe, enfim... - E Linda riu, do outro lado, lembrando da música!

- É... Você tá certa! Um beijão e obrigado por me ouvir!

Os celulares foram desligados.

Resolveu deitar-se no sofá, olhando para o ventilador do teto, que rodava vagarosamente.
E repetiu num volume, nem tão alto, nem tão baixo, mas que ele mesmo pudesse ouvir:

- Três meses... Três meses...


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Não me deixe!

... e as pessoas vão tentar te fazer esquecer tudo o que for possível esquecer. Todos que chegarem depois vão tentar anular o seu passado, te fazer esquecer dos maus-entendidos... chamarão de tempo perdido o que já será felicidade morta.
Questionarão motivos, compararão intensidades e tentarão te convencer da inutilidade de se guardar lembranças em vista de toda a disponibilidade do futuro. Vão criar lugares, inventar palavras e te coroar para que fique. E eu não vou mais falar, dançar, rir e nem te abraçar. Você não é mais meu presente e eu nem te quero pro futuro. Te preciso como um sorriso garantido para sempre pelas minhas lembranças. E é perfeito que seja assim. Para sempre!


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Terceira Margem do Rio

Acho bem louca essa doidera que nêgo faz com música, filme, literatura. A história contada, estória inventada. E fica mais doido ainda quando se misturam, tipo o acontecido foi com o meu vizinho, eu escrevi, você musicou e o Zé filmou. Só que nesse caso o Rosa escreveu, o Milton musicou e o Caetano roteirizou. Ai é mais que doidera, aí é muita coisa. Muita.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Não adianta

Não, não é uma sentença. É só uma constatação. Não vai adiantar. Como da vez que já tentamos, mutuamente tentamos. Por mim posso dizer. É mais forte. Não forte no sentido de obsessão. É amor, paixão, furor, gana.
Não, não vai adiantar. A cumplicidade que me desperta o teu olhar, na hora exata em que você me descobre sem querer ser notado e é surpreendido. Você me lê inteira e eu já não sou mais nenhum mistério. Provável que você sinta vontade de desvendar outros por aí. E essa vontade também poderá pairar em mim. Mas por enquanto é agora.
Ainda acho que vivem outras com manias mais difíceis e irritantes. Também existem outros mais turrões e chatos. Agora, porém, não os quero. E não é pelo começo cheio de coincidências e a atração sem precedentes. Não, não é nada tão exotérico assim. No fundo, somos todos iguais, atraímos uns e outros por razão de infinitas variáveis.
As minhas têm a ver com o antidepressivo poder de suas piadas infames. A companhia, sem trégua, o entrelaçar de suas mãos em minha nuca e a força de seus dois olhos poluídos de rio Tietê. Embora com explosões aqui e acolá, somos feitos de paixão que não gasta, paixão rasgada. Talvez por isso as explosões sejam tão... impetuosas. Passionais. É pelo drama que me rege o meu brado: não adianta, agora, nem tentar me abandonar. Somos feitos de amor sem medida. Não é questão de amar mais ou não amar. É que o amor doido é feito pra doer, lindo de doer, feito pra durar. 

sábado, 15 de setembro de 2012

Toothpaste Kisses

Quero convidar à todos a enlouquecer aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.

Mime a sua amada!

 Com todo tipo esdrúxulo de carinho, que sejam as ridículas cartas de amor, o recados em Imessages, whatsapp e ICQs. E-mails old fashions, telefonemas acalorados com sorrisos fáceis brilhantes com o sol, daqueles de fazer inveja a produtores de comerciais de pasta de dentes. Que seja em horários improváveis, desde que escancarem a sua felicidade dependente da existência daquele outro. Quando ela ligar, mude a voz, use aquele timbre que somente os apaixonados decifram. Dedique músicas, monte coletâneas, eleja conjuntamente a trilha sonora do romance. Use nomes em diminutivos, a chame de amor, deixe claro o quanto ela é especial.

Diga breguices...que a AMA!

Quando encontrá-la embale,  dê colo,  beije, beije, beije como se fosse o último, morda, chupe, deixe marcas pelo seu corpo, afinal não é isso que os amantes fervorosos fazem, vá além, esqueça o sono, extrapole, não durma e nem a deixe dormir, não economize saliva e outros líquidos corporais. Não durma, nem depois do coito, conte histórias engraçadas, zombe dos mal amados, dos anteriores, sim, daqueles imperitos na arte do amar.

Faça de tudo para que seja DIVINO!


Wish you were here





- Eu gosto dessa música.

- Eu odeio essa música.

- Ué, por quê?

- Eu acho que eles entraram de gaiatos na fama do Pink Floyd.

- Só por que os caras do Pink Floyd desejaram que alguém estivesse ali, ninguém mais no mundo da música pode?

- É.

- Então alguma coisa só é válida se ninguém pensou nela antes?

- Mais ou menos por aí.

- Em outras palavras, você está dizendo que "Florentina de Jesus" é melhor do que "Starway to Heaven" ?

- Claro que não.

- Mas o solo de "Starway to Heaven" é praticamente um plágio da "Taurus", do Spirit, que foi lançada bem antes...

- ...

- ... e você os cultua mesmo assim. Qual a diferença disso para aquilo que os caras do Incubus fizeram?

- Hum.

- Hein?

- ...

- Hein?

- Uhum...

- Alô! Planeta terra chamando! Você está prestando atenção em alguma coisa daquilo que eu estou falando?

- Sim... hã, é... mais ou menos.

- Poxa! Valeu! Primeiro você esculhamba as músicas que escolhi com o maior carinho para a gente ouvir junto, depois não está nem aí para o que eu digo...

- ... Desculpa. É que eu estava tentando encontrar uma forma inédita de te dizer que eu te amo, só para jogar na sua cara que eu estava certo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Perfeição e liberdade ...

Estive pensando muito em como o ser humano é frágil e vulnerável, sendo ele de qualquer classe, tipo, tamanho ou natureza. Em alguma coisa, o ser humano sempre vai pecar, sempre vai ter um ponto em que vai deixar a desejar. Passei a reparar em como as pessoas são perfeitamente injustas, hipócritas e egoístas. Como elas obedecem essa natureza mais do que todas as outras, e se desfazem de coisas e pessoas tão importantes por conta de seus próprios interesses. É perfeito o modo como as pessoas amam individualmente; como elas querem controlar o mundo ao redor delas porque acham que isso é o melhor a ser feito; é perfeito também o jeito que as pessoas olham para o mundo com o olhar de quem não tem nada a ver com isso e agem dessa forma também! 

Pensando sobre tudo isso, passei a perceber que tudo é perfeito a seu modo. O crime é perfeito, o amor é perfeito, a paixão, a amizade, o mundo, as pessoas. Tudo está e tudo é, e não há o que mudar ou o que questionar sobre o que temos no momento presente. O que podemos é planejar o que virá a ser, e ai caímos na imensidão do universo e suas infinitas possibilidades, haja imaginação e criatividade! 

Minha vida mudou um tanto depois que eu descobri que não há o que temer. As coisas vão acontecer, se assim nós desejarmos com todas as nossas forças. Temos tudo o que precisamos: o mundo, as pessoas, a natureza, os sentimentos. É só usarmos tudo isso a nosso favor e TCHANAM: paz à vista! 

Viver é uma coisa formidável. Podemos fazer o que quisermos, na hora que quisermos, do jeito que quisermos. E ninguém, NINGUÉM, pode nos julgar por isso! É lindo e perfeito! 




quinta-feira, 13 de setembro de 2012

É por isso então?

 - É por isso então? Vem daí?
- Não! Coincidência só.
- Humm!
- Então de onde vem?
- Era pra ser Roberto, mas sua prima tem um irmão, a nossa vizinha também e sua irmã não queria ser a única a não ter um com esse nome.
- Foi por causa de inveja então?
- Não.
- Então foi por causa da música daquele disco das duas mulheres e dois homens que você ouve toda sexta-feira na hora da faxina?
- Não?
- Vi uma camiseta hoje escrito " De Fernando em Fernando o Brasil vai se acabando". Foi por isso? O que significa?
-Nãoooooo; Ah, sei lá!
- Mas eu preciso contar na escola porque você escolheu.
- Conta a história que você quiser.
- Vou ficar com a da inveja mesmo.



Fernando Pessoa me entenderia.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O amor foi embora,a música ficou...

Tenho meus momentos de bruxa.Não aquela que mexe o narizinho e a casa fica limpa,mas sim aquela que vive no meio da floresta,mexendo em seu caldeirão e vê o futuro em uma bola de cristal.
Um dia briguei com um namorado e tive uma sensação ruim de perda,apesar de estar convencida que iríamos voltar.
São aqueles dias que ficam na memória,por longos e porque param no tempo.Eu sai e comprei um cd,da minha banda favorita,Red Hot Chili Peppers,quando voltei coloquei o cd e abri o email.
Estava lá a pedra de gelo,a última.Então o final de um grande amor era assim.
Eu lia o email devagar uma e outra vez,enquanto tocava a música Scar Tissue.
De repente o vocalista dizia:

With the birds (Com os pássaros eu dividirei )
I'll share (Esta paisagem solitária)
Pronto,estava ali a definição do meu momento.A vista era essa mesmo,seca,distante,solitária.

A cicatriz que dá o nome a música ficou ali um bom tempo.Cada palavra da música descrevia o que eu vivi.
O amor,como muitos,se derreteu com o tempo,sumiu na terra,se desfez na água.Só ficou a música,que cada vez que toca traz esse dia,onde um email vira uma faca e corta sem dó.
Foi meu dia de bruxa,quando senti que minha sorte ia virar.
Já sabia de alguma maneira que meu destino com ele estava marcado,tão marcado que não ia resistir a uma simples brisa.
Era um desses amores fortes,quase eternos,não podia acabar mesmo sem uma trilha sonora.
Ele foi embora,a música ficou e lentamente a cicatriz desaparece e a paisagem começa a ficar menos solitária,mas os passáros ainda estão aqui,me acompanhando.
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Meu Dejà Vu

Sentar-se na areia da praia e sentir a brisa que parece vir do mar é a sensação que eu mais gosto.

Sempre que o faço, quero que haja um dejà vu. Quero que se repita e me faça ter a sensação que já passei por isso, para que em meu coração acumule ainda mais o desejo de estar ali.

A brisa que bate em meu rosto pode ser eterna até que eu pegue no sono. O som que vem do mar parece ser o motor daquele conjunto de sensações inexplicáveis.

Tudo que acontece atrás dos meu olhos fica como um plano de fundo sem sentido. Um grito, um carro, um barulho de motor, um suspiro.

Nesse momento não desejo que o nascer do sol, não desejo a luz do luar e sequer o brilho das estrelas. Quero que fique como está: céu nublado, embora noite, ainda rosado demonstrando que a chuva está por vir, e se vem, que não venha enquanto eu espero pelo meu dejà vu.

Momento delicado e solitário. Não que estar sozinho nesse momento signifique solidão, apenas um momento de diálogo com um vento bom que fala em meus ouvidos, me conta segredos e me diz juras de algo que por instantes me faz sorrir, me faz lembrar que ali estou livre, apenas esperando pelo meu dejà vu.

Encontre mais no livro Rascunhos Vivos


sábado, 8 de setembro de 2012

Eternos Dilemas

  Uma música pode ser tão ruim que chega a ficar boa?
  Qual o tamanho da minha maturidade para poder escutá-la?
  Simplesmente saber que é ruim me classifica para cantarolar que agora fiquei doce, sem vergonha?
  Eu sou muito sexy para o meu gato, para a minha camisa, para o meu chapéu.
  
                 Não resisto.


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Eu dei cambalhotas em sua homenagem.

(uma extrapolação de “Only If For a Night” do Florence + The Machine)

Minha corça,
Minha querida,
Meu amor,

Diga-me o porquê desses suspiros?

Eu me lembro da sua risada. Entrecortada, ela aparece entre os meus sonhos, entre os sons que fazem as cordas da harpa que passeiam pelos meus dedos.

Eu me lembro da sua voz, ela me soa clara como o dia. Você me diz que eu preciso me concentrar, que preciso me deixar levar, como me deixei aquela noite. A noite em que fui sua.

Lembro-me da tua pele clara como a Lua, perolada, brilhando à luz nenhuma, como se dela irradiasse energia própria. Como um rito sagrado, como leite derramado, sua pele tocou a minha, e me fez queimar.

Eu me lembro, você se vestia de rosa e ouro. Seu corpo envolvido por um tecido macio, mas que não se comparava (isso eu fui descobrir depois) ao deslizar suave da sua pele.

Eu me lembro do meu corpo, e é como se, antes de você ter me lembrado dele naquela noite, eu vivesse sem percebê-lo. Solto, e aceso pelas chamas do seu toque.

Minha corça,
Minha querida,
Meu amor,

Eu lhe digo o porquê desses suspiros.

Você é um fantasma. Você não estava lá. De alguma forma, eu pude te tocar, te sentir, deixar sua luz me preencher. Meus próprios cerimoniais secretos para te celebrar. In the graveyard, doing handstands.

Eu fui sua. Eu ainda sou. Eu sempre vou ser.

Mesmo que só por uma noite.

Tradução aqui.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Minha versão pra Nara

Se alguém perguntar por mim
Diz que fui no sex shop
Levando o vibrador debaixo do braço
Em qualquer esquina eu penetro
Em qualquer botequim eu sento

(mas o coitado parou de vibrar)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

No dia que eu fiz 30 anos


No fim do dia que eu fiz trinta anos eu resolvi que escreveria um texto sobre esse meu trigésimo aniversário. Queria falar sobre ter sido um dia como outro qualquer, um dia que eu tomei café correndo,limpei xixi de cachorro, sai de casa sem pentear o cabelo e almocei marmita. Um dia que não teve nada demais, como na música do Caetano, e que era bobagem esperar algo de diferente só porque você ficou mais velho.

O problema é comecei a escrever e a achar que eu estava sendo um tanto quanto injusta sobre o andamento do meu dia de aniversário. Ele tido sido mais do que nada demais.  Minha mãe acordou cedo para me dar parabéns, meu pai e meu irmão estavam aqui também. No trabalho todos me deram parabéns e senti sinceridade em todos eles. Ganhei uma paçoquinha, um pé de moça, um pedaço de bolo, uma caixa de bombom e um perfume. E os conheço há tão pouco tempo .

Mais tarde teve uma comemoração na minha casa. Claro que eu queria que tivesse um monte de gente, que meus amigos estivessem além de uma fria mensagem de facebook,  mas estava o pessoal lá de casa, minha avó, meu avô, e foi legal, a comida estava boa, minha irmã que fez,  e o bolo estava gostoso também.  Fora que eu estava sem namorar há um mês, mas achei estranho comemorar meu aniversário sem ele na mesa, então telefonei  na última hora e ele foi. Eu não sabia se tinha sido uma boa ideia minha, mas fiquei feliz por ele estar ali do meu lado mais uma vez e por perceber que ele estava feliz também. 

São coisas que eu não daria valor aos 15, aos 20, aos 25, um rosto, um gesto, por isso que acho que foi importante sim fazer 30 e por isso precisei trocar de música. 

http://youtu.be/O2P1khIyTX8

domingo, 2 de setembro de 2012

Apenas mais uma história de amor


(O pequeno conto abaixo foi escrito tendo como ponto de partida a letra de uma música lançada em 1970. Seu conteúdo é cem por cento fictício.)

Paulo Simão conheceu Cecília numa festa pra lá de bizarra em um simpático apartamento de um casal de artistas plásticos em Nova York. Foi uma paixão fulminante à primeira vista. Os dois se atracaram na cozinha e passaram os próximos dias enfurnados na casa dele fazendo amor o dia todo. Só saíam de casa para comprar cigarro, bebida e comida. Trinta dólares eram suficientes para pagar o aluguel do apartamento de Paulo na Bleecker Street - algo absolutamente impensável para os dias de hoje. No quinta ou no sexto dia de cativeiro, Cecília começa a se comportar de maneira fria e distante. Paulo percebe, busca saber o que está acontecendo, mas a moça não se abre. Diz apenas que está preocupada em arrumar logo um emprego. Depois de muita insistência, ela confessa que é ninfomaníaca, que ama Paulo, mas não consegue ficar sem fazer sexo com outras pessoas e que todos os seus namoros anteriores acabaram por esse motivo. Paulo fica sem saber o que dizer e a moça sai correndo do apartamento aos prantos. Depois de uma pequena perseguição pelas ruas de Nova York, Paulo a alcança. Os dois sentam no bar mais próximo.

- Se eu deixasse você transar com outros homens, você continuaria comigo?
- Claro... eu te amo! Quando estou amando alguém, é com essa pessoa que eu gosto de conversar, ir ao cinema, passear. Os outros só servem mesmo para saciar a minha vontade sexual. Nada mais.
- Mas e se eu fizesse sexo com você todos os dias? Não seria suficiente?
- Infelizmente não. 
- Nem duas vezes por dia?
- Não.
- Quantos homens diferentes por mês você precisa?
- Não sei dizer. Talvez uns cinco.
- Cinco?
Cecília começa a chorar novamente.
- E se esses cinco fossem fixos?
- Neste caso eles se tornariam amantes. Seria pior, não?

Os dois tiveram longas conversas e aos poucos foram conseguindo definir as regras daquele relacionamento insano. Paulo estava feliz, mas em alguns momentos, sobretudo quando sabia que Cecília estava com outro,  ficava deprimido em casa se achando um idiota. Cecília não sabia dessas crises e ele não queria que ela soubesse. Foi então que num desses momentos Paulo escreveu a música abaixo e descobriu que era exatamente o remédio que ele procurava para se sentir melhor. Quando a sua crise era mais forte que o normal, ele se encontrava para conversar com o André Garfânio, seu melhor amigo, e de quebra faziam um dueto da música. Paulo e Cecília se casaram alguns anos depois e André se tornou um convidado assíduo da casa que eles montaram no Brooklin. André e Paulo precisavam saber agora o que eles iriam fazer quando os dois filhos do casal tivessem idade suficiente para entender a letra da canção.


Cecilia, you're breaking my heart 
You're shaking my confidence daily 
Oh, Cecilia, I'm down on my knees 
I'm begging you please to come home 

Cecilia, you're breaking my heart 
You're shaking my confidence daily 
Oh, Cecilia, I'm down on my knees 
I'm begging you please to come home 
Come on home 
[ Lyrics from: http://www.lyricsfreak.com/s/simon+and+garfunkel/cecilia_20124635.html ] 
Making love in the afternoon with Cecilia 
Up in my bedroom (making love) 
I got up to wash my face 
When I come back to bed 
Someone's taken my place 

Cecilia, you're breaking my heart 
You're shaking my confidence daily 
Oh, Cecilia, I'm down on my knees 
I'm begging you please to come home 
Come on home 

Jubilation, she loves me again, 
I fall on the floor and I'm laughing, 
Jubilation, she loves me again, 
I fall on the floor and I'm laughing

sábado, 1 de setembro de 2012

passado de presente

para ler ouvindo: vanusa - manhãs de setembro

  .


primeiro de setembro de 1968 e eu ainda morava em paris. maio tinha sido um mês muito esquisito e os acontecimentos de antes e depois ainda me deixavam confuso. nem as conversas que tive com sartre naquele café me fizeram entender. do brasil eu recebia notícias pela lygia, pelo oiticica e caetano, que me escrevia pouco por conta dos festivais. 

em uma das cartas chegou a me dizer que estava achando tudo um saco e queria mudar. o descontentamento do caetano, assim como do torquato, que estava cansado do brasil e da vida. o que me contentava era chegar no meu quarto (na época os apartamentos em paris não eram tão caros, então eu tinha uma casa grande onde recebia todos esses amigos) e ouvir beatles, henrdrix e, claro, caetano, ainda pouco reconhecido, que me faria uma visita somente no ano seguinte, em 69.

mas o que faz esta manhã de setembro ser tão inesquecível não são os fatos históricos até hoje tão comentados. nem mesmo a efeverscência artística e cultural daquele ano ou as guerras (políticas, civis, de ideais). o que me deixa mal até hoje é sair no quintal de casa e observar as flores. é olhar pro muro que me separa da existência plena de vida e lembrar que no passado eu fiz dessa parede um casulo. do lado de fora ou de dentro eu me sentia só, mesmo com amigos e principalmente com aquele amor, que eu não soube cultivar. 

eu era tão frio e cético que achava esse papo de amor uma imbecilidade sem tamanho. eu era indiferente a qualquer sentimento que não fosse o ódio pelos que estavam no poder. me dediquei à leituras pseudo-socialistas e militei. 

exilei-me de mim mesmo há mais de 40 anos e nunca mais voltei.

eu li o amor em paris e esqueci de vivê-lo. 

me deixei levar por pensamentos libertários e me aprisionei em minha cabeça de falsa vanguarda.

transformei tardes de sol em tardes de tristeza porque me protegi do seu calor.

na primavera não vi as flores, mas as pragas que se apropriavam delas.

por isso nesta manhã de setembro quero sair, 
      voltar, buscar o que houve de bom e  
              que esqueci no passado.

é isso, quero o passado de presente.