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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Circo pegando fogo


É fim de ano e talvez o mais indicado fosse um texto otimista, inspirador, com dicas de estratégias para alcançar sonhos e objetivos. Mas... é 2016. Ano de tantas turbulências políticas. Futuro?

Black Mirror é uma série de televisão britânica criada por Charlie Brooker, sucesso mundial. Assistimos nos perguntando entre angústia, tensão e sorrisos nervosos, “que mente insana criou isso daqui”? Estamos num tempo em que quase não se fala em utopia, mas talvez nunca tenha se falado tanto em distopia.

Apesar de todos os esforços das Nações Unidas, estudos sobre desigualdade de renda projetam o crescimento da extrema concentração de riquezas no mundo. No último relatório da Oxfan, 1% da população mundial reunia a mesma riqueza dos 99% restantes. Ou ainda, 62 pessoas, sim 62 PESSOAS, tem no seu saldo bancário o mesmo que a metade da população mais pobre do mundo. 62 seres humanos...

Diante disso tudo, o progresso. Afinal, estamos na “era da automação”. Menos trabalhadores para fazer o serviço, mais máquinas nos substituindo e máquinas cada vez mais eficientes. Temos aqui um excedente populacional ou, em outras palavras, gente que SOBROU, simplesmente não cabe todo mundo nesse barco. É indiscutível: o desemprego estrutural só cresce. Previdência social em falência... etc etc.

Políticos e intelectuais tem se dedicado a pensar em como contornar esse quadro desagradável. Um deles é o premiado jornalista holandês Rutger Bregman, que defende a ideia  “free money for everyone”,  algo parecido com o nosso Bolsa-Família. Em resumo, a ideia é que a desigualdade social pode ser combatida através de uma renda básica oferecida pelo Estado. A proposta é assim apresentada como um “jeito civilizado de combater à pobreza”. O vídeo pode ser assistido aqui.

No entanto, fico me perguntando nesse final de ano: até quando ficaremos assistindo atônitos a nossa vida se transformar em episódios terríveis de Black Mirror ou em qualquer outra distopia, enquanto 1% goza de toda riqueza mundial? Até quando faremos remendos num sistema econômico e político que já provou ser incompatível com a vida na Terra? Levaremos esse jogo até as últimas consequências, até o circo pegar fogo? 

sexta-feira, 27 de maio de 2016

A linguagem universal

Para a minha menina.

Na noite de 27 de setembro de 2015, as redes sociais voltaram sua atenção para o eclipse lunar, a chamada “lua de sangue”. Mas como acontecia com qualquer outro evento, o destaque durou pouco, restringindo-se a belas imagens e comentários superficiais sobre o assunto. A vida prosseguiu.
Estava eu com 20 anos. Tinha acabado de ingressar no curso de psicologia. Apesar da enorme alegria em ser aprovada no processo seletivo, esse sentimento durou pouco tempo. Já no primeiro semestre, tinha constantes crises de ansiedade. Minha avó (você teria gostado dela) dizia que o problema era minha arrogância e ambição, nunca estava contente com o que tinha. Eu achava que ela estava certa, mas não conseguia evitar.

No segundo semestre, minha saúde mental se agravou. Apesar de resistir a ideia, para conseguir conviver socialmente precisei fazer uso de medicamentos. Até então, acreditava que apenas eu era problemática, mas quanto mais interagia nos espaços que frequentava, mais descobria que a instabilidade psicológica estava disseminada: de marginais a religiosos praticantes, ninguém escapava.  Às vezes, saia uma matéria ou artigo nos jornais a respeito do aumento do uso de drogas psicotrópicas, porém o assunto permanecia tabu. Sentia que alguma coisa estava acontecendo. Uma crise existencial se espalhava por toda a sociedade, centros urbanos e rurais, interior e capital. A multidão estava à beira do colapso e caminhava em direção a ele, anestesiada.

Então a lua sangrou. Quem poderia imaginar que aquele era o sinal dos novos tempos? As coisas mais importantes acontecem debaixo do nosso nariz, sem nos darmos conta. Há muito tempo a humanidade tem conhecimento sobre outras formas de consciência e diferentes meios de transcendê-la. Naquela época, cientistas já sabiam da existência da molécula DMT, um composto simples, facilmente encontrado na natureza, e que tem profundos efeitos na consciência humana. No mundo ocidental capitalista, todavia, o único estado mental que interessa é o de alerta para produzir e consumir mais e mais, daí a falta de interesse em estudar o assunto.

Ocorre que o DMT (ou dimetiltriptamina) é um transmissor que permite a comunicação entre nós, seres da natureza. Enquanto ficávamos distraídos lutando contra os regimes fascistas que ascenderam naquele ano de 2015, o plano de eliminar uma parcela da humanidade estava em curso. Primeiro foi o clima: a água se mostrou um bem finito, secaram as principais represas do Estado de São Paulo e de Minas Gerais, foi por esse motivo que tivemos que rumar para o norte. Também foi nessa época que conheci o teu pai. Muitos amigos morreram nos anos seguintes, porque quem não teve condições de fugir do sudeste foi obrigado a viver em condições precárias.

O surgimento da “lua de sangue” foi o sinal para o golpe da natureza contra nós, humanos, a última tentativa dela nos deter: a insanidade mental generalizada, a qual não podia mais ser controlada por medicamentos sintéticos. A nossa sorte, minha e do teu pai, foi conhecer o Zé Pedro, pois foi ele que nos protegeu. Como você deve saber, o Zé é do povo Poyanawás e nos convidou logo que chegamos ao setor para participar de rituais xamânicos. Naquela época, a ayahuasca (ou yagé) nos salvou!

Faz um mês que descobriram que foram as plantas, qualquer planta, as responsáveis por nos enlouquecer.  E hoje soube da notícia de que a ordem dos líderes mundiais é eliminar toda vida que não seja humana. Temo pelo que virá. Temo por você. Resolvi escrever essa mensagem porque não sei por quanto mais tempo viverei e não quero que você seja privada da história, do começo de tudo isso. Desejo que essa notícia seja falsa, mas creio que não seja. Saiba que o meu amor vive em você.

Anna Ma.