quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Final


Olegiev pensou em mundos. Muitos mundos possíveis. Havia tempos ele perdera a noção de quantos mundos. Se o que ele viveu de fato foi algo a ser contado como uma só história. Quandos mundos são possíveis de serem alçados? De quantos mundos são feitos os cabelos, as histórias e as vidas. Natasha hoje era só uma palavra bonita de ser dita quando pensamos em alguém. Especialmente russa, Natasha. Enquanto passava o tempo se lembra também de outras eras e nomes.Vassili e a batalha perdida.Perdido em algum tempo depois ele retornaria a cidade onde nasceu. Reza a lendas. Alexis também reza a lenda pendurou suas armas na estante. O tempo nos deixa arrogantes e nos faz crentes de que nossas batalhas são as batalhas que valem a pena ser vencidas. Mas não, o mundo é feita de guerras tanto quanto de vasos de plantas e equipamentos multidimensionais velhos. Após Natasha ter voltado do portal, muito se disse sobre o que aconteceria. Revoluções, soldados, golpes, paz, etc. Palavras que se diz quando se fala de política, mas Nikolai só disse:"Perdemos". Nada mais. Soldados não vieram, preferiram repetir palavras onde pudessem. A coisa toda continuou como estava. Batalhas perdidas também são batalhas. Se são são perdidas, devem ser recontadas e renomeadas.  Nikolai voltou pra casa anos depois sem ter entendido o que teria dado errado. Afinal, era só gritar 

 Nomes que passaram a ser somente nomes. Palavras que se esquecerão nas brumas de mil tempos e mil mundos. Enquando estamos aqui sentados à beira da existência, contemplamos  a vaga noção de que fato existimos. Escritos num papel feito de carne. Ele se lembrava de muitas e muitas histórias. Desconexas entre si, inacabadas, intrincadas tecidas com instrumentos de madeira ou de metal, cabelos, tesouras e desejos. E enquanto pensava sobre os mundos possíveis, os mundos visitados e os abandonados, pensava realmente sobre o que significava tudo aquilo. Ser alguém é ao mesmo tempo não ser algo, mas como sabemos que não somos ou somos algo? Disperso em tempos diversos e incapaz de saber quem foi ou o que fui, ele se lamenta ter passado tanto tempo achando importante ser algo que teima em se dizer EU. Um nome ou palavra pra dizer que aquelas histórias pertencem a mesma ordem de coisas. 

Ele continua a pensar sobre os muitos mundos possíveis. Os muitos lugares que não terá tempo de voltar ou de conhecer. Nada disso importa agora. Ele já se decidiu. É hora de dar um fim. Uma solução prática às vezes existe. Outras tantas vezes não. Ainda que esse fim venha com a dúvida sobre sua vida.Se pode chama-la de vida e, principalmente ,se pode chama-la de sua. Quem vive nossas vidas quando nossas vidas podem ser muitas? Quando acaba-se o espião, o militar, o militante, o homem, a mulher e o velho de todas horas. Eu ou eles, posso ou pode-se dizer que não existo. As vidas como as histórias acabam.Tristes, fugazes, intensas, ébrias, alegres, felizes ou nada disso. Histórias são como os mundos possíveis que passamos. Simplesmente assim. No final, só resta morrer ou acabar a história.Do último ponto final só adiante o que se vê é um espaço em branco. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

soluções práticas - parte 26 (ou FORA TEMER)

Entrou e sentou nos fundos. Cansada de carregar o peso nos braços e mãos, olhou para uma delas e viu a vermelhidão, era tanta coisa na sacola do supermercado que sentiu raiva de ter comprado. Raiva do que, ali só tinha arroz, macarrão, óleo e outras coisas básicas para fazer o jantar.  Mas o que pesava mesmo era o cansaço do corpo, da mente.

Eliolete era a filha mais velha de um casal de nordestino com cinco filhos. Trabalha como balconista na 25 de março, com um salário mínimo mais comissão. Comissão rara que quase não dava em nada. Era a crise, os outros diziam, ela por muitas vezes repetia sem saber ao certo por quê. 

Moradora do Brás, nos cortiços em 2 cômodos que mais parecia um. Dividia o banheiro com outras seis famílias, e os dois cômodos com uma amiga. A estudante do quarto ano de história que ganhou uma bolsa de estudos pelo Enem.  Amiga Lena, assim Eliolete a chamava. 

Lenira era uma feminista, independente, aguerrida na luta pelo fim da exploração. Defendia o livre direito de pensar e a liberdade  do corpo, a ponto de desejar e rolar com quem fosse. Mas pouco conseguia viver a liberdade - da mente – essa era a mais difícil. Namorada do cara mais machista do movimento. Nem ela sabia o motivo. Era excitação só podia ser. Também dependência  financeira. Largou a família porque não aceitava o machismo, violência e opressão do pai.

Mas o que perturbava era ver a irmã apelidada de Laia ser tão obediente ao homem que lhe expulsou de casa. Larina de 17 anos era irmã mais nova, frequentadora da igreja, do coral e secundarista, participava dos atos e movimento escondida da família. Recentemente levou uma surra do pai por que apareceu em foto divulgada na internet, aquela pendurada nos muros com um punho cerrado pra cima pedindo o “fim da reorganização das escolas”.

 Larina se desdobrava entre a igreja e as reuniões auto-organizadas, boa aluna tirava notas altas, aplicada na hora da explicação não olhava para o lado, gostava de poesia, musica e daquele menino. Mas também sem grandes apegos. O objetivo era mesmo a universidade, prestar vestibular para engenharia. E mudar a engenharia do sistema só para homens.

O pai controlava seus passos, tinha planos para casá-la com o homem mais abençoado da igreja, o diácono de 42 anos. Também político e deputado federal engajado pela Escola sem Partido, dizia constantemente ao pai de Vânia que era a escolhida de Deus para ele.

As filhas da dona Julina, casada há mais de 25 anos com mesmo homem e primeiro namorado.  O pastor e comerciante que participava do congresso para empresários e ia religiosamente todo final de semana a igreja. Rígido, expulsou a filha de casa por ser feminista, a mais nova trazia na linha, porque ia ser gente, nada de protestos nesta família. Com ele a conversa era na pancada. Deus não se agrada de baderna, quer ordem e só existe progresso quando obedecemos. Protestar somente quando eles ordenarem.

A maioria era político e ele também almejava um cargo assim, se candidatar para vereador, deputado, prefeito, governador ou quem sabe presidente. Pastor Antônio, não faltava nos cultos. Principalmente os que Verona estava. A mais nova convertida, de prostituta a diaconisa. Que mulher! Que corpo! Que oração! A cada som da sua voz, seu corpo tremia. Mas chorava pedindo a Deus perdão, por esse sentimento e sensações.  Na última direção de Deus, ofertou um carro. Deus é que sabia, era tanta culpa que só assim para sentir paz.

Julina era mulher extremamente bonita, tinha mais de 50 anos, mas com ar de 40. Mesmo com rugas, tinha no rosto a expressão de pouco ter vivido. O sofrimento não transparecia nos traços marcantes. Os cabelos tingidos de preto para esconder os fios brancos na menor lavagem ou retoque da raiz transbordavam sensualidade, aquele cabelo no vento, as pernas torneadas, com seios fartos, bunda arredondada e quadril roliço caiam perfeitamente nas saias longas. Discreta. Mas evidente, notada onde quer que passasse.

Gostava de se vestir para si, mas detestava quando era recriminada ao colocar uma calça jeans, onde tudo ficava mais evidente. Aceitava que os anos tinham sido generosos mesmo com todo desgaste no casamento e enfado de vida.  Andava cheirosa e adorava sair sozinha à tarde quando o marido estava no comércio, sentia um ar de liberdade.

Mais alegre que de costume, ninguém percebia nada, nem os filhos e menos ainda o marido. Por acaso, numa tarde conheceu Alzerina, mulher inteligente, com papo interessantíssimo, proprietária de loja alugada de artesanatos e professora de filosofia aposentada. Suspeitava ser lésbica. Mas não perguntava.  Alzerina gostava de conversar, de ficar por perto. E com ela sentia o prazer da conversa e atenção que o marido não tinha. Esquecia do peso das mãos do marido. Sentia que de certo modo, nestas conversas era livre.

Eliolete não entendia a família religiosa que vivia no inferno. Menos ainda da exploração que a amiga tanto falava. Mal compreendia qualquer significado do por que é tão pobre. Largou os estudos no primeiro ano do ensino médio. Veio para São Paulo para ficar com uma tia.
A tia fazia dela empregada. Dava uns empurrões quando não fazia algo certo.. Já que é assim, apanhava do pai lá, não ia apanhar aqui.

Desde então é só. Mas tem facilidade para fazer amizade. Faz com quem quer, tenta ser solidaria, mas se abusar e moscar vai ver o retété. Às vezes tem um affer e outro que logo acaba em meses ou em anos, mas acaba. Usa o pouco para se divertir, não quer ter filhos: pra quê sofre o que sofri? Era mais livre do que alguns podia imaginar.

Chegou. O próximo ponto já era o seu. Quando desceu, deu de cara com uma manifestação com muitos cartazes e bandeiras, na grande maioria vermelha e preta. Lembrou que a comissão do mês não veio sequer para fazer a feira. E continuavam dizendo que era a crise.
Crise ela vivia desde pequena, pensou.

Subiu as escadas, abriu a porta, deixou as sacolas na mesa. Flexionou as mãos para a dor e marcas passar. Falou oi para Lúcia  que estava varrendo a casa, foi em direção a janela e ficou olhando a manifestação seguir com cartazes e gritos de: FORA TEMER, FORA GOLPISTAS!

Pela primeira vez, aquilo fez algum sentido. Virou-se para a Lúcia e Lena e disse:
- Vamos?
 Desceram as escadas, abriram o portão e correrão na direção da manifestação para gritar:
FORA TEMER, FORA GOLPISTAS!

Lenira conhecia bem esses rompantes, era o começo de. Eliolete, não entendia, mas queria estar ali e continuar gritando com toda as forças e ar dos pulmões.

sábado, 27 de agosto de 2016

sobre ser professora



noite dessas, numa aula, após advertir que cada pessoa cria as narrativas de si, a ponto de embaralhá-las, falei sobre a minha longa experiência como professora. mais de vinte anos. iniciei a docência na pré-escola; passei depois pela alfabetização. e enquanto cursava Letras, ministrei aulas de alfabetização de jovens e adultos, ensino fundamental e médio. experienciei praticamente todas as etapas do ensino. a maior parte do tempo na escola pública. foi esse histórico que me levou a desejar ser professora universitária quando já tinha um emprego público estável e muito rentável. quando saí do Tribunal de Justiça, do cargo de revisora, estava tão convicta de que jamais me arrependeria que até hoje me recuso esse arrependimento, pensando que, se tivesse continuado lá, estaria frustrada por não ter tentado o que eu realmente desejava então.

e o que eu desejava então era ser professora universitária. e assim foi. e assim é. durante esse tempo - oito anos - tive duas grandes crises em que o quase arrependimento foi meu guia. na primeira crise, uma viagem para Belém, onde encontrei um grande amigo, me salvou. sua gargalhada, suas questões difíceis direcionadas a mim e, principalmente, o fato de ele me fazer lembrar quem eu era, foram cruciais para as decisões que tomei, de modo que atravessei essa crise com lindas realizações. agora, vivencio a segunda crise. e não sei ainda o que me salvará. o certo é que eu tenho sempre muitas "boias" --- e um tanto de visão sobre mim e sobre os outros que devem me proteger mais uma vez.

as crises vieram da minha relação com a instituição "universidade" e, por ora, sinto que ainda não tenho uma visão definida diante de tanto "horror e iniquidade" que talvez eu presencie. deixemos, por enquanto, o talvez aí. por outro lado, poucas vezes, senti-me atropelada pela relação professor-aluno, apesar de carregar no bolso histórias tristes que envolveram grandes decepções. e agora, quando vejo alguns acontecimentos de disciplinação dos corpos por meio de atos que se assemelham ao que se faz, ainda, em escolas de levar alunos indisciplinados para a sala da direção (ou orientação), sinto um certo alívio no meio da minha atual crise de docência: nunca levei um aluno para a sala de direção. e sempre achei que tal gesto exemplificava mais o fracasso do professor do que a suposta rebeldia do aluno. daí, porque, intuitivamente, sempre pensei que era preciso o enfrentamento, o "face a face". sim, porque a relação professor-aluno envolve afeto. e como tal, atritos. eu nunca levei aluno para a "sala de direção", mas já fui levada.

há uns três ou quatro anos, metade dos estudantes de uma turma que eu lecionava contratou uma pessoa para fazer o trabalho final. bastou a leitura de uns três para perceber que o estilo era o mesmo. senti-me ferida naquilo que era um das minhas maiores "vaidades": apesar de uma concepção de avaliação que me fazia não reprovar alunos e deixar isso claro desde o primeiro dia de aula, sempre havia tido adesão aos trabalhos nem sempre fáceis que eu propunha, de modo que anulei os artigos e propus outra atividade, mas os alunos, tanto os que haviam comprado o trabalho quanto os que não haviam, não aceitaram. e levaram-me às instâncias superiores. perdi de forma humilhante, porque afinal eu só tinha como prova o fato de saber reconhecer o mesmo estilo em textos diferenciados. apesar de todos saberem, inclusive os alunos, de que eu estava certa, derrotaram-me pela via da legalidade (se no meu plano de trabalho, havia que o trabalho final era um artigo, não me era mais possível mudar). foi a primeira e única vez que me senti verdadeiramente humilhada pelos alunos e por alguns de meus colegas de profissão. e não nego que desde ali houve uma espécie de ruptura com o encanto que até então eu estabelecia com a sala de aula (como o único lugar onde não me sinto nervosa ao falar em público), no entanto soube de imediato reconhecer o meu erro e meu fracasso. havia ali uma prova de fogo para o que eu havia estabelecido como ética "professoral". a opção que me foi dada era corrigir os trabalhos. eu poderia tê-los corrigido e usado o artifício de reprovar alguns deles (sim, o professor ocupa uma posição que lhe permite isso). mas eu não o fiz. passei a turma toda. um pouco porque me sentia incapaz de reler aqueles textos, um pouco porque não queria me ressentir ainda mais. sem discutir, sem reclamar, sem apelar para qualquer outra instância, dei nota 100 a todos. e me impus um esquecimento que era da ordem da crença. pois eu não podia desacreditar da relação professor-aluno apenas porque carregava a partir dali uma experiência infeliz. quando, um dia, um dos alunos me apontou a pessoa que havia escrito os trabalhos e eu nada senti, com um "dar de ombros" que queria dizer "já passou", acreditei que havia passado pela prova com a maior dignidade possível. e agora posso falar sobre isso desta maneira como agora falo: os alunos não foram honestos comigo, porém eu poderia ter escolhido uma via de "negociação" menos autoritária, poderia, por exemplo, ter deixado que eles escolhessem qual solução daríamos, e não simplesmente ter feito como fiz ao anular o trabalho.

para me contrapor a um discurso que, sob a égide da falsa relação de equidade, afirma que "professor e aluno são iguais", sem discutir as tensões que se estabelecem, tenho afirmado que há uma assimetria na relação professor e aluno que não é pouca nem irrelevante, uma vez que ocupamos lugares distintos e temos responsabilidades distintas. e penso que a maior dificuldade é justamente esta: admitir a diferença, a alteridade, e daí construir uma relação que diga respeito às razões de convivência entre o professor e o aluno, que são múltiplas, mas que passam, sobretudo, pela construção de saberes.

para ocupar o lugar de professora, é preciso ter maturidade para saber que o corpo do aluno responde a outras injunções e há nele um certo "desrespeito", uma certa falta de cuidado que deve mesmo ser instigado, pois é preciso lhe avisar do direito à indisciplina. isso não significa se sujeitar, evidentemente, mas significa saber quais são os modos adequados para tratar os atritos - que são também afetos. sem isso, é fácil entrar nessas histórias tristes de perseguições, de rancores, de "força de polícia". abdicar do direito de levar o aluno à "sala da direção", para mim, sempre foi o modo mais legítimo de acreditar que o face a face é a maneira mais desafiadora de tirar dessas tantas diferenças o que há de melhor dessa convivência, e não o que há de pior. 
 
nesses tempos duros, em que trabalho em uma universidade que reitera sistematicamente um discurso de desqualificação da prática docente, ainda me permito estabelecer um outro tipo de soberania::: a soberania de pensar que nenhum educador deva levantar sua mão pesada sobre as insubordinações, sobre os não-ditos e os ditos. pelo contrário, deve averiguar incessantemente onde - em seu corpo - estão as suas próprias insubordinações. e construir, a partir daí, um lugar comum possível com o estudante - seu outro.    

(meu dia de postagem era ontem, mas acabou não dando tempo. como vi que hoje ninguém ainda publicou, peço licença para retomar meus escritos por aqui.)

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 24

O plano de ataque estava pronto. 

Uma elite dos melhores soldados estava reunida. Homens com o topete necessário para encarar os desafios que estavam por vir. Todos escolhidos a dedo, e era um dedo que vinha de um militar com pulso firme. Nikolai Nikolevich, com seus mais de sessenta anos, não era um estranho à guerra. Sua figura massiva, com cicatrizes por toda a cabeça colocava qualquer pessoa de cabelos em pé à primeira vista, e o inimigo que o aguardava prometia um confronto cabeludo. Porém, mais de trinta anos de conflitos deixaram o general careca de saber que a primeira impressão não era suficiente para vencer.

O portal estava aberto. Os soldados passaram para o outro lado em fila. Cada grupo tinha suas ordens. Os batedores passariam um pente fino na região para localizar o monstro. Assim que fosse descoberto, ele seria atraído para campo aberto, onde o segundo esquadrão lançaria suas redes para prendê-lo, diminuindo assim a ameaça. Tiveram um pequeno contratempo quando um dos soldados mais novos, ainda não temperado pelo combate, assustou-se e descarregou seu pente de balas em um homem que depois foi identificado como Tony Ramos.

Um fio de dúvida passou pela cabeça do general. Será que seus homens não estavam tão prontos quanto esperava?

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 23

A menina que seguira Natasha tinha um papel determinante nas revelações que estavam para acontecer. Seu nome, em homenagem a uma personagem da historia politica do Brasil, era Vana, a neta de José Neemias Cordeiro, e embora ainda nos seus 5 anos, possuía em seu íntimo o conhecimento e fobia a pelos soltos que herdara de seu avô.

O que Vana tinha a dizer mudaria todo o rumo das pesquisas feitas até então. A Vortexsoura não apenas sugava os pelos cortados e os enviavam para uma fenda interdimensional, como também tinha poder de reuni-los, onde quer que eles se encontrassem, em um só aglomerado de pelos. Essa capacidade tornaria possível a resolução de problemas relacionados a golpes de estado provocados sem comprovação de crime de responsabilidade.

O que Natasha presenciou no Brasil foi a emanação do mantra, Fora Temer, que haverá de abrir os portais que se fizeram dissipar todos os pelos. A questão é que a abertura dessas fendas não é o suficiente, é necessário a Vortexsoura para reuni-los e usá-los a favor da democracia.

Vana veio revelar que a Vortexsoura era a arma contra o golpe!

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 22

Catatônicos.

Era assim que continuavam Aleksis e Olegiev quando viram, milagrosamente, Natasha materializar-se na frente deles. Sorria. 

- Deu certo! 
- O quê deu certo? - Aleksis indagou tentando controlar a catatonia.
- Como o quê? O teste com o Vortex-Temporal-Ampliado, besta! Eu estive no Brasil, o lugar onde tudo isso começou, você sabe, o diário...
- No Brasil? - perguntou Olegiev.
- Sim! No Brasil... e foi lá que eu aprendi que não há o que temer. Estamos no caminho certo!

Ao dizer isso, sentiu um  estalo atrás de si. Na sua frente, Aleksis e Olegiev ainda mais catatônicos que antes. Virou-se para trás.

Era ela. A menina que encontrara no Brasil.

Ela também sorria.

domingo, 21 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 21

Porém, antes de entrar na fenda, virou-se uma vez mais para ver a manifestação que passava. Estranhamente aquilo a afetou. Sentiu um nó na boca do estômago, uma dorzinha lá no fundo do coração. Sentiu uma saudade não sabia se de algo, ou de alguém. Jovens, homens, mulheres e crianças com suas faixas, cartazes... Seu povo veio à mente, bem como o  velho que morrera horas, dias antes (já nem sabia mais).
"Antes de partir, deixe-me sentar um pouco", pediu ela, à si mesmo. Riu. Riu dela ter pedido algo à ela. Sim. Ela tinha o direito de sentar-se. Estava, na verdade, cansada daquilo tudo. Cansada de viver fugindo, entre segredos russos e temporais. Cansada de não ter uma vida tranquila, como sonhara, anos antes. Antes de entrar em contato com aquela realidade toda.
Havia tempos que não sentia toda aquela estranha emoção que invadia seu coração. Não sabia o quê estava acontecendo. Decidiu, mesmo assim, deixar a lágrima vir aos olhos, juntamente com sua respiração ofegante.

Eis que de repente, da multidão que gritava palavras de ordem, surge uma menininha, de seus por volta de cinco, seis aninhos.

Na inocência linda da criança, uma mãozinha foi dirigida até suas vistas. A criança parecia ter pena dela. 

A menina disse algo, mas não entendeu palavra alguma. Embora estudada demais, conhecedora até mesmo de idiomas de nações longínquas, o português brasileiro não fazia parte do quê entendia.

O quê fazer? Como fazer a criança entender que ela mesmo não entendia?
Pensou consigo: Vou sorrir! O sorriso é universal!

Então, em meio às lágrimas, deixou que brotasse um sorriso triste, apertado, mas ainda assim, um sorriso. Que surtiu efeito! A menininha sorriu de volta, disse mais alguma coisa e voltou para junto de uns dois adultos que a observavam de longe. Toda animada, falava alegremente, sobre o fato de ter logrado êxito na missão de alegrar alguém que parecia não estar tão bem naquele momento de sua breve história.

Enxugou os olhos, olhou para a fenda, e disse, de maneira que pudesse se ouvir: - Vamos lá, Natasha. Eles precisam de você.

sábado, 20 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 20

É claro que ninguém faria uma guerra por causa de chumaços de cabelo. Mas também é claro que alguém faria guerra por alguma coisa, como sempre. Prevendo a iminência do conflito, Natasha, Aleksis e Olegiev sequer tiveram tempo de lamentar a morte de Vassili. Correram para o laboratório o mais rápido possível. O tempo estava cada vez mais apertado. Talvez fosse precipitado, mas não havia alternativa e o invento precisava ser novamente testado.

Com base na Vortexoura o avô de Natasha começara a pesquisar uma forma de ampliar seu poder, para que o transporte entre dimensões fosse além de fios de cabelo. O diário deixado pelo falecido avô foi fundamental para que Natasha utilizasse os equipamentos do laboratório de Olegiev. O problema é que da última vez que tentaram testar o Vortex-temporal-ampliado com seres humanos, Natasha acabou com o ouvido sangrando, diante de uma criatura bizarra materializada não se sabe como, que só foi entretida e destruída depois de alguns truques de Aleksis. Em contrapartida o mágico exigiu passar a acompanhar de perto os experimentos.

Depois de ajustes às pressas Olegiev acreditava ter consertado os problemas do invento, mas para tirar a prova teriam que tentar testar mais uma vez. Aleksis, que sempre foi mais adepto dos truques de mágica do que da ciência, não se dispôs a servir de cobaia; Olegiev hesitou; e Natasha tomou a Vortexoura modificada de suas mãos e disse que honraria o trabalho de seu avô. 

O coração batia forte. A última experiência havia sido bastante dolorida. Natasha estava diante de uma daquelas situações em que devemos deixar a razão de lado e pular de cabeça, caso contrário nunca criaria coragem para dar continuidade ao projeto do avô. Era necessário testar o Vortex-temporal-ampliado com alguma longa distância e, tendo lido no antigo diário que todo o projeto da Vortexoura teve início com um tal José Neemias Cordeiro, resolveu resgatar essas raízes e testar o Vortex-temporal-ampliado fazendo uma ponte temporal entre Russia e Brasil.

Empunhou o objeto em formato de tesoura. Fechou os olhos. Respirou fundo. Abriu os olhos. Abriu as hastes e cravou uma das extremidades no vazio, como se atingisse um tecido esticado. O golpe fez um ponto de luz, que se abriu em uma fenda quando Natasha deslizou o aparelho para cima. Aleksis e Olegiev olharam catatônicos a moça dar um passo a frente e sumir em meio à fenda de luz.

Natasha estava atônita. Mal conseguia acreditar que havia dado certo. Estava no país onde tudo teve origem e, sem saber quase nada sobre o Brasil, deu de cara com um grupo de pessoas que fechava a rua, com vários cartazes escrito "Fora Temer". Estando no país do futebol, concluiu que Temer deveria ser algum time e que pela cara dos torcedores esse time estava muito, mas muito mal.

Não havia tempo para tentar entender o que estava acontecendo naquela rua. O cerco estava se fechando. A KGB, o exército, talvez até o Vladimir Putin em pessoa buscavam desesperadamente o pequeno laboratório que, segundo investigações secretas, havia desenvolvido a maior invenção de todos os tempos. O Vortex-temporal-ampliado poderia requentar a Guerra Fria. Natasha abriu outra fenda no espaço. Precisava voltar ao laboratório.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 18

Uma grande batalha está apenas começando, não é mais uma no leste europeu que já sofreu tanto, é talvez a maior batalha que toda aquela parte do planeta já acostumada com sofrimentos, angústias e caos já presenciou. Batalhas que não apenas serão feitas de disparos, lutas, mortes e perdas, batalhas que também serão superações de fantasmas do passado, de traumas e também de memórias.

Natasha, Aleksis, Olegiev e todos os envolvidos carregam com eles histórias pesadas, mais pesadas que as armas que estarão em riste. Todos estavam com esse peso no limite. 

De repente, toda essa energia concentrada, de cada um em seu canto de angústia, medo, esperança e saudades, tornaramVassili mais forte! Ninguém tinha conhecimento dessa sinergia, quantas e quantas vezes isso aconteceu na história, nas guerras e nem ficamos sabendo... foi isso que tornou Vassili forte, a sinergia de tanta gente sofrida em busca de esperança, dos seus companheiros. Vassili então saiu da cafeteria correndo com raça e coragem, pegou seu copo de capuccino escrito "Fora KGB" e jogou pro alto, distraindo aquele monstro e então tomado de algo inédito pra ele, começou a disparar a sua AK-74M aos gritos de "Essa é pelo velho lenhador, seu maldito!"

Todos os presentes se admiraram com tamanha bravura que a muito tempo não se via naquela região, Vassili inspirou os presentes a lutarem, não só pelas suas sobrevivências, mas a lutarem pelas suas angústias e medos.

Vassili esta ferido gravemente agora, sua AK-74M está no chão... mas o monstro não reina mais absoluto em seu poder, ele está acuado e assustado com a coragem de revolta. A sinergia de luta de Natasha, Aleksis e Olegiev está mais forte ainda em todos agora e qualquer um que presenciou o ato heróico de Vassali pode pegar a arma dele no chão e continuar essa luta.

Vassili está sofrendo em dor física, mas sua alma está leve e feliz.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 15


Bateu a mão no criado mudo à procura do telefone. Um copo de vidro se estatelou no chão, ao lado de uma garrafa de vodka vazia, que estava caída ao lado da cama. Na segunda mãozada, o cinzeiro lotado de bitucas e cinzas também foi ao chão. Ignorando a bagunça, Natasha tateou até o telefone. Colocou-o no ouvido ainda sem ter certeza se já estava acordada. Uma voz masculina do outro lado disse-lhe:
- Ligue a televisão no canal 5. Agora.
Levantou-se da cama tentando evitar os cacos de vidro. O cheiro de vodka e de cigarro no ar fez seu estômago revirar. Não sabia se estava com fome ou se queria vomitar. Ainda seminua, ligou a televisão e ficou ali, em pé, olhando para a tela como se fosse um zumbi.
Uma repórter de cabelos loiros por volta dos seus 40 anos, de feições sisudas e quase sem sobrancelhas, dava a notícia em tom desesperador:
- Já são mais de cem as cidades na Rússia atingidas por uma entidade ainda desconhecida. Em Moscou, moradores afiram que tudo começou com uma infestação inexplicável de pelos e cabelos aparecendo em suas residências, vindos do que disseram ser explosões de luz. A cidade declarou estado de calamidade pública até que se entenda o que está acontecendo. Somente na capital, mais de trezentas mortes por asfixia foram confirmadas e cerca de outras três mil pessoas esperam atendimento médico, pois com tanta coceira, começaram a se automutilar.
A câmera muda para um homem mais velho, careca, vestindo um terno azul marinho com gravata amarela. Continuou a dar as notícias em tom de desastre e comoção:
- Acabamos de receber novas informações do gabinete do Estado. Atenção! Fiquem em suas casas e permaneçam em locais sem janelas! Parece que monstros de pelo estão causando destruição nas ruas das principais cidades de todo o mundo! Fiquem em suas casas!
De repente, um estrondo e todos os aparelhos elétricos da casa se desligam.

...

A alguns quilômetros dali, um ponto de consciência experimentava, pela primeira vez, a sensação de existir. Não entendia muito bem aquela voz conversando consigo mesmo e não entendia o que via ao seu redor.
- Quem sou eu? Onde estou? Qual a minha razão de ser? Por que eu sinto essa sensação de algo, digamos assim, de algo “coçando” em todo o meu ser? Em toda a minha existência? Por que eu sou tão escuro comparado aquelas pequenas existências abaixo de mim? O que são esses caixotes enormes, cheios de, vou chamar de... pessoas? Por que aquela massa gigantesca de coisa acima de mim é tão suave, e tão... azul?

...

Era o primeiro dia na nova divisão e Vassili já tinha que combater um monstro gigante. Coisa de filme!
- O alvo está a caminho! Alinhem-se e não atirem até eu dar as ordens, gritou o tenente-coronel de sua infantaria.

O soldado estava nervoso, mas duvidava do relato exagerado de seu tenente-coronel. “Não existem monstros! Deve ser algum ataque terrorista”, pensou Vassili, com um crescente frio na barriga.
Em questão de segundos o chão começou a tremer e o silêncio tomou conta da tropa. Civis corriam desesperados pelas ruas, buscando abrigos em cafeterias e no comércio local. Um vento forte trouxe consigo uma enorme quantidade de pelos, que começou a grudar nos rostos, nas armas, nos vidros e em toda e qualquer superfície.
Vassili sentiu a garganta coçar e começou a tossir. Ouviu uma ordem rouca:
- Atirem, atirem agora!
Sem saber para onde mirar, começou a disparar sua AK-74M. O caos era total. Gritos, tosses, barulho de pessoas sufocando, armas disparando. Assim que conseguiu se livrar dos pelos para botar os olhos no tal monstro, foi que ele pode ver claramente o que enfrentavam e o quão ineficiente eram.
- É um monstro de pelos! Gritou Vassili, na esperança de que alguém também estivesse pensando o que estava pensando, e saiu correndo para dentro do primeiro Starbucks que viu.




domingo, 14 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 14

O telefone tocava insistentemente no escritório empoeirado. O som do velho aparelho ecoava pelo cômodo vazio, mas ela não conseguia alcançá-lo. A mancha. A mancha formada por aquele líquido viscoso deformava tudo à sua volta. De repente ela não estava mais no prédio às margens do Rio Neva. Estava numa estrada deserta por onde andou durante o que pareceu uma eternidade até chegar a um precipício. Demorou um tempo para perceber que estava na beira de uma cratera gigantesca criada pelo impacto de um asteróide. Ainda saía fumaça do pedaço retorcido de metal que estava aos seus pés com a inscrição “CCCP - Combate Categórico aos Chumaços e Pelos”. A mancha. A mancha novamente encobriu toda a paisagem e ela sentiu como se estivesse deitada e sua cama voasse.  

Natasha acordou com um leve gosto de chutney na boca e não acreditou no que viu.  

sábado, 13 de agosto de 2016

Soluções práticas - parte 13

Enquanto comiam chutney e sambar com um já quase frio chá de hortelã, Rajan e sua família, sentados num canto da sala, não perceberam o teto de madeira se tornando mais claro e a temperatura do ambiente aumentado. Como era de costume aquela hora na Índia, o calor começava a avançar a casa dos 29°. Jaya, a filha mais nova, tentava chamar a atenção dos pais para o teto que se tornava azulado. Foi em vão.

O pai ainda trôpego de sono e a mãe atarefada em alimentar todas as crianças, não deram a mínima atenção a Jaya até o momento em que se encontraram totalmente no escuro.
A escuridão foi precedida por um rápido raio azul esverdeado no teto e no minuto seguinte, ninguém podia ver quase nada. O som foi seco e veloz. Todos deram um salto e trombaram uns nos outros, esbarrando na comida e em tudo o que encontravam a frente.

Rajan passou do momento de cegueira, no meio da escuridão, ao momento que percebeu uma leve chuva negra e não molhada, cair lentamente do teto de sua humilde casa.
A mulher tocava o chão com enorme curiosidade e espanto enquanto aquela fuligem negra se depositava no assoalho da cozinha.

Todos petrificados com o ocorrido só movimentaram-se quando a mulher, com os olhos estalados, gritou:

- É cabelo!!!

O mesmo ocorria na sala do Primeiro Ministro da Inglaterra, na cozinha de Dona Tânia em uma pequena vila nos arredores de Medelín, no banheiro de Marilyn, numa luxuosa casa de Cape Town, na varanda de Valery, numa pequena e confortável casa no interior da Suíça e em diversas partes do mundo.

Todos os assolados pelo raio azul esverdeado e consequentemente pela chuva de cabelos, em todas as partes do mundo, não faziam ideia de que em uma cidade fria e pequena da Rússia, Aleksis e Natasha eram os responsáveis pelos estranhos eventos.

O que os dois não imaginavam, ao juntar mágica com tecnologia e física, era que estavam sendo espionados pelo Komitet Gosudarstvennoi Bezopasnosti, também conhecidos por KGB, e que eles tinham um plano muito maior para o uso da Vortexsoura.


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Soluções práticas - Parte 11

Aleksis parecia uma pantera negra. Seus olhos eram de um amarelo ocre penetrante que pareciam ter o poder de desvendar os pensamentos mais submersos. Seus companheiros evitavam olhá-lo diretamente, afinal, nem tudo deve ser compartilhado. Era um dos homens mais condecorados de Olegiev. Respeitado e temido, nunca hesitava. Exceto naquele dia.

Sem ser descoberto, Aleksis praticava truques de mágica toda noite. Era um sonho que alimentava desde a infância: ser mágico. Entretanto, as adversidades da vida, a tradição familiar e o fato de ser filho único o fizeram integrar a Patrulha Inter-Lumis, assim como sua mãe, sua avó e sua tataravó. Sim, a sua linhagem na Inter-Lumis foi, até 2005 da dimensão 7, portaria 14, feita de mulheres. Voltemos aos fatos que antecederam àquele momento.

Aleksis praticava truques de mágica em um depósito de armas obsoletas. Ali era um local que jamais seria procurado. Seus colegas de trabalho eram high-tec demais para se debruçarem sobre o pretérito. Cada noite se entregava a um truque diferente: cartas, panos coloridos, coelho na cartola, pomba no paletó. Naquela noite tentou, pela primeira vez, um truque de adivinhação através de uma bola de acrílico que se passava por uma bola de cristal. Ideia ridícula, uma vez que não havia mais ninguém ali e, portanto, nada a ser adivinhado. Como pouco lhe importava a racionalidade das coisas quando estava em seu universo particular, inventou que uma bela moça da plateia do Teatro Odeon havia se oferecido para participar daquele número.

Não possuía muito contato com mulheres, a não ser as de sua família. Ao passar pelos corredores da Sede semanas antes, escutou Olegiev fazer referência a uma “Natasha”. Havia aprendido na escola russa que Natasha era um diminutivo de Natalya e significava “dia do nascimento de Cristo”. Lembrou-se disso rapidamente na ânsia de atribuir logo um nome à moça imaginária.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Soluções práticas - Parte 10

Olegiev esfregou os olhos por alguns instantes, olhou ao redor certificando-se de que os outros estavam vendo o mesmo que ele. 
Todos com cara de espanto o deixou ainda mais apreensivo, não era bem o imprevisto que imaginavam.

Chamem mais homens! Gritou.

Aleksis ainda na porta olhando Natasha desfalecida, na maca transparente que a colocaram reparou que o corpo parecia diferente, parecia uma capa de borracha sem vida.

Pensou:
Onde diabos vim me meter, não posso parecer ter medo disso tudo, já vi tantas coisas por aqui, mas nunca nada assim.
Isso é loucura! 
Sair correndo não é uma opção, não iria muito longe.
Concentre-se, concentre-se!
Estava difícil pensar em algo coerente, em questão de segundo várias imagens passaram em seus pensamentos: cabeça de animal, pelos crescendo, armas reluzentes, computadores, táxi amarelo, sangue preto, revólver, mesa de madeira, portal, chave de casa...


ALEKSIS! Um grito acordou dos instantes em que se ausentou de si mesmo.

Mecha-se homem! Não temos muito tempo até terminar a fusão.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Soluções práticas - parte 9

Ao notar o espanto no rosto de Egor, Natasha tocou o líquido quente que saía de seus ouvidos com mais atenção e sentiu uma certa viscosidade na textura. Sangue! Pensou de sobressalto, ao mesmo tempo que olhava para suas mãos molhadas com o líquido que, para seu temor, não era vermelho e sim negro como uma noite sem luar. 
Natasha arregalou os olhos sem entender o que estava acontecendo, o líquido continuava escorrendo e se empoçando. Todos na pequena sala ficaram enauseados ao sentir o odor que o líquido emanava, então o comandante Olegiev segurou Natasha firmemente pelos braços e a levou para fora. Não deu tempo de percorrer todo o corredor espelhado e reluzente, Natasha caiu desmaida. 
Gastrov, preciso de você, traga ajuda, disse Oliegov em seu verberal, aparelho muito pequeno utilizado para comunicação interdimensional.
Segundos mais tarde surge Gastrov com outro homem igualmente forte, mas utilizando um uniforme diferente, de qualidade inferior. Ele segurou Natasha desfalecida em seu colo e seguiu Oligiev por todo corredor, até chegarem em um laboratório de alta tecnologia. 
O ajudante que acompanhava Gastrov ficou parado na porta da sala pequena.
O líquido viscoso e preto finalmente parou de escorrer, mas seu volume era considerável. As poças e gotas deixadas para trás começaram a se mover, na mesma direção, como se atraídas umas pelas outras, até se unirem em uma forma impressionante!  




segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 8

  Poucos minutos depois (ou talvez longas horas), e Olegiev voltou a pequena sala agora acompanhado de diversas bugigangas, produtos, substâncias, anotações e outros mais.Tropeçava e tentava organizar tudo como tinha em mente, com certa pressa.

 Ele mal começou a falar, mas Natasha não conseguia prestar atenção, seu ouvido coçava violentamente. Ela coçou e inclinou a cabeça para o lado, e sentiu um alívio: a água gelada do balde escorria agora quente de seu ouvido.
Em seguida viu Egor pálido olhando para ela. Não era água o que dela escorria.

 -Imprevisto! - murmurou Olegiev, chutando um dos trambolhos que havia trazido.

domingo, 7 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 7

Natasha enfim saiu da casa. Por fim, uma súbita escuridão.

Quando deu por si, atrapalhada com uma luz forte vinda de um lanterna clínica, começara a sentir a dor da pancada. Um balde de água gelada a fez esquecer da dor e voltar à vida como num instante.

- Egor? – espantou-se esfregando os olhos.

O comandante Olegiev logo interceptou:

- Eu nem acredito que tenho essa equipe fabulosa dentro deste metro quadrado! Estou extasiado em começar trabalhar com vocês! Quero dizer... De vocês trabalharem para mim!

Após uma gargalhada de quem parece ter dominado o mundo, Olegiev gritou - VORTEXSOURA!!! – e saiu da sala deixando um rastro de intriga, medo e dúvidas.

Natasha e Egor lamentaram seus fins, um por ser phD e achar ter sido fadado ao fracasso, a outra por ter sua busca interceptada por alguém que parece saber bem mais do que ela: a Vortexsoura.

sábado, 6 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 6

Os monitores chiavam estrondosamente a falta do sinal perdido. A parede coberta deles com fragmentos daquela história, agora só tinha uma letra pichada, o "A" simbolo da resistência anarquista.

No chão os corpos das pessoas que Natasha estava acostumada a ver nas telas, todos com a cabeça escalpelada. 
O sangue formava poças e também criava letras na outra parede, uma mensagem em código ou seria outra língua. 

Pensou em voltar pelo portal, mas lhe pareceu pior conviver com o sangue do avô.  

Sentou sobre um dos cadáveres e começou a reler o diário. Podia recita-lo de tantas vezes que já tinha visto aquelas palavras. 

O cheiro de morte ajudava a afastar o sono. 

Desistiu de reler o diário, palavras que se tornaram sua família. E começou a organizar os papéis que enfiara as pressas nos bolsos, na casa do avô. A maioria tinha o garrancho torto que conhecia bem, outros de pessoas distintas.

"Não volte! Você já tem cabeças demais na sua coleção."



sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 5


                Acordou e o relógio, velho e de madeira rústica, apontava que eram 2 horas da manhã. Era difícil admitir, mas ao brilho do luar que entrava pela grande janela atrás da mesa de seu avô, aquelas cabeças eram belas e bem vivas.

Aqui cabe apresentar-lhe agora o nome da moça, nestes dias ainda com 30 anos:

Natasha.

Sabia ela que um enorme quebra-cabeça familiar estendia-se a sua frente e somente ela poderia resolver, ainda mais agora com a morte de seu único parente que poderia lhe dizer mais sobre o começo de toda a história.

                Até então, o único fato que era certo, era o velho diário de seu pai que explicava com exatidão o motivo simples pelo qual tudo havia de ter começado. Dizia seu pai no diário, sobre a agonia que sofria ao cortar o cabelo e como isso definira sua profissão.

                Quando ainda lhe vinham os fatos do dia à mente um após o outro, trazendo consigo uma leve dor de cabeça, uma luz que não era a da lua encheu aquela sala. Vários veículos se aproximavam em alta velocidade pela estrada de terra.

                “Tsc... Todo dia!”


                Sabia que eram os Russos que vinham lhe cobrar respostas que ela mesma ainda tinha dúvida se lhes entregaria... De súbito, todas as memórias terminaram de chegar à consciência e ela não pensou duas vezes.

                Pegou todos os papeis que pode e os meteu nos bolsos enquanto corria para a velha lareira e rapidamente puxou o dente de uma das cabeças de urso mais próxima. Logo uma passagem se abriu e uma luz lhe encheu os olhos.

                A passagem se fechou atrás de suas costas e a saleta voltou ao ar de abandono que sempre tivera. Do outro lado, porém, algo ainda mais espantoso a esperava...