Desesperado, arremessou o copo contra a parede.
Não podia acreditar no que havia visto no metrô, horas atrás.
Um misto de dor de cabeça e náusea começou a tomar conta de seu corpo, que já vinha cambaleante desde a estação Ana Rosa.
O grande amor de sua vida estava no maior papo com um desconhecido que ele não fazia a mínima questão de conhecer.
A raiva maior, no fundo no fundo, era dele mesmo!
Sim, porque aquele estranho certamente tivera a coragem de fazer aquilo que ele não fez: Se declarar à moça!
Sim!
Era apaixonado por ela desde a época do jardim da infância, mas a timidez (maldita, a seu ver) não o deixava se declarar. Vivia com medo de que alguém o fizesse antes dele. E aconteceu.
Todos os dias ele a via! Sabia que ela trabalhava na papelaria da esquina, e sabia que ela saía àquele horário, todos os dias.
Ah... Como era triste quando, por um motivo ou por outro, não a encontrava no mesmo metrô, na mesma estação.
Quase teve um ataque quando, depois de três dias seguidos, não via o amor de sua vida sair por através das portas corrediças laranjas.
Ela estava de férias.
Mas naquela tarde... Seus olhos... Seus sorrisos... Voltados para um moço que ele nunca havia visto nem mais gordo, nem mais magro. Mas era real...
Resolveu abrir um refrigerante. E um saco de Ruffles tamanho família.
Sentou diante da TV, e ligou o aparelho.
Já estava quase de noitinha, e não queria que ninguém lhe tirasse o direito de sofrer por aquela dor de cotovelo, aquela tristeza doída... Que brotava lá do fundo de sua alma...
Zapeando pelos canais a cabo, encontrou um canal com os "60 melhores clipes para curtir uma desilusão"!
"É pra mim!" - pensou ele, falando de maneira que pudesse ouvir seu próprio pensamento.
Um clipe começou, e o que ele via não eram as imagens originais, e sim cenas com a menina dos seus sonhos. A formatura na pré-escola, o bailinho no qual ele tropeçou no pé dela, fazendo-a derramar o ponche, a formatura no ginásio... E tantas outras histórias que ele vivenciou com ela, sem mesmo que ela soubesse!
E ao som de Elton John, dormiu.
Sem teminar o refri e as batatas.
Márcio, seu texto me lembrou os textos da saudosa série "Para gostar de Ler", que vc mesmo já nos lembrou aqui. Tema pra lá de cotidiano, ambientado numa cidade grande, num ritmo bom de ler. E com a vantagem de ter música no final.. rsrs.
ResponderExcluirAbração!
Já passei tanto por isso. Seu texto me fez relembrar sentimentos tristes, mas gostosos da minha adolescência.
ResponderExcluirCurta a fossa e depois vá curtir a vida.
ResponderExcluirNada como uma pessoa errada enquanto aguarda a pessoa certa.
Gente, agradecendo pelos sinceros coentários!
ResponderExcluirFico muito feliz com cada um deles!
Abraços à todos, e obrigado pela honra da leitura!