domingo, 30 de outubro de 2011

Ver Sem Olhar



Há tanto que eu não sei
Do tanto que julguei saber
Daquilo que me era claro
Por tanto quanto foi crível
Andei por tantas certezas
Que nunca me foram certas
Ouvindo verdades falsas
Cantadas pra me embalar
Os dias me foram anos
Os anos me são tão longos
Palavras me dizem nada
Pra tudo que quero ouvir
Mas tudo um dia passa
E eu passo por tudo sempre
Pra tudo não ser de novo
Isto que mal vivi
Disto que me emudece
Que mato atrás das linhas
Escritas sem nem olhar...



Lai Paiva

sábado, 29 de outubro de 2011

De Karla, para Ana

Você não fez a tatuagem no lugar secreto. Não pintou o cabelo da cor de salsicha. Não comprou o vestido longo. Não fez a viagem a São Thomé das Letras, não conheceu Ouro Preto (humpf), menos ainda Paranaguá e a Bahia de todos. Não conseguiu o estágio tão almejado na saúde ou Ongs para apreender mais da violência contra mulher. Não comprou a biografia em fotos de Lispector. Nenhum daqueles cds/dvs ocupam a reles estantezinha. Não conseguiu resolver o problema com o Banco mais safado do mundo, que te cobra uma taxa absurda por um cartão que você nunca usou, e restringindo seu nome na lista negra, te prejudicando até a morte. Não sanou a solidão do corpo, quase em desuso esse metro quadrado de espaços a serem batizados. Não sanou dívidas. Não comprou o perfume importado que ao cheirar/sentir na loja você quase morre de tanta vontade. Não comprou os badulaques, sapatos, calcinhas e sutiãs ousados, blusas e shorts, ah o biquininho mais a saída de praia. Não fez o curso que tanto queria,da língua mais tesuda do mundo "francês". Não fez tantos ou mais amigos. Não degustou pratos em restaurantes ralés ou chiques. Não assistiu aquela peça naquele teatro famoso. Não comprou a coleção de filmes. Não usufruiu da liberdade de casa para novos convites. Não devolveu a cantada e o sorriso. Não foi naquele show, lá na cidade que todos "baba baby". Não aceitou o convite. Não encontrou a costela, prá deitar, dormir e acordar sentindo bafo. Não ajudou a sua mãe naquele negócio. Não falou tudo que está engasgado para o sangue do seu sangue. Não modernizou-se, reinventando certas coisas. Não fez aquele corte de cabelo. Não trocou de emprego. Não comprou aqueles livros. Não atualizou o curso de info. E não deixou de ser solteira, sem nenhum real na carteira. E não, não e nãos e mais nãos...e muitos eteceteras de não. Pois é... Mas saiba, para a quantidade de nãos, existe também a quantidade considerável de sim, sins. E não há nada, nada mesmo que você não possa reverter - de não - para sim, exceto a morte. Mas isso você bem sabe. No mais, é uma questão de tempo. E tempo, esse tempo, sempre foi seu aliado. Dúvida? Então se olha no espelho, verá um sim bem grande estampado na cara...

De Ana, para Karla
Para de ser doida e vá arrumar a mala, que logo mais é pé na estrada! Mas antes pelo amor de Deus acorde cedo uma vez na vida, agradeça aos céus por mais um dia e vá correndo com sorriso no rosto para o curso. Que de última hora, assim no rompante você conseguiu em caráter de exceção e aprenda mais do Serviço Social e a Questão Urbana :)) E depressa, mais rápido que puder, literalmente voe sentido Barra Funda para o ônibus Transul. Porque tem um gato siamês lindo e gordo; um cachorro preto (capado, owim q dó) um chaveiro de cão, na cor amarela sentado na varanda balançando o rabo; um vale lindo cheio de nascer e morrer de sol com céu azul, um cheiro de árvore, uma praia chamada Cananéia te esperando. Mais uma mulher bonitona de cabelo cacheado, sorriso bonito, de braços abertos querendo te apertar até sufocar prá dizer rindo - eu te amo, FELIZ ANIVERSÁRIO ! Então vá simbora dormir, 1,2,3 e já.zzzzzzzzzzZZZZZZZZZZZ.

É... sabe o que é?
Uma parte de mim é muito lúcida e é Karla. Mas outra parte de mim é Ana, ah essa tem muitos nomes, mas ainda assim é Ana e essa é muito louca. Uma pancadona Mas ainda sim lúcida.


"Você receberá amor
Você receberá cuidado
Você receberá amor
Você tem que confiar nisso..."

"All is full of love, You just aint receiving, All is full of love, Your phone is off the hook, All is full of love, Your doors are all shut, All is full of love!"





Esse clip, representa exatamente a vontade insana de pirar e resolver tudo assim, na base da pirotecnia. Principalmente quando o capital é soberano e implacável, feito trator destrói as relações humanas. "And if you complain once more, You'll meet an army of me" Talvez seja o mal, nunca reclamar... E sempre aceitar:You're alright, There's nothing wrong, Self-suficience, please, And get to work" Que merda viu!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O tempero da ousadia

Como disse no post anterior, estou vivendo na Argentina. A sensação de estar aqui e ver sua vida brasileira passar diante dos seus olhos e não poder mover uma pata para interferir no resultado, é uma mescla de impotência e redenção. Impotência por ter suas escolhas out desse mundo que anteriormente era cheio dos seus dedos, e redenção por não ter que se preocupar com possíveis desgastes daquela rotina efusiva. E esses dois opostos estão diariamente fazendo parte de tudo o que vivo por aqui.

Sinto-me impotente por não falar esse espanhol perfeitamente, não podendo muitas vezes mostrar meu eu. E a redenção vem justamente nessa parte, de não mostrar meu eu, de não me preocupar com o que pensam, de ser uma pessoa que pode fazer oitocentas cagadas e ir embora em alguns meses sem me preocupar em ser ou não aceita por essa sociedade louca.

Gosto daqui. Gosto das músicas, das roupas, dos hábitos, das frutas, do clima (mas não gosto da comida e nem do estilo dos cabelos por nada). Gosto da liberdade que construí aqui. Uma coisa plena, sem amarras e sem medo.

As pessoas são bem caretas, verdade. E isso pra mim soa como um desafio: o de parecer cada vez mais diferente para elas. E tirar delas o preconceito social asqueroso que carregam. E assumir coisas loucas que eu jamais assumiria para qualquer um que eu conhecesse no Brasil. Por exemplo, ‘Oi! Eu já fiz sexo no pasto e acordei ao lado de uma vaca!’. Eles fazem uma cara de ‘que menina louca dos infernos!’. E ao mesmo tempo eu trato de conquista-los de outras formas, sendo divertida e amiga. (LEMBRANDO QUE ISSO É UM EXEMPLO, OKAY MÃE?).

E as vezes, não sei, mas sinto bem falta dessa ousadia minha. Na verdade, descobri que tenho essa ousadia morando aqui, e tenho medo de perde-la quando voltar. Não que eu tenha que sair por aí contando minha vida íntima e pessoal para qualquer indivíduo careta na rua, mas sim de não ter medo de assumir o que sou, as minhas vontades e as minhas manias. Passei anos, e confesso que ainda passo, influenciada por minha passividade lasciva e repugnante. Odeio ser assim, odeio! Odeio ter medo de me expor e poder incomodar os outros. Odeio ter esse pavor que cobrar dinheiro, de ter que falar pra alguém que ela está me irritando, que mandar alguém calar a boca, ou de falar que não como carne quando meus amigos estão escolhendo uma pizza. E ao mesmo tempo, eu ODEIO ser tola assim e me esconder o tempo todo.

Mas, se pensar bem, do mesmo jeito que eu não me incomodo da pessoa me pedir um gole de coca-cola, ela não vai se incomodar se eu pedir igual. E é bem isso que estou aprendendo aqui. Aprendendo a pedir ajuda para não me perder na rua, aprendendo a pedir o celular emprestado quando quero pedir empanadas, aprendendo a falar não quando eu quero falar não. E perceber, claro, que as pessoas não se incomodam com a sinceridade, e sim com a falta dela.

A insegurança está ligada à expectativa da resposta alheia. Assumir a responsabilidade de uma simples pergunta é perigoso para quem é sensível à opinião alheia. Enquanto se está na zona de conforto na normalidade, seguindo o beabá do que você deveria fazer como um exímio cidadão, ninguém te olha torto. Afinal, você ‘parece’ normal. Mas ao sair dessa estrada principal e começar a trilhar novos caminhos, os olhos ao redor começam a se arregalar para ver onde você está indo. O problema desse olhar é identificar os dois lados: em que ponto ele não se importa com seu rumo e em que outro ponto ele se importa tanto que tem medo que você o leve junto. Nas vezes que ele não se importa, como o gole de coca-cola, abstraia e viva sem neuras. E nas outras vezes, tente leva-lo junto. Quem sabe bem aí você não encontra seu parceiro para ousar.

Temperando a vida.



Foto por: Monica Rodriguez

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A primeira leitura de um autor ou acerca da memória


Quando é a hora? Qual o momento em que descobrimos que não podemos mais viver sem ler os escritos de um autor? E por que um escritor nos toca mais do que outro? E nos toca diferentemente em momentos diferentes? Ando assim. E deliro como se todo livro precisasse, antes, ser desejado, ansiado. Precisasse me atormentar, me fazer resmungar no meio da minha desatenção. Ou ainda rememorado, mesmo quando o escoadouro da memória é maior do que a memória.

Uma das minhas lembranças mais marcantes de descoberta de um escritor vem da leitura de Relatos de um certo oriente, de Milton Haltoum. Na primeira semana de um ano qualquer, somente porque o lia, chorei desesperadamente numa rodoviária entranhada no meio das rondônias. As pessoas me olhavam curiosas; por fim, quiseram me consolar e trouxeram-me um copo d’agua e me ficavam ainda mais atônitas quando eu dizia que chorava por causa do livro que estava lendo.

Lembro com muita nitidez quando li O processo, de Kafka. Rodeada por livros da biblioteca da minha professora de literatura, eu estava apaixonada e, por isso, sentia-me toda intensa, pronta para tudo e abismava-me sem amarras com aquele mundo labiríntico do sem-explicação e com aquela morte absurda no final.

Porém, uma das minhas lembranças mais fortes está relacionada à leitura de Crônicas de uma casa assassinada, de Lúcio Cardoso. Vários dias depois da leitura, ainda sentia o cheiro das violetas podres e do corpo apodrecido entre as violetas, aterrorizada com aquela catarse delirante de revelações. Desde que vi os objetos de Farnese de Andrade relaciono-o com o universo literário de Lúcio Cardoso. Penso que só ele, no Brasil, pode ser comparado a Lúcio:::: a este desespero pelo próprio destino e o da humanidade.

Ainda lembro do primeiro livro que li do Graciliano Ramos, que não poderia ser outro senão Vidas Secas. Li-o numa tarde em que fui visitar uma pintora. Foi lá que descobri que nas pinturas existiam fundos de uma cor só. Eu deveria ter uns onze anos. Mas é da época de São Bernardo que me recordo melhor: aquelas corujas que não paravam de piar à noite se misturaram com minha própria coleção de corujas. Nunca mais deixei de ler Graciliano.

Lembro, ainda, de Cem anos de solidão, do Gabriel Garcia Márquez. As memoráveis primeiras páginas; o gelo que queimava, os lençóis brancos voando... e o mesmo choro que irrompia em mim. Dessa vez, tanto o agora quanto o porvir pareciam maior que o mundo. E havia tanta gente linda ao meu redor::: do adolescente que me olhou com cara de "é claro" quando eu lhe perguntei se já havia lido Cem anos de solidão ao homem capaz de agregar uma porção de leitores ao seu redor, formávamos uma espécie de confraria que se reunia naquela livraria que não existe mais.

Lembro do encantamento com Cantares, de Hilda Hilst, que nunca mais se repetiu em nenhuma de outros dos seus livros que li.  Carreguei-o pra cima e pra baixo numas férias em que estava fugindo de mim mesma. Ou em busca de mim, não sei. Lembro que recolhia pedaços de um amor que, sendo amor, há muito deixara de sê-lo.

Ainda poderia ficar por muito tempo a escarafunchar minha memória, descobrir que a tenho, mas agora ela me pesa muito, como se carregar tanto dentro de mim explicasse por que é preciso que hoje eu esteja fazendo 37 anos, e não menos como gostaria. Paro, então, por aqui, surpreendida com os retalhos do meu passado. Não quero chegar naquela noite branca em que, com O inominável, de Samuel Beckett, dentro da minha bolsa, eu me sentia a pessoa mais feliz do mundo e prometia a mim nunca me dar menos do que a felicidade absoluta. Paro porque existem promessas que não podem ser cumpridas e, por isso, são tão bonitas de serem feitas. 
*

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Magnólia

Eu e minha vida a La novela mexicana nos deparamos, vez ou outra, com acontecimentos surreais a nossa volta – isso quando não é com a gente. Isso me faz pensar que eu, definitivamente, gosto do estrago. Do desassossego da alma. Da ansiedade que prende a garganta. De choros. Noites mal dormidas. Dores de cabeça. Nada de a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. Tem como controlar essas rasteiras que a vida nos dá? Isso porque eu disse que ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro (é, Belchior, não foi dessa vez). Mas se a missão é ir, sobretudo em frente, o que a gente deve fazer? O que passou passou, e o passado é uma roupa que não nos serve mais, no seu sentido positivo de deixar as magoas de lado, ou devemos adotar uma perspectiva radical, o que passou passou, adeus? Justo eu, que sempre quis ter paz. Qual o limite entre a razão e o sentimento? Qual deve, ou deveria ser prioridade nas nossas decisões? Relações? Preocupações? Fico perdida nesse fogo cruzado de dúvidas que atingem a minha cabeça a cada segundo. Quanto tempo dura uma mentira dentro da gente? Algumas, a vida inteira. E o que fazer com ela? Racionalizar? Dar sentimento e cor (afinal, somos todos humanos o suficiente pra errarmos e errarmos e acertarmos e errarmos e acertarmos infinitamente)? A hora errada, o lugar errado, a palavra errada deveria condenar uma vida? Um futuro? O presente? Quanto tempo leva para que o perdão entre dentro da gente? Alguns, a vida inteira. E a gente fala em benevolência, perdão, compaixão, esquecimento e felicidade. E não sabemos nem a metade dos seus significados. E não sabemos também amar nem metade das suas faces. E só sabemos culpar (porque racionalizar é fácil quando não se é o outro). E julgar. E se imaginar naquela situação executando ações que, provavelmente, não estaríamos executando. Ou estaríamos. Nunca se sabe, a vida é imprevisível (e quem disser o contrário está mentindo). E essa imprevisibilidade que fere e vibra, me encanta e angustia, quase que simultaneamente. E a única coisa que não me sai da cabeça é esse tal do amor, tão sonhado. Quanto tempo ele dura dentro da gente? Em mim, a vida inteira.

Ps. A imagem é do filme "Magnólia". Dizem que é a flor do perdão. Vale a pena assistir a esse filme (apesar de denso, tenso)! Se não me engano, tem duas músicas do Supertramp. =)

Trailer do filme

http://mais.uol.com.br/view/a56q6zv70hwb/magnolia-040264D8A963A6?types=A



domingo, 23 de outubro de 2011

Calma, tá tudo bem agora!

Sabe aquele "Calma, tá tudo bem agora!"?
É verdade. Às vezes demora, mas uma hora fica tudo bem.
Depois de 11 anos consegui o emprego dos meus sonhos.
Finalmente deu certo.
Estou com a mesma sensação de quando terminei a São Silvestre: "Sou eu mesmo?"
Só sei que fico esperando o Sérgio entrar no escritório e falar "Pegadinha do Mallandro". Já tem uma semana e isso ainda não aconteceu.
É estranho, a gente deseja tanto uma coisa e quando acontece não acredita.
É como se eu achasse que não mereço.
EU MEREÇO PRA CARAMBA, POXA!!

Queria dizer para uma pessoa que como eu, não acreditava que eu fosse conseguir:
-Se fodeu.

Eu penso em você mais do que eu gostaria. E não é de um jeito bom.



sábado, 22 de outubro de 2011

"Turma da Mônica Velha" ou "Ensaio sobre as peculiaridades do Tempo na Rua do Limoeiro"


Toda criança que se preze tem teorias um tanto curiosas sobre o mundo que a cerca. Eu mesmo já fui criança (por conta de certos desvios comportamentais alguns insistem em afirmar categoricamente que ainda o sou) e também tinha minhas teses. Tinha total certeza, por exemplo, que havia alguma lei que obrigava os adultos a fumarem quando atingissem determinada idade (todos os adultos em minha casa fumavam). Além disso, sabe-se lá porque, estava certo que eu estava fadado a me casar com minha irmã gêmea quando atingisse os 18 anos (não, o incesto não é prática comum em minha família) e que meu sobrenome seria Monteiro e o dela Monteira.

Me lembrei disso porque, um dia desses, uma amiga minha me confidenciou um de seus segredos mais curiosos. Disse ela que, quando criança, se sentia a menina mais sortuda do mundo por ter "nascido criança", uma vez que as pessoas que a rodeavam, segundo seu imaginário, já tinham nascido tal e qual as conhecera, crianças, adultos ou idosos, o que fazia de sua avó uma desafortunada, que já nascera com rugas e sofrendo de artrose!

Os anos foram passando e minha sortuda amiga foi descobrindo que não era tão sortuda assim. Espinhas foram aparecendo, o corpo desenvolvendo e ela adolescendo... o tempo fez sua parte e ela descobriu que, afinal de contas, não ficaria eternamente estacionada em sua condição infantil: adolesceria, adulta seria e, com sorte, envelheceria sem artrose (mas provavelmente com rugas).

Se minha amiga foi sortuda por pouco tempo, o mesmo não se pode dizer dos habitantes da simpática Rua do Limoeiro. Por quase cinco décadas inteiras Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha foram crianças de 5 anos (nunca menos e nunca mais, por mais que fizessem aniversário todo santo ano). Conforme a engenhosa imaginação de minha amiga concebia, os adultos sempre foram adultos e os animais jamais morriam, fossem eles caninos de aparência acentuadamente azulada ou paquidermes verdes estampando latas de molho de tomate.

Nossos heróis e heroínas iam muito bem até que Maurício (uma espécie de Deus deles) resolveu que eles deviam ser todos jovens descolados e modernos! O tempo, tão peculiar na Rua do Limoeiro, passou do nada e lá estava Cebola flertando com Mônica, agora uma periguete. Magali, claramente sofrendo de anorexia, passou a comer "um pouquinho de cada coisa", enquanto Cascão (ah, Cascão...) traiu a curiosa alcunha e passou a se banhar com regularidade espantosa. Os meus ídolos não eram mais os mesmos e as aparências me enganavam, sim!

Mas Maurício ainda não estava satisfeito e os jornais daquela fria manhã de Setembro estampavam na capa o seu mais cruel plano infalível: o tempo na Rua do Limoeiro, o último reduto de eternidade, iria passar pra valer! O jornal anunciava que eles iriam envelhecer em tempo real, ano a ano, aniversário a aniversário, tal e qual acontece com minha amiga!

Confesso que meu mundo caiu por alguma horas, quiçá por alguns dias. Meu rendimento no trabalho caiu sensivelmente, minhas notas desabaram na faculdade... ficava imaginando as coisas mais terríveis que poderia acontecer com eles: a historinha em que queda de cabelo do Cebolinha se acentuaria ao ponto dele ter que fazer transplante capilar, aquela em que Cascão se aposentaria por invalidez, o episódio em que Mônica daria bengaladas nos velhinhos do asilo porque eles escondiam sua dentadura e pixavam nas paredes “Mônica banguela”... até o desfecho óbvio: o último quadrinho! A morte! O último fim no canto inferior direito da página!

Mas o tempo fez seu trabalho de novo e eu fui me conformando com a ideia, tal qual alguns anos atrás minha querida amiga teve que se acostumar com a ideia de que era, afinal, mortal. Percebi que Maurício não estava sendo tão original assim, que tinham inventado a mortalidade muito antes dele e minha amiga até já sabia disso.

Bom, se até na Rua do Limoeiro o tempo insistiu em passar, o jeito é de vez em quando, tal qual na máquina do Franjinha, voltarmos no tempo para sermos crianças de novo... nem que for só um pouquinho!









quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pinóchio

Desde criança ele sabia ser um pouco diferente. De toda sua turma, era o único que não crescia. Mais tarde soube que não tinha mãe porque nunca havia nascido. Havia sido a criação mais estranha de seu pai, Jekyll, que ao finalizar, percebeu ter esquecido do nariz e colocou um pedacinho de madeira no lugar. Seu nome era Pinóquio. Recebera esse nome do pai, um cientista meio maluco, por causa do tão famoso bonequinho de madeira. Pinóquio não era bonito. E nem feliz. Não tinha amigos e nem a atenção do pai, que o considerava uma experiência não muito bem sucedida. Pinóquio quase não falava. As pessoas se assustavam com sua voz estranha.

Mais tarde Pinóquio percebeu que sua semelhança com o tal boneco de madeira era maior do que ele esperava. Seu nariz crescia sempre que ele maltratava alguém. Pra ele isso era o fim, já que ele não via nenhum motivo para ser simpático e honesto com as pessoas. Toda vez que seu nariz crescia, ele o serrava e escondia os pedaços de madeira não usados de seu pai, que costumava bater nele quando o via fazendo mal criações.

Em um dia de tédio, ele construiu uma cadeira com todos os pedaços decepados de seu nariz. Ficou tão satisfeito com o resultado que enxergou ali uma possibilidade. Começou a maltratar mais as pessoas para obter material para suas novas construções. Quando Jekyll começou a desconfiar dos novos hábitos de Pinóquio, ele despejou sobre o pai, enquanto ele dormia, uma de suas poções. Jekyll perdeu a fala e ficou desfigurado perdendo parcialmente os movimentos do corpo. Pinóquio mentia para os outros que seu pai havia viajado e aquele era um tio de longe que veio cuidar dele, chamado Hyde.

As pessoas começaram a se interessar pelos móveis que Pinóquio construía, e não demorou para que ele começasse a ganhar dinheiro dessa forma. Dois anos depois, ele já era dono de uma rede de lojas. Ele chegou a contratar um funcionário só para serrar seu nariz enquanto ele crescia incessantemente. Em contrapartida, era odiado cada vez mais por ser tão cruel com todos a sua volta, inclusive os funcionários de sua fábrica e lojas. Seu pai era alvo diário das crueldades de Pinóquio.

Ele estava ficando cada vez mais rico e, mesmo não sendo exatamente humano, começou a atrair a atenção de algumas moças interesseiras. A primeira, Alice, era linda. Tinha os cabelos loiros e olhos azuis turquesa. Mas acabou ficando louca quando Pinóquio a convenceu de que o gato dela, que havia morrido, aparecia sem corpo para conversar com ele, sempre com um sorriso no rosto. A segunda ele nem lembrava o nome, só se lembrava que era branca como a neve. Essa ele fez acreditar que duendes existiam até o dia em que a moça fugiu para o Pantanal com os seus novos pseudo amigos desprovidos de altura. Uma delas, Fiona, o deixou em paz quando ouviu dele que era daltônica. Ela não era, mas se sentiu aliviada por ter sido convencida de que tinha uma cor normal. Coitada! Ela era verde.

E desta forma Pinóquio ia afastando de algum jeito todas as que tentavam arrancar dele sua riqueza. Fez adormecidas perderem o sono, presenteou borralheiras com sapatilhas de madeira e até convenceu uma tal de Rapunzel de que cabelo chanel era a nova moda.

Um dia, ao caminho da fábrica, Pinóquio viu vários pedaços de madeira jogados do lado de fora, na rua. Indignado, ele percebeu que os pedaços de madeira formavam uma trilha. Seguiu-a furioso. A trilha o levava para uma casa de chocolate no meio da floresta. Ao entrar escondido, percebeu que várias vozes conversavam sobre o que fariam com ele. Uma fada azul tentava convencer uma fada madrinha a transformar Pinóquio em humano. Mas as outras fadas não aceitavam dizendo que ele nunca fora uma boa pessoa, mesmo nem sendo exatamente uma pessoa.

Quando ele ouviu a sugestão aceita pelas fadas, que veio de uma fadinha chamada Sininho, Pinóquio se virou para fugir. Tarde demais! Nesse momento ele já estava em uma floresta que ele nunca saberia o nome de frente para um crocodilo que, estranhamente, não parava de fazer tic-tac.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nós

O plano eram três meses. No final eu estaria sem paciência, sem contas, e com saudade, muita saudade.
Foram dois meses e meio. Sem paciência, com conta, e saudade, uma monstra saudade.
Saudade de muita gente, mas monstra mesmo da Tatiana Carolina Lazzarotto. A que sempre está presente, e a que eu mais negligenciei nesses cansados dias. Acabou Tatiana. Não nós. Acabou os dias cansados.
Nós não, nós vamos aproveitar os próximos dias juntos, sempre. Nós daremos importância ao importante. E só. Nós sabemos onde estamos. Estamos aqui.







Eu te amo.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Moranguinho

Decidi me render a uma brincadeirinha do Facebook em homenagem ao Dia das Crianças. Pelo puro prazer da nostalgia, claro. Até dei umas boas risadas com quem queria discutir como a foto de um personagem de desenho no perfil poderia combater a exploração infantil, entre outras babaquices. Era uma foto só para matar a saudade. E eu matei.

Quase tasquei o Gato Guerreiro, porque eu era fã de carteirinha do He-Man. Mas não. Teve outra personagem mais marcante na minha infância. E tão marcante foi que povoou minha festa de 1 ano, a primeira de muitas superproduções elaboradas pela minha mãe.

Embora Moranguinho tenha me homenageado, nunca tive a boneca. Talvez por isso eu era tão fissurada pela sua imagem. Talvez por isso, ou nem pensando nisso, meu pai se aproveitou da minha inocência e me contou uma história igualmente inocente. Disse que sabia onde morava a Moranguinho. Era uma casa na rua Ernesto Beuter, bem no Centro da nossa pacata cidade. Uma casa azul, com janelas brancas, decoração singela, com detalhes trabalhados na madeira e um jardim de flores coloridas e árvores frondosas. Casa de boneca.

Acreditei piamente nisso. E toda vez que meu pai fazia menção de sair eu chorava para ir junto e ver a Casa da Moranguinho. Ele estacionava o carro do outro lado da rua e eu ficava por longos minutos contemplando a casa. Era um dos meus grandes prazeres de criança.

Nunca vi a Moranguinho. Hoje tem uma grande loja de móveis construída no lugar. Queria que a casa ainda estivesse lá, para poder bater na porta e agradecer ao morador por ter tido uma casa tão bonita, que alimentou minha fantasia. Sou uma das poucas crianças do mundo que conheceu a casa do seu ídolo. Por mais que seja uma casa de verdade abrigando um desenho e que isso não faça sentido algum, eu tive sorte. Tenho sorte de ter vivido num tempo em que a gente não precisava fazer sentido. Tenho sorte de ter a imaginação a meu favor. Tenho sorte de ter tido um pai paciente aguardando que minha imaginação viajasse em coisas sem sentido.


domingo, 16 de outubro de 2011

Até o Bandeira sabia...

"A vida inteira que podia ter sido e não foi."

Às vezes me pego pensando sobre as diferentes decisões que tomamos e como elas influenciam a nossa vida. O pior que muitas dessas decisões são tomadas sem qualquer razão ou lógica, isso é demasiado inconseqüente, se lembrarmos que temos uma única vida, como já dizia Vinicius de Moraes.

Lembro-me de F. L., com 2 formações acadêmicas na USP, perspicaz de uma beleza não óbvia que se notava somente após o engate adequado de um assunto.Hoje, perto dos 30 anos, na segunda gravidez, dona de casa e casada com um semi-analfabeto, a vida a desgastou a ponto de se satisfazer intelectualmente com o maniqueísmo da novela das 8.

Pior é a K., com a vida toda pela frente, que não consegue se livrar do stalker que acabou namoro por ter um relacionamento secreto com a prima, desde então já pensou em ser lésbica, em dar fim à vida e agora quer se encontrar com as artes. O mundo ainda não a viu como deveria.

Assim como B. que desde a adolescência almejou a vida de sua mãe, mesmo sabendo que o pai o fazia sofrer, ela via como nobre o fato da mãe se manter totalmente submissa. Apostou num namoro de quase 10 anos, que atravessou a adolescência, traições algumas pequenas e o hábito das maiores, fizeram o mundo ruir, muito mais por ele do que por ela. O mundo hoje é um quarto fechado.

Tudo poderia ser diferente, afinal o mundo é tão grande, tão cheio de vias asfaltadas ou mesmo de terra batida, que ora chove, que faz sol. Clichê, bem clichê, mas um dia qualquer pode mudar a sua vida, com uma simples conversa ou mesmo o oferecimento de um café.

Esteja sã, esteja livre.

sábado, 15 de outubro de 2011

Enjoy the silence

As pessoas só querem saber da sua desgraça se puderem rir dela. Caso contrário, é melhor você sofrer quietinho. Pronto, calei.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Alma velha em tempos modernos

Depois de algum tempo aparece uma remota idéia do que somos .Muito fraca,quase como uma nuvem, sempre nos deixando na dúvida..
Já passei dos vinte, sem glória, é verdade.Ainda navego nos trinta ,mas muitas vezes sem saber o que sou.
Nem deveria confessar isso.É quase uma ofensa a humanidade,mas não sou empreendedora.Ah, gostaria de ser, desbravando o mundo e construindo meu império. Mas não sou .Nunca acordo de bom humor nem sou invadida por essa certeza de que tudo vai dar certo. Não olho o relógio e penso que faltam poucas horas para ser bem sucedida.
Rainha dos imprevistos, resolve tudo? Passo longe .Penso demais, me atrapalho, perco tempo em detalhes estúpidos. Rápida, ágil, uma raposa ? Também não sou.Em ambientes corporativos perco horas analisando as pessoas.Por que agem assim ou assado ? Perco mais tempo pensando do que trabalhando.
A filha dos sonhos ? Nunca fui. Esperavam muito de mim, para não decepcionar não fiz nada da lista. Hoje meus pais pensam que o que acontecer de bom comigo é lucro.
Tantas mulheres se dividem em mil .Se eu me divido em mais de três pedaços, já reclamo. Não tenho como lidar com tudo a minha volta e ainda estar impecável.
 Ganhei uma chapinha de Natal com secador.Não usei ainda porque não li o manual e fico com medo de explodir minha casa.Mas hoje as mulheres usam elas antes de ir trabalhar.Eu uso rabo de cavalo.Nada me representa mais do que meu rabo de cavalo.Gosto do vento, do mato, de sair correndo.
Quando me enchem o saco,dizendo que esperam mais de mim, eu aviso que já estou velhinha.Não estou, mas digo  estar,que culpa tenho eu que a velhice da minha alma não seja parecida com minha jovem pele ?
Mas vou confessar outra coisa: acho lindo ser empreendedora,acho chique.Mulheres poderosas,no seu salto,comandando uma empresa.Me sinto uma formiguinha, aqui na minha vida, tentando a duras penas comandar minha existência.
Tento ser diretora da minha vida, comandar os departamentos que estão na minha alma.Tento dar algumas férias a alguns, pego no pé de outros.Mas pra mim é muita coisa. Sei o que não sou e o que posso ser.De todos modos me atormento.Sobra pouco tempo para ser empreendedora.Coisa da minha alma que pertence ao século XIX .As vezes acontece isso no mundo,chegamos com uma alma velha em tempos modernos.

domingo, 9 de outubro de 2011

um ano de adeus

adeus à vida de andarilha carregando malas baratas que perdem alças de sofá em sofá.
 
adeus à incerteza laboral de muito esforço e pouco retorno que destroi auto-estimas.

adeus à ingenuidade imaginativa a respeito da reputação ilibada alheia.

adeus à paciência com os sangues do meu próprio sangue.
 
adeus ao dinheiro extra após o dia 10 de cada mês
 
adeus à ideia de que all you need is love.
 
adeus a esse blog.


sábado, 8 de outubro de 2011

Mudando


Esse ano mudei de casa;
mudei de carro;
mudei de serviço;
estou mudando de década;
estou mudando de horário;

Explicando:

Esse ano mudei de casa,
na verdade voltei para casa dos meus pais, construi em cima (puxadinho)
porque não dava mais para pagar aluguel, percebi que não teria dinheiro para
comprar uma casa tão já, e condomínio tão pouco.A casa é pitica mais é toda
colorida, novinha, fofa.

Mudei de carro,
o carro é da família, eu ainda vou de ônibus, o carro anterior vendemos para
poder construir, ficamos uns dois anos a pé.O carro é um uno, não o novo uno, uno
velho 2006, verde quadradinho, perfeitinho.

Mudei de serviço,
Na verdade mudei de local, o serviço é o mesmo, mas sábado mudamos de prédio, e a
mudança quem fez foi a própria equipe no final de semana, troquei a dor nas costas,
pernas, suor e acordar cedo no fds por duas folgas, valeu a pena.

Estou mudando de década,
Fevereiro completo 30, estou aproveitando os últimos instantes dos meus 20 e
poucos (muitos) anos. Passo tão pouco tempo com o espelho, que, tirando um punhado
de cabelos brancos, não acho que vai mudar minha vida. que venham os 40.

Estou mudando de horário.
Sempre fui noturna, adoro as três da madrugada. Agora acordo às 5:00 e meu corpo
sente sono às 22:00, meu marido começou a trabalhar essa semana,também cedo, vou
colocar meu filho de manhã na escola, até a gata dorme cedo. Onze horas aqui em
casa, está tudo apagado, paz.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ama-me Menos, Mas Ama-me Por Muito Tempo



Ismael, Julie e Alice:  Ménage À Trois
      Estava lá eu, no trabalho, acessando o Facebook pelo celular, quando um amigo me envia a mensagem:  “Adivinha o filme que estou vendo?”.  Não foi difícil descobrir.  Sabe aquelas pessoas obcecadas por um filme, capazes de assistí-lo todos os dias?  Então.  Esse é o caso do meu amigo, doido pelo longa “As Canções de Amor” (Les Chansons d’Amour, Christophe Honoré, 2007).  E ele não é o único.  Protagonizado pelo queridinho Louis Garrel, o filme coleciona fãs ardorosos pelo mundo inteiro, inclusive esse que vos escreve.  Tá, eu não chego aos pés do Rodrigo  - o meu amiguinho, do começo do texto -, mas há como resistir ao clima de romance do filme?  As musiquinhas deliciosas cantadas pelos protagonistas, nas ruas de Paris?  Não, né?

   Mas pera...  É um musical?  É - e não é.  Se você espera algo no melhor estilo "A Noviça Rebelde", cai fora.  Les Chansons é modernoso; as músicas são extremamente pops, daquelas que grudam no ouvido, e os números tem um quê de videoclipe.  Portanto, até aqueles que não são muito chegados ao gênero se rendem ao delicioso triângulo amoroso formado por Ismael, Julie e Alice.  Até que Julie morre e a vida de todos vira de ponta-cabeça, abrindo novos caminhos, novas possibilidades.  Aliás, esse é o charme do filme.  O enredo caminha para um lado diferente daquele que a gente supõe, como a vida deveria ser.  Afinal, quem nunca se encontrou numa dessas esquinas, sem saber qual  caminho  se deve seguir?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pensamentos avulsos.

Esse mês resolvi publicar só umas coisinhas que vieram passar pela minha cabeça nos últimos tempos. ;D

  • Eu voltei a ouvir Maroon 5. Também, pudera. O show dos americanos no Rock in Rio foi tudo: empolgante, emocionante, recheado de hits, embebido no carisma e no apelo de Adam Levine, talvez o grande frontman da atualidade. Mas não chega a ser essa a questão. O ponto está no porquê, afinal eu havia parado de ouvir Maroon 5. Más lembranças são capazes de estragar nosso discernimento musical. Mas nada que o tempo não resolva, não é mesmo?
  • Algumas semanas atrás o meu blog pessoal, O Anagrama, teve seu pico de visitas em toda a história de 2 anos que construí com ele. O motivo foi um texto em que eu criticava a atuação de Alex Alves, crítico de um dos maiores sites de música do Brasil, o Popline, e aproveitava para alfinetar a Revista Veja pelo caminho. Alguma alma caridosa enviou para o próprio, no Twitter, meu artigo. E ele, vejam só, o linkou no seu perfil, deixou comentário e a coisa toda. Estranho perceber que às vezes as piores pessoas para criticar o trabalho dos outros são as melhores para receber críticas com, no mínimo, alguma educação.
  • Estou feliz. Não sei explicar o por quê, não mesmo. Só estou. Ontem a noite me dei conta, desligando a música e me preparando para ir dormir, que esses últimos meses da minha vida escolar não podem simplesmente passar como todos os outros passados. Eu tenho só mais um bimestre! Do quê eu vou me lembrar? Para onde eu vou a partir daqui? Não sei se estou pronto para um vestibular (provavelmente não), mas de qualquer forma ano que vem as coisas mudam. Talvez, ou melhor, com certeza esse é o momento de aproveitar o que tenho. E que assim seja.
  • UMA NOTA DE ÚLTIMA HORA: Ontem morreu o fundador e presidente (até poucos meses atrás) da Apple, Steve Jobs. Apesar das piadinhas no Twitter, apesar de muita gente desrespeitando, o legado dele é muito maior do que se imagina. Steve revolucionou a forma como ouvimos música e nos relacionamos com o mundo, além de ser um gênio criativo. Nas palavras do diretor de cinema Kevin Smith no Twitter: “Obrigado por nunca se contentar com o jeito que as coisas eram durante uma vida dedicada a nos mostrar o jeito que as coisas poderiam ser”. Esse post é dedicado a ele. In memoriam: Steven Paul “Steve” Jobs (24 de Fevereiro de 1955 – 05 de Outubro de 2011)

UM BOM OUTUBRO PRA TODO MUNDO.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011



Quero escrever uma carta pra você. É só mandar seu endereço por e-mail: ccomunicador@gmail.com

terça-feira, 4 de outubro de 2011

POESIA NÃO SERVE PRA NADA

(por Gilberto Amendola)
Li o seu futuro na borra de café. E eu não estava lá.
Poesia não serve pra nada.
Se não é dedutível no imposto de renda, não existe.
Meu contador é quem disse.
Não é commodity. Não tem valor de face. Nem quando é sua a cara impressa no papel moeda.
É sacrifício sem redenção. É a redundância do 'pra sempre não'.
Não é feijão com farinha. Não enche barriga. Embora possa, sim, alojar-se feito lombriga no interior de quem crê.
Creia.
Em mais esse placebo.
Num deus que largou o emprego e abriu um bar.
Poesia não serve pra nada.
É ponte suspensa no ar. Caminho pra lugar nenhum.
Por que mudar o curso de um rio que já secou? Se quer ver transbordar fantasmas, eis me aqui.
Poesia não serve pra nada.
É como um eco solitário que se expande aborrecido e sem propósito. É o infinito vulgar. O tédio em seu estado mais puro.
Poesia não serve pra nada.
Você não veio.
Mas é setembro. E em setembro eu fico burro.
Burro feito um cão.
Vou tentar uma segunda invenção- um parangolé da minha alma urbana.
Quem sabe você não me confunde com alguém bacana.
E me chama pra dançar.
Poesia não serve pra nada.
– Vai ser Romeu pras tuas negas - você não disse, mas, talvez, tenha pensado.
Desastrado.
Não quer ser musa?
Pior seria sereia muda.
Não obstante, esse meu mau momento, você ainda é o enredo.
Não leia nas entrelinhas.
Está tudo claro, com seu sujeito, verbo e predicado.
E as instruções estão no verso que eu te escrevi.
A primavera basta.
Poesia não serve pra nada.
Hieróglifos para o coração. Caverna decorada por emoticons.
Não a luz que entra pela fresta da janela, mas a própria fresta.
Ponto cego.
Esmola que eu não pedi. Moeda jogada no meu chapéu.
Pobreza, não. Miséria.
O motivo da minha cabeça oca. A sorte dos seus pés de vento.
Ferrugem que o tempo deixa como herança. Espólio da separação entre aquilo que se quer dizer e aquilo que conseguimos, com muito custo, espremer.
A limonada dos fracos.
Poesia não serve pra nada.
Não é cobertor. Não é professor. Não tem ciência, nem engenharia. Muito menos anfetamina. Se me faz perder o sono, a culpa é minha. Você não vem mesmo. Já entendi, já entendi...
Poesia não serve pra nada.
Pó no antiquário do futuro.
Tosse seca.
Ácaro no sofá sem dono.
Disco riscado girando canções sentimentais no gramofone da memória.
Pule essa faixa.
Poesia não serve pra nada.
Não é a cura de coisa nenhuma.
Pura indigência. O trapo dos dias ruins (e bons também).
Não insista, niilista.
Poesia não serve pra nada.
Tente construir uma ponte, levantar um muro, erguer uma obra qualquer. Ser estátua em dia de chuva ou derreter no calor?
Você tem razão. Sou apenas mais um charlatão.
Não sei ser útil.
Poesia não serve pra nada.
Ou talvez
Mas muito talvez
Tenha algum propósito escuso, como esse absurdo que é gostar de você.
Poesia não serve pra nada.
Alguém em algum lugar será feliz para sempre.
Não eu.
Lembra?
Eu li o seu futuro inteiro na borra do café.
Eu sei o que vai acontecer.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Resoluções de Férias


1- Só acordar quando estiver totalmente descansada.
2- Nada de sapatos. Só chinelo, pé no chão, ou no máximo um tênis super confortável.
3-Nada de comida esquentada no microondas. E nada de engolir tudo em 15 minutos. Vou mastigar como se deve.
4-Guardar as roupas sociais no fundo do armário.
5- Não, não levar o computador na viagem, de forma que post vai ficar previamente agendado, porque viajo daqui alguns minutos, e quando esse texto for pro ar não quero nem lembrar que internet existe. Tchau, e-mail. Tchau, Facebook. Vou estar nessa rede ai abaixo, de pernas pro ar, cantando Caymmi.




*"O mar quando quebra na praia é bonito, é bonito..."