Desde que casaram, meus pais nunca se mudaram de casa. Ela já passou por várias reformas e hoje não se parece nada com aquele bloco quadradão rodeado com a calçada vermelha que parecia infinita quando eu era criança. Mas continua lá, na mesma rua, que até já mudou de nome.
Em compensação, eu já tive outras nove. Comecei saindo de casa cedo, para terminar o colegial. Me mudei para fazer cursinho. Durante as duas faculdades, foram outras três diferentes moradas. Vivi um ano em outro país e, apesar de saber que ali eu tinha um prazo de validade determinado, também considero que tive um lar. No traumático primeiro emprego, tive uma diferente casa brevissimamente. Mudei-me outra vez para trabalhar na mesma cidade na qual terminei o colegial e ali permaneci pelo maior período de tempo em um mesmo lugar, tirando a casa dos meus pais. Há alguns meses estou na maior cidade da América do Sul, também a trabalho.
Às vezes me pergunto se um dia isso irá acabar. Se em algum momento, assim como meus pais, eu terei um CEP fixo. Da mesma forma, me questiono se eu quero que isso aconteça. Ainda não encontrei respostas, mas confesso que elas não são relevantes. Estar sempre de mudança é chato, trabalhoso e doloroso. Em contrapartida, traz experiências poderosas que só entende quem é meio nômade, assim como eu. Com a vida cigana, conheci lugares incríveis, aprendi a me virar na cozinha, economizar no mercado, usar transporte público, ser menos desorganizada, mais criativa e até a limpar calhas. O mais importante: fiz amizades que, mesmo que de convivência efêmera, permanecem até hoje. Mudanças assustam, mas novidades me encantam.
Diferente dos meus pais, talvez eu nunca crie raízes físicas. Entretanto, quando a coisa arrocha é para a velha casa de número 655 (hoje com calçadas brancas) que eu volto correndo. É lá que eu passo as férias e ganho sopa quando estou doente. Foi para lá que eu sempre corri aos prantos quando o coração partiu ou apertou. É lá que eu quero estar quando eu preciso recarregar a bateria.
Eu já nasci com raízes. Mas não me entenda mal. Elas não são feitas de tijolos e argamassa, com um teto por cima. Elas são invisíveis, superelásticas e me ligam a dois seres iluminados que respondem prontamente quando eu grito "mãe!" e "pai!". Só coincidiu de elas estarem geograficamente no mesmo lugar durante toda a minha vida.
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