Saí de uma grande escola da locomotiva do Brasil para uma escola pequena, com muita grama no pátio e pessoas que iam para a aula de chinelo. Conheci pessoas ótimas, amigos incríveis e entre um deles estava uma loirinha de cabelo cacheado que me disse a célebre frase e que nunca mais desgrudou da minha cabeça: ‘Tudo passa, até uva passa’.
Eu levo essa frase comigo pois, além de soar engraçada, é quase um mantra.
Estive viajando por dois meses, américa latina afora, e esqueci dos meus caprichos com meu corpo. Esqueci que tinha que cortar o cabelo, abandonei a pedicure no primeiro mês e nos últimos quinze dias também a manicure. Troquei minha cera para depilar por um gilete, o que me causou alergias complicadas. E também deixei de lado a hidratação nos fios, o meu shampoo preferido, o secador de cabelo e o “filha, não durma de cabelo molhado!”. Não é que eu seja muito fresca, mas gosto de me sentir minimamente bonita (o que vem de um largo quadro de auto-estima – bem - baixa).
Enfim, cheguei no Brasil no domingo e hoje resolvi fazer a loca no salão de beleza. Pode cortar! Corta um ou dois dedos, mantenha o mesmo corte, por favor. Reparou que ele é mais curtinho atrás e compridinho da frente? Queria desse jeito mesmo.
Tesoura pra lá, pra cá. E eu de costas pro espelho (grande cagada) fazendo a unha do pé. C’est fini. Cabelo cortado. Do jeitinho que eu queria, só que ao contrário – literalmente. Estava curto na frente, comprido atrás e 4 dedos menor.
A dificuldade de entender isso, gente, juro, não sei. Tá que não é tarefa fácil cortar um cabelo, né. Mas a moça ta aí pra isso né, se propõe a isso, recebe pra isso e faz isso a pelo menos 10 anos. Custava dar ouvidos pra cliente e não brincar de fazer as coisas ao revés?
Ok. Chorei saindo de lá. Chorei no caminho pra outra cabelereira que tentou me consertar. Chorei saindo da outra cabelereira. Chorei entrando em casa. Quando me vi no espelho do banheiro, no reflexo da televisão, na porta do microondas, na webcam com uma amiga. Chorei muito, mas muito.
Quando veio a loirinha cacheada desse meu primeiro parágrafo e disse bem la dentro do meu inconsciente (ou subconsciente, ou consciente mesmo – confesso não saber diferencia-los): Hey, que tanto você chora, menina? Não sabe que tudo passa, até uva passa?
Engoli o choro. Minha mãe bem tinha me falado isso, mas sabe quando você se força a não acreditar? Foi quando lembrei dessa frase, e lembrei que eu já apliquei ela em tantos momentos, mas tantos! E ela é um dos grandes motivos que me levam a não sofrer com muitas coisas. Sofro, claro, como qualquer pessoa sofre. Mas aprendi a sofrer menos, e a deixar passar o sofrimentos e encarar a “tesoura errada” dessa maneira: PASSA. PASSARÁ.
E, realmente, sempre passou. E não digo que sou preguiçosa, muita coisa passou porque eu tive que solucionar. Mas, no fim, passa.
Coisas chatas aconteces. Mas quem decide quanto tempo durará esse sofrimento é você, e só você. Ou eu, no caso do meu cabelo. Já tá passando, tá?
- cheguei do mochilão domingo! desculpa não postas no mês passado, mas estava dentro de um ônibus, onde passei 22 “maravilhosas” horas.
- prometo no mês que vem escrever algo da minha viagem, ok?
- imagem: f.Olb