A Esfinge de Tebas tinha um desafio: “decifra-me ou te devoro”. Quem chega na cidade de São Paulo tem a sensação de encontrar uma esfinge. A megalópole também é composta por partes distintas entre si, conectadas de forma inexplicável, com a diferença de que existe a certeza de sermos devorados. Ninguém decifra tantas incongruências, que parecem funcionar em conjunto quase por milagre.
Cheguei em São Paulo em 2006. As referências não eram das melhores. No interior a capital se resume a violência e caos. É aquela minoria que de tão barulhenta acaba dominando noticiários que se resumem a engarrafamentos, assaltos e perseguições policiais.
Aos poucos vi que a cidade tem tanto a oferecer que aqueles que se privam dos benefícios por medo da violência perdem muito mais do que um eventual celular roubado. Demorei para criar coragem e vagar pela cidade. Descobri que o centro, mesmo com o abandono e descuido, está repleto de lugares interessantes.
Outro Caetano, muito mais famoso e talentoso, já cantou as belezas de São Paulo. Quando eu cheguei por aqui, também nada entendi, mas confesso que nada acontece no meu coração quando passo pela Ipiranga com a avenida São João – já medi meus batimentos e tudo.
Fico muito mais balançado quando cruzo a praça Dom José Gaspar. O nome pode não ser muito sonoro para a rima do Caetano Veloso, mas o reduto verde, atrás da biblioteca Mário de Andrade, costuma ter a trilha sonora vinda dos barzinhos com rodas de samba no almoço de sábado. Os bancos recebem moradores de rua, casais, grupos de amigos e todas as discrepâncias que a cidade tem a oferecer.
E haja discrepância entre os 12,33 milhões de habitantes, distribuídos em alguns dos bairros mais pobres e mais ricos do país. Tamanha desigualdade gera uma panela de pressão e além do caos e violência que abastecem os programas policiais, a megalópole conta com atrações exclusivas, resultado da demanda da população gigantesca e diversificada.
Muitas exposições só acontecem em São Paulo, muitos filmes alternativos só são lançados em uma ou outra sala da capital, bandas vêm de longe para se apresentarem na cidade e escritores aproveitam os espaços culturais para lançarem seus livros. Peguei gosto por obras com dedicatórias e ainda me surpreendo ao pensar que o Luis Fernando Verissimo assinou um livro para mim.
Deixo São Paulo depois de 16 anos, por um ciclo que se encerra de forma tão natural quanto começou. Mesmo com a certeza de mudar para uma vida melhor, não falo mal da cidade pelas costas. Sei que agora posso voltar sempre que quiser aproveitar as atrações da capital sem temer os problemas pontuais, que são vendidos como generalizados.
Após devorados, nutrimos a grande esfinge. Contribuímos com o caos, mas também deixamos pequenas marcas que moldam a cidade tão peculiar.
Cheguei em São Paulo em 2006. As referências não eram das melhores. No interior a capital se resume a violência e caos. É aquela minoria que de tão barulhenta acaba dominando noticiários que se resumem a engarrafamentos, assaltos e perseguições policiais.
Aos poucos vi que a cidade tem tanto a oferecer que aqueles que se privam dos benefícios por medo da violência perdem muito mais do que um eventual celular roubado. Demorei para criar coragem e vagar pela cidade. Descobri que o centro, mesmo com o abandono e descuido, está repleto de lugares interessantes.
Outro Caetano, muito mais famoso e talentoso, já cantou as belezas de São Paulo. Quando eu cheguei por aqui, também nada entendi, mas confesso que nada acontece no meu coração quando passo pela Ipiranga com a avenida São João – já medi meus batimentos e tudo.
Fico muito mais balançado quando cruzo a praça Dom José Gaspar. O nome pode não ser muito sonoro para a rima do Caetano Veloso, mas o reduto verde, atrás da biblioteca Mário de Andrade, costuma ter a trilha sonora vinda dos barzinhos com rodas de samba no almoço de sábado. Os bancos recebem moradores de rua, casais, grupos de amigos e todas as discrepâncias que a cidade tem a oferecer.
E haja discrepância entre os 12,33 milhões de habitantes, distribuídos em alguns dos bairros mais pobres e mais ricos do país. Tamanha desigualdade gera uma panela de pressão e além do caos e violência que abastecem os programas policiais, a megalópole conta com atrações exclusivas, resultado da demanda da população gigantesca e diversificada.
Muitas exposições só acontecem em São Paulo, muitos filmes alternativos só são lançados em uma ou outra sala da capital, bandas vêm de longe para se apresentarem na cidade e escritores aproveitam os espaços culturais para lançarem seus livros. Peguei gosto por obras com dedicatórias e ainda me surpreendo ao pensar que o Luis Fernando Verissimo assinou um livro para mim.
Deixo São Paulo depois de 16 anos, por um ciclo que se encerra de forma tão natural quanto começou. Mesmo com a certeza de mudar para uma vida melhor, não falo mal da cidade pelas costas. Sei que agora posso voltar sempre que quiser aproveitar as atrações da capital sem temer os problemas pontuais, que são vendidos como generalizados.
Após devorados, nutrimos a grande esfinge. Contribuímos com o caos, mas também deixamos pequenas marcas que moldam a cidade tão peculiar.