Mostrando postagens com marcador comemoração. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador comemoração. Mostrar todas as postagens

domingo, 22 de novembro de 2015

50

Hoje é domingo e esta é minha quinquagésima postagem aqui no Blog das 30 Pessoas. Tudo seria normal e esta seria só mais uma postagem se ontem eu não tivesse recebido um singelo bilhete que sorrateiramente escorregou por debaixo de minha porta. O emissário fora realmente bem rápido porque, ao abrir a porta, não consegui ver mais do que um vulto de alguém que aparentava estar vestindo um turbante na cabeça. Fechei a porta e abri o bilhete: "50 posts! Venha comemorar esta marca com os outros vinte e nove, na suntuosa casa de confraternizações aleatórias, localizada no número tal, da rua Tal. É hoje. Na noite deste sábado! Venha à caráter".

Respirei fundo. Não estava acostumado com tanta badalação. Tive a ideia de abrir a página do Blog pra ver se encontrava mais alguma coisa. Aparentemente tudo normal. A página que abriu era a de Márcio Luís, o simpático radialista de Caçapava, que costumeiramente me antecede no Blog. O título não podia ser mais perfeito para a ocasião "As pessoas mudam...". Sim! E como eu mudei nestes 50 meses! Achei que tinha mesmo era que comemorar. Na hora indicada no bilhete, estava eu, de bermuda e chinelo, em frente ao suntuoso salão.

Na entrada, ainda do lado de fora, fui recebido por um homem de turbante na cabeça (seria o mesmo que entregara o bilhete nesta manhã?) e que estava bebericando um café filosófico.

- Seja bem vindo!
- Uau! Quem é você?
- Pode me chamar de "O idealizador". 

A curiosa figura me deu passagem e adentrei o salão. Quanta gente!

Na primeira rodinha havia um rapaz que parecia um pouco pilhado com alguma coisa. Mostrava um livro de Rubem Fonseca para uma moça com a camisa da Caldense e um delicioso pastel da Pastelucho nas mãos!

- Uau! Aqui servem pastel da Pastelucho? - puxei assunto.
- Sim, camarada! É só chegar!
- Massa!
- E recheio!

Fiquei um pouco atordoado com a piada e me afastei. Ao voltar meu olhar para a porta, pude observar que algumas pessoas acabavam de chegar. O primeiro deles carregava uma pilha de livros infantis debaixo do braço e parecia ter a fluidez de Stephen King ao andar. O segundo, parecia não saber exatamente onde chegar, por isso aproveitava tanto o caminho. O terceiro compartilhava sua alegria com uma princesinha punk que carregava no colo. Por fim, o último entre os recém chegados carregava uma taça de vinho amargo como a vida e tinha o olhar de quem sabia se virar nos trinta.

A festa estava realmente muito animada!

Continuei passeando pelo salão. Todos queriam minha atenção, naturalmente, mas na festa de ontem eu não queria me fixar em grupo nenhum. 

No próximo grupo tinha um rapaz de quase dois metros de bom humor. Sorria como se não houvesse amanhã enquanto conversava com um jovem japonês. Vindo em direção à dupla, uma perfeita cabeça de vento chegava e espalhou os textos que o japonês havia tirado da gaveta.

Mais adiante uma moça e uma gata. Estava lendo o horóscopo (refiro-me à moça). Nada fazia sentido, mas ela lia mesmo assim.

Depois de beber uns sucos de groselha, entabulei conversa com uma moça que aparentemente sabia falar sobre tudo: sobre o tempo, sobre a chuva, sobre o tédio, sobre o ódio aos nordestinos e até sobre você! 

- O que você gosta de vestir? 
- Sobretudo.
- Que refeição mais gosta?
- Sobremesa.
- O que você faz quanto tem medo?
- Sobressalto.

Cansei daquela conversa sobremaneira.

- Antes de me despedir, dei-lhe um pedaço de minha queijadinha. Ela me deu um tapa na cara.

Que gente maluca! Isso não vou me esquecer nem daqui a trilhões de trilhões de anos!

Olho pro lado e vejo uma moça bem engraçada (outra!). Ela fazia umas danças esquisitas e de vez em quando recitava uma passagem de Platão. Fui lá dançar com ela. A coreografia era demais! De repente todo o salão parou e ficou olhando pra gente morrendo de vontade de dançar também! Subitamente, no melhor da apresentação, a moça escafedeu-se. Em seu lugar, simplesmente um bilhete: "Há vagas!"

Essa festa estava tomando um rumo muito esquisito. Parei na próxima rodinha. 

Um rapaz barbudo montava Lego compenetradamente. Para que cada construção ficasse perfeita, ele fazia rascunhos que pareciam vivos. Nem parecia se importar para o mundo ao seu redor. Uma moça que passava, viu aquilo e fez questão de comentar:

- Tenho síndrome disso!
- De que exatamente? - perguntei.

Nem tive tempo de responder. Um homem atravessou o salão correndo e quase me atropelou. Espero que ele tenha bom fim!

Continuei andando, conhecendo pessoas e ouvindo conversas. Passei por uma moça de olhar sereno e que amontoava simulacros. Passei por outra que contava moedas para pagar imposto por cada rima tosca que fazia. Uma terceira que andava acompanhada por uma pulga atrás da orelha.

Tinha de tudo nessa festa. Até música ruim. Naquele momento eu escutei a famosa canção natalina "... Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel..."

- Todo mundo uma ova! Eu sou a legítima filha do Papai Noel! - me confidenciou uma moça ao meu lado.

Eu não entendi o código e continuei circulando. Já estava no terceiro suco de cajamanga quando avistei num canto do salão, com um jeito meio sociofóbico, um cara cabeludo assistindo a um filme.

- O que é isso, companheiro? Não se mistura com a sociedade?
- Eu vejo a sociedade nas telas! - respondeu misterioso.

Depois dessa, não insisti.

Passei por um simpático bailarino aventureiro, por uma moça comendo brigadeiro num teletransportador, até que vi uma curiosa cena: um rapaz, de camisa alvinegra, narrando toda a festa e transmitindo ao vivo pela rádio! A coisa estava bombando mesmo!

Resolvi sentar um pouco para recobrar as energias. Vi um sujeito cheio de predicados dançando forró com uma moça que estava cronicamente insatisfeita com cada piada infame que ele fazia.

- Eu gosto é de gostar! - confessou uma que viu a cena.
- Parece um bando de loucos - disse uma outra.

Tive que levantar do sofá. Uma arquiteta, cheia de papeis com desenhos nas mãos queria tirar uma soneca lá. Uma psicóloga olhava atentamente para o chão, como que buscando algo.

- O que procuras? - perguntei.
- Uma razão de ser.

Isso já estava ficando pesado demais. 

- Som na caixa, DJ! - implorei.

E o DJ Jeff não deixou a galera parar de dançar!













domingo, 9 de agosto de 2015

Aniversário!

No dia 09 de agosto de 2014 publiquei meu primeiro texto neste blog.
Neste período de um ano muita coisa se passou em minha vida, muitas inspirações, muitas mudanças, outas tantas permanências... 
Doze meses, doze textos*, doze dias nove, doze assuntos escolhidos para dissertar (ou poemar) sobre.
E doze meses de "convivência" com os outros colaboradores... É muito bom poder
ler os textos e conhecer mais sobre as personalidades, aspirações, incômodos e prazeres dessas 29 pessoas que dividem este espaço comigo.
O texto de hoje é uma comemoração pelo meu primeiro ano neste blog, um registro de meu desejo de continuar escrevendo aqui enquanto isto fizer sentido para mim e para os leitores, mas principalmente, um agradecimento aos 29 companheiros de blog e a vocês, leitores e amigos que tem acompanhado esta prazerosa e despretensiosa empreitada.


Sobre escrever 
Escrevo para amenizar
Para inspirar
Para lembrar
Para inventar 
Para amenizar
Para contar
Para intensificar
Para imaginar
Para racionalizar
Para criar
Para sonhar
Para concretizar
Para sentir
Para distrair
Para sorrir
Para chorar
Para me expressar.
Para botar pra fora o que me sufoca
Para botar pra dentro o que me falta
Para você ler e me dizer
O que a leitura fez acontecer

domingo, 17 de junho de 2012

O meio do ano

Embora haja toda a correria de compra de presentes, ceia de Natal, rodoviárias e aeroportos abarrotados, creio que no final do ano as pessoas estão mais aliviadas. O ciclo está fechando, outro ano está começando e, apesar dos pessimistas insistirem que tudo continuará igual, os ritos de passagens mostram que a mente precisa, e digo precisa, acreditar no novo, no recomeço. Faz parte de nós essa necessidade de vigor novo. Faz parte de mim, pelo menos. E é por isso que acho que o meio do ano é a época mais propensa a irritações, estresses e surtos. Metade do ano passou, metade do ano de trabalho, de trânsito, de medo da violência passou e agora tem (ainda!) mais outra metade do ano pela frente. Uma colega de trabalho foi ao médico essa semana e ele a aconselhou:
- Tenta tirar umas férias...
- Mas eu acabei de tirar férias, doutor!
É o meio do ano que faz isso com a gente. E, pra ajudar, julho e agosto têm 31 dias e nenhum feriado nacional, morram! Como não se pode passar incólume por essa época ingrata, sugiro uma grande festa, um réveillon fora de época. Fogos, champagne, toda a sorte de superstições, todo mundo de branco, bem esperançosos comemorando a chegada de mais um meio de ano. Não se trata de mudar o calendário. Só um ritual para segurar o tranco. Como diz Drummond, 12 meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Já que estamos cansados antes disso, nada melhor do que o milagre da renovação para amaciar o meio do ano, deixando-o mais tragável. 
Já estou com minha lentilha, 6 uvas e champagne a postos. Que comece a contagem regressiva!