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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Dizeres em torno do cinema - ou não.




assisti a boa parte dos filmes concorrentes ao Oscar 2016. e não posso dizer que desgostei de nenhum deles. por outro lado, posso dizer tranquilamente que nenhum me arrebatou, embora muitos tenham me comovido. e alguns outros tenham deixado algum rastro de memória. 

mas de tudo, vou ficar com a sensação de um certo esgotamento da ideia de cinemão - aquele cinema feito para nos emocionar. porque, para mim, só vale a emoção quando eu não sinto claramente a manipulação --- as cenas construídas unicamente para tirar de mim uma lágrima, um susto, uma falsa expectativa. porque aí meus sentimentos se distraem::: porque aí a emoção é forjada a partir de algo que, de fato, constitui pouca monta para aquilo que avalio ser um grande cinema. um cinema no qual vale a pena investir as longas horas. 
 
estão nessa categoria filmes como O quarto de Jack, O regresso, Perdido em marte, A garota dinamarquesa, que são filmes muito bons no momento em que assistimos, mas que quando pensamos seriamente sobre eles, identificamos facilmente as receitas, as recorrências e logo colocamos naquela categoria de filmes de entretenimento. filmes que nos fazem chorar, ou rir, dentro de uma convenção cinematográfica. 

penso que estamos exatamente neste ponto: o da convenção --- que estende seus tentáculos para todos os campos de atuação do imaginário. é claro que deve ter por aí muitos filmes que rompem com esta ordem. mas para eles é necessário pesquisa, disposição, coragem. 

Anomalisa, mesmo, é um filme que exige uma certa coragem. e também um certo discernimento. porque ele nos diz uma coisa, mas nos permite pensar outra. em linhas gerais, é fácil culpabilizar os outros, que são todos iguais, pelo desencanto de Michael Stone, palestrante motivacional sem motivação alguma para a vida. mas pergunto o que há de impostura no olhar de uma pessoa que passa a ver todos como iguais por causa de um simples "pontinho no nariz"? eu preferi acatar a pobreza do humano na figura de Michael, e não na daqueles que o cercam. e isso, sim, é um filme que não é exatamente de entretenimento, que causa um incômodo não exatamente localizável.  porque nos permite estar diante de, no mínimo, duas vias.

no meio desses possíveis "oscarizáveis", assisti ao filme Mia madre, de Nanni Moretti e o documentário Eduardo Coutinho,  7 de outubro. e estranhamente, foram na verbalização nervosa de Moretti e na precisão do olhar de Coutinho que senti, realmente, por que o cinema nos causa um abismo inominável. e não digo mais nada

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O roubo da sétima arte

Clara havia prometido ao filho que naquele dia iriam ao cinema. O pequeno insistia em ver a mais nova animação lançada em 4D. Para que tantos D’s? Ela não sabia direito que filme era, imagina se teria tempo para acompanhar o que o filho gostava. Arrastou o namorado junto, que não fazia questão de ver o filme com o enteado, mas não tinha desculpa para não ir. Decidiram pelo shopping JK Iguatemi por razões de segurança (com esses rolezinhos...). Ingressos comprados, R$73,00, duas inteiras e uma meia-entrada ficaram R$182,50. Pipocas, refrigerantes e algumas guloseimas saíram por R$54,00. Um jantar depois do filme, no próprio shopping R$152,00. Por fim pagaram R$21,00 pelo estacionamento até cinco horas (não gostavam de fazer nada às pressas). Um filminho em família no meio da semana, coisa de R$409,50.

Augusto havia morado um tempo em São Paulo. Sem família e com poucos amigos, contava com o cinema como uma espécie de companhia. Preferia os cinemas de rua, tanto a programação quanto o ambiente, para não dizer os frequentadores. Após terminar os estudos, voltou para sua cidade, um dos 90,9% de municípios brasileiros sem cinema. A única sala virou igreja, o cinema da cidade vizinha fora vendido para uma grande loja varejista. Não era nada fácil continuar vendo um filme por semana sem se render aos filmes dublados que passam na TV repetidas vezes.

Fabiana estudava cinema. Depois de entrar na faculdade o hobby já nem era tão prazeroso, graças à quantidade de filmes que tinha que assistir – nem sempre muito agradáveis. Por prazer ou obrigação, entre todos os filmes que tinha que ver, poucos chegavam às telas de cinema. Filmes chineses, coreanos, nicaraguenses, marroquinos. No começo corria para a locadora onde já tinha feito até amizade com a proprietária, afinal alugava filmes lá há anos. Pouco adiantava. Já fazia tempo que a dona da locadora vinha reclamando da queda de freguesia com as facilidades da TV por assinatura e internet. “Trabalhando com os filmes que todo mundo procura eu mal ganho para manter a locadora, imagine se comprar essas coisas estranhas que você quer, minha filha!”

Marina é fã de cinema nacional. Detesta as pornochanchadas que parecem ter estigmatizado os filmes brasileiros eternamente. Também detesta quando, ao dizer sua preferência, alguém pergunta sobre alguma comédia sem graça da Globo Filmes. Superando essas dificuldades o problema é encontrar os filmes. Mora em uma cidade com cinema, mas distante dos grandes centros com circuito alternativo. Os poucos filmes que chegam a sua cidade são blockbusters importados, que geralmente ela não vê a menor graça. Ela conhece bem as dificuldades de cada etapa quando se trata de fazer cinema no Brasil. Gostaria de fazer o mínimo que lhe diz respeito, ou seja, pagar um ingresso de cinema e garantir uma pequenina contribuição com aquela obra, mas essa não tem sido uma tarefa nada fácil.

Alexandre tem um blog de cinema. Até agora são 167 filmes comentados. Nenhum foi assistido no JK Iguatemi, nem todos foram vistos no cinema e, não vamos revelar o sobrenome do blogueiro para que ele não tenha problemas com a justiça, vários filmes foram baixados na internet, sem o devido pagamento. Ele nunca havia pensado nisso até receber o comentário “Seu blog é bom pena que você incentiva o roubo de filmes pela internet”. Alexandre tem sido uma grande pedra no sapato da indústria cinematográfica.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Gen - Pés Descalços

 Para aqueles que não gostam de se influenciar antes de ler qualquer coisa, um resumo do post: LEIA Gen - Pés Descalços!
(Um amigo, pois quem avisa amigo é)


Fazia uma linda manhã de sol em Hiroshima. Já passava das oito e o povo da cidade já tomava às ruas para mais uma segunda-feira de muita luta. Os adultos partiam para o trabalho para tentar garantir o sustento de suas famílias, o que nem sempre era fácil, já que o Japão estava em guerra e a maior parte dos alimentos servia para alimentar os soldados que estavam no front. As crianças caminhavam para mais um dia de aula, sempre na esperança de na volta encontrarem mais comida em casa que no dia anterior. O céu estava azul e sem nuvens e quem olhasse para ele veria um avião...

(...)

... um avião que algumas horas tinha partido do outro lado do mundo carregando uma bomba de urânio, a grande promessa do casamento entre a física moderna e a indústria bélica naquelas primeiras décadas de século XX. Promessa esta que era capaz de produzir uma reação química em cadeia e, em segundos, destruir vidas de milhares de pessoas como eu e você, a quem pouco importava a física moderna ou a indústria bélica.

E assim se fez. Alguém decidiu que aquelas pessoas - homens, mulheres e crianças inocentes - deveria morrer naquela manhã de 6 de Agosto de 1945 e quem olhasse para o céu azul de Hiroshima veria que do avião caia uma luz mais forte do que milhares de flashes juntos, uma luz que se aproximava e se intensificava e que, 45 segundos depois de ter surgido no céu de Hiroshima, consumava o maior crime de guerra da história da humanidade. 

Não satisfeitos, e sem a esperada rendição do Japão, os EUA fizeram o mesmo com outra cidade japonesa. Três dias depois, uma outra bomba - desta vez de Plutônio -  destruía a cidade de Nagazaki . 

O mundo jamais seria o mesmo.

(...)

Cento e quarenta mil pessoas morreram naquele e nos dias subsequentes em Hiroshima. Cerca de oitenta mil morreram em Nagazaki. Outras milhares continuaram morrendo nos anos e décadas seguintes por conta dos efeitos da radiação. Entre os sobreviventes estava um menino de 6 anos que só não morreu porque o muro de sua escola o protegeu dos efeitos da bomba. Seu nome era Keiji Nakazawa, o autor de Gen - Pés descalços.

Gen - Pés Descalços é uma daquelas obras-primas que devem ser lidas por todo aquele que respira. São 10 volumes (dos quais 5 já foram traduzidos pela Editora Conrad para o português) em que Nakazawa narra a história de sua família desde alguns dias antes do fatídico 6 de Agosto de 1945, passando pelos terríveis desdobramentos que a explosão da bomba atômica causou na população de Hiroshima. O poder narrativo de Gen é impressionante e me fizeram ler mais de 1000 páginas de mangá (os 4 primeiros volumes) em apenas 9 dias. O fato de Nakazawa ter vivido tudo aquilo torna tudo mais real, mais palpável, e a empatia com cada personagem é inevitável. A impressão que tinha é que estava lendo a história de um amigo próximo.

São muitas as questões que podem ser extraídas deste fantástico mangá, questões estas que não podem ser encaradas como questões do passado, mas questões eternas. E este é o grande mérito de Nakazawa: ele dá vida e voz para os mortos de Hiroshima (e Nagazaki). Saliento, entretanto, que a crítica contida em Gen não se restringe aos EUA, mas à própria guerra em si. Ele critica o próprio governo japonês, que liderados por um imperador com status de Deus (Hirohito), impelia milhares de jovens para morrer numa guerra cada vez mais sem sentido. Critica as guerras, todas as guerras, porque sempre os maiores prejudicados não são aqueles que fazem a guerra, mas invariavelmente a população mais pobre, vide os conflitos atuais no Oriente Médio.

E Como após ler Gen não conseguia parar de pensar no assunto, segue abaixo outras produções com as quais me deparei nos últimos dias.

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Gen - Pés Descalços (anime)

Em 1983, Gen foi adaptado para o cinema. Não gosto de fazer a clássica afirmação "o livro (ou o quadrinho) é melhor que o filme" porque entendo que são duas artes distintas  e sem comparação. O primeiro anime é uma adaptação dos 4 primeiros livros, além de passagens que não constam no mangá. Recomendo que o anime seja assistido após a leitura dos mangás. A versão que está lincada aqui está com legenda em inglês, porque recentemente o You Tube retirou a versão em português. Entretanto, ainda é possível encontrar a versão fragmentada em vários videos pequenos.


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Luz Branca, Chuva Negra: A destruição de Hiroshima e Nagazaki (filme de 2007) 

Keiji Nagazaki é um dos 14 sobreviventes entrevistados neste ótimo documentário dirigido por Steven Okazaki. O maior trunfo do documentário é a raridade do material exibido, mostrando cenas da época, bem como trazendo histórias de pessoas que sofrem até os dias de hoje por conta da bomba.

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Hiroshima, a cidade da calmaria (mangá de 2005, de Fumiyo Kouno)

Com um traço leve e uma narrativa quase poética, o mangá feito em decorrência dos 60 anos das bombas de Hiroshima e Nagazaki, mostra a história de duas jovens que não viveram a época da guerra, mas que ainda assim são marcadas pelo estigma da bomba. A mangaca mostra como uma bomba lançada há 60 anos ainda está provocando seus efeitos devastadores.
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Keiji Nakazawa morreu de câncer no último mês de Dezembro.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A invenção da infância

Outubro passou e novembro já vai a galope, mas acho que a discussão sobre os pequenos é tão grande que não cabe em apenas um mês, então, se me permitem, segue mais um dedinho de prosa sobre o tema:


Ser criança não significa ter infância. 

A ideia de infância é uma invenção como qualquer outra invenção. Foi criada no contexto das grandes invenções com vias de proporcionar ao homem uma fase ideal na vida, uma fase em que pudesse simplesmente desfrutar dos pequenos prazeres da existência, sem se preocupar com horários, com projetos, com o trabalho, com o consumo. Uma fase em que pudesse simplesmente ser.

Mas, como qualquer outra invenção, a infância acabou por ir tomando outros rumos e se confundindo com o mundo adulto. Cada vez mais, o tempo infantil é marcado pelo ponteiro do relógio e os compromissos, quando já não estão introjetados, são devidamente registrados em sofisticadas agendas. Cada vez mais, o "que vou ser quando crescer" é mais importante do que o "do que vou brincar depois do almoço". Cada vez mais e cada vez mais forte, uma poderosa indústria voltada para as crianças vem formando uma legião de pequenos e ávidos consumidores.

E, se por um lado a invenção da infância fracassou com uma criança que consome, que tem compromissos e que faz planos para o futuro, ou seja, uma criança de classe média, ela não foi mais exitosa para aquelas que não podem consumir e que, por vezes, nem vislumbram um futuro. Para estas, a fronteira entre a vida de criança e vida de adulto é ainda mais tênue, ficando as diferenças apenas no aspecto biológico. Estas crianças são pequenos trabalhadores que pensam e agem como adultos, que sabem exatamente quanto custa o quilo do tomate e o quanto precisam trabalhar para consegui-lo. Nada mais distante que a ideia - romântica - de infância.


A infância é, portanto, além de uma invenção sem grandes êxitos, um tema profundamente delicado e importante. E é com delicadeza, mas também com muita seriedade, que este tema é trazido nos singelos 26 minutos do documentário "A invenção da Infância", de Liliana Sulzback, que recomendo a todos os que se interessaram por este texto inteiramente inspirado no curta que pode ser visto aqui.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Lá vem o Chaves! Chaves! Chaves!

"Teria sido melhor ver o filme do Pelé!".

Acredito que todo mundo já tenha ouvido a frase acima. Ela foi proferida, num momento de muito tédio e enfado, pelo famoso Chaves, personagem famosisisíssimo de Roberto Gomez Bolaños. Entretanto, o que pouca gente sabe é que esta frase saiu da imaginação fértil de nossos distintos dubladores. Quem ouviu a frase no original, em espanhol, pôde perceber que o que o impaciente menino realmente disse foi: "Hubiera sido mejor haber ido a ver la película, 'El Chanfle'".

Isso, isso, isso mesmo! Apesar de Pelé ser famoso mundialmente e de já ter se aventurado na carreira de ator (veja aqui, aqui e aqui!), não era ele o homenageado pelo menino da Vila (me refiro, evidentemente, à vila em que morava Chaves e não à Vila Belmiro). Na verdade, a frase era uma tentativa de promover o filme El Chanfle, de 1979, que teve roteiro assinado por Roberto Bolaños e a participação de todos os principais atores de "Chaves". Apesar de não ter tido muita repercussão em terras brasileiras, o filme foi sucesso nas bilheterias mexicanas e teve sua continuação lançada 3 anos depois.

Sem querer querendo, num momento de muito tédio e enfado, acabei encontrando esta verdadeira relíquia na internet, muito melhor do que qualquer filme do Pelé!

Neste simpático filme, podemos ver a gentalha do Seu Madruga interpretando Reyes, o técnico do América do México, clube que conta com Valentino (o Kiko, tesouro, coração, o menino com bochecha de buldogue velho) como seu mais ilustre craque! Rubén Aguirre (o bom e velho Professor Girafales) interpreta o Sr. Matute, o presidente do clube. Temos ainda Maria Antonieta de las Nieves (a Chiquinha) como secretária do Sr. Matute e Édgar Vivar (o Sr. Barriga) interpretando o Dr. Nájeras, médico da equipe.

Como não poderia deixar de ser, o protagonista do filme é interpretado por Roberto Bolaños. Chanfle é o humilde roupeiro da equipe mexicana e fica assistindo do banco de reservas todo o talento de Valentino nos campos. Tal qual Chaves (e Chapolim), Chanfle é bastante atrapalhado e desastrado, proporcionando o humor típico dos personagens de Bolaños. Entretanto, nem só de humor vive o homem. Chanfle não mora num barril, mas não tem vida fácil, não. Mora numa casa caindo aos pedaços com Tere (vejam só vocês como é o destino, a Dona Florinda se misturando com a gentalha!) e sofre o drama de não conseguir ter um filho, apesar de ser casado há 10 anos.

Além disso, a trama conta ainda com a participação de Raul Padilla (o Seu Jaiminho) interpretando Paco, marido de Cajera (a Bruxa do 71, vejam que casal!).


Entre o drama familiar de Chanfle e Tere e as venturas e desventuras deste curioso América do México, nostalgicamente vamos reencontrando velhos amigos. Quem anda com saudade de um humor com menos bundas e peitos ou para quem sempre gostou dos personagens do "Chaves" (e gostaria de vê-los hablando en español), esta é uma ótima oportunidade! Comprem um sanduíche de presunto na padaria lá da esquina....e zás...chamem toda a vizinhança...zás... e desfrutem 96 minutos de pura nostalgia... pois é, pois é, pois é!


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ama-me Menos, Mas Ama-me Por Muito Tempo



Ismael, Julie e Alice:  Ménage À Trois
      Estava lá eu, no trabalho, acessando o Facebook pelo celular, quando um amigo me envia a mensagem:  “Adivinha o filme que estou vendo?”.  Não foi difícil descobrir.  Sabe aquelas pessoas obcecadas por um filme, capazes de assistí-lo todos os dias?  Então.  Esse é o caso do meu amigo, doido pelo longa “As Canções de Amor” (Les Chansons d’Amour, Christophe Honoré, 2007).  E ele não é o único.  Protagonizado pelo queridinho Louis Garrel, o filme coleciona fãs ardorosos pelo mundo inteiro, inclusive esse que vos escreve.  Tá, eu não chego aos pés do Rodrigo  - o meu amiguinho, do começo do texto -, mas há como resistir ao clima de romance do filme?  As musiquinhas deliciosas cantadas pelos protagonistas, nas ruas de Paris?  Não, né?

   Mas pera...  É um musical?  É - e não é.  Se você espera algo no melhor estilo "A Noviça Rebelde", cai fora.  Les Chansons é modernoso; as músicas são extremamente pops, daquelas que grudam no ouvido, e os números tem um quê de videoclipe.  Portanto, até aqueles que não são muito chegados ao gênero se rendem ao delicioso triângulo amoroso formado por Ismael, Julie e Alice.  Até que Julie morre e a vida de todos vira de ponta-cabeça, abrindo novos caminhos, novas possibilidades.  Aliás, esse é o charme do filme.  O enredo caminha para um lado diferente daquele que a gente supõe, como a vida deveria ser.  Afinal, quem nunca se encontrou numa dessas esquinas, sem saber qual  caminho  se deve seguir?

domingo, 7 de agosto de 2011

Vem Cá... Eu Te Conheço?

     Você já parou pra pensar em quantas pessoas realmente conhece nessas redes sociais da vida?  Dia desses, me mandaram um desses memes, no Facebook, e, entre as perguntas a serem respondidas, tava lá:  quantos contatos daqui você conhece “de verdade”?  Parei, cocei a cabeça, pensei, cocei mais uma vez, e respondi que, “achava”, que era mais da metade.  Porque ali, no meio de todos  aqueles rostinhos, tem gente que só travei contato virtualmente.  O que, há um tempo “atrás”, era algo praticamente inconcebível, hoje é mais pura realidade.  Existem pessoas que conhecemos só através da tela do computador.  Fato.

     Pensei muito nisso depois de ter assistido, na última sexta,    a  um  documentário chamado Catfish.  Não vou revelar muita coisa porque penso que ele, realmente, merece ser assistido, mas confesso que fiquei mexido depois de conferí-lo.  O filme conta a história de Nev, um fotógrafo de Nova York que, através do Face, conhece Abby, uma menininha que pinta quadros, numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos.  O contato se inicia pela admiração mútua do trabalho um do outro e toma um caminho inusitado:  Nev acaba, por tabela, ficando próximo de Angela, mãe da garota e de seus irmãos, especialmente Megan, a irmã mais velha, com quem começa um “ardente” romance virtual.  Com o decorrer do filme, porém, fica evidente que nem tudo é o que aparenta ser. Nev, o irmão e um amigo decidem tirar a limpo essa história e começam a juntar os pedaços de um imenso quebra-cabeça, partindo atrás da verdadeira identidade de Abby e dos seus familiares.

     Nesses anos todos navegando por aí, confesso que já me envolvi emocionalmente com algumas pessoas pela internet.  Quem não, que atire a primeira pedra.  Tá, foi tudo muito soft, no campo da brincadeira, coisa e talz.  Mas confessso que já esbarrei com algumas Abbys, Angelas e Megans.  Gente que inventa uma vida que não tem, cria um rosto que não é o seu - e o mais assustador é que, quase sempre, esses rostos têm donos, ou seja, eles roubam fotos em perfis de sites de relacionamentos -, criando uma teia de mentirinha onde, acreditem se quiser, tem gente que acaba por se envolver.

     Pra quem gosta do gênero, fica a dica.  Catfish é um ótimo filme - documentário, thriller, drama, ainda não sei como definí-lo -, que entrou fácil para a lista dos meus preferidos.  Em tempos de Facebook e afins, bacana ver um filme que faça esse tipo de reflexão.  Uma reflexão que, confesso, me assustou.  A mim, pelo menos, que sou do tempo em que fazíamos amigos na escola, no campinho de futebol ou no cursinho de Inglês.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

QUERO ME COMER

   Alcatraz, Fuga Impossível é um filme, do finalzinho dos anos 70, estrelado  por Clint Eastwood, que conta a história verídica de Frank Morris, um sujeito que conseguiu meter o pé daquela que, talvez, tenha sido a  prisão de segurança máxima mais conhecida do mundo e que nunca mais foi visto.

      Pra quem tá lendo essas primeiras linhas e já tá apostando que o meu texto é sobre cinema, quebrou a cara feio.  Comecei falando do filme porque, ultimamente, tenho pensado muito nele.  Tudo porque voltei para a academia.  E toda vez que eu tô lá, me matando no crucifixo inverso, me  vem à cabeça a  história do Morris e toda a sua aventura para fugir daquele lugar.

     Tá, eu odeio academia.  Mas se odeio, porque tô malhando, então?  Explico:  eu  fui uma criança muito, muiiiito franzina.  Magrelo mesmo.  E como na  minha geração existia o pensamento que criança saudável era criança rechonchuda, toda a comida e vitamina que me puseram pra dentro, um dia, fez efeito.  Daí, já viu.  O molequinho puro osso se transformou no adolescente fofinho que não quis se tornar o adulto fofão e que, portanto, tratou de brigar com a balança.  Ok, eu venci a disputa (acho).  Perdi todos os quilos extras e, desde então, nunca mais voltei a engordar.  Acontece que prum cara de 1,70m (descobri na avaliação que, na verdade, é 1,68m, mas nem fodendo eu dou o braço a torcer) com menos de 60 kg, um corpinho mais definido não caía nada mal.  E lá foi o Marcelo pro "Projeto Verão Intenso", prometendo que  a estação mais quente do ano é minha, vou abalar corações e pegar geral; mulher, homem, cachorro e bananeira.  Respirei fundo, criei coragem e procurei a academia mais próxima.  Fiz matrícula, avaliação e parti pra primeira aula.  E enquanto sujava as calças fazendo o tal crucifixo inverso, me imaginei o próprio Clint, traçando planos mil pra me mandar dali e refugiar na biblioteca mais próxima.

     Lembrei de todas as situações vexaminosas que passei das outras vezes que malhei.  Já morri levantando “pesinho-de-mulé”, já fiquei preso no Leg Press, já fui pego pelo professor roubando na série, mas o grande ápice foi quando, um dia, esperando minha vez num aparelho, fui abordado por um rapaz, perguntando se eu queria revezar.  Revezar soou muito gay, de cara.  O que não é exatamente ruim pra quem que pegar mulher, homem, cachorro e bananeira.  Revezei, né?  O pior mesmo foi ter que vê-lo se requebrando diante do espelho, enquanto eu punha os bofes pra fora, se olhando e desejando, mordendo os beicinhos como quem diz “EU ME AMO, EU ME AMO, EU QUERO ME COMER!”. Saí de lá antes que ele me comesse e fui afogar as minhas mágoas  lendo Tolstoi e tomando Milk Shake, jurando que, só morto, pisava novamente num lugar daqueles.

     Paguei a língua, né?  Tô eu aí, mais uma vez, tentando dar um tapa no corpitcho.  E, dessa vez, juro que não desisto, mesmo levantando “pesinho-de-mulé”, mesmo ficando preso no Leg Press e - OH, CÉUS - tendo que encarar os EU ME COMIA que encontrar pela frente. 

     Ah, se eu fui pra academia hoje?  Bem, hoje não, né?  Sabecumé, tinha o post do Blog das 30 Pessoas pra escrever.  Mas amanhã, eu juro, tô lá...  Firme.  E forte.

  


     
       Eu acho.

domingo, 6 de junho de 2010

Memória Cinematográfica



















      Sexta-feira faz chuva e sol, as raposas estão se acasalando e não querem que ninguém as perturbe, mais uma vez acordei atrasado para ir trabalhar, o relógio da porcaria da televisão estava errado, acordei vinte minutos mais tarde com a moça do tempo falando em nuvens, neblinas, sombras, dia da marmota e outras coisas que não faziam o menor sentido na minha cabeça que latejava. Minha sobrinha de um ano e meio não me deixou dormir, chorava, esperneava e se debateu até que seu carrinho descesse as escadas e encontrasse meu vizinho, um senhor que essa semana irá receber uma honraria na universidade que leciona, por seus anos, aliás, décadas de carreira, é alguma efeméride, acho que são cinqüenta anos. Ninguém se machucou apesar de meu vizinho ter achado que tinha quebrado o fêmur, mas, já esperava algo semelhante vindo dele, hipocondríaco irritante que uma vez causou tumulto porque pensara que uma mancha escura em sua camisa se tratava de um melanoma.

      Apressado, preferi ir tomar café ao lado de uma joalheria que tem perto do trabalho,  já na empresa percebi um clima de agitação, era dia de entrevistas para contratar novos empregados. Lembro me bem como foi minha entrevista...Uma serie de perguntas estúpidas e invasoras, logo de início a pessoa quis saber a minha data de nascimento, eu lhe informei, aí então o cretino inquiriu: “qual a sua idade?”, não agüentei e depois de um “faça as contas oras”  ,  preferi responder da maneira mais protocolar possível os outros questionamentos, afinal, precisava do emprego.
     Saí para almoçar um pouco mais tarde que o habitual, o restaurante já estava cheio, achei que mesmo assim conseguiria almoçar sozinho quando vi uma mesa vazia, mas, logo depois de eu me acomodar, veio um casal que pediu licença e se sentou na minha frente.  Não satisfeitos em compartilhar somente a mesa começaram a discutir sua relação, até o marido dizer: “E aquele caso que você teve não conta?”, a esposa retrucou: “Caso? Não foi um caso, foi apenas um breve interlúdio de infidelidade, e, aconteceu há anos!”, depois disso preferi deixar os dois a sós, guardei meu chocolate para o jantar e voltei pro serviço.
     Pouco antes de ir embora tive que protocolar um documento no palácio dos bandeirantes, nunca havia entrado lá, muito bonito, uma moça chamada Silvana me acompanhou até a sala em que eu deveria ir, uma excursão que me lembrou o filme “A Arca Russa”, um lugar enorme, com muitas estátuas e ornamentos, tudo muito branco e brilhante, além disso, havia uma escada bem parecida com a do hotel de “O Iluminado” (versão Kubrick).     
     Bom finalmente após isso pude voltar para casa e assim terminar de ler “Adeus Meninos”, não sei se sou aquele que sabe viver e se isso foi interessante mas é assim que me lembro do dia de ontem, e, poderia lembrar bem mais e melhor se não tivesse doente e me sentindo frágil tal como Abacuc em sua ultima jornada.

                                                              Sábado, 25 de Maio de 2010

Por Vlad Galli

domingo, 28 de março de 2010

Vá ao Cinema

Sinto falta do barulho no cinema. Pronto, falei! E que todos saibam que cinema é experiência coletiva para ser compartilhada com a pessoa ao lado. E isso inclui risadas espontâneas, cochichos e comentários, disputas pelo encosto de braço e chutes na cadeira da frente.

E que, ao contrário do que o Cinemark diz, você pode, sim, deixar pipoca cair no chão. E se um celular ou outro tocar uma vez, ou outra, tudo bem, faz parte. Pra gente lembrar, desligar, e perceber que estamos diante de um portal pra um mundo paralelo bem nosso, uma experiência cinematográfica explorada em som e imagem para que você se desligue do planeta azul e preste atenção do que está ali, na tela. Verdade ou não, esse é seu mundo por 90 ou mais minutos, caso você esteja assistindo algum filme do Peter Jackson.

Quem quer silêncio daqueles absolutos de se ouvir a respiração que espere e alugue ou DVD ou vá ao The Pirate Bay.org e resolva sua vida. Sou fã de cinema, sou fã de filmes e fã DO cinema. Da sala, dos bancos, das cabeças mais altas que sentam à minha frente e me impedem de ver algumas cenas. E filme foi feito pra ver assim, aos montes, em grupos, em bandos.

Cinema é arte. Seja a sétima ou que número for, deve ser apreciada como tal. Seu veículo principal não é a cópia pessoal, o DVD, o *.mpg, mas a telinha, ver se os outros estão rindo. Ouvir alguém soluçar de choro, do outro lado da sala. Os bancos balançando de casais se pegando no fundo, lá no escurinho.

Não há registro de arte tão cara e elitista. Mesmo independente, fazer filme custa muito dinheiro. Não há sentido em fazer isso para poucos. Fazer um filme cabeça para dois ou três seria criar uma cultura que valoriza as bundas dos assentos mais caros do pedaço. Vamos popularizar o cinema. Menos glamour e mais arte. Menos papo-cabeça e mais bundinhas nos assentos, por favor. Vamos qualificar nossas poupanças. Em vez de dar pão e circo, sugiro pipocas!

Aqui, o que vale mesmo é inovar, ir além, conhecer as regras do jogo e mudá-las. Brincar com o visual. Sentir o 5.1 Dolby Surround estourar os seus tímpanos. Assistir a David Lynch e não dormir. Ver Woody Allen e não bocejar. Spielberg e sua máquina de sonhos, Spike Lee e seu engajamento ever-present, a competência de Clint Eastwood e a medriocridade de Ron Howard. Isso é cinema. Isso é gostar de cinema. Veja filmes. Vá ao cinema.