terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Tudo o que se faz ou se pode fazer - ATO - Modo de proceder - ATO - Ocasião em que é feita alguma coisa - ATO -



Esqueci. Desculpe. Esqueci de postar o dia 29, vale hoje? Se não valer desculpe.Culpa da idade, da vida, do tempo que só chove e me desanima. Esqueci de postar, esqueci que domingo era dia, acordei tarde, devido ao ato de amor, ordem divina segundo o casal, oficializada a união, 5 anos de namoro, conforme manda o figurino, foi bonito, eu não chorei. Esqueci de chorar acredita? Pasma fiquei, como assim? Chorar faz parte de mim. Esqueci. Na sexta show da Tulipa, poxa que simpática, voz afinada, no tom, hiper engraçada. Esqueci de escrever antes, por que o show foi na sexta, o casamento no sábado, como tenho toque com algumas coisas, não gosto de desordem, é tudo certinho, arrumadinho, toque da ordem, não permite a desordem, nem mesmo para escrever. Mas uma vez desculpe, esqueci. Acordo com barulho de telefone, atendo, sonolenta, caindo pelas beiradas, a amiga dizendo "ei não leu meu recado, até as 15:00 estarei na paulista, se quiser vem me encontrar, vamos almoçar vai..." Outra vez e desculpe, esqueci de acessar o face, cheguei tarde. Saio 3 horas depois, encontro-as no bar de sempre, ué e não era para almoçar? "Pois é, almoçamos noutra vez, você chegou tarde vamos bebemorar a minha ida, rumo as europas." Bora beber. Almoço será lanche. Ah desculpe estômago, comida caseira é outro dia. Esqueci a gastrite, ou a magreza, a necessidade de comer. Bate pernas, passo a passo paulista e chocolate, tchau miguxa, feliz sonho realizado! Abraços. Esqueci de dizer vai com deus, boa viagem! Chego em casa, o domingo acabou. Esqueci, de ler o livro, de arrumar a cozinha. Esqueci de levar o lixo pra fora, esqueci de ligar pra mãe e dizer "tô viva", esqueci de acessar email, esqueci de xerocar os documentos para segunda-feira, esqueci.

Esqueço de tudo, às vezes esqueço de esquecer. Só não esqueço da comunidade Pinheirinho, das mulheres e crianças retiradas de suas casas e mantidas em abrigos, dos homens e suas casas destruídas, pela ordem superior! Não esqueço. Comovida e orgulhosa da força e luta, da garra de enfrentar a ação de despejo. E fortes se mantêm até agora em enfrentar o descaso de autoridades, a incompetência de governantes, a inércia da justiça a justiça! Não esqueço! Sabe por quê? Dentre todos os levantes, todos movimentos populares de ação de trabalhadores, nunca contemplei tanta garra, negação a ordem superior, sendo apenas vencida pela covardia, de dar alegria, para desocupar com injustiça, violência, opressão, na surdina, na madrugada! Ah se não fosse a covardia, garantida a resistência e exemplo. Resistência que perdura em sobreviver, garra em vencer o dia-a-dia sem nada, exemplo de que não temos o poder. Esqueci. Retifico, somos o poder, o segredo da vitória. Por isto o ATO DE ESCREVER, O ATO DE POSTAR, A ATO DE CURTIR, O ATO DE COMPARTILHAR, O ATO DE DIVULGAR em toda rede social que tenho acesso, O ATO DE FALAR, O ATO DE "GRITAR", O ATO DE IR AS RUAS, por não esquecer, não aceitar e não querer que aconteça a outros o que aconteceu a eles. O próximo: ATO NACIONAL EM DEFESA DOS DESABRIGADOS DO PINHEIRINHO SJC- SP - BRASIL - quinta-feira - 09:00 às 19:30 Pca Afonso Pena em São José dos Campos. Em apoio, em defesa, minha solidariedade aos moradores de Pinheirinho! Esqueci de mencionar a data, 02.02.2012, desculpe, esqueci.

***

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

I would prefer not to

Herman Melville (1819-1891), o famoso autor de Moby Dick (sim, a história da monstruosa baleia branca), tem um conto chamado Bartleby, o escriturário, escrito em 1853. O narrador é um velho advogado que, diante da grande demanda de trabalho em seu escritório, resolve contratar mais um funcionário para lhe ajudar. O escriturário contratado é Bartleby, um sujeito estranho, palidamente limpo, tristemente respeitável, incuravelmente pobre. O novo empregado, para a satisfação do patrão, realizava uma quantidade extraordinária de trabalho, sempre muito eficiente e faminto por algo que copiar. Isso inicialmente... Até que um dia, Bartleby passa a responder “I would prefer not to” a todas as solicitações que lhe fazem. Absorto, o escriturário recusa-se a escrever e a fazer qualquer outra coisa, ficando todo o tempo diante da janela contemplando o vazio. Daí em diante, trava-se um embate entre a consternação piedosa do patrão e a apatia insolente do empregado, que de tanto “preferir não” acaba preso. (Neste ponto, poupo-lhes os detalhes, afinal, a leitura do conto é absolutamente aprazível.)

A meu ver, o “prefiro não” de Bartleby não é um indício de procrastinação, pois não se trata de deixar tudo para fazer depois, como os preguiçosos usualmente fazem. Não, não é. Sua recusa é antes fruto de uma profunda desesperança com as atividades e os sentimentos humanos, com essa vida que quase sempre é terrivelmente copiosa: falar, comer, evacuar, amar, escrever, eventualmente trepar e finalmente morrer, falar, comer, evacuar, amar, escrever, eventualmente trepar e finalmente morrer, falar, comer, evacuar, amar, escrever, eventualmente trepar e finalmente morrer...


*

Guardadas as devidas proporções, sou bem Bartleby. Esse aspecto da minha personalidade ficou mais evidente de uns tempos para cá, quando passei a “preferir não” para quase tudo. Vai fazer pós-graduação? Prefiro não. Vai dar aula? Prefiro não. Vai fazer o quê? Prefiro não saber. Sendo assim, não por acaso tornei-me uma espécie de escriturária do século XXI, realizando burocracias de pequena e média complexidade envolvendo números com quatro dígitos depois da vírgula. 

Admito que quando os dois escriturários que trabalham comigo – que são também autores deste blog – convidaram-me para ser uma das trinta pessoas, quase respondi, tal como Bartleby, “I would prefer not to”; afinal, o que eu posso escrever que já não foi mais ou menos dito aqui? Não seria, no final das contas, mais um ctrl+c ctrl+v das ideias que navegam pelos mares deste www? Enfim, se o leitor preferiu ler este texto até aqui, já desconfia da minha decisão. Diante do convite para escrever no Blog das 30 pessoas, não sei por que, eu preferi não falar não. Agora resta a esperança de que todo dia 27 o Bartleby que reina em mim me deixe escrever alguma coisa. Mesmo que seja uma cópia de algo que já foi escrito. E quase sempre será.   

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Despedir dá febre.

Certa vez li um escrito de Guimarães Rosa em uma exposição que me deixou marcada para sempre: “despedir dá febre”. E como dá! A gente já nasce se despedindo: do útero quentinho da nossa mãe à infância, dos dentes de leite aos colegas de sala. E essas despedidas, que são permanentes, dão lugar a outras maravilhas que, por sua vez, também terão o mesmo fim. Lembro do choque que levei ao me despedir da infância, recebendo, assim, a adolescência: aquele infeliz domingo em que, pela primeira vez, eu descobri que virar mocinha não era tão interessante. E que aquilo duraria por um bom tempo. Depois, vieram os presentes que não eram mais barbies ou cd’s das chiquititas, mas sim “sutiãs” – e como eles incomodavam! O fim do ensino médio me fez sentir sozinha novamente. Embora a faculdade fosse um sonho se concretizando, nenhuma sala de aula substituiria aqueles três anos no Colégio Atenas – “valeu, Atenas! Ê ê. Valeu, Alfenas! Ê ê” ainda ecoa na minha cabeça toda vez que me lembro dessas anos tão repletos de amigos. Foi nesse colégio que, pela primeira vez, senti que eu não precisava mais me adaptar. O que foi muito bom porque, afinal, eu nunca fui muito persistente nessa idéia – o isolamento era sempre a boa pedida. Mas essa reclusão, que durou até o final da oitava série não foi de todo ruim: com ela eu aprendi o gosto das artes; literatura, música, fotografia, pinturas. Quanto à faculdade...o curso errado jamais seria suportável se eu não tivesse o prazer de morar na melhor república da paróquia – a Ploc. Agora eu entendo a nostalgia das ex-alunas (isso porque me enquadrei nessa classificação há um mês e alguns dias). Ontem, olhando fotos dos meus primeiros períodos na faculdade, me dei conta da despedida pela qual estou passando. Mariana e Ouro Preto (e todas aquelas montanhas, neblinas, igrejas) foram meu lar por quase quatro anos. Embora o último ano possua algumas lembranças nem tão felizes assim (nada supera a crueldade e inveja das meninas más), todos os sentimentos que estão palpitando aqui dentro são filhos de uma felicidade escondida. Felicidade de cantar I wanna to go back to Bahia, conversar no redondo, textos atrasados, sagarana, catuaba, suquinhos gummy, soneca em machu pichu, o vício pela pipoca, as gírias internas como “bigodeira”, “desnê”, “plotter”, jogar perfil. E a despedida não se limita a essa vida construída nesses quase quatro anos. Também estou em contínua despedida do aconchego e amor da casa dos meus pais. Primeiro, ao sair pela primeira vez. E, agora, a segunda, devido aos estudos na Argentina. E já dá um friozinho na barriga de pensar que, daqui alguns meses, a terceira será inevitável: o desastroso destino das pessoas que precisam trabalhar mas não sabem com o que. O final de semana com o namorado também foi uma despedida ininterrupta. A cada beijo, abraço, conversa, brincadeira. Quando se tem passagem marcada, cada segundo é como um indício de contagem regressiva. Justo eu que morro de medo de avião! E o namorado não estará lá dessa vez para me acalmar com seu ronco tranqüilo. Chega até doer esse meu tom de falar sobre as despedidas. Porque, afinal, estou indo em busca de um sonho: o de me encontrar. E pra me encontrar, sempre acreditei no pressuposto de que encontrar o mundo, primeiro, é fundamental. E eu vou, com frio na barriga e fome de experiência. Sem cara nem coragem, mas com uma vontade enorme de aprender uma nova língua, novos costumes, conhecer novas pessoas, provar novas comidas, me maravilhar com novas paisagens. Buscar o novo para resgatar o antigo que se perdeu por não sei que curva. Porque as vezes a gente se perde, quase sem querer. E tudo fica sem vida; os gostos, sem vontade. E a depressão mora ali na esquina. E, de repente, um post sobre a despedida, se tornou um post sobre o novo. E, assim, depois da febre, vem a vontade de andar na chuva novamente.  



Ps. essa foto eu tirei em Águas da Prata em uma estação de trem há muuito tempo atrás. Já utilizei ela em outro blog que eu tive. Se tiverem curiosidade de ler a poesia, aqui está o endereço: http://defloraflor.blogspot.com/2007/02/despedir-d-febre.html

Ps.2. me desculpem eventuais erros. essa internet e nada tá quase a mesma coisa. além da bateria do notebook...




terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Quem não comunica?

Do mês passado pra cá aconteceu muita coisa. Sim, do mês passado. Ora, o mês só começa no dia 24. Não te avisaram? Pois bem. Começa. Mas enfim. Vamos em frente.

Do mês passado pra cá aconteceu muita coisa. Agora, mais verdade ainda é dizer que os últimos dias foram repletos de acontecimentos. Tivemos o caso do Adriano - o outro - que atirou na namorada, mas depois "descobrimos" que foi ela quem baleou a própria mão. Vimos o mundo inteiro mobilizado em frente aos computadores, esperando o resultado da aprovação ou não da SOPA e largamos os mouses aliviados quando descobrimos que tudo estava bem. Além disso, em questão de horas nós ficamos sabendo tudo sobre a vida da Luiza, que estava no Canadá, e o País inteiro realmente parou em torno de um assunto deveras desimportante e nos tornamos idiotas na visão do Carlos Nascimento. Que depois foi criticado, porque só estava com dor de cotovelo por não estar na Globo. E passamos por um estupro em rede nacional - quero dizer, eu não - que depois deixou de ser estupro. Posso não ter coberto todos os assuntos, mas comentei sobre alguns que foram muito presentes nos meus dias. 

E o que tiramos disso tudo? Que emburrecemos repentinamente e damos importância em demasia ao que não é relevante? Objeção, meritíssimos. O conceito de pão e circo existe desde a época em que Roma Antiga era nova. O que realmente chamou minha atenção é a velocidade cada vez maior com que os assuntos são modificados. É no livro 1984 que existe um ministério dedicado à alteração da informação, para que os poderosos não fossem desmentidos ou caíssem em contradição. Não é de hoje também que testemunhas, vítimas e infratores mudam seus depoimentos em troca de alguma coisa, mas a cara de pau com que isso acontece é alarmante, sim. Em alguns casos, parece que a imagem pública é o que realmente importa. Sim, algumas vezes nós somos beneficiados com isso, mas não é sempre assim. Obama não aceitou uma lei que iria torná-lo mundialmente impopular. O jogador de futebol e o sujeito do BBB poderiam ser presos, processados e afins. Um estava com as mãos ocupadas com o volante, o outro resolveu brochar e ambos são inocentados. Todo mundo viu, mas tudo bem. Não foi o que disseram.

Acho que escolhemos o momento errado para voltarmos a confiar na palavra dos outros. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Que Isso Gordinha??




Fui para um spa na última semana do ano.
Spa Igaratá, super recomendo para gordinhas (os) sem muita frescura (nem muito dinheiro),
O lugar é lindo, o ambiente é uma delícia, o pessoal que trabalha lá super atencioso e os hospedes são umas figuras.
São tantas atividades que você acaba esquecendo que está passando fome. A comida é bem pouca, sem sal, sem açúcar, sem gordura, uma tristeza só. (mentira, é gostosa, mas é tãaaao pouquinho..)
Acontece que eles são bem tranquilos. O pouquinho é só o que você DEVE comer, mas se quiser comer mais (ou colocar sal ou azeite, ou pedir uma pizza - é sério-) "Vai da sua consciência", como me disse a atendente, com aquele olhar de "Vai gordinha!".
Nunca mais esqueci essa frase. "vai da sua consciência".
Lindona, se eu tivesse uma consciência decente não estaria assim.
Pode me dar mais uma gelatina.

# Post não patrocinado # (infelizmente)

domingo, 22 de janeiro de 2012

Lá vem o Chaves! Chaves! Chaves!

"Teria sido melhor ver o filme do Pelé!".

Acredito que todo mundo já tenha ouvido a frase acima. Ela foi proferida, num momento de muito tédio e enfado, pelo famoso Chaves, personagem famosisisíssimo de Roberto Gomez Bolaños. Entretanto, o que pouca gente sabe é que esta frase saiu da imaginação fértil de nossos distintos dubladores. Quem ouviu a frase no original, em espanhol, pôde perceber que o que o impaciente menino realmente disse foi: "Hubiera sido mejor haber ido a ver la película, 'El Chanfle'".

Isso, isso, isso mesmo! Apesar de Pelé ser famoso mundialmente e de já ter se aventurado na carreira de ator (veja aqui, aqui e aqui!), não era ele o homenageado pelo menino da Vila (me refiro, evidentemente, à vila em que morava Chaves e não à Vila Belmiro). Na verdade, a frase era uma tentativa de promover o filme El Chanfle, de 1979, que teve roteiro assinado por Roberto Bolaños e a participação de todos os principais atores de "Chaves". Apesar de não ter tido muita repercussão em terras brasileiras, o filme foi sucesso nas bilheterias mexicanas e teve sua continuação lançada 3 anos depois.

Sem querer querendo, num momento de muito tédio e enfado, acabei encontrando esta verdadeira relíquia na internet, muito melhor do que qualquer filme do Pelé!

Neste simpático filme, podemos ver a gentalha do Seu Madruga interpretando Reyes, o técnico do América do México, clube que conta com Valentino (o Kiko, tesouro, coração, o menino com bochecha de buldogue velho) como seu mais ilustre craque! Rubén Aguirre (o bom e velho Professor Girafales) interpreta o Sr. Matute, o presidente do clube. Temos ainda Maria Antonieta de las Nieves (a Chiquinha) como secretária do Sr. Matute e Édgar Vivar (o Sr. Barriga) interpretando o Dr. Nájeras, médico da equipe.

Como não poderia deixar de ser, o protagonista do filme é interpretado por Roberto Bolaños. Chanfle é o humilde roupeiro da equipe mexicana e fica assistindo do banco de reservas todo o talento de Valentino nos campos. Tal qual Chaves (e Chapolim), Chanfle é bastante atrapalhado e desastrado, proporcionando o humor típico dos personagens de Bolaños. Entretanto, nem só de humor vive o homem. Chanfle não mora num barril, mas não tem vida fácil, não. Mora numa casa caindo aos pedaços com Tere (vejam só vocês como é o destino, a Dona Florinda se misturando com a gentalha!) e sofre o drama de não conseguir ter um filho, apesar de ser casado há 10 anos.

Além disso, a trama conta ainda com a participação de Raul Padilla (o Seu Jaiminho) interpretando Paco, marido de Cajera (a Bruxa do 71, vejam que casal!).


Entre o drama familiar de Chanfle e Tere e as venturas e desventuras deste curioso América do México, nostalgicamente vamos reencontrando velhos amigos. Quem anda com saudade de um humor com menos bundas e peitos ou para quem sempre gostou dos personagens do "Chaves" (e gostaria de vê-los hablando en español), esta é uma ótima oportunidade! Comprem um sanduíche de presunto na padaria lá da esquina....e zás...chamem toda a vizinhança...zás... e desfrutem 96 minutos de pura nostalgia... pois é, pois é, pois é!


sábado, 21 de janeiro de 2012

Sobre o cotidiano que encanta

Lembro de uns tempos atrás, na minha adolescência.
Adorava ler, ainda no ginásio (na verdade faz um tempinho, né?), os livros da série "Para gostar de ler", que eu pegava na escola, pelo simples e maravilhoso costume de ler!
Não tinha necessidade de fazer um trabalho, uma pesquisa... Não!

Era puro gosto pela leitura!

E sabe do que eu mais gostava nesse tipo de livro, dessa série em questão?!

Da maneira como os escritores relatavam coisas rotineiras, cotidianas!

Adorava visualizar, na minha cabeça, aquele senhor, no fim da tarde, tão pensativo na família, "tomando" um ônibus, naquela fria tarde chuvosa de novembro, após uma longa jornada de trabalho.
Ou ainda, saber um pouco da vida daquela menina, tão apaixonada pelo rapaz que sentava na primeira carteira, da segunda fila!

Ou ainda viajar com os pensamentos daquela pessoa que havia perdido as esperanças de um mundo melhor, mas que ainda assim, insistia em dividir seus pensamentos com quem quer que fosse...

Era muito bom! Esse tipo de livro disputava o meu amor com a Série Vaga-Lume! Bons tempos...

Talvez por isso eu tenha me apaixonado pelos blogs! Claro que àquela época, eu nem sonhava em ter um PC um dia, e poder fazer esse "diário virtual", no qual eu pudesse expressar alegrias, tristezas, os mais variados tipos de sentimentos e acontecimentos.

Aaaaah... O cotidiano!

Isso é o que me encanta nos blogs!

Aqui mesmo, no blog das 30 pessoas! Quantas vezes, com você, que em poucas palavras, ou num texto gigante... Ou ainda em uma foto ou num vídeo, viajei para tantos lugares?! Não foram poucas as vezes!

Cotidiano!

Cotidiano que pra mim significa prestar atenção aos detalhes! Detalhes esses que muitas vezes passam despercebidos, por causa dessa loucura da correria do dia-a-dia. Desse louco cotidiano!

E à partir de hoje, tenho a honra, o prazer, de trazer um pouquinho do meu cotidiano aqui, nesse lugar onde, desde a primeira vez em que coloquei os olhos e a URL, sonhei em escrever!

Agradeço imensamente a oportunidade!
Ao idealizador desse projeto e à pessoa com quem mantive contato, exigindo tanto da paciência dela, perguntando isso, perguntando aquilo...!

Caros amigos e amigas, é um verdadeiro privilégio estar aqui com vocês!


Aproveitando que estamos no início de um ano novo (nem tããão novo assim, afinal já é 21), desejo à todos um excelente 2012, onde Luizas que viajam para o Canadá fazem parte de nossas vidas. Ano que começou com a guerra na internet, no qual os Anonymous derrubaram tantos sites, por causa do fechamento do Megaupload...

Mas também um ano mais intimista, no qual a minha história, a sua história, é escrita a cada dia!
Vitórias, derrotas, alegrias, tristezas. Lágrimas e sorrisos!



Desejo tudo de bom pra todo mundo!

E à você, leitor e leitora desse espaço na internet... Caso um dia precise... Estaremos aqui!

Pode ser que não consigamos (e nem possamos) resolver sua questão, o seu problema.
Mas tenha certeza de que estaremos sempre por aqui, para partilhar do nosso cotidiano!
E para partilhar do seu também!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

sobre alguma leveza que quero pra mim

A partir de hoje
Teu azul diz outras coisas pra mim
Mesmo quando fica preto.
É tão sereno e leve
Andar com a cabeça vazia por aí
E o peito aberto, sem medo.
Vai, me puxa pra cima
Que a partir de hoje eu quero é só voar
Deixar as pessoas e seus problemas
Com os meus problemas
Entre os carros e trens e as confusões da Terra
Lá embaixo, se pegando.
Dissolve os meus medos e sonhos em cigarros
Em esquinas com poças de chuva
Que agora quero é só ser luz.

(...)

Encosta tua boca em mim
E faz o mundo ficar mais devagar
Me puxa pela mão para o ar.
A cidade, lá embaixo, tão pequena
Quase não dá pra ver os leds das torres
Prédios de brinquedo.
Me faz querer gritar, mas perco a voz
A visão, sou agora só um sentido
... o teu.


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Feliz 2012!!!

Desde que os Maias anunciaram o fim do mundo em 2012, o medo tomou conta do planeta inteiro. 2012 chegou. A Nasa anunciou que o mundo não vai acabar coisa nenhuma e as pessoas ainda estão temerosas do tal "fim do mundo".
Ora... 2012 começou há 19 dias e nós já vimos rumores de abuso de sexual em TV aberta, vídeos revelando momentos íntimos de várias (sub) celebridades espalhados pela internet quase todos os dias desse ano, surgindo um atrás do outro. Vemos um programa ser lançado e exibindo o lado mais fútil e feio da riqueza, que é mostrado de forma constrangedora em um país onde predomina a humildade da classe média e baixa... Mas o beijo gay não pode ser mostrado de forma alguma, porque as pessoas não estão preparadas e pode ser muito chocante.
As pessoas não se respeitam mais. Algumas poucas pessoas são ridicularizadas e induzidas a pensar que estão erradas quando ainda possuem o sentimento que deveria reger o mundo inteiro, o amor.
É muito simples. O mundo já acabou. O fim do mundo já chegou. Pelo menos o mundo em que viveram os tais Maias. O mundo em que eles viveram, da forma como era antes, não existe mais. Eles não estavam errados. Eles estavam certos. O mundo não só vai acabar esse ano, como já acabou. Esse mundo em que vivemos hoje é outro, completamente diferente do deles e inimaginável pra qualquer pessoa daquela época.
Agora, se esse nosso mundo vai acabar um dia? Depende. Depende do nosso conceito de vida hoje, e do conceito de vida das pessoas que viverão aqui milhares de anos à frente.
Feliz 2012!!!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O dia foi cheio e atrasei o dia 17 porque estava morta. Literalmente

Acho bonito, juro, a língua ser viva, as pessoas atribuírem novos sentidos às palavras, acrescentarem novas palavras ao vocabulário desde que isso seja feito de forma consensual (ou quase). A língua representa, ela também, as mudanças de um povo. Mas algumas coisas, desculpem-me, não têm meu perdão.
Uma delas é o uso indiscriminado do ‘literalmente’. Não sei porque as pessoas acham bonito usar literalmente, não sei se a palavra é comprida, sonora, parece ser requintada ou diabos que a parta. Só sei que existe essa profunda mania de metê-la em tudo, inclusive quando não se trata do sentido denotativo da palavra ou expressão. Nesses casos, desculpem-me, isso está errado.
Sentido literal é aquele próprio da palavra e usar 'literalmente' em sentido não-literal é demais pro meu gosto. E me irrita. Ou melhor, me irritava, até que encontrei esse site aqui e isso começou a me divertir. Literalmente. 

Michel

É melhor parar, assim alguém (eu) te mata.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Obituário

Deixou uma esposa, apartamento quitado, carro pago e irmãos esquecíveis um pai independente. Na escola foi um aluno medíocre, precisou de cursinho para passar numa faculdade medíocre, foram 5 anos medíocres que o preparou para uma profissão que nunca exerceu. Desiludido com a política desde o José Dirceu, quis acreditar no amor sem sexo, embora sempre teve um fraco por volúveis, sempre teve sono e uma preguiça absurda de mudar o mundo, nunca teve dinheiro. Gostava de beber, enquanto, o fígado lhe deixou e no final era somente socialmente. Quiz entender de vinho, filmes, futebol e música. Mas fracassou em tudo. E, principalmente, nunca falou inglês

domingo, 15 de janeiro de 2012

Domingo

Hoje é domingo,
Olho o recinto.
A recinto é meu quarto,
Quase infarto.
O infarto é pela memória:
Difamatória
Infâmia por causa de birita,
Ressaca maldita
Que é persistente.
Fui imprudente...
Prometo a São Brás:
"Não bebo mais"
"...parei com esses venenos!"
Tomo um Eno...
Um Eno e um Doril,
Enxaqueca ardil!
Mais ardil, sou essa:
já sabe que não cumprirá a promessa.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

What a fuck?

Sentado no bar, com seu amigo, numa noite muito quente do verão carioca, o americano apelidado da forma genérica mais carinhosa: gringo, não imaginaria que ia levar de volta na bagagem a maior pulga atrás da orelha da vida.

Depois da oitava cerveja, das quais julgava muito fracas, ele vê entrar no bar a morena mais atraente das terras tupiniquins. Não era carioca, mas tinha o bronze na pele; cabelos negros brilhosos e sorriso estampado na cara esbanjando espontaneidade e atitude. O gringo ficou louco.

Sem pestanejar - afinal estava no Brasil, a terra onde “tudo é permitido” - afastou um pouco a sua cadeira de modo a ficar quase de frente com a morena e com a amiga que a acompanhava.

Sabendo da receptividade do povo Brasuca, foi logo mandando um – OI, tudo bem! Que resumia todo o seu parco vocabulário da língua portuguesa. A morena e sua amiga, tentando mostrar simpatia, responderam a saudação.

Ele entendeu que ela era solteira e que adorava o verão. Ela entendeu que ele trabalhava na wall street e que já falava mais outras 3 línguas pra pensar em falar português. Ela achou esnobe.

Depois de alguns minutos e muitas tentativas de diálogos, a morena se levanta e vai ao banheiro. O gringo, se sentindo mais em casa o possível, pega o celular dela, digita o número do telefone dele e devolve no mesmo lugar.

Confiante que a noite do verão carioca ia acabar com a companhia da morena na sua cama, o gringo volta pra casa bêbado e frustrado. No dia seguinte, sem conseguir tirar a morena e a ressaca da cabeça, ele manda uma mensagem para o celular dela:

“Hi, it's Ryan from last night, call me = )”

Em alguns minutos a resposta: “Ahan, senta lá Cláudia”

Anos depois, sentado em frente ao computador do trabalho, numa tarde de frio intenso, ele ainda pensava naquelas palavras.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Meu lado sombrio e minha alma que não tem preço

Não  resisti e assisti ao polêmico Mulheres Ricas.Assunto bastante superficial,mas eu adoro.É meu lado sombrio. Já fiz coisas terríveis na vida, como comer o brigadeiro na panela mesmo, xingar alguém ( coisa errada, já que sou mocinha ) mentir e até quis descontar uma traição ,fui lá e trai. Também gosto de ler sobre a realeza.Não essa realeza atual, água com açúcar, politicamente correta.Gosto daquelas que mandavam cortar a cabeça, envenenavam, sumiam,mentiam, como o Henrique VIII.
Fui então assistir a essa nova série da Band.
Todo mundo ralou.É lógico que isso ia acontecer em um país católico,com um certo complexo em relação ao dinheiro.Os ricos são raláveis,são fáceis de malhar e jogar no vinagre.Eles quebram paredes que consideramos morais e éticas.Ignoram a pobreza e ostentam a riqueza de uma maneira meio escatológica.Os ricos são nossos bobos da corte,os palhaços do circo mambembe e assim negamos que quem realmente está rindo de nós são eles.
Não tenho inveja do dinheiro,até porque carrego uma certeza católica de que um dia Deus vai me recompensar e isso deverá ser em dinheiro, já que ele sabe dos meus rolos e sabe que no momento é a única recompensa que preciso.
Mas assumo minha inveja verde da vida que essas pessoas levam.A questão não é ter dinheiro,mas mentalmente ignorar o que te rodeia e ser feliz com pouco.Sim, essas mulheres são felizes com quase nada.O budismo diz que tudo o que o dinheiro pode comprar é barato.Tenho inveja disso.Queria mesmo ser feliz apenas porque comprei um avião ou mandei colocar diamantes na minha arma.Mesmo com dinheiro sei que eu continuaria sendo meio Hamlet, totalmente atormentada,caminhando pela vida e questionando fantasmas.Mesmo em um dia bom acordo Mafalda,sempre querendo saber a origem das coisas,do tudo.
Minha alma é cara demais e não se contentaria com visitas a joalherias.
Tem coisa melhor no mundo do que a união do dinheiro e a ignorância?Só se for brigadeiro com sorvete, sexo com amor, chuva com cama,praia com sol.Ah,essa sim é a receita da felicidade das moças da série,a alienação.Quanto custa ser uma alienada ?
Que delícia deve ser viver pensando que só eu existo e só interessa do mundo o que me faz feliz ! Ah, eu poderia sair dançando Edith Piaf pelas ruas de Paris e ainda mandava comprar a cidade e entregar aqui em casa.
Um almoço fútil sem nada a dizer ? Bom demais , até a comida deve ter outro gosto.
Queria ver elas com minha alma, em que lugar iam achar sossego ou comprar um pouco dele.Elas são felizes com seus carros, suas jóias, sua cabeça vazia.Compram tudo o que o dinheiro pode comprar e são felizes.Que vida barata !
Já eu não posso garantir comprar minha felicidade com dinheiro.Custa demais.
O programa deveria se chamar ` Mulheres baratinhas demais, em oferta, leva 2, paga uma ´. Qualquer ser humano que consiga comprar sua própria felicidade merece ser aplaudido.Que pessoa barata,em conta, econômica ! Que boa oferta !
Ah, gostaria de ser assim, saber que minha felicidade tem preço e posso pagar. E ainda tem gente que acha elas ricas,mas almas mais miseráveis,que se contentam com pouco,mais pobres do que essas eu nunca vi.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Adolescência

A adolescência é uma fase curtinha, a mais curtinha da vida da gente, vai dos 12 aos 18, às vezes um pouquinho antes, um pouquinho depois, mas não muito mais que isso.

Duas atitudes definem bem um adolescente: a primeira é o volume, ou eles gritam, ou eles murmuram, mas no geral gritam. A segunda são os palavrões, eles conseguem colocar todos em uma frase só. O palavrão é uma conquista para o adolescente.

O adolescente muda de acordo com o grupo, é um mutante. Se está sozinho, parece quieto, incomodado, como que esperando uma ameaça. Esconde-se com fones, músicas, roupas, caretas. Se está com a família é agressivo, azedo, reclama de tudo e xinga a todos, envergonhando aqueles que a pouco sentiam orgulho. Agora, se está em grupo, com outros deles, aí sim: é alegre, brincalhão, desafiador. Pode tudo, pode paquerar na rua, mexer com desconhecidos sem medo, sem remorsos, sem freios.

Outro fato interessante a respeito da adolescência é a memória seletiva tardia. Funciona mais ou menos assim: assim como na nossa cabeça a nossa voz é diferente da voz que ouvimos do gravador,a adolescência também tem a capacidade de distorcer a realidade na cabeça da gente, não sendo fiel ao que realmente foi. Na verdade ela se apresenta bem melhor do que era.
No geral você era feio e idiota, mas não lembra mais , você só lembra que se divertia, namorava, estava lindo e jovem. É preciso um vídeo, uma foto, para perceber que não era bem assim. Era só uma criança desengonçada querendo tentando ser adulto.

sábado, 7 de janeiro de 2012

"Seriando" por aí

Vai, até que "A Sete Palmos" ficou bonitinho, vai...
    
   Downton Abbey, minissérie britânica, ganhadora, no ano passado, de seis Emmy e que, agora, concorre a quatro prêmios no Globo de Ouro, conta a história de uma família aristocrática de Yorkshire, encabeçada pela grandiosa Maggie Smith, tendo como pano de fundo a diluição do Império e o mundo no pós-Guerra, foi tema de interessante matéria, no caderno Ilustrada, na Folha, edição de hoje. Segundo a  reportagem, a revista inglesa The Economist, ao traçar um panorama do mercado de  empregadas domésticas no Brasil -  sim, no Brasil! -, compara nossa situação à da Inglaterra daquele tempo, citando a produção como exemplo.  O texto rasga elogios à série, a descrevendo como um fenômeno que, infelizmente, não tem previsão de desembarcar em terras brazucas.

    Isso tudo me fez pensar uma coisa:  Por que diabos será que não há, por aqui, uma  tradição com o formato?  Ok, você vai me responder que já produzimos muitas, algumas até ganhadoras de prêmios,  mas continuo batendo na mesma tecla:  nada comparado ao caso americano, por exemplo.  Ora, se nos orgulhamos de fazer o melhor produto de Teledramaturgia do mundo - as novelas -, eles também podem se orgulhar do mesmo, afinal, suas séries tem uma penetração incrível, correndo mundo afora  - e recebendo títulos vergonhosos no Brasil como Smallville, a Aventuras do Superboy ou Lances da Vida.

    Sinceramente, eu acho que o formato telenovela já se esgotou e as séries seriam uma alternativa à altura.  Tem gente do ramo que vive afirmando o mesmo.  O fato é que não foi raro eu acompanhar algumas com mais dedicação que  à muita novela.  Tô aqui me lembrando de Beverly Hills 90210 - em priscas eras - e, mais recentemente, Dawnson’s Creek e The O.C. - mais recentemente?! - ,além  das minhas preferidas de todos os tempos, The Big C, United States of Tara e Six Feet Under, essas duas últimas, aliás, obras-primas de dois putas roteiristas de cinema -  e sim, eu prefiro os títulos originais, por motivos óbvios.

    Atualmente, em relação a roteiristas, me ocorrem dois nomes:  Fernanda Young e Alexandre Machado.  Nos últimos dez anos, o casal emplacou meia dúzia de séries na TV, mas nenhuma delas conseguiu chegar, com fôlego, à segunda temporada - exceto Os Normais, que durou três.  Mas só.  Lícia Manzo, autora da atual novela das seis, A Vida da Gente,  estreou, na Globo, como roteirista principal, com a ótima Tudo Novo de Novo.  Mas parece que desistiu do formato por aí - ou a emissora, o que é mais provável.

    De qualquer jeito fica a dica:  por que não investir mais no formato?  Tem muita gente boa com idéia bacana por aí.  Não seria tempo da Globo, por exemplo, reabrir sua Oficina de Roteiristas e dar espaço para novos talentos? E Multishow e HBO, invistam mais no formato!  Nós, seriadores, esperançosos, agradecemos.

Pós-Postagem:  Venho aqui reparar um terrível erro. Por esquecimento, deixei de citar aquela que é minha série do coração:  Anos Incríveis.  Quem não viu, corra.  É para ontem.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

2000 e quanto?

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A festa havia acabado, as horas haviam se passado e o Sol havia surgido no horizonte (sim, eles haviam assistido a esse “espetáculo” – como ele seria, se o tempo não estivesse nublado). Mas essa era uma das muitas coisas que não importavam. Há quase nove horas, champanhes haviam sido estourados e fogos haviam explodido contra o céu noturno. E agora lá estavam eles, aquele grupo meio desajustado, sem tanto rumo, totalmente sem convenção, sentados na sarjeta em um silêncio que marcava, indiscutivelmente, o medo do que estava por vir.

Mas ele tinha algo a dizer. E disse. Fez melhor: se levantou e fez discurso!

“Sabem, eu sempre achei a comemoração de Ano Novo meio estúpida. Claro, eu cumpro tabela. E, claro, ter desculpa para virar uma noite com os amigos, se divertir um pouco e parar de pensar tanto no amanhã é ótimo. Mas ‘Ano Novo, Vida Nova’? Nunca engoli isso, e provavelmente nunca vou engolir. As pessoas mudam, sim! As coisas mudam, com certeza! Mas é um número no calendário que vai fazer isso acontecer? Ilusão boba que precisamos ter de que controlamos tudo ao nosso redor, até o tempo em que as coisas acontecem.

Afinal, nas últimas horas passamos de 2000-e-não-sei-quanto para 2000-e-não-sei-quanto-mais-um. Alguém notou alguma diferença? Talvez as mudanças estejam mais palpáveis para nós agora, mas não foi a virada do ano que ditou que elas iriam acontecer.

Eu não estou tentando ser cínico, mas preciso ser para provar o meu ponto. Nesses próximos doze meses, pode ser que a gente não tenha a opotunidade de se ver sempre. Pode ser que nossas vidas tomem rumos diferentes. Mas são doze meses como outros quaisquer. Eles podem ditar distância, eles podem ditar freqüência. Mas eles não podem ditar sentimento.

Isso aqui só vai deixar de existir porque um número a mais apareceu no calendário se a gente deixar que esse número mude o que a gente sente. Semanas, dias e anos não tem o poder de tirar de nós o que queremos por perto. Só nós temos esse poder.”

E, afinal, era 2000 e quanto mesmo? Realmente, isso era a última coisa que importava.

Nada melhor pra começar o ano do que a voz linda da Jordin Sparks nos dizendo pra “ter um pouco de fé”. Um ótimo 2000-e-não-sei-quanto pra todos vocês.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Crianças

- Você é bonita.

- Você é bonito.

- Eu gosto de brincar com você na árvore.

- Eu gosto de você.

- Eu roubei um beijo seu.

- Você é ladrão.

- Eu sou ladrão?

- De beijos.

- Ah.

- Você é bonito.

- Você é bonita.

- Eu gosto desses sinais.

- Que sinais?

- Esses do seu rosto.

- Quer pra você?

- Você vai tirá-los?

- Você quer?

- Se você tirar vai doer.

- Ah é.

- Posso lhe abraçar?

- Pode.

- Posso encostar meu rosto no seu?

- Você pode tudo.

- Tudo o quê, por exemplo?

- Ficar com meus sinais.

- Mas se você tirar vai doer.

- Eu estou apaixonado por você.

- Como assim?

- Assim.

- Assim, como?

- Assim, assim.

- Assim de namorar?

- Assim de casar.

- Mas a gente ainda é criança.

- A gente pode casar de mentirinha.

- E eu faço comidinha de mentirinha pra gente?

- Isso, e a gente tem um filho de mentirinha.

- E a gente mora de mentirinha na casa da árvore.

- Eu te amo.

- Assim tão rápido?

- Meu coração quis dizer isso, desculpa.

- Sem problemas.

- Hãn?

- Eu disse sem problemas.

- Você não gostou de saber?

- Não é isso.

- É o quê então?

- Nada.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Os esquecimentos de um homem ausente

por Gilberto Amendola

Um dia eu vou te esquecer. Acho que vai ser num domingo – e vai ter bolo de chocolate. Vou usar minha roupa preferida e contar piadas sujas para os desconhecidos na rua.
As pessoas irão me perguntar se eu não tenho casa – mas também vou esquecer meu endereço. Claro, não vou andar com documentos. O que importa? Provavelmente, não vou lembrar direito onde os guardei.
Quando perguntarem meu nome, vou fingir que não ouvi. Se insistirem, digo o primeiro que vier à minha mente. Algum deve vir, não é? Ou será melhor escrever, desde já, “João” na palma da minha mão?
Acho que a polícia vai chegar. Vamos conversar um pouco. Um homem de farda vai perguntar sobre a minha família. Vou reconstruir minha árvore genealógica até esbarrar em Adão, mas, e isso é certo, serei incapaz de informá-los sobre algum parente vivo.
Depois de coçar a cabeça e reclamar da vida, o homem de farda vai pedir para que eu entre no carro. Vou me negar. Ele vai insistir – dizendo que é para o meu próprio bem. Que sujeito burro. Sei que depois de uma certa idade nada daquilo que disserem “ser para o meu próprio bem” será bom, alegre ou gostoso. Coisas para o “nosso próprio bem” costumam ser opacas – isso quando não são tristes ou doloridas. Não vou, não vou, não vou...
Mesmo que eu tente fugir, não vou conseguir. Até porque não vou ter pra onde ir. Nunca tive muito senso de direção e, o pouco que adquiri com o tempo, vou ter esquecido (nota mental: usar um relógio de pulso para diferenciar o lado direito do esquerdo). 
Acho que o homem de farda vai me empurrar para dentro do carro. No caminho, vou chamá-lo de filho, elogiar seus modos e perguntar sobre os meus netos. Como é gostoso quando levam a gente para passear, não é? Quando a gente não é um transtorno para a família e tem um filho carinhoso do nosso lado. Vou esquecer o nome dele. Mas posso inventar um apelido brincalhão para forjar nossa intimidade: “Vamos pra nossa casa, Leleco?”.
E o homem de farda – que, de agora em diante, vou chamar de filho, vai me levar para um lugar grande e branco. Vou pensar que aquilo é um clube – e vou amar meu filho ainda mais. 
Irão me fazer perguntas bobocas. Por que precisam tanto do meu nome? Por que querem tanto meu endereço? O importante é aquilo que a gente é, não aquilo que a gente lembra. No mais, perguntem para o meu filho, aquele rapagão bonito de farda. Ele sabe tudo – tudo sobre mim, sobre vocês e o universo.
Depois de insistirem com essas perguntas, pessoas educadas e de branco vão me levar para um quarto – também branco e, por que não dizer, educado. Vão pedir para que eu descanse e durma um pouco. Acho que vou esquecer como se dorme. E, ao lembrar, certamente vou esquecer como se faz para sonhar. 
No dia seguinte, vou esquecer de comer, beber e mesmo ir ao banheiro. Uma mulher vai tentar me convencer a fazer coisas que não me interessam mais. Vou perguntar pelo meu filho, o homem de farda. Ela não sabe dele. Assim como eu, ela também não sabe de nada. Será que ela também é minha filha? Se fosse um pouco mais velha, poderia ser minha mulher.
Acho que vão tirar umas fotos minhas. O fotógrafo, simpático, vai me mostrar o resultado do seu trabalho. “Quem é esse?”, vou perguntar. “Esse é o senhor”, vai me responder. Jamais. Claro que o homem da foto não sou eu.
Nunca tive essa barba, esse cabelo branco e esse rosto cheio de marcas. Vou pedir um espelho.
Um dia eu vou te esquecer. Nesse dia, eu sei, também vou esquecer de mim. Vou me olhar no espelho e achar alguma graça no truque que me faz parecer tão velho.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

2011

Comecei o ano endividada. Muito endividada. Viajei a trabalho. Gastei mais dinheiro. Engordei. Depois engordei mais. Recebi a primeira participação nos lucros. Paguei as dívidas. Torrei fortunas em roupinha para bebê. Fui umas das primeiras a ver meu primeiro sobrinho. Fiquei perdidamente apaixonada. Fui a primeira a trocar a fralda do meu sobrinho. Entrei em pânico. Tive que chamar a enfermeira. Aturei meu cunhado em casa por 3 meses. Sobrevivi. Ele também. Descobri que um bebê dá mais trabalho do que eu imaginava. Resolvi adiar a maternidade por uns 5 anos. Recebi a visita da Carol, do Emerson e do Angelo em casa. Comprei a máquina fotográfica do Emerson com meu irmão. Batizei meu sobrinho com meu irmão. Fui na feira da madrugada, depois fui passar um fim de semana na casa da Carol. Comi guacamole pela primeira vez. Guacamole entrou no top 5 comidas favoritas. Viajei a trabalho novamente. Fiz 29 anos. Não entrei em crise. Terminei o namoro. Voltei o namoro. Viajei com o namorado. Tirei férias. Quis ir pra índia, não deu certo, quis ir pra Nova Iorque, não deu certo. Tirei novo passaporte por garantia. Fui pra Pernambuco, sem o namorado. Conheci Recife, Porto de galinhas e Olinda. Achei Olinda a coisa mais linda do mundo. Voltei com alergia de pele e o pé furado. Fui para São Paulo, revi a Rosma, que me ensinou umas técnicas sinistras de Rh, revi o Edu, a Ana e o Tiago, que eu achei que nunca mais veria. Comi guioza pela primeira e entrou no meu top 5 também, junto com aquele pastel de macarrão e cebolinha. Fiz a Carol e o Emerson me levarem de novo no mexicano. Entrei no curso de fotografia. Aprendi a mexer na máquina decentemente. Tirei um zilhão de fotos. Meio zilhão do meu sobrinho. Conheci lá a Nádia, a Mônica, a Mislene, e mais um monte de gente bacana. Mandei um recado para a Letícia, ela respondeu. Tirei o peso de mais de um ano das costas. Sai com o pessoal do curso de fotografia. Tomei uma caipirinha só e fiquei alta. Não costumava ser tão fraca. Não avisei o namorado. Ele não gostou. Brigamos. Terminamos. Voltamos de novo. Comprei uma lente nova. Sai com meu irmão várias vezes para fotografar. Achamos a capela de Santa Clara. Resolvi fazer uma nova tatuagem. Não fiz. Resolvi trocar minha cama de solteito por uma de casal. Não troquei. Reformei um criado mudo que achei na loja de móveis usados. Ficou legal. Tem tinta verde no meu cabelo até hoje. Verde água, que descobri que é minha nova cor favorita. Meu pai parou meu carro na vaga de idoso. Foi guinchado. Burocracias kafkianas. Três dias para liberar. Briguei com o cara da delegacia. Vi que o serviço público no pais é mesmo uma merda. Tirei uma pinta. Ficou uma cicatriz horrível. Arrependi de tirar a pinta. Cometi um erro no banco. Perdi mil reais. Tive o primeiro grande dilema moral da minha vida. Quase fraquejei. Me senti a pior pessoa do mundo. Depois me perdoei. Acho que agi certo. Tentei ir pra praia. Não deu certo, fiquei frustrada. Resolvemos passar o natal em casa. Resolvi estudar para um novo concurso. Descobri que não gosto mais de cabrito. Reafirmei que pudim de laranja é melhor que de leite. Fez sol. Tomei banho de piscina. De plástico. Queimei. Quis repetir no dia 31, choveu.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Os maias estão certos


2012 não é mesmo um ano como outro qualquer. É preciso ficar de olhos bem abertos. Na virada do ano, um amigo meu quebrou três dentes da frente depois que um amigo jogou um rolo de papel higiênico na fuça dele. Tudo bem que ele estava bebendo uma garrafa de cerveja, mas conseguir essa façanha com um papel higiênico, só mesmo em 2012.
São 3:42 da matina do dia 2. Acabei de medir a minha temperatura. Olhos em chamas, 40 graus de febre. Tomo um Tylenol atrás do outro, bebo 15 copos de água por hora. Tem um alien dentro da minha cabeça, corroendo meu cérebro. A cidade mais importante do mundo, em se tratando de reveillon, Copacabana, estava mesmo possuída por uma força maligna. Estava lá vendo os fogos debaixo de rajadas de vento apocalíptico, chuva que ia e voltava. Sem táxi na cidade, caminhei de Copacabana até o Jardim Botânico. Foram as mesmas rajadas de vento, uma chuva estranha, bem estranha.
Antes de atravessar a rua, andar de carro, fazer qualquer coisa, prestem muita atenção. 2012 não está mesmo para brincadeira.