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sábado, 20 de dezembro de 2014

Oh! E agora, quem poderá nos divertir?

Uma das minhas lembranças mais antigas da infância é de quando, na casa dos meus avós, eu deitava em uma pequena poltrona em frente à TV com uma mamadeira e meu pequeno cobertor azul, para assistir ao meu programa favorito. Anos mais tarde, já na escola, eu saia da aula na hora do almoço e corria morro acima para chegar a tempo de ver o mesmo programa, com boa parte das falas dos personagens já decorada.

Durante muito tempo eu xinguei a filial da emissora no interior, que passou a vender o horário do programa para um noticiário de esportes local. Como eram capazes de tamanha heresia? E agora, quem poderia me ajudar?

Ainda hoje, quase trinta anos depois, abandonei a mamadeira e acho que o cobertor azul já nem existe, mas quando estou em casa no fim da tarde, sobretudo nos feriados, não perco a chance de assistir ao mesmo programa, que agora já tenho decorado não apenas as falas, mas os gestos, os olhares e cada detalhe.

Quem lê até aqui cria duas hipóteses sobre mim, ou sou autista e desenvolvi uma mania pelo programa em questão, ou falo do Chaves do oito. Nenhum outro programa é capaz de manter tantos fãs durante tanto tempo com um número de episódios exibidos relativamente pequeno.

Com a chegada da internet tudo ficou ainda melhor. Um fã não se contenta em assistir aos programas. Principalmente quando apenas uma parte deles foi dublada por aqui. A princípio a web revelou os atores por trás dos personagens, contou histórias de bastidores, expôs desavenças que culminaram na separação do elenco (gênios, porém humanos).

Foi possível também ter acesso a mais episódios, às continuações que ficaram faltando por aqui – como o ratinho do Kiko –, aos outros personagens que não chegaram a ser dublados – como “Los Chifladitos”, etc. Com as redes sociais percebi que eu estava longe de ser o único, havia uma legião de fãs por toda a América Latina, unida provavelmente pela primeira e única vez ao redor de um mesmo tema.

São inúmeras as tentativas de explicar tamanho sucesso. Críticos, jornalistas, psicanalistas, cada um com sua versão. Opto pela explicação mais genérica e evasiva: uma somatória de fatores unidos ao imponderável. Bolaños foi um grande roteirista; Carlos Villagrán e Ramon Valdés – Kiko e Seu Madruga – comediantes raros, com o dom de arrancar risos com um olhar; os temas levavam para as telas problemas extremamente cotidianos; tudo encenado de forma simples e inocente, sem apelações. No Brasil ainda cabe ressaltar a extrema competência da equipe de dublagem, que além de encontrar a voz ideal para cada personagem, ainda teve a capacidade de traduzir com maestria as piadas e trocadilhos da série.

Fácil, certo? São características que separadamente podem ser encontradas. É como uma receita de bolo, que quando executada pela minha avó resulta em uma obra de arte, mas quando repetida por mim, com muita sorte se torna comestível.

"Eu prefiro morrer do que perder a vida" dizia o inocente menino em uma brincadeira de crianças. Entre as frases simples, bobas e de muito efeito que nos faziam rir, Bolaños conseguiu condensar muito conteúdo. Morreu, seguindo o ciclo natural, mas não perdeu a vida. Criou, atuou, marcou época e se foi deixando a tristeza inevitável e o legado concluído.

Sou um dos tantos órfãos de Bolaños. Vivo a estranha sensação de perda de uma pessoa que não me conhecia, mas que em contrapartida é meu herói Chapolin, minha referência de comédia, meu professor de espanhol, meu amigo que me acompanhou desde as mamadeiras sob o cobertor azul e cuja despedida se deu caprichosamente durante a transmissão de seu programa, do episódio no parque de diversão. De muita diversão.



quarta-feira, 22 de maio de 2013

A volta do cão arrependido

O verso é repetido 44 vezes
(DO OITO, Chaves)



A que senta mais próximo é a mais caricata. Chega todo dia com a mesma sacola e o mesmo jeito de andar. Todos os dias volta do almoço com religiosos 5 minutos de atraso, sem olhar para os lados e reclamando do trânsito e do ônibus que a fizera atrasar. Quando prefere não comer fora, por conta do suposto salitre que existem em todos os restaurantes da redondeza, leva a sua marmita para comer, fria mesmo, “no grama”, maneira como chama os muitos gramados que existem ao redor da repartição. Por volta das 4 da tarde abandona o barco (“já trabalhei de mais por hoje... essa hora eu tenho muito sono”) e bate um cochilo. Na mesa mesmo, sem medo de ser feliz. Quando desperta (nossas enfadonhas conversas de escriturários fazem muito barulho), começa a ler as últimas notícias, geralmente tragédias ou babados sobre a vida privada de pessoas famosas (se for uma tragédia envolvendo a vida privada de uma pessoa famosa, melhor ainda. É dia ganho!). Mas não basta ler meia dúzia de notícias - isso qualquer um faz - ela tem que compartilhá-las conosco. Tem que nos manter informados. E assim ficamos sabendo tudo, sem solicitar nada, de tudo o que ocorre no Big Brother e na novela das nove. Ficamos sabendo, tendo solicitado menos ainda, da vida privada de toda a repartição. Depois de tanto tempo já estamos adquirindo know how na arte da audição fingida. Tem gente que finge orgasmo, nós fingimos audição. 

O que senta perto da porta faz o tipo trabalhador. Tem sempre uma ótima solução na ponta da língua e sempre inicia uma resposta com "é isso o que eu disse...". É partidário da tese de que o importante não é ser, mas parecer ser. Adora coquetéis, cargos com nomes pomposos, reuniões infrutíferas e pessoas influentes. Tem gente que finge orgasmo, ele finge que trabalha.

A que senta do outro lado da sala é do tipo que reproduz tudo o que lê no Facebook como se fosse criação dela mesmo. É a única representante da espécie humana que faz uso da palavra "auspicioso" (ainda que nem sempre a use corretamente). Tem o - irritante - costume de supervalorizar as sílabas tônicas de certas palavras, transformando um simples "obrigada" num lancinante "obriGÁda". Seu humor é sempre o de uma segunda-feira chuvosa. Tem gente que finge orgasmo, ela se finge de morta.

O que senta no meu lugar é do tipo que desabafa em blogs. Seu tino musical, suas maravilhosas imitações de Maria Bethânia, sua desenvoltura na arte da dança, atividades estas que pratica com maestria durante o expediente, causam imensa inveja de alguns que compartilham com ele algumas horas de labor, de modo que posts como estes também devem ser produzidos aos montes contra sua magnânima pessoa.Tem gente que finge orgasmo, eu finjo que não é comigo.



***

Hoje é 22 de maio e eu volto de férias, mas honestamente...




domingo, 22 de janeiro de 2012

Lá vem o Chaves! Chaves! Chaves!

"Teria sido melhor ver o filme do Pelé!".

Acredito que todo mundo já tenha ouvido a frase acima. Ela foi proferida, num momento de muito tédio e enfado, pelo famoso Chaves, personagem famosisisíssimo de Roberto Gomez Bolaños. Entretanto, o que pouca gente sabe é que esta frase saiu da imaginação fértil de nossos distintos dubladores. Quem ouviu a frase no original, em espanhol, pôde perceber que o que o impaciente menino realmente disse foi: "Hubiera sido mejor haber ido a ver la película, 'El Chanfle'".

Isso, isso, isso mesmo! Apesar de Pelé ser famoso mundialmente e de já ter se aventurado na carreira de ator (veja aqui, aqui e aqui!), não era ele o homenageado pelo menino da Vila (me refiro, evidentemente, à vila em que morava Chaves e não à Vila Belmiro). Na verdade, a frase era uma tentativa de promover o filme El Chanfle, de 1979, que teve roteiro assinado por Roberto Bolaños e a participação de todos os principais atores de "Chaves". Apesar de não ter tido muita repercussão em terras brasileiras, o filme foi sucesso nas bilheterias mexicanas e teve sua continuação lançada 3 anos depois.

Sem querer querendo, num momento de muito tédio e enfado, acabei encontrando esta verdadeira relíquia na internet, muito melhor do que qualquer filme do Pelé!

Neste simpático filme, podemos ver a gentalha do Seu Madruga interpretando Reyes, o técnico do América do México, clube que conta com Valentino (o Kiko, tesouro, coração, o menino com bochecha de buldogue velho) como seu mais ilustre craque! Rubén Aguirre (o bom e velho Professor Girafales) interpreta o Sr. Matute, o presidente do clube. Temos ainda Maria Antonieta de las Nieves (a Chiquinha) como secretária do Sr. Matute e Édgar Vivar (o Sr. Barriga) interpretando o Dr. Nájeras, médico da equipe.

Como não poderia deixar de ser, o protagonista do filme é interpretado por Roberto Bolaños. Chanfle é o humilde roupeiro da equipe mexicana e fica assistindo do banco de reservas todo o talento de Valentino nos campos. Tal qual Chaves (e Chapolim), Chanfle é bastante atrapalhado e desastrado, proporcionando o humor típico dos personagens de Bolaños. Entretanto, nem só de humor vive o homem. Chanfle não mora num barril, mas não tem vida fácil, não. Mora numa casa caindo aos pedaços com Tere (vejam só vocês como é o destino, a Dona Florinda se misturando com a gentalha!) e sofre o drama de não conseguir ter um filho, apesar de ser casado há 10 anos.

Além disso, a trama conta ainda com a participação de Raul Padilla (o Seu Jaiminho) interpretando Paco, marido de Cajera (a Bruxa do 71, vejam que casal!).


Entre o drama familiar de Chanfle e Tere e as venturas e desventuras deste curioso América do México, nostalgicamente vamos reencontrando velhos amigos. Quem anda com saudade de um humor com menos bundas e peitos ou para quem sempre gostou dos personagens do "Chaves" (e gostaria de vê-los hablando en español), esta é uma ótima oportunidade! Comprem um sanduíche de presunto na padaria lá da esquina....e zás...chamem toda a vizinhança...zás... e desfrutem 96 minutos de pura nostalgia... pois é, pois é, pois é!