domingo, 28 de outubro de 2018

poste 13

Entre o inominável que defende atrocidades, fascismo e toda sorte de violência  versus um professor candidato pelo PT que independente da quantidade de títulos e méritos acadêmicos, experiência política que mantenha o respeito à diversidade, a pluralidade de ideias e ideiais, a liberdade de imprensa, defesa à vida, dos direitos humanos e direitos de todos, não tem aonde ter dúvida.

Embora exista estatísticas que revelem números que comparam o Brasil com países em guerra, nesta eleição estamos entre promover ainda mais o genocídio ou seguir lutando contra, mas com espaço e relativa liberdade, pois totalmente livres nenhum de nós somos.

Estamos entre fortalecer a guerra ou cessar a guerra aos pobres, negros, LGBTs, indígenas e ativistas dos direitos humanos. Poderia aqui encerrar a justificativa no assassinato de Marielle Franco e tantos outros que ocorreu recentemente e isso bastaria. Mas o que também está na mente tem a ver com a responsabilidade com quem precisa da existência de um bom futuro, preferencialmente sendo bom lugar.

Entre desgostos de vivências e destroços de sonhos ideológicos e/ou utópicos, a defesa da vida pulsa sem titubear. Quem ainda não viveu o bastante tem maiores chances de sonhar com mundo melhor e novas formas de relações e organização da sociedade. A esperança é a última no fim do suspiro e acreditar nas próximas gerações nos dá forças para seguir a caminhada.

E inacreditável também foi ler de algumas pessoas que supostamente se consideram de esquerda ou progressistas nomearem  o candidato a presidência pelo PT Haddad como poste de Lula. 

E ainda pessoas cristãs defendendo o que em tese deveriam ser os primeiros a serem contrários. Parece que o mundo virou de cabeça pra baixo ou entramos numa fase catatônica com ausência completa do bom senso.

Essas eleições servem de reflexão para anos, inclusive para notar e observar de que o problema não está somente na extrema direita com manipulação de dados que dialogam com senso comum, preconceitos e concepções de mundo das pessoas, ou ressurgimento de candidatos ultraconservadores e reacionários que advém dos escombros coloniais e feudais desta estrutura de estado.

Mesmo sem conseguir compreender porque da adesão das pessoas ao discurso do fascismo e completa falta de paciência no diálogo/debate, inclusive do candidato que se recusou a comparecer (mera semelhança com mundo do trabalho não é coincidência, dizem que quem muito dialoga pouco faz, pessoal dos direitos humanos marca uma reunião para agendar outra), resta-me a certeza de que logo mais será confirma -  13 Haddad - pelo direito de existir e divergir sem intolerância. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Por que ele não?

Ele não, porque sou pai de uma menina
e não quero que ela cresça achando que pode menos do que qualquer homem.
E também porque tenho
uma mãe
uma irmã
e tantas outras mulheres fundamentais para mim
e não quero que elas
ganhem menos
mandem menos
possam menos
sejam menos
porque pessoas como ele 
acham isso simplesmente natural.

Ele não porque amo homens e mulheres negros
- e pardos e indígenas - 
E não quero que eles pensem
sequer por um segundo
que valem menos do que um branco
pela quantidade de melanina que têm na pele.
E nem que sofram
- pelo mesmo motivo absurdo -
qualquer tipo de violência
Física ou emocional
Tão idolatrada por ele.

Ele não porque amo homens e mulheres
que são gays, lésbicas, trans, bis, tris, tetras
ou o que mais eles querem ser
- porque isso é só da conta deles -
e não quero
que eles sintam
sequer por um segundo
vergonha de ser quem eles são.

Ele não
, porque não sou e nunca fui rico
e não quero que nenhum direito trabalhista 
duramente conquistado
nos seja tomado
por uma pessoa como ele
que defende uma classe social
 - que definitivamente não é a minha -
tão acostumada a já ter tanto
e a ceder tão pouco.

Ele não, porque apesar de não concordar com os erros do PT
quero poder continuar a não concordar com os erros do PT
e dizer isso tranquilo no meio da rua
vestido de vermelho, 
de verde, 
de amarelo 
ou de bolinhas
quero ter o direito de fazer oposição
ao PT, 
ao PSDB, 
ao MDB, 
ao Pros, 
ao Contras, 
à Pedra, ao Papel e à Tesoura 
o que só é possível na democracia
coisa meio fora de moda e que ele abomina,
mas que foi conquistada 
- eu aprendi na aula de história, coisa também meio fora de moda - 
com muito sangue, dor e torturas
causada por pessoas que ele idolatra.

Ele não
              porque ele 
                                 é absurdo.

________

(Felipe Lários)




sábado, 20 de outubro de 2018

Vagabundos insolentes

Insolentes. Vagabundos insolentes. Eram as primeiras coisas que vinham na cabeça de Jairo, logo que acordava. Principalmente nos últimos meses.

Já fazia mais de um ano que o rapaz não colocava os pés para fora de casa. Talvez mais que dois. A mesada dos pais e trabalhos a distância que arrumava pela internet eram suficientes para pagar as poucas contas, e o delivery – como o mundo sobreviveria sem delivery – garantia o acesso ao que precisava.

Assim era o mundo, pensava Jairo. As pessoas boas presas em casa e os bandidos soltos. Insolentes. O tempo livre, que não era pouco, o rapaz aproveitava para não ficar de braços cruzados contra ´tudo isso que está aí´. Passava horas postando comentários em notícias na internet e debatendo em grupos daqueles que, assim como ele, garantiam serem excluídos da sociedade pelos vagabundos insolentes.

Naquele dia o ódio estava particularmente aflorado. O entregador de água chegou quando Jairo estava no banho e simplesmente deixou o galão de vinte litros na porta. A que ponto a sociedade havia chegado! Ele teria que carregar um enorme galão de água para dentro de casa, sozinho!

A tarefa o deixou exausto, teve que improvisar vários apoios e alavancas e ainda deixar o galão no chão, tombando a água em uma jarra até aliviar o peso. Tudo por causa de um vagabundo insolente que não cumpria o próprio trabalho.

Felizmente sentia que os problemas da sociedade estavam próximos do fim. Poderia, finalmente, se libertar da opressão que sofria por parte daqueles insolentes. A gente de bem estava prestes a ocupar seu lugar na sociedade e os insolentes morriam de medo disso.

Até que enfim seu árduo trabalho de comentários em notícias na internet estava surtindo efeitos. A população parecia ter acordado. A tradição, a família e a propriedade privada não seriam mais ameaçadas e tudo voltaria a ser como antigamente, quando... quando... quando não tinha tudo isso que está aí!

Uma coisa era certa, Jairo nunca mais teria que passar pela humilhação de ficar a tarde toda trabalhando duro para arrastar o galão de água até a cozinha. Vagabundos insolentes!

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Geração tutorial

Conversando com uma vizinha sobre uma receita de bolo, ela me disse, no alto dos seus doze anos ''tia, manda o tutorial''.
Sim, e isso seria o que exatamente?
O vídeo de alguém fazendo o bolo!

É, chegamos neles, a geração-tutorial. Jogam todos seus questionamentos existenciais no Youtube e devoram os tutoriais.

Mas existem questionamentos existenciais em uma receita de bolo? Muitos. O primeiro e mais forte de todos é a dúvida de estar fazendo a coisa certa, receitas não tem fotos nem imagens do passo a passo, apenas do resultado. Você joga a mistura no liquidificador e quando vai ver fica pensando se é assim mesmo, se não faltou farinha, se a cor não está diferente. Depois que fica pronto você compara com a foto da receita e vê que não se parece nada, então é invadida por questionamentos filosóficos, talvez você não tenha talento para a cozinha, não tem boa mão, errou na receita simples.

Preparar um bolo traz à tona muitas dúvidas e inseguranças. E tudo isso te consome em um processo de uma ou duas horas, até que depois de ver o bolo você se frustra e resolve não cozinhar mais.

Mas agora tudo isso acabou, existem tutoriais. Antes de criticar essa nova geração fui dar uma olhada. É fato que parece outro mundo, são centenas de vídeos com a mesma receita e em todos aparece cada fase do processo e seus possíveis erros. Você assiste ao mesmo tempo que prepara o bolo, em uma companhia virtual que te afasta de questionamentos existenciais.

Já que o mundo está nesse ponto e vai continuar, será que é uma coisa boa tantos tutoriais? Será que não nos afasta de pensar, raciocinar, desenvolver nossos talentos em cima das nossas dúvidas? Será que tudo assim tão mastigado pode ser uma coisa boa?

O bolo do tutorial que eu fiz ficou melhor do que os outros que fazia apenas com uma receita e um pouco de instinto, mas a pergunta permanece, vamos conseguir encontrar tutoriais para todas nossas dúvidas existenciais ou vamos virar uns robôs que repetem o que uma máquina manda fazer?


Iara De Dupont

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Sem Título

Hoje o dia começou nublado, chuvoso, não acho que vá melhorar tão logo.
Tentei entender, estou tentando aceitar, mas estou apenas ficando com medo.
Gostaria de tirar alguns anos de folga, talvez quatro.
Tem dias que a gente aqui, mais realista, torce para que a neblina seja o sol que tenha apagando.