sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Corra e olhe o céu


Confesso que já fui meio que viciado em efemérides, e que isso ira respingar aqui no blog mais vezes.

Para demonstrar isso nada mais justo do que falar de um vicio assumido que é a música, e ainda mais falar do mestre Cartola.

Onde a tal da efeméride encontra a música que por sua vez encontra o Cartola nessa postagem?

Resposta: Hoje dia 30 de Novembro, faz 32 anos que perdemos o senhor Angenor de Oliveira.

Em 11 de Outubro de 1908 nascia Agenor de Oliveira, que desde moleque já dedilhava o cavaquinho e violão do seu pai, aos 15 anos já havia largado a escola tendo completado apenas o primário.

O nome Cartola veio do chapéu de coco que usava para trabalhar quando era servente de pedreiro.

Envolveu-se com os bambas do samba muito cedo no morro da mangueira, inclusive foi um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, em 1930 já era popular como cantor e compositor. 

Na década de 40 desapareceu, chegou a ser dado como morto, sendo reencontrado em 1956 pelo jornalista Sérgio Porto, trabalhando como lavador de carros.

Voltou a cantar, gravou novos sambas, se casou com o amor da sua vida (Salve Dona Zica) e continuou a ser descoberto e adorado por mais e mais pessoas.

Eu poderia escrever diversas linhas a respeito do Cartola, pois ele é para mim o mais perto que cheguei do meu avô, que eu não conheci, e que lembro ter visto em apenas uma foto quando eu ainda era pequeno.

Até hoje associo a imagem do meu avô ao Cartola por serem parecidos, mesmo tendo como referência uma foto vista aos 10 anos de idade.

Deixo aqui algumas dicas para você conhecer mais sobre o cara.

Discografia (Oficiais)

1974 - "Cartola"
1976 - "Cartola"

DVD - Programa Ensaio 



Biografia

Relançada no ano do centenário do nascimento do Cartola.


E isso aqui só poderia acabar em samba claro.


Linda!
Te sinto mais bela
E fico na espera
Me sinto tão só
Mas!
O tempo que passa
Em dor maior
Bem maior...


Só gravou o seu primeiro disco aos 66 anos de idade, perdeu músicas pelo caminho da vida, não lembrava de muitas outras, e mesmo assim nos deixou uma obra que não toca somente no radio ou na vitrola e sim no coração.

Abraço
Jeff







quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O poder da criação

não, ninguém faz samba só porque prefere, força nenhuma no mundo interfere, sobre o poder da criação.
não, não precisa se estar nem feliz e nem aflito, nem se refugiar em lugar mais bonito, em busca de inspiração.
não, ela é uma luz que chega de repente, com a rapidez de uma estrela cadente, que acende a mente e o coração.

ouvindo na voz da senhorita fabiana cozza enquanto penso o quê escrever, se o poder ou a criação, na verdade como descrever o todo dos últimos dias. não é a revolução, se não dentro de mim em saber o que é a mobilização incendiária, feito faíscas em um, uns, vários, quando vê somos tantos preenchendo os espaços da prainha, para ouvir, discutir a democracia. saber o que é, assistindo; audiência pública, tribunal popular e perder as contas de quantas vezes fui para assembleias e no levantar de um braço, de preferência o esquerdo, o movimento: estudante, professor e funcionário, resultado: greve geral.

nos últimos dias é o coro, "greve geral! o movimento é unitário, estudante, professor e funcionário!". de todos? absolutamente que não, existe pluralidade, reacionários vários, pelegos mesmo, classes sociais diferenciadas predominante a alta ou burguesa pode-se dizer, em contraste com trabalhadores e bolsistas, que reunidos, não na sua maioria, gritam único coro: democracia!

em certa assembleia, me perguntando o que estava fazendo ali, afinal último ano, pouco deveria me interessar, me lixar, estou de saída, fechando as portas, então para quê o esforço a esta hora do campeonato, se nem participar do movimento estudantil pude em quase quatro anos consumado. quase 23:30 h e eu lá me perguntando, me forçando a decidir, ainda daria tempo do ônibus, quem trabalha não goza de tempo, oportunidade para compor espaços e somar,  criar, existem escolhas e são pontuais , normalmente sacrificando horas vagas do que poderia ser o descanso. a reles militância é para o fim de semana, nos encontros regionais e estaduais ou em assembleias, debates, palestras, os ditos, conhecimento além dos muros. naquele momento, que não era fim de semana, mas o começo dela, resolvi ficar e ocupar o que pudesse. afinal é: estudante, professor e funcionário único movimento.

de lá para cá, participação diária, ocupação de espaços, sempre me perguntando, por quê, para quê e para quem e sendo objetiva para não atropelar a condição de trabalhadora, estagiária e estudante sem a carteira e o kit de militante profissional. sem ilusões de que haverá maior movimentação do que esta, do macro ponto de vista ceticista, enxergando o suficiente para saber que este movimento só ocorreu pela junção do tripé: estudante, professor e funcionário. sabendo que a repercussão ocorrera pelo fato da mantenedora ser a igreja, ops, fundação são paulo quer dizer ou pelo fato de ser uma privada sem fins lucrativos? como dito por vários que lá foram, a privada tem história, não é qualquer universidade.

rememorado ontem, no vão do masp em ato estadual  pela democracia e autonomia universitária já! em greve que não se faz de pijama ou no facebook postando apoio sem apoio ser, um número considerável compareceu ao masp.outra vez me perguntando que diabos estava fazendo ali, cansada e com fome ocupando a rua, andando feito camelo, quase sem voz de tanto gritar é unitário:estudantes, professores e funcionários rumo ao campus consolação.

e no meio do caminho, chega a bateria, que deu ânimo, gás para prosseguir, deletando por aquele momento o tal grito hiper machista que vezenquando tem numa sexta-feira, mas ali, eram todos pelo mesmo andar até o campus, no grito, palavras de ordem, para inibir a censura contra o poder da criação, que somos todos. antes de nós outros ousaram, gritaram, criaram e hoje imitamos com outra roupagem, os resquícios da obra. mas sem esquecer é unitário, pelo desrespeito posto, então é hora de desarmar para unir forças, para que a autonomia não seja cerceada, impondo uma decisão, quer dizer, ditadura goela abaixo, nos tachando de ignorantes e sem luz ou amorfos a história da universidade e conseguinte a nossa.

outra assembleia, poucos irão comparecer, mas aqueles que o fizer, a sua parte na história da universidade privada que tem seu valor irá se consolidar, não pelo nome gravado na placa da mesa, no quadro pendurado na parede, no muro ou no papel de empossada, mas no poder da criação,  em reagir a menor censura, imposição sem argumento válido, para rememorar que outros fizeram a obra maior do que a placa e hoje sequer citamos a todos ou sabemos seus nomes e sobrenomes, mas inspirados em ações, histórias, os imitamos.

e como diria o senhor Paulo que poderia ser Santo Paulo César Pinheiro em tamanha sabedoria, santidade, humildade em dizer: "o corpo a morte leva, a voz some na brisa...o que fica? o que é que fica? aquela placa fica? não! os estúdio já foi demolido, hoje, não é mais estúdio, aquela placa sumiu, que ficou foi o que se fez ali dentro, foi a obra que se gravou na música brasileira, isso né, tá acima de qualquer dinheiro de qualquer país..." súplica a relação do que vale a música brasileira, cantada, regravada por tantos. a conclusão pelos mestres dos versos, da poesia, dos instrumentos, no vale mais a obra do que a placa.

uma certa santidade, vossa excelência se gozasse de sabedoria e discernimento saberia que ter o (sobre)nome  gravado na história da universidade como o dom da ditadura é desonroso e portanto, nem com a súplica dos deuses será apagado! faremos questão que seja rememorado pelo feito.

uma certa senhora, formada em letras e portanto detentora da poesia, do verso e da palavra, deveria saber disso e portanto recusar o cargo, isentando-se da vergonhosa parte na história, assimilando o sobrenome, a palavra: golpista! a reitora rejeitada pela comunidade em novembro de 2012 em assembleia, tribunal popular, audiência pública, em gritos e atos. enfim.

e sendo o poder da criação maior do que a criatura
o coro é vivo e unitário: estudantes, professores e funcionários: 
FORA ANNA CINTRA!!!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Incidente na laje

Divulgação.
na cama, caído, o corpo. calma, calma que vou explicar. solte o celular, sei que és x9, mas ele já tá enfaixado. de greve. então, foi quinta passada. estava esbelto e esbanjando. gastando a grana. sonho de valsa sabe? nas americanas. babo, baby. baby-beef. baby-sitter. baby-doll. bacana, o bacanal que tem aqui no bairro. só os chocólatras. chupo até ficar derretido o chocolate do negão. mas então, quase matei, a marteladas, marcelo. isso 9001 é o que importa. mas não matei. queria ter matado. sorte grande, teve o safado. na ação e reação só teve ação. ração. foi a razão. eu, cachorro sem sono. sempre no cio. sem dono. na primeira camada removida da cebola, chorei, com a faca na mão. o coração apanhando pra continuar na cena. eu, ali na pia, sem dá um pio pra ele não acordar depois da rápida alta que teve. ele, no sofá. na hora não hesito em umedecer a informação, fiquei com o cu na mão. disse na enfermaria que ele, já alto, caiu. do salto. bateu com tudo no batente. fiquei fechado ali, com a bunda na cadeira da sala de espera. é. tirei meu coro de crocodilo e chorei. senti. senti meu sebáceo sexo, sem monange, sem cheiro, de passivo, de passista de frevo sem sombrinha. meu, só foi falarem da foto. da traição. de paulo. calque, no seu cérebro, a cena: marcelo, lá na laje, lambendo uma lapa de um cacete cabeçudo e de capacete. melhor, um cacete de capacete e capacitado. até eu babo quando calco no meu cérebro a cena. mas a raiva me faz brochar. meu cu para, na hora, de piscar. chego ao quartel e baixo, por respeito e para ajudar na minha identificação, a luz do farol. baixo a bola. do meu buraco não sai nem luz. raiva é raiva. brava. dá vontade de cortar. o pau de paulo. mesmo sendo quase do comprimento de uma régua escolar. peeeerdiçãooo!, estilo chefe wellington, amigo de panela cheia do curso de culinária que fizemos no senai. o pau de paulo, pelo o que vi no vídeo nos poucos segundos que marcelo deixou sair fora, dá vontade de decepar. torar. logo eu que cortei tanto salsichão. dá gana de tomar. pra mim. deixar dura pra sempre. com o sangue preso, circulando no centro. sustentando um vibrador de carne e natural. galiana, a vizinha de baixo, trepou numa árvore como quem busca uma manga, e, com o samsung num respeitável zoom de alcance e definição, gravou. tudo. ele, tão novo e tão distraído, com a boca na gabiroba do menino. de 18 anos. novinho, como ele. eu, sem muita instrução, só com um diploma na mão, cinquentão, de cacete médio, rexona vencido, com a bunda caindo pelas abas da cueca, de bata de cozinheiro sem trampo a andar feliz pela casa preparando caçarolas para ninguém degustar, o joelho travado, da época que fervia no frevo. marcelo, meu macho ousadamente usado, tão novinho também e já decidido a deixar a vida como ela é e não como eu gostaria que fosse. agora só resta partir a cenoura. dividir em quantidades e chamar o coelho.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Eu tô cansada da cidade...


Até a adolescência vivi no campo. Bebia o leite da vaca do curral, comia os ovos das galinhas do terreiro, ouvia o canto das cigarras e aturava uma multidão de pernilongos. Ao mesmo tempo, fui criada com todas as facilidades da vida moderna: telefone, televisão e escolinha de inglês. Devido à localização do sítio da minha família, eu dependia da minha mãe para ir de carro à cidade. Conforme fui crescendo, a vontade que mais crescia era a de fugir da repetitiva vida campestre e morar na cidade. Eu não tinha vizinhos ou amigos para conversar. A vida era chata no meio do mato. Mais tarde, mesmo a cidade, localizada no Vale (Encantado) do Paraíba, pareceu-me provinciana demais. Eu queria ir embora para outra cidade – maior, mais intensa, mais viva. No último ano do colégio, o meu principal objetivo era partir. Só poderia ir embora se passasse em uma universidade pública, dizia a minha mãe. Foi então que lutei com todas as forças contra a preguiça e me dediquei à decoreba para fazer o vestibular. Passar na prova foi passar finalmente para a vida urbana! Cheguei à metrópole. No início eu me assustei, depois me acostumei, gostei e, então, eu me viciei na cidade. Uma das melhores coisas que a cidade grande me deu foi a oportunidade de ser anônima. Aos olhos da multidão, não sou filha, sobrinha ou namorada de ninguém. Em breve completarei nove anos de paulistanice. Já me sinto bem paulistana, mas admitido que eu tô cansada da cidade. Às vezes me pego sonhando em ter uma plantação de milho, algumas galinhas e talvez um porco. No fundo, nunca deixei de ser uma caipirinha.





segunda-feira, 26 de novembro de 2012

a leitura. a escrita. a entrega. o jovem.

neste mês, comprimida por um prazo, escrevi um texto durante seis noites. um artigo sobre milton hatoum para uma revista acadêmica. dormia das 7h da manhã ao meio dia - e depois emendava noite adentro. parece tarefa obrigatória. e é mesmo. nem por isso deixei de sentir um enorme prazer. daquele prazer raro que só um encontro consigo mesma pode causar. o que seria isto? por que se submeter ao, que, no fundo, traz uma solidão atroz? eu, a escrita, a dificuldade da escrita? uma das respostas talvez resida na facilidade de adentrar na solidão.ou um amor aos livros. um amor à escrita. ou simplesmente um deslumbre. permitir-me o deslumbre. ou a dificuldade. 

os livros não são apenas objetos. agora, podem mesmo não ser objetos. são uma coisa viva. exigem a entrega. como um dom. por isso, não consigo mais entender como os jovens cada vez mais decidem ficar horas e horas manejando o celular, atrás de outras pessoas igualmente desesperadas por companhia, e não se permitem um tempo mínimo para a leitura. já entendi mais. agora não. não adianta me dizerem que nunca se leu tanto. não acredito mais nisso. e se não acredito é porque perdi um pouco da admiração pelos jovens. já os achei mais cativantes, mais instigantes. agora, de cabeça baixa para uma uma presença sempre ausente, numa luzinha azul, perderam um bocado dos seus sonhos, da sua rebeldia, da inquietação, que eram justamente o que me fascinava.perderam o poder de argumentar. de encantar. 

não digo que um leitor tenha estes poderes. mas sem dúvida possuem algo a mais. ailleurs. lembro da minha própria juventude, muito precária em quase tudo. mas havia em mim um poder enorme. eu me sabia leitora. eu vivia num mundo de muitas histórias. de muitas vidas. e isso repercutia em todo o resto. até mesmo no amor pelos outros que eu sentia então. eu QUERIA ser um pouco como  aquelas "pessoas" - complexa, intensa, inteira, capaz de gestos monumentais e contraditórios. e hoje, o que os jovens querem ser, o que querem fazer? tenho medo da resposta. 
*
*

sábado, 24 de novembro de 2012

A conversa

- Eu não aguento mais isso.
- O quê?
- Isso!
- O filme? Mas você falou que queria ver esse.
- Não. Droga. Não é o filme.
- Tá ruim assim? Vem, encosta aqui. 
- Não. Olha pra mim.
- Hmm.
- Olha.
- Tô olhando. 
- Isso não tá certo.
- O filme?
- Eu vou dar na sua cara.
- Desculpa. Não aguentei. Vai, pode falar.
- É...isso. A gente. Aqui.
- Você quer ir mais pra lá?
- Puta que pariu! Não é ir mais pra lá ou mais pra cá! É ficar aqui, com você, nesse sofá, nesse apartamento, vendo filme no final de semana, pedindo comida japonesa, chinesa, pedindo pizza, tomando vinho...
- Você não gostou do vinho?
- Eu adorei o vinho! Você sabe que eu adoro vinho. 
- Sei, claro que sei.
- Você sabe tudo sobre mim.
- Sei...
- Claro que sabe. Porque a gente se conhece a vida inteira!
- Ai...de novo isso?
- Não olha assim. De novo, sim.
- A gente já conversou sobre isso.
- Conversou. E conversou muitas vezes. Mas eu andei pensando.
- A gente já tentou...você sabe disso.
- Eu tô com saudade de ficar junto. Saudade da gente.
- Ah...ah, não. Sério. A gente não deu certo casado.
- Não é assim. A gente era muito novo na época.
- Ah, sim. E só isso foi o motivo, né?
- ...
- Olha. De verdade. Eu te perdoei. Você sabe que eu te perdoei. A gente não estaria aqui agora se não tivesse perdoado.
- Eu sei. Eu sei. Errei. Tá bom. Não precisa me lembrar disso. Mas é diferente agora.
- Não tá bom assim, a gente sendo amigo?
- Olha...tá bom, tá muito bom. Mas não tá ótimo.
- Hmm.
- E a gente era ótimo junto, você sabe.
- Era...mas tá tudo ótimo agora. 
- Eu te amo.
- O quê?
- Eu te amo. Eu te amo. Não deixei de amar nunca.
- Mas a gente é amigo...
- A gente é amigo, sim. A gente sempre foi amigo. Mas a gente não é só isso. Tem uns dois anos que a gente não é só amigo.
- Ai...
- Te amo e não existe razão pra gente não ficar junto.
- Olha...
- Fala. Fala, quero te ouvir.
- Não é bem assim.
- O quê?
- Não é bem assim de não ter razão pra gente não ficar junto.
- Como assim? É outra pessoa?
- Não, não é outra pessoa. É você.
- O que tem eu?
- Eu lembro que você tem aquela mania de dormir de janela aberta.
- Hahahahah!
- É sério!
- Não...heheheh. Eu sei que é sério. Por isso que tô rindo. Se é só isso, eu paro agora!
- Não.
- Não?
- Também tem o lance da pasta de dente.
- O quê? De apertar em cima?
- É.
- Nunca mais. Por você.
- Olha...
- Palavra de honra. Pode confiar.
- Ah...e a sua camisa.
- Camisa?
- A xadrez, de flanela.
- Não...ela também?
- Você tem essa camisa há mais de dez anos, já. Não dá pra sair na rua com ela.
- Ah.
- Todo mundo já te viu com ela. Aliás, lembra quantas fotos a gente tinha na mesinha em que você tava com ela?
- Não...tá, tudo bem. Eu jogo fora. 
- Mesmo?
- Mesmo. Mas...
- O quê?
- Você tem que me prometer nunca mais cuspir caroço de azeitona.
- Caroço?
- É. Pega um guardanapo, põe na frente da boca e cospe fora. Assim, não direto no prato.
- Ai, ai.
- Isso é muito sério. Ou coloca com jeitinho no garfo.
- Isso é nojento. Frescura.
- Guardanapo, então. Quero nem saber.
- Tá bom, tá bom.
- Ah! E os copos!
- Que que tem os copos?
- Tem que colocar um descansinho embaixo. A gente tinha um monte de mesa manchada lá em casa.
- Ok. Mas eu quero ter gato de novo.
- Gato de novo?
- Gatos. Dois, pelo menos. 
- Mas a minha alergia...
- Tem remédio. Minha prima tá tomando um agora. Você lembra que ela nunca podia ficar perto do Zorro? Agora ela mexe e brinca sem problema.
- Tá bom. Um gato.
- Dois.
- Dois...ok. Dois gatos. Pra arranharem tudo e soltarem pelos por todo lado.
- Vai ser lindo.
- Mas, ó, chega daqueles quadros arredondados.
- Você não gostava deles?
- As fotos ficam parecendo aquelas de cemitério. 
- Ah, que absurdo!
- Nossa, parecia que todos os nossos parentes tinham morrido e a gente era um daqueles casais estranhos que aparecem nos documentários.
- Ah, muito bem lembrado! Você tem que jurar aqui, de pés juntos, que a gente não vai passar mais um domingo vendo documentário na tevê.
- Por que não?
- Pô, fim de domingo é depressivo por natureza. Aí você tem de escolher entre o Faustão e documentário do primeiro dirigível da história.
- Mas você não gosta de aprender coisas novas?
- No domingo não. Eu só queria desligar meu cérebro. Você não faz ideia de quantas vezes pensei em me enforcar com a cortina da sala.
- Exagero.
- Exagero, não. Sinceramente pensei. Tá, foi só uma vez. Mas tanta coisa melhor pra fazer. Trepar, por exemplo.
- Você sabe que não gosto quando fala assim.
- Trepar, transar, foder. Tudo a mesma coisa.
- Não gosto.
- E isso vai ser uma condição.
- Vai. De agora em diante, nada de trepar.
- Mas daí qual o sentido da gente voltar?
- Parar de rir que você entendeu.
- Ah, você tem que admitir que isso é muito engraçado.
- Promete. 
- Tá certo. Prometido. Nada de trepar. Mas nada de fazer amor também.
- Oi?
- Isso, essa expressão. Muito brega.
- Sempre achei que você gostasse.
- Gosto do ato em si, claro. Que tem todos aqueles nomes: foder, transar, comer, trepar.
- Esse não.
- Tudo bem, mas fazer amor também não.
- Tá. 
- Tá. Algo mais?
- Nada de cabelo no ralo.
- Nem barba na pia.
- Feito.
- Feito. 
- É?
- É. Eu também te amo. A gente não estaria aqui se eu não amasse.
- Ah...então me dá um beijo aqui. 
- Dou. Mas peraí.
- O quê?
- Aquele seu monte de livro e gibi tem que ir embora. 
- Sai agora mesmo da minha casa. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Eu fico com a pureza da resposta das crianças..

Como decidir com quem se casar?
"Precisa procurar alguém que gosta das mesmas coisas que você. Se você gosta de futebol, ela também deve gostar quando você assiste futebol e assim ela te traz batata frita e cerveja."
(A, 10 anos)
"Ninguém decide sozinho com quem casar. Deus decide por você, muito antes, e você tem que entender."
(C, 10 anos)

Qual a melhor idade para casar?
"A melhor idade é aos 23, porque assim você conhece o teu marido pelo menos há 10 anos."
(C, 10 anos)
"Não existe a melhor idade para casar. Tem que ser muito estúpido para querer casar."
(F, 6 anos)

O que seus pais tem em comum?
"Que não querem mais ter filhos."
(A, 8 anos)

O que fazem as pessoas num encontro?
"Os encontros são para se divertir e as pessoas devem aproveitar para se conhecer melhor. Até os meninos têm coisas interessantes para dizer se prestarmos bastante atenção."
(L, 8 anos)
"No primeiro encontro, contam-se mentiras interessantes para conseguir um segundo encontro."
(M, 10 anos)

O que você faria se o primeiro encontro não desse certo?
"Iria para casa e faria como se estivesse morto. Então telefonaria para os jornais e mandaria publicar que morri."
(C, 9 anos)

Quando se pode dar o primeiro beijo?
"Quando o homem é rico."
(P, 7 anos)
"Quando você beija uma mulher tem que casar e ter filhos com ela. É assim a vida."
(H, 8 anos)

É melhor ser casado ou solteiro?
"Para as meninas é melhor ficar solteiras, mas os meninos precisam de alguém que limpe."
(A, 9 anos)

O que temos de fazer para que o casamento tenha sucesso? 
"Temos que dizer à mulher que ela é linda, mesmo que pareça um caminhão."
(R, 10 anos)

Garotada de hoje bem mais esperta que nós... já sabia disso o Joey..




Hey Bear, será que as pessoas perceberam que eu demorei o dia todo para postar?

(É a vida, é bonita e é bonita....)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A invenção da infância

Outubro passou e novembro já vai a galope, mas acho que a discussão sobre os pequenos é tão grande que não cabe em apenas um mês, então, se me permitem, segue mais um dedinho de prosa sobre o tema:


Ser criança não significa ter infância. 

A ideia de infância é uma invenção como qualquer outra invenção. Foi criada no contexto das grandes invenções com vias de proporcionar ao homem uma fase ideal na vida, uma fase em que pudesse simplesmente desfrutar dos pequenos prazeres da existência, sem se preocupar com horários, com projetos, com o trabalho, com o consumo. Uma fase em que pudesse simplesmente ser.

Mas, como qualquer outra invenção, a infância acabou por ir tomando outros rumos e se confundindo com o mundo adulto. Cada vez mais, o tempo infantil é marcado pelo ponteiro do relógio e os compromissos, quando já não estão introjetados, são devidamente registrados em sofisticadas agendas. Cada vez mais, o "que vou ser quando crescer" é mais importante do que o "do que vou brincar depois do almoço". Cada vez mais e cada vez mais forte, uma poderosa indústria voltada para as crianças vem formando uma legião de pequenos e ávidos consumidores.

E, se por um lado a invenção da infância fracassou com uma criança que consome, que tem compromissos e que faz planos para o futuro, ou seja, uma criança de classe média, ela não foi mais exitosa para aquelas que não podem consumir e que, por vezes, nem vislumbram um futuro. Para estas, a fronteira entre a vida de criança e vida de adulto é ainda mais tênue, ficando as diferenças apenas no aspecto biológico. Estas crianças são pequenos trabalhadores que pensam e agem como adultos, que sabem exatamente quanto custa o quilo do tomate e o quanto precisam trabalhar para consegui-lo. Nada mais distante que a ideia - romântica - de infância.


A infância é, portanto, além de uma invenção sem grandes êxitos, um tema profundamente delicado e importante. E é com delicadeza, mas também com muita seriedade, que este tema é trazido nos singelos 26 minutos do documentário "A invenção da Infância", de Liliana Sulzback, que recomendo a todos os que se interessaram por este texto inteiramente inspirado no curta que pode ser visto aqui.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Por causa da falta de coragem

Desesperado, arremessou o copo contra a parede.
Não podia acreditar no que havia visto no metrô, horas atrás.

Um misto de dor de cabeça e náusea começou a tomar conta de seu corpo, que já vinha cambaleante desde a estação Ana Rosa.

O grande amor de sua vida estava no maior papo com um desconhecido que ele não fazia a mínima questão de conhecer. 

A raiva maior, no fundo no fundo, era dele mesmo!

Sim, porque aquele estranho certamente tivera a coragem de fazer aquilo que ele não fez: Se declarar à moça!

Sim!

Era apaixonado por ela desde a época do jardim da infância, mas a timidez (maldita, a seu ver) não o deixava se declarar. Vivia com medo de que alguém o fizesse antes dele. E aconteceu.

Todos os dias ele a via! Sabia que ela trabalhava na papelaria da esquina, e sabia que ela saía àquele horário, todos os dias.
Ah... Como era triste quando, por um motivo ou por outro, não a encontrava no mesmo metrô, na mesma estação.

Quase teve um ataque quando, depois de três dias seguidos, não via o amor de sua vida sair por através das portas corrediças laranjas. 

Ela estava de férias.

Mas naquela tarde... Seus olhos... Seus sorrisos... Voltados para um moço que ele nunca havia visto nem mais gordo, nem mais magro. Mas era real...

Resolveu abrir um refrigerante. E um saco de Ruffles tamanho família.

Sentou diante da TV, e ligou o aparelho.

Já estava quase de noitinha, e não queria que ninguém lhe tirasse o direito de sofrer por aquela dor de cotovelo, aquela tristeza doída... Que brotava lá do fundo de sua alma...

Zapeando pelos canais a cabo, encontrou um canal com os "60 melhores clipes para curtir uma desilusão"!

"É pra mim!" - pensou ele, falando de maneira que pudesse ouvir seu próprio pensamento.

Um clipe começou, e o que ele via não eram as imagens originais, e sim cenas com a menina dos seus sonhos. A formatura na pré-escola, o bailinho no qual ele tropeçou no pé dela, fazendo-a derramar o ponche, a formatura no ginásio... E tantas outras histórias que ele vivenciou com ela, sem mesmo que ela soubesse!

E ao som de Elton John, dormiu.
Sem teminar o refri e as batatas.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Quanto custa um amor?

Em uma segunda feira normal, onde não se tem muito o que fazer mesmo que você more em São Paulo, levar minha irmã na rodoviária virou o programa do dia. Por sorte, um amigo resolveu acompanhar-me no meu "passeio".
Na volta, como se um segunda feira já não fosse chata o bastante, o ex namorado resolve aparecer no visor do celular do pobre coitado.
Ligação terminada e desabafos iniciados, decidimos que nossa missão do dia era conseguir um programa interessante onde existissem pessoas disponíveis... numa segunda feira. Será que só se esquece uma pessoa em definitivo quando aparece outra? A resposta pra essa pergunta era justamente o objetivo da noite.
Andando pela avenida Paulista às 19h da noite, quando milhares de pessoas interessantes, - disponíveis ou não - estão à solta, um ser interessantíssimo - disponível ou não - vem em nossa direção como um presente em resposta a um pedido feito ao Universo... e nos entrega um papel.
fôlder de Dona Natália prometia solucionar difíceis problemas amorosos, casos íntimos a resolver, depressão e ainda dizia trazer a pessoa amada, além de fazer e desfazer amarração para o amor. Tudo em sigilo absoluto. E ao invés de gastarmos em torno de R$50,00 para entrar e consumir em algum bar da região afim de conseguir pretendentes, dona Natalia o fazia por R$20,00.
Então é isso? Um grande amor hoje em dia vale R$20,00? De repente ficou explicado o fato daquela colega de trabalho horrorosa ter um namorado firme.
Bem, acabamos não saindo pra lugar nenhum. E não ligamos pra dona Natália, claro. Não acho que conseguiria aceitar um amor comprado por R$20,00. Mas guardei o fôlder  de qualquer forma. Talvez um dia resolva pedir o telefone do entregador de fôlderes dela... se for de graça.

sábado, 17 de novembro de 2012

Depois da partida

Eu voltei depois de mais de dois anos de ter partido. O céu continua bem azul, a chuva ainda incomoda, o frio ainda castiga. Os cavalos ainda continuam pelas ruas, a Pérola ainda domina, a Mari ainda gargalha forte. A vida ainda é parada, o sotaque ainda carrega, o Superpão ainda reina. Está tudo tão igual, o tempo ainda arrasta minhas lembranças e eu, ainda tão pequena, continuo sem saber qual será o fim desse caminho. Dois anos depois, um mundo depois. Ainda.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

15

"Um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama"  Andy Warhol

Logo quando fiz 15 anos adorava ir em festas de formatura, acredito que foi uma substituição precoce de nunca ter sido convidado para uma festa de 15 anos. Logo se vê, nunca fui popular. O tempo passou, as mágoas da adolescência e início da vida adulta se curaram e elegi como minha festa preferida casamento. 

Nos últimos 2 anos fui a 15 casamentos, sendo que em 2 fui padrinho. Hoje assistindo a maratona de Walking Dead em casa e ao acessar o Facebook vi milhares de fotos do casamento da minha prima, sim, esse não fui convidado e acredito que na minha família continuo pouco popular, tive uma epifania: esse eventos são a tentativa dos 15 minutos de fama.

Pense bem: o tempo passa, logo você se dá conta que a formatura não garantirá que você terá o emprego dos sonhos, muito pelo contrário, talvez somente garantirá um emprego. Você não será um ator de sucesso, guitarrista de uma banda famosa, um escrito ou mesmo um webstar e nem fará fortuna com uma empresa de tecnologia.

Azar no jogo, sorte no amor...nem tanto assim. Com os hormônios em alta, você terá suas aventuras, se relacionará com algumas, virá o amor e você começa a pensar em casamento...A mulher pira com todos os preparativos, pq no fundo ela sabe que será a última faísca, os um pouco mais de 15 minutos de fama, de uma luz que se apagará entre montanhas de carnês, financiamento com Caixa, serviços do lar e choros de criança. Sem contar a conturbada relação que terá com o marido, pois o casamento é soma de esquisitices, manias, medos e a sobrevivência com uma grande porção de aceitação mútua.

O pior é quando essa última faísca vem com a música do Rei Leão, retrospectiva adornada com imagens do Shrek, cerveja quente sem vergonha e whiskey paraguaio. Cuidem bem das suas últimas faíscas e por favor, me convidem, eu irei com todo prazer.  


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Love me, Tender

Fiquei comovida quando soube que os porcos são fisicamente incapazes de olhar para o céu.
Pois isso quer dizer que eles nunca se perguntaram o motivo do céu ser azul. Se os porcos tivessem a oportunidade de admirar o infinito e fossem capazes de questionar acerca da sua cor, ainda assim estariam impossibilitados de cruzar as suas patas para organizar melhor seus pensamentos. Não sei se você sabe, mas foi cientificamente comprovado que cruzar os braços ajuda a pensar melhor. Impossibilitados de contemplar o céu e inaptos a cruzar as patas para organizar ideias, os pobres suínos jamais ficarão em dúvida se a cor do céu é azul devido à melhor difusão das ondas curtas de luz pela atmosfera ou se é porque deus era menino.
Senti muita pena dos porquinhos por eles não poderem ver o céu. Ainda mais quando li que estudiosos descobriram que a cor azul é capaz de nos deixar mais felizes.
Elvis Presley tinha olhos azuis. Talvez por isso tenha feito tanta gente contente. Muitos não sabem, mas Elvis era naturalmente loiro e trabalhou como coveiro antes da fama. Deve ser por isso que quando alguém morre, dizem que ‘o fulano foi ver o Elvis’. Tem gente que acredita que Elvis não morreu. Outros garantem que ele morreu, sim, de overdose, horas depois de saborear quatro bolas de sorvete com seis cookies de chocolate. 
Eu não sei em qual das duas versões acredito. Mas se eu pudesse escolher, minha última refeição também seria sorvete. Daqueles sorvetes bem azuis, ainda, como tributo aos olhos malemolentes de Elvis e aos pobres suínos que não podem admirar o firmamento nenhuma vez antes de se transformarem no Tender da ceia de natal.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A ansiedade moderna e a fúria da água

De vez em quando tento desesperadamente me afastar da minha maneira tão racional de ver a vida.Uma astróloga me disse que isso era culpa do excesso de planetas em signos de terra no meu mapa astral.Eu penso demais,minha mente é como trabalhar em uma empresa alimentícia que vende nuggets de frango,tudo tem que ser separado,cortado,despedaçado,triturado e só depois vira alguma coisa que eu possa identificar e digerir.
Nos últimos tempos venho me sentindo muito ansiosa,mais ainda,como se isso fosse possível.Minha cabeça já me mandou o inventário dessa ansiedade,tenho motivos reais de sobra para estar subindo pelas paredes.É aquela lista normal,de pessoas anormais em um planeta bizarro.Problemas na família,fim de namoro,mudanças profissionais,uma dieta que não deu certo,uma encomenda que se perdeu no meio do caminho e o correio não acha,a parede do banheiro que tem que ser pintada antes do Natal e a grande faxina de Ano Novo.Tudo isso e mais um pouco,além do fato de ser fim de ano,essa época angustiante para pessoas como eu,sempre preocupadas com o futuro.
Diante de tanta ansiedade resolvi procurar alguma resposta,na verdade uma solução,já que ansiedade é como um ácido nas veias,vai devorando tudo.Subi montanhas,mergulhei em mares desconhecidos,caminhei na areia e não achei nenhuma resposta que me deixasse satisfeita.Alguém me disse que eu poderia usar remédios,mas eu não tenho o perfil adequado,sou naturalmente atormentada, não tem remédio que amenize as crises existenciais que eu tenho.
Depois de tanto procurar achei que seria melhor abandonar essa mania que tenho de desmembrar tudo,resolvi procurar uma resposta em um mundo paralelo,alguma espécie de consolo astral.
Como todo ser humano é uma contradição, essa é a minha,quase um segredo de Estado.Assim como tenho que racionalizar tudo,acredito em qualquer coisa que venham me contar,desde que não possa ser provado,caso contrário não me interessa.
Se escuto barulhos a noite não penso que são meus vizinhos,na hora penso que deve ser alguma coisa do além.Eu adoro esse mundo porque é cheio de possibilidades e nada pode ser comprovado,nem visto por duas pessoas ao mesmo tempo.
E lá fui eu atrás de um pouco de lavanda,porque dizem que cura a ansiedade.Lavanda em incenso,velas,perfume,em tudo.Sou dessas que compra velas e acredita no que diz a embalagem,velas para o amor,velas para paz,velas para isso e para aquilo.
E então apareceu um amigo que um dia foi médico,largou tudo,montou um negócio que deu tão certo que agora ele vive de rendimentos e se dedica a decifrar os mistérios da vida.
Ele me explicou o que está acontecendo comigo e com milhões de pessoas.O corpo humano é composto por 70% de água e mesmo sem perceber nós temos essa vibração e ligação direta com a água,no momento o elemento de maior tensão no planeta.Água que está furiosa,que inunda,que desaparece cidades,que arrasta árvores e derruba o que encontra pela frente.
E por que não o fogo ou a terra?Porque é o ano da purificação,primeiro a água,depois o resto.Um psicólogo alemão disse que 28% da população mundial apresenta o transtorno de ansiedade pré-fim de mundo.Difícil saber se o mundo vai acabar,mas pelo menos uma coisa é certa,a natureza está reagindo e nosso corpo está sentindo,as vibrações mudam e as pessoas começam a sentir muita tristeza,depressão e ansiedade.
Nem todo mundo acredita nisso.É complicado mesmo acreditar,principalmente porque vivemos em um planeta onde achamos que estar conectados é ter internet nos nossos brinquedos,é ter o celular carregado e ter a página do Facebook atualizada.Ninguém pensa que antes disso estamos ligados a natureza,a um planeta que se mexe,gira e vibra.Sentimos as enchentes muito antes que elas aconteçam diante de nós,a Terra começa a se mexer para ajustes semanas antes.Pensamos que nossa ansiedade é pelo Natal,fim de ano e as compras que tem que ser feitas.A depressão vem pelo excesso de trabalho e sonhos frustrados.Mas não é nada disso.
Tem gente que vai dizer que os maias,essa civilização que estava profundamente ligada a terra não sabia nada e não tinha como saber se o mundo ia acabar ou não.Nosso guru é Steven Jobs,mesmo morto,se ele disse que é possível se conectar com brinquedos menores e com maior velocidade,então é isso que queremos.
Pra mim é mais confortável pensar que controlo meu corpo,que malho e faço dietas e mando na minha vida.Imagina uma mocinha como eu,inteligente,começar a acreditar que seu corpo reage a fúria da natureza,sente as vibrações da Terra exausta de tantos abusos e que antes de ver o mar inundar uma cidade podemos sentir a água subindo na nossa alma,sufocando,como se o tempo começasse a acabar.
Se vamos sobreviver ou não,quem sabe.Mas aquela festa de viver em um planeta,como se fôssemos um corpo aparte,sem a menor ligação com a natureza,sem sentir na pele tudo o que vem por ai,bom,essa festa parece que acabou.

domingo, 11 de novembro de 2012

Canções

Há canções que dizem tudo, há canções que dizem nada. Há canções que agradam os gregos e canções que agradam a todos. Eu gosto das canções que tem o aroma das frutas e o cheiro das flores. Gosto das canções que sentem a brisa do vento e ouvem o barulho do mar. Canções que molham com a chuva e secam com o sol e as que dormem com a lua e acordam com o verão. E as canções das estrelas então? Há tantas quanto as que estão no céu. Lindas canções que dizem exatamente do jeito querem dizer ou que devem ser ditas. Queria eu escrever as canções que ainda faltam ser escritas e ter escrito as que eu já ouvi e fui incapaz de criar. Será que há canções tão belas a serem criadas que indeferem das tantas que já conhecemos?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Uma vida sendo refeita...

06h00 e eu acordado. Café da manhã. Caminhada na praia. Banho de mar. Volto para casa. Tomo uma ducha. Estou pronto para trabalhar. De frente para o computador checo meus e-mails: 10 e-mails do chefe; 8 e-mails dos clientes; 1 conta para pagar; 2 correntes de e-mails que se você não fizer acontecerá a Terceira Guerra Mundial; 0 e-mail seu! Aiiiiiiii! Que droga! Ora @#$@#$! Isso é o que mais me dói. Eu tão decidido, independente, bem resolvido, com amigos, trabalho, uma vida legal e me pego esperando uma ligação sua. Eu me pego preso, dependente de você. Nessas horas descubro que celular é algo do demônio. Só pode. Porque você fica de minuto a minuto, olhando, na intenção de encontrar um sms seu, uma ligação. E o susto quando aquele som de mensagem chega? E quando você vê, não passa de mais uma propaganda da sua operadora de celular. Aiiiiii! Preciso me libertar disso, preciso me libertar de você. Não! Na verdade, eu preciso me libertar de mim primeiro. Isso! Eu preciso voltar a ser eu mesmo e não ficar aqui esperando você voltar. Mas confesso que tudo isso dói. Pois os melhores momentos da minha vida eu passei ao seu lado, passei nos seus braços, passei sob os seus cuidados...Calma! Foco, foco, foco. Lembre-se dos dois sites que você precisa entregar até segunda-feira. Lembre-se que sua carreira de webdesigner está crescendo agora. Lembre-se de que amanhã é sábado e você não vai sair com ele. Ei!!! Isso aqui era para me fazer bem ou mal? Aiiii. Lembrei de que não vou sair com você?? Na verdade, você é quem não vai sair comigo. Porque, agora, 10h da manhã, eu decidi que vou sair hoje, amanhã, depois e depois comigo e com meus melhores sonhos. Você? Sim, até está neles, mas não como protagonista, mas como figurante de uma parte da história. Já descobri em que esquina me perdi de mim mesmo. Foi na esquina da autoestima. Quando vivi sua vida em detrimento da minha... Um gole de café. Um site para fazer. Uma carta virada. Uma página passada. Uma vida sendo refeita com dores e sonhos. Esse sou eu nessa manhã!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Boa Cantada

  Dona Maria perdeu dez reais.

  Dona Maria tem cinquenta anos, mas parece ter setenta ou mais.Sua saúde não está nada boa, não tem filhos, marido nem família.Uma velha colega de trabalho foi visitá-la e resolveu ajudá-la, com uma internação.
 Dona Maria discute sobre que dia é hoje, que mês, e até que ano, não sabe bem onde está, nem por que veio. Ela sabe, só que tem mais de dois anos que não dá uma, e que gostava da coisa.

  Dona Maria precisa de um auxiliar de enfermagem, mulheres tem várias, mas para o tal favor ela precisa de um homem, faz questão.

  Dona Maria chamou Cláudio, aflita: ela perdeu dez reais, dentro das calças, da fralda, para ser mais exata.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

De gente grande.

Estou lendo Sangue de Tinta. Confesso que já faz algum tempo, aliás, que estou para terminá-lo. A escrita da Cornelia Funke é uma delicia, mas é um livro bem denso, longo e cheio de meandros da história. Quase um Senhor dos Anéis light. Mas esse nao é meu ponto. Acontece que recentemente me dei conta de que a história contada entre a trilogia de Funke (antes de SangueCoração de Tinta e, depois, Morte de Tinta) é um tomo sobre o amadurecimento. E é uma história para gente grande.

Acho que essa é a matriz das três grandes sacadas da autora: 1) ela executa uma premissa que é um sonho infantil: o encadernador Mo e a filha Meggie são capazes de, ao ler em voz alta, trazer personagens de dentro do livro para a realidade (e vice-versa); 2) ela apela para o público juvenil, que vai se identificar com as dores de Meggie, as desilusões cínicas de Dedo Empoeirado (um dos personagens mais fenomenalmente contruídos da fantasia contemporânea) e as paixões de Farid, garoto que Mo lê para fora de uma cópia de As Mil e Uma Noites; 3) o público adulto já passou por isso, e sabe que não foi fácil.

Sangue de Tinta triunfa em sua habilidade de ser interessante, em dimensões diferentes, à fatias bem diversas do público. E conta também com a escrita encantadora (mas mais fundamentalmente encantada – é visivel que a autora é apaixonada pelo que escreve) de Funke.

A adaptação cinematográfica de Coração, primeiro tomo da saga, não teve bilheteria suficiente para engrenar uma série. Mas vale a pena assistir para conferir Brendan Fraser como Mo (a autora escreveu o personagem baseado na aparência, no carisma e na voz do ator, e ele recebeu uma cópia assinada antes mesmo do lançamento) e pelas ótimas atuações de Paul Bettany (Dedo Empoeirado), Eliza Bennett (Meggie) e Andy Serkis (o vilão Capricórnio).

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

MMA

bateu
agarrou
tirou sangue
bateu de novo
foi em cima
chutou
deu uma chave de braço
de perna
estrangulou
colocou na guarda

 antes do parceiro bater três vezes no tatame, deu um beijo longo.

domingo, 4 de novembro de 2012

Fora do Ninho


 E tem geladeira pra comprar. Fogão. Sofá. Sofá tem que ser o mais confortável do mundo. E com almofadas. Armário pra cozinha. Mesa. Cama. Box? Vale a pena? Melhor um colchão no chão por enquanto? Criado-mudo tem aquele que eu reformei. Armário. Precisa guardar as roupas. Não pode ficar na mala. Amassa. Anota aí, ferro de passar roupa. E tábua. Não quero ser como da outra vez, passando roupa em cima da cama. Não quero nada como da outra vez. Principalmente passar a pipoca, miojo e virado de abobrinha. Quero morar sozinha, mas agora com dignidade. E não suporto mais virado de abobrinha. Mesa. Bem que podia buscar aquela que ficou na casa da ex do meu irmão. Foi minha mãe quem deu, oras. Estante. Tenho loucura com estantes. Pena que junta pó. Pena que meu dinheiro não dá. Na verdade meu dinheiro não dá pra nada. Nem pra um colchão e uma TV. E os cachorros. Vão ou ficam? E os gatos? Tem que escolher, ou um, ou outro. Sou péssima pra escolher.  Tem que contratar serviço de internet. TV a cabo não. Nada de luxos. Faxineira vai ter que ter. E se eu ficar com medo? Fantasmas. Morro de medo. Quanto será qe vai ficar de água e luz? Será que eu ainda tenho aquelas panelas? Aquela de ferro era boa para fritar bifes. E se eu me sentir sozinha?