Comi um abacate e guardei a semente. Coloquei num copo com
água até crescer raiz e ganhar tamanho. Replantei em um vaso na calçada, e
assim passaram alguns anos.
Semana passada, quando
acordei vi um rapaz, provavelmente morador de rua, aguachado remexendo o vaso
com as mãos.
No susto perguntei:
-Moço, o que você está fazendo?!
Ele se virou com calma:
-Estou tirando a arvore daqui para plantar no parque, ela tá
pedindo, tá morrendo.
Eu concordei, ele estava certo.
Em seguida ele me perguntou do que que era, e depois me
pedir desculpas pelo susto, ajeitou o vaso, limpou o chão e saiu enrolado no seu lençol,
com a muda descendo a rua.
Eu ainda tentei perguntar em que parque, pensando em
visitá-la, mas ele não sou explicar bem.
Eu tinha me apegado um pouco na muda e cuidado, mas era
besteira achar que era minha, ou que qualquer coisa seja.
Das centenas de pessoas que passam na minha calçada nunca
ninguém se importou com o abacateiro e seu bem estar.
Besteira essa de meu vaso, minha casa, meu carro, meu
marido, meu, meu...Nem a vida é bem minha. Pronomezinho traiçoeiro. Será que se
a gente se intrometesse mais, as calçadas estariam mais bonitas, os filhos mais
bem educados?
A mim parece que os ricos se importam com o ser, a classe média com o ter e os pobres com o usar. Claramente dois em três estão errados.
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