Certo dia, numa manhã qualquer
estava sentada naquela mesa, com uma das
mãos no queixo enquanto a outra arrastava o mouse para correr os olhos nas linhas dos contratos sociais para identificar
se era falso ou verdadeiro e quais seriam uma tentativa de fraude.
Era uma mistura de tédio e desânimo
e cansaço às 07h e 50m da manhã. E no começo era normal chegar muito cedo,
tendo em vista que morava muito longe e tinha que sair às 05h e 50m de casa
para chegar às 08h em ponto.
Quando perdia o horário do
ônibus ou tinha trânsito naquela maldita Anchieta chegava 10/15 minutos depois
do horário ou então cedo demais. Acontecia também de quase todos os dias sair após o horário,
tipo duas horas depois ou mais.
Mas que porra que tanto fala de
horário?
Calma.
É importante frisar a ação do –
tempo - na vida de qualquer ser humano para tratar de qualquer assunto.
Adoraria poder falar de: unicórnios,
flores, cabelos, ETs, unhas, gatinhos fofos, bichos fofínissimos, músicas, efeito sanfona ou qualquer gigolé, farofada,
grelo ou caraio de frivolidades deste
mundo de coisas materiais e imateriais. Juro queria falar de qualquer coisa
menos sobre a perda de direitos já conquistados.
É o que tem para agora, então
vai.
Das 07h e 50m da manhã às 19 ou
20 horas da noite (pois nunca saia no horário, às vezes acontecia de sair até 21
horas) era tempo suficiente para observar tudo que acontecia com um olho no contrato
e outro olho no curral/pasto/gado.
Eis aí a vantagem de ser quieta
mas observadora. A arte de conseguir absorver mais do ambiente e da vivência
para registrar na memória o que interessa.
Foi numa manhã dessa que os olhos saltaram e os ouvidos ficaram alertas para a presença de dois ou
três homens, bem apessoados de fino trato que ficavam durante horas em cada
setor e alguns minutos com cada
funcionário e horas e horas no computador escrevendo e escrevendo, era os
tais auditores ou o momento de auditoria da empresa.
Qualquer ser humano que
trabalhou em empresas de médio ou grande porte, no setor financeiro/lojas ou
teve familiares e parentes que trabalhavam em chão de fábrica sabe o que são os
momentos de auditorias que nada mais servem para avaliar ganhos e perdas, sejam
de lucros e atividades da força de
trabalho numa empresa. No resumo geral, a ordem dos cortes.
Pois bem.
Entre fatos e exageros da rádio
peão tinha de tudo, desde justificar esta auditoria com venda de logo/marca da
empresa, ou venda da empresa até terceirizar o trabalho de todos, seja nas
lojas, na matriz ou na fábrica. Veja que o assunto terceirizar era comum e também uma possibilidade desde sempre.
A auditoria como previa a rádio
peão serviu para atualizar os donos da empresa do quanto estavam perdendo
dinheiro e agilidade processual das atividades de trabalho com excesso de funcionários
e cargos.
Noutras palavras a empresa que
antes da auditoria tinha plano de carreira, faixa salarial, benefícios e carga
horária diferentes de repente numa bela manhã todas as funções e salários dos
funcionários das lojas foi padronizada, exceto o gerente que ganhava comissão
de vendas.
Os funcionários com função de
vendedor e caixa (30 horas), estoquista e atendente (40h) do dia para noite
amanheceram com mesma carga horária (40h), salário e função - assistentes
administrativos da loja - exercendo todas
as atividades a depender da necessidade. Então uma hora era estoquista, noutra
caixa, em outra vendedor e assim
conforme a necessidade e remunerados com mesma faixa salarial e/ou igualmente. Aqueles que não aceitaram
foram dispensados.
A redução de funcionários, cargos e salários e aumento de atividades piorou a vida de quem não teve escolha e
aceitou ficar. De inicio não sentiram a diferença porque foram dispensados e
receberam direitos trabalhistas, logo depois recontratados e conforme os meses vieram descobriram a
precariedade nas condições de vida e salário. Do financeiro percebia a rotatividade de
funcionários e as queixas de muitos com
vários anos de empresa.
Cabe ressaltar que os auditores se basearam no mercado de trabalho americano, com ponderações de que lá não tinha essa distinção de cargo e salário para funcionários de grandes redes de lojas.
Cabe ressaltar que os auditores se basearam no mercado de trabalho americano, com ponderações de que lá não tinha essa distinção de cargo e salário para funcionários de grandes redes de lojas.
A terceirização na prática visa
exatamente isso, igualar salários e funções bem como aumentar a concorrência e
carga horária uma vez que para garantir a vaga é necessário mostrar desempenho
e produção ou noutras palavras o empregador e/ou contratante deve usufruir ao
máximo do seu tempo de vida.
Agora imagina esta mudança no
chão das fábricas para todas as atividades.
Imagina as profissões com faixa
salarial reduzida e desvalorizada e independente da formação terão que aceitar as
condições que forem impostas pelos contratantes.
Uma coisa é ver os
trabalhadores do setor de prestação de serviços na maioria responsável pela limpeza
serem terceirizados outra bem diferente é imaginar o médico, enfermeira,
bancários, técnicos de qualquer setor, engenheiros e eteceteras sendo
terceirizados e desvalorizados. Ah sem direito a rescisão do contrato, nenhuma empresa terceirizada dispensa
funcionário evita-se ao máximo pagar direitos.
No setor público a
terceirização visa diminuir exponencialmente o número de concursos públicos
para qualquer setor e aumentar a produção para como dizem por aí produzir
riquezas.
Mas se ainda resta dúvida e
acredita que a terceirização irá gerar mais empregos pense: por que os franceses
não aceitam a reforma trabalhista mesmo dispondo de bem estar social mínimo?
Mas a terceirização ainda tem como objetivo
abrir o caminho para popularizar a ideia de profissional liberal e/ou autônomo,
cuja finalidade é o trabalhador deixar de ser assalariado para ser chefe, ao invés
de carteira de trabalho será CNPJ.
A falácia da autonomia e
slogan: seja seu chefe, faça seu próprio horário e determine as suas condições
de trabalho são ideias amplamente difundidas na grande mídia há anos e com força total através das startaps
sob a justificativa de que o país precisa investir no empreendedorismo, no
campo das novas ideias.
PLIM! NOVAS IDEIAS, GRANDES NEGÓCIOS! PLIM!
Os pobres e classe média almejam
e desejam de todo ser se tornarem chefes (empresários, microempresários,
microempreendedores) e não vejo problema nisso, se compreenderem que a sorte
dos negócios não é para todos.
A desigualdade de
oportunidades, de articulações (relações interpessoais que agora com gestores
no Estado se ampliam) e investimento financeiros a título de crédito em
financeiras e bancos é uma realidade e constatação para pequenos e médios
empresários. Pouquíssimos fogem a regra, digamos 1/2 entre os poucos ricos que existem no globo.
A oportunidade financeira está
destinada para quem nasceu em berço de
ouro, para quem tem história centenária com direito a herança. Você tem isso?
Não. Então avia, anda e pisa ligeiro nas ruas para garantir seus míseros direitos.
Empresas individuais e
empreendedoras não sobrevivem dois/três anos no mundo dos CNPJs, também não
conseguem empréstimos e facilidades de investimentos, não se trata apenas da
burocracia do estado, está para além e como dizem o Brasil é um cemitério de
CNPJs.
A ideia de que o trabalho
terceirizado vai aumentar empregos para girar a economia é para abrir
precedente e oportunidade mais adiante de tornar você caro assalariado num
trabalhador autônomo ou mais conhecido por pessoa jurídica.
Esse é o sonho de consumo da
chefia dos mercados de trabalho e financeiros: consolidar o trabalho autônomo ou
a prestação de serviço por meio do trabalhador liberal, aquele que emite nota
fiscal e possui CNPJ.
Uma vez sendo pessoa jurídica deverá
pagar mais impostos. Os impostos que hoje as empresas não pagam, mas financiam
partidos políticos através de caixas dois será pago daqui alguns anos pelo
trabalhador autônomo.
Então os favoráveis a esta
modalidade de trabalho – trabalhador autônomo ou liberal justificarão o trabalho autônomo em termos
mais tempo e dinheiro. Agora você é o dono do seu tempo. Imagina quantos empregos será
preciso para manter a sua família.
Outra justificativa é que o
Brasil precisa se atualizar e aproximar da realidade dos países desenvolvidos,
pois as formas de contrato de trabalho estão ultrapassadas.
A realidade de países desenvolvidos
que investem as arrecadações de impostos no mínimo de bem estar social em
educação de qualidade e saúde até certa idade não pode ser comparado com último
país a abolir a escravidão e promove a proteção e integridade dos devedores da Receita Federal mantendo em plena
atividade.
Também não podemos cair nesta
falácia de que a vida irá melhorar quando querem nos vender a ideia de que
existe um rombo na previdência por conta do número de beneficiários; quando sabemos que os maiores devedores da previdência são as empresas e portanto
empresários.
Bora combinar um baguio aqui, de que
forma levar a sério empresários que compactuam com trabalho análogo a
escravidão, não pagam direitos trabalhistas e dispõem de brechas a la vonté nas
leis para abrir novas empresas mudando apenas o número de CNPJ, preferem pagar caixa dois ao invés de pagar
impostos e concorrer no tal livre mercado capitalista?
Fala sério hein.
Assim conseguimos entender o
empenho da FIESP em marcar presença através do PATO em atos de 2015 a 2016.
Devemos notar a liberdade política quando empresários devem
milhões para a Receita Federal e nada acontece, quando se fosse noutro país aquele
super desenvolvido é prisão na certa.
Nos EUA quem deve ou frauda a Receita Federal é
preso e com direito a multa, o Lobo de Wall Street ilustra isso de forma bem didática.
Não é segredo para quem
trabalha que os direitos trabalhistas sempre foram motivo de reclamação e
desgosto para os empregadores/patrões/empresários e chefes.
O trabalho assalariado e com
garantia de direitos como conhecemos hoje ou até 22/03/2017 é um direito conquistado
recentemente se comparado com período escravocrata (400 anos?!) quando a mão de
obra negra e indígena foi escravizada com
o descobrimento desta terra para a exploração.
A Era Vargas foi a responsável
pela implementação da CLT, o autor - Getúlio Vargas - o populista ou pai dos pobres como se referem na época consolidou
esse direito no estado.
De lá para cá temos quase 90 anos
da CLT e pouco mais da metade de anos da consolidação dos direitos trabalhistas.
Direitos que não se aplicam a todos, uma vez que em pleno século XXI existem denuncias
de trabalho escravo inclusive de terceirizados pipocando pelo país.
Neste momento caótico com
aprovação da terceirização do trabalho, (ainda que exista mandado de segurança) e
retrógrado com reforma da previdência não existe separação entre direitista, capitalista, liberalista, esquerdista, socialista,
comunista e anarquista. A única separação existente é: trabalhadores (as) e chefes!
E aí o que vai ser?