A menina de 4 anos se envaidece toda quando se põe a falar as "palavras difíceis". É um mundo totalmente novo, um mundo que ela não domina, mas que lhe encanta, um mundo que ela quer se apropriar, quer fazer parte. Ela tem 4 anos, afinal, e falar coisas que qualquer criança de 2 ou 3 já consegue falar com propriedade já não lhe interessa mais. Então ela arrisca. Mesmo sem saber exatamente o que está falando, ela arrisca. Combina uma palavra à outra com o mesmo cuidado com que já combina suas peças de roupa. Uma palavra parece harmonizar com a outra, então ela junta as duas. Eu, com os meus 32, só consigo dizer que o critério é o som. Eu consigo perceber que as palavras se atraem pelo som. Ela com os seus 4, consegue perceber muito mais do que isso. Para ela palavra tem cor, palavra tem cheiro, palavra tem textura, palavra tem sabor. E é assim, com toda essa riqueza de sentidos que a menina de 4 anos vai se apropriando do mundo das "palavras difíceis". Combinando. Arriscando. E quase sempre produzindo construções certeiras."Esta banana não está nada sensata hoje, mamãe", a menina de 4 anos arrisca, jamais deixando transparecer qualquer insegurança quanto à correção de sua frase, para logo depois confirmar "Aliás, mamãe, o que quer dizer 'sensata?'". Sim, "aliás". Como qualquer terreno nunca antes visitado, o terreno das "palavras difíceis" precisa ser conquistado com muito tato, com idas e retrocessos, nem que para isso a menina de 4 anos tenha que se valer de outra palavra difícil, "aliás", para confirmar e se sentir segura de seus novos achados linguísticos, do novo pedacinho de mundo que agora passa a lhe pertencer. "Acho que isso não é razoável, papai" diz a menina e emenda "Aliás, papai, o que quer dizer 'razoável'?". Diante da resposta (um pouco confusa, é verdade) do pai a menina complementa com a pergunta que só agora lhe ocorre: "Aliás, papai, o que quer dizer 'aliás'?".
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