quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tudo Novo



Novo de novo
Novo dia
Dia novo
Tudo de novo
Tudo novo
Novo amanhecer
Amanhecer de novo
Novo sabor
Um sabor novo
Sentir de novo
Novo sentir
Aquilo tudo novo
Tudo aquilo de novo
Novo verso
Um verso novo
Novo olhar
Olhar de novo
Isto que é novo
Escrever de novo
Apenas o novo
Inovar de novo
O novo de agora
Agora e de novo
Viver o novo
Um novo viver
De novo e de novo...


Lai Paiva
@lainepaiva

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Turnê 2012

A intenção era partilhar o seminário de formação profissional na UFRJ e tudo que rolou nos quatro dias. A cultura, a primeira de muitas que virão, plenária cheia. A fala do Mc Leonardo do ApaFUNK, o funk politizado. As palmas, muitas palmas, para o Mc, para o Braz.

A mesa mais interessante, academia ao lado do popular. O popular construído a partir da literatura, leitura. Até a enfermidade ajuda, ajuda a carregar livro, ajuda a virar a página, leitura deve servir de chave. Chave para abrir a boca dos meninos que tem 50 palavras no dicionário, sendo 25 palavrão, 25 gíria, essa descoberta não é minha é do Mc. Ele é exemplo vivo, a leitura abre porta, a palavra salva e a escrita eterniza a palavra liberdade.

Mas às vezes, algumas palavras tem o poder de ferir, magoar, chatear. E o bem que poderia fazer se torna em mal. Erro, troco letras por outras, desajustando a ordem certa das coisas, solto também palavras de dor, que ferem, tento não ferir, por saber que palavras são afiadas e feito punhal dilacera a carne. Palavras são só palavras. Mentira, isso não me cabe, elas sempre têm significado, valor, sentido.

Por isso, leio a canção, em cada palavra um significado, para cada momento uma palavra. E a dor vai desaguando em qualquer lugar, vai acalmando, dela por ela, palavra por palavra.

Que venha 2012 cheio de palavras que não ferem, palavras que alimentam, palavras que libertam. Justo em 2012 tem turnê e esses moços tem prá dar e vender, os tipos de palavras que eu almejo.

ouvir, escutar.



sábado, 26 de novembro de 2011

Ainda sobre os desejos e as viagens


Acabo de chegar de uma viagem que seria muito inusitada, se não houvesse outras, igualmente extemporâneas, que a precederam. De acaso em acaso, eu fui a São Paulo porque queria ver Fernanda Montenegro no palco interpretando Simone de Beauvoir, em Viver sem tempos mortos, assim como, um dia, fui lá também, junto com uma amiga, só para assistir a uma peça teatral, não importava qual, e calhou que foi Quem tem medo de Virginia Woolf, com Marieta Severo e Marco Nanini, numa interpretação de Nanini que me  impressiona até hoje. Também fui agora para ver Em nome dos artistas, exposição de arte contemporânea, que está no Pavilhão da Bienal. 


Já parti da gélida Paris, sozinha, para Bruxelas, tendo como única certeza de que assistiria ao show de Bob Dylan, porque encasquetei que nunca mais estaria tão próxima dessa oportunidade. E também fui a Madri, sem um tostão no bolso, além do suficiente para comer mal e me embriagar no bar do hotel, unicamente para ver O jardim das delícias, de Bosch, porque minha cultura parca não me deixava saber que a poucos metros estaria também Guernica, de Picasso. E em mais algumas quadras, As meninas, de Velazquez.  E por muito tempo, eu disse, e ainda gosto de dizer, que só queria ir a Paris para andar nos corredores do Colégio da França, onde Barthes havia lecionado seus famosos cursos e proferido Aula, o texto que, sem dúvida, marcou toda a minha trajetória acadêmica.


Comigo sempre foi assim, vivendo de urgências que parecem não ter fim e de desejos que ora iluminam ora obscurecem meus dias. Às vezes de modo leve, às vezes abalada, eu penso que poderia desejar menos. Ser mais focada, seria o termo ideal. Porém, na verdade, eu tenho muito pouco apreço por quem não deseja, como se, adulta, eu continuasse insistindo em preencher as lacunas que ficaram para trás e que, certamente, existirão mais à frente.


Num tempo em que tantos proclamam seus anseios, espanto-me como se tem cada vez menos desejado o saber, o simples saber, aquele que não vai trazer nenhuma vantagem a não ser o prazer. E se eu insisto em construir meus dias nem que seja com pequenos intervalos de fruição, é porque acredito que não podemos naturalizar a vida, estabelecendo  modelos àquilo que, como diz Fernanda-Simone, é trespassado tantas vezes pelas leis do acaso. Não quero me entregar à lógica do cotidiano que tantas vezes nos embrutece. Amar os livros, os filmes, os lugares, os artistas, os eteceteras, é o meu modo de me aproximar  de mim, de trazer à tona as minhas emoções. Uma forma de fugir das loucuras e dos desencantos do mundo.


Por isso, fui, embora só para chegar até lá tenha viajado 10 horas de ônibus, esperado 7 horas no aeroporto, mais 2h30 no avião, além de 2h entre ônibus, metrô e taxi para chegar ao meu destino. Nada é natural. Menos ainda a força poderosa que move Fernanda Montenegro, transvestida de Simone de Beauvoir, por uma hora, num palco despido de tudo, quase à sombra.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mafalda e meus devaneios

Passeando por um blog me deparei com uma tirinha da Mafalda. Quino sempre deixando a gente de boca aberta diante das palavras daquela pequena (só no tamanho). Mas, dessa vez, a Mafalda foi tão cruel que me doeu o corpo todo. Não sei se por ser mulher, ou por ser filha, neta, sobrinha.

Nós, mulheres, o que devemos ser? Já somos predestinadas aos serviços domésticos e de maternidade, ou podemos ser tudo o que quisermos? E um coro todo grita: seremos o que quisermos. Mas, se por uma fatalidade do destino, criação, vontade, escolhermos ser devotas do serviço doméstico e da maternidade? Estaremos ainda na posição de mulher moderna-alternativa-decidida-independente? Ou, para sermos esse rótulo, só vale produção independente, diarista e lava-louças, prato-feito no restaurante?

Fico irritada e desconsolada. Na verdade, não consegui achar as palavras certas para definir como eu me sinto. Me sinto triste. Sim, triste. Ao pensar que as mulheres que não optaram por uma vida de trabalho fora de casa, produções acadêmicas, trânsito, não possuem vida. E, que se elas vivessem, não estariam no (des)aconchego de seus lares, cuidando com amor dos filhos que não sabem o quanto deveriam agradecer por aquela cama arrumada, aquela roupa lavada com cheiro de amaciante Ypê e carinho; ou mimando os maridos, que após o abandono do seio materno, buscam na esposa o cuidado de filho e o amor de amante. Ser a mulher predestinada não é fácil. Talvez seja mais desafiador do que ser a típica mulher moderna independente.

Acredito que a gente acaba por inverter papéis meio que sem querer – talvez pra dar continuidade a movimentos feministas, Simone de Beauvoir, sutiãs queimados. Mas essa mulher tida dependente me parece justamente o contrário. Não seriam seus maridos, filhos, agregados, animais de estimação, todos eles dependentes dessa mulher que não vive apenas uma vida, mas várias? Se preocupando com os mínimos detalhes para fazer quem está perto, pelo menos, um pouco feliz? Acredito que nós, mulheres prafrentex modernets, consideramos termos vida por não conseguirmos ter várias vidas como a mulher predestinada. E o que seria de nós, sem os cuidados delas?

Esse post é dedicado a todas as mulheres fabulosas como a minha mãe Alexandra que é uma maravilhosa mãe, uma ótima dona de casa, uma excelente cozinheira e uma exímia artista nas artes de viver, ajudar, e encher de amor as várias vidas que pegou para si.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Maior abandonado

É muito fácil encontrar pessoas que se sentem solitárias. Hoje em dia parece que ninguém se relaciona mais. O mundo globalizado aproxima tudo de todos e torna as pessoas cada vez mais isoladas, protegidas por uma verdadeira muralha de conexões. 

Pode parecer um exagero meu, mas vamos fazer um teste então. Só hoje, quantas pessoas você viu com os olhos baixos, vidrados no celular, no meio da rua/metrô/ônibus? Não foram poucas, né? Pois bem. E, meio paradoxalmente, me espanta ainda o exemplo de dois amigos, que se conheceram  no ônibus a caminho do trabalho e hoje estão casados. Admiro, mas ainda me espanta. Mesmo assim, isolar-se no meio de sete bilhões de pessoas é bem surreal. Por isso mesmo eu procuro me relacionar com as pessoas ao meu redor. Nada de ficar atualizando status de facebook quando estou na companhia de outras pessoas de verdade, de carne e osso. Ok, eu ando dando uma chance para o foursquare, mas sou discreto. Por sua vez, quem me abandonou foram as lojas de departamentos. Me sinto completamente negligenciado quando entro numa Renner, C&A, Riachuelo...até a Luigi Bertolli anda me decepcionando. Parece que não me conhecem mais. Vocês já viram o que vendem na seção masculina dessas lojas? Não fazem mais roupas pra mim. Pra começar, aquelas calças justas. Sério, tenho certeza de quem criou essas calças fez uma vasectomia, se arrependeu e quis que todo mundo sofresse com ele. Aposto que essas calças serão a causa de uma queda na taxa de natalidade daqui a alguns anos. 

Ontem mesmo fui entrar numa loja e dei meia-volta quando vi o manequim com um lenço roxo enrolado no pescoço, uma camiseta gola V que faria inveja a muito decote e uma calça quadriculada branca e vermelha. 

Estou sozinho. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Solte a panela

O URSO E A PANELA

"Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca de alimento.
A época era de escassez, porém, seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida e o conduziu à um acampamento de caçadores.
Ao chegar lá, o urso, percebendo que o acampamento estava vazio, foi até a fogueira, ardendo em brasas, e dela tirou um panelão de comida.
Quando a tina já estava fora da fogueira, o urso a abraçou com toda sua força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo.
Enquanto abraçava a panela, começou a perceber algo lhe atingindo.
Na verdade, era o calor da tina...
Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e por onde mais a panela encostava.
O urso nunca havia experimentado aquela sensação e, então, interpretou as queimaduras pelo seu corpo como uma coisa que queria lhe tirar a comida.
Começou a urrar muito alto. E, quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra seu imenso corpo. Quanto mais a tina quente lhe queimava, mais ele apertava contra o seu corpo e
mais alto ainda rugia.
Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso recostado a uma árvore próxima à fogueira, segurando a tina de comida.
O urso tinha tantas queimaduras que o fizeram grudar na panela e, seu imenso corpo, mesmo morto, ainda mantinha a expressão de estar rugindo."

Autor desconhecido Edson Arantes do Nascimento

Eu quero ter paciência para deixar a comida esfriar.
Quero lembrar que posso comer os caçadores que estão chegando.
Tenho tanto medo de abandonar o que me faz mal que não percebo que isso também está me matando.
Nem sempre o que parece é realmente o melhor, mas como é difícil largar essa merda de panela!

E fica uma musica que diz exatamente o que a adolescente que mora em mim quer dizer com tudo isso:


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Um relato constrangedor de um estudante em fim de carreira

Tenho pesquisado muito nestas últimas semanas.

É meu último semestre na faculdade e todo o conhecimento produzido até hoje pela humanidade parece querer vir ao meu encontro. Depois de anos e anos bebendo da fonte de saber de mestres da sabedoria ocidental como Marx, Weber, Freud e Foucault, chego agora ao último suspiro, aos últimos dias nesta caminhada rumo à fina flor da erudição... o que faz de minha recente biografia um mar de tédio sem fim.

E no meio de tanto labor, de tanto sacrifício intelectual, de tantos livros suplicando com toda aquela lascívia que lhes é peculiar "abra-me", "leia-me", "devora-me", no meio de toda esta provação, enfim veio a recompensa ao aguerrido guerreiro: "Como fazer uma cara sensual usando apenas a imaginação"!

Ahh...agora sim! - pensei eu quando vi o folheto entre os livros - para que preciso de tanta filosofia se conseguir fazer uma cara sensual?!

O folheto, no entanto, não era nada animador. Imaginação nunca foi o meu forte e o primeiro passo era justamente "imaginar"...imaginar que havia um sol (o folheto falava em um "sol bruxuleante", mas eu não sabia o que era isso, então tentei imaginar um sol normal mesmo)...numa dessas eu já nem lembrava mais de Marx, de Weber e muito menos de Foucault, então peguei um espelho e me coloquei a treinar freneticamente... treinei... treinei como se não houvesse amanhã, treinei como se minha vida dependesse disso.

Ao final de algumas horas já conseguia fazer uma cara mais ou menos convincente...bom, não estava propriamente sensual, ou melhor, não estava nada sensual... parecia mais um míope tentando ler alguma coisa do que propriamente alguém incomodado com um sol "bruxuleante"... mas vamos lá, esse era meu novo projeto de vida e eu não ia desistir tão fácil! Passei ao passo 2!

Ora! Este me parecia mais difícil que o primeiro! Eu deveria manter a cara de míope, ou melhor, de alguém incomodado com a luz de um sol bruxuleante, e pronunciar a singela palavra "salame". Aquilo estava começando a ficar estranho, mas não de uma estranheza qualquer, era de uma estranheza constrangedora, de uma estranheza que quase me fez desistir e voltar para aqueles livros empoeirados e enfadonhos! Mas não!

À guisa de me manter protegido contra vizinhos um pouco mais curiosos e maledicentes, cerrei todas as janelas e cortinas da casa. Voltei ao folheto! O maldito dizia que eu finalmente chegaria ao meu objetivo se pronunciasse a nada sensual palavra "salame" interrompendo melindrosamente a mesma na segunda sílaba, momento crucial em que a lingua chegaria aos céus, ao palato, ao famigerado céu da boca!

Meu coração aumentou o batimento ante a perspectiva de finalmente chegar ao clímax, ante a perspectiva de mostrar para quem quisesse ver, que eu não era apenas um estudante enfadonho em fim de carreira! Eu estava próximo de mostrar à gentalha que eu também podia fazer uma cara sensual! Ah, se podia!

Não, não podia!

Ao final de dezenas ou, quiçá, centenas de tentativas, o mais próximo que eu cheguei de sensualidade foi um misto de náusea e prisão de ventre, o que só me fazia ter cada vez mais pena do meu espelho. Minha lingua já estava com caimbras de tanto falar "salame" (melhor seria falar abobrinha) e eu só tinha vontade de me vingar do desditoso ser que teve a brilhante ideia de fazer aquele folheto! Aquele maldito folheto!

Não! Não! Não! A quem eu queria enganar? De que me adiantaria uma cara sensual? Foi então que percebi que minha sensualidade era outra... foi então que voltei pra eles! E eles estavam ali, como os havia deixado, estavam ME esperando, estivesse eu com cara sensual ou não! Esperando este estudante em fim de carreira para quem tudo, TUDO neste momento, parece mais atraente e interesante do que fixar as nádegas na cadeira e se debruçar sobre seus livros empoeirados!

Oh, meus queridos livros! Tudo isso um dia vai passar e vou voltar a vê-los novamente como amigos e não como adversários!

sábado, 19 de novembro de 2011

What the fuck?

Imagens como essa andam sendo disseminadas pela internet e por sites de relacionamento. Todo mundo "curte" e acha o máximo. Dezenas de comentários do tipo "verdade", "é isso mesmo", "falou tudo" acabam aparecendo cada vez que alguém divulga essa mensagem.Eu fico me perguntando que tipo de pessoa acha realmente que isso é verdade. Prefiro acreditar que ninguém. As pessoas acostumaram a se sabotar. Ou alguém concorda que prefere não ser correspondido, que preferia que as pessoas que te interessam te ignorassem ao invés de corresponder às suas investidas? Eu aprendi desde cedo a correr atrás do que eu quero, a me colocar disponível, visível e apto aos meus interesses. Não acho que eu esteja errado. Adoro a série, me divirto e acho fascinante o humor ácido do Dr. House, mas como uma série, como uma forma de me fazer das risadas, não como realidade.A frase não é mentira. É realmente nisso que as pessoas se baseiam hoje em dia quando, raramente, se interessam de verdade por alguém. Mas convenhamos que, caso todo mundo comece a agir dessa forma, ninguém nunca mais vai conseguir se relacionar. Alguém tem que ceder pra que isso dê certo, e aí a responsabilidade de fazer o relacionamento dar certo vai sempre estar nas mãos do que for menos idiota pra agir da maneira como realmentre quer.Fala-se tanto em personalidade, em ser forte, em superar expectativas hoje em dia, e só o que consigo ver é um monte de crianças brincando de esconde-esconde pra sempre. Se escondendo delas mesmas pra ver se alguém de fato as encontra. Isso faz algum sentido pra vocês?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Assim justifico essa chatice

Quero ser velho. Finalmente usar chapéu, boina, com a senil permissão do tempo (saiba você jovem, por um na cabeça é blasfêmia maior que cuspir em santa). Quero cagar nas calças sem culpa, deitado ali, assistindo uma tela, enquanto me viram, limpam e trocam a fralda, sem que eu me esforce. O mínimo. Quero sair de casa pra jogar bocha no horário de pico só pra rir da tua cara jovem, cansado, esgotado, que trabalhou o dia inteiro em pé e que vai ter que aguentar mais um pouquinho, pra eu ir sentado no busão. Quero levantar às 3:30hs pra buscar o pãozinho, e na primeira fornada do dia cornetar o balconista: - O mais torradinho filho! esse! Deus abençoe... . Quero deixar os pelôs do nariz e das orelhas crescerem, sem limites. Quero cochilar de tédio. Alguém começa um assunto pé no saco e ao invés de dar atenção, eu ronco (ninguém questiona o vô nessas horas). Quero xingar todo mundo de arrombado, roubar supermercados, caguetar os segredos da família inteira pra depois por a culpa no Alzheimer.
Quero ser Clint. Na verdade quero ser Morgan, pena não ser preto. Porque no fundo mesmo quero é ser Nelson. Maior blasfêmia que essa só saindo na rua de boina.




  

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cozinha


Picava cebolas como picava problemas. Cortava todos em partes quase simétricas, em partes passíveis de serem mastigadas. Aí então resolvia parte por parte, não sem antes enxugar as lágrimas nos olhos.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Alemanha versus Espanha

E se o tempo não for a cura?
 
Assisti a dois filmes de diretores tão diferentes, de países diferentes, de escolas diferentes, de preferência sexual tão distintas e que implicitamente passam por este tema. O cinema é assim mesmo, é o empréstimo dos olhos de pessoas tão diferentes de nós: vc quer ver o meu mundo? Pior que a gente vê e mesmo assim, todavia, teima em não deixa de ser o nosso mundo, inclusive nos casos que este mundo ganha mais uma dimensão ou mesmo quando ele tem apenas duas cores.
 
Afinal o que nos cura?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

15 de novembro

Há 122 anos, proclamaram a república.
Há 2 minutos, proclamei a minha ira. 

Se cuida, neguinho.

domingo, 13 de novembro de 2011

Anúncio

To me vendendo.

E não estou nem um pouco preocupado em ser um “vendido”.

Sou publicitário e me vendo por qualquer trabalho que seja financeiramente mais rentável que o meu.

Cansei de pensar, tentar ser criativo, inovar.

To cansado de muito abacaxi pra pouco salário; muito pepino pra pouco reconhecimento; muito sapo pra pouca promoção.

To aceitando ser subcelebridade, apresentador na rede TV, ator da malhação...e o que mais der grana por aí.

Sem me prolongar a ponto desse post virar uma carta de lamúrias, eu aviso que joguei esta semana meus idealismos e discursos intelectualóides no mar. Quem sabe um dia eles voltem, trazidos pela maré e eu, inconstante que sou, os receba de braços abertos, com toda saudade.

Enquanto isso, ou até amanhã, quero ser o próximo ex ex-BBB que comprou uma cobertura no Leblon, preocupado se o nudge vai ser o novo preto na próxima estação.

Contatos para propostas: só deixar nos comentários.




PS.:Talvez amanhã eu queira ser astronauta da NASA.

sábado, 12 de novembro de 2011

Mas é o creme da Barbie...

Como se lida com o envelhecimento ?Bom, nunca pensei que escreveria sobre isso,já que vivo mergulhada no complexo de Dorian Gray, achando apenas que meu retrato envelhece,não eu.
Não entendo o envelhecimento, porque meu cérebro não permite.Continuo me sentindo com dezoito anos mentalmente, como se isso fosse uma coisa boa.
Hoje em uma farmácia fiquei encantada com um creme da Barbie, com um cheiro doce.Mas como comprar aquilo, se estou em uma idade que os cremes tem que vir com alguma promessa de milagre ? Seja para eternizar minha pele, rejuvenescer anos em questão de horas,dar firmeza ou trazer de volta um tal de colágeno.
Quando eu era adolescente ainda não existiam no Brasil esses cremes da Barbie, minha mãe usava e me fazia usar o creme do capeta, aquela maldita lata azul da Nivea, uma produto sem nenhum propósito visual ou olfativo, não cheirava bem, não era bonito de ver e não se podia fazer nada com a lata depois.Meu irmão até que inventou um bom uso, deu para o gato brincar, ele adorava correr atrás dessa latinha azul.
Não tenho vontade de usar esses cremes anti -isso e anti -aquilo.Com tantos químicos ardem na pele, custam caros demais e não tenho vontade de olhar para eles todos os dias.
Ninguém me avisou nada,mas não me sinto envelhecendo.Tive dores no joelho,mas depois passou.Sinto que minha pele não é mais a mesma ,mas nem por isso parece que estou envelhecendo.
Meu pai diz para me preparar para a velhice, porque fica pior.Ah, bom saber! Conselhos depressivos são com meu pai, mestre e doutor nisso.
Eu até disfarcei na farmácia.Peguei cremes com milhões de ingredientes e garantias de eternidade, olhei, li os rótulos, fingi me impressionar com tudo o que diziam, mas no fim comprei o creme da Barbie, uma garrafinha rosa, cheia de brilho, com glitter. Não serve de muito ,mas gosto do cheiro. E o que seria envelhecer ? Não sei.Mas enquanto minha alma se encantar com algumas coisas,está bom para mim.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O que você vai ser?

Estavam três amigas brincando, tinham por volta de 6 anos de idade.
Perguntaram para a primeira o que queria ser quando crescer, e ela respondeu:
professora!
Pergutaram o mesmo para a segunda, e ela respondeu:
professora!
Perguntaram para a terceira a mesma coisa, e ela respondeu:
detetive!

Claro que a terceira era eu, e esse é um dos poucos vídeos que tenho guardado junto com minhas poucas fotos de infância.

Sumiu um prontuário, um documento, qualquer coisa, lá estou eu investigando, fazendo perguntas, criando teorias malucas, estou lá, brincando de detetive no meio do expediente com a vantagem de quase sempre encerrar meus casos com sucesso.

E sabe que se olhar bem vai ver todos lá sendo crianças, sendo igualzinhos eram quando pequenos, a mulher brincando de comidinha (que eu adoro os quitutes!) a bailarina delicada, a professora, o médico, a mamãe, a filhinha, a do vídeo game.

Está ali minha chefe, mimada, que pega a boneca dos outros sem pedir e que não deixa ninguém pegar a dela, a que deixa o quarto bagunçado, a encarregada que marca na lousa o nome de quem ficou bagunçando, a administrativa que pediu para responderem a chamada para ela, a terapeuta que parou de fazer xixi na cama, o psicólogo que puxa o cabelo das meninas, o auxiliar que não gosta de tomar banho.





Todos com 6 anos, de novo e ainda.


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

???

Hoje quero propôr um post diferente.  Me fizeram uma pergunta e, desde então, ela vem martelando em minha cabeça.  Alguém tem a resposta pra me dar?

"É POSSÍVEL AMAR ALGUÉM SEM MEDO DE PERDÊ-LO?"


Agradecido.


domingo, 6 de novembro de 2011

<Insira seu título pseudo-filosófico aqui>

Um mês termina. Outro começa. Não quero dizer coisas óbvias, mas aviso que o produto do que vai encher essas linhas é pura e simplesmente o do jorro de consciência que estou deixando escorrer em palavras nessa madrugada de terça-feira. Primeiro de novembro, como se fosse sequer importante. Em que furacão estou me metendo, me deixando levar assim, tentando ver até que ponto posso ir sem desmoronar de novo? Me perdoem a licença de pseudo-escritor-intimista, não quero transformar isso em algo bom. Estive perto dos meus amigos, e gostei de estar. Daqueles que não posso estar perto, bom, ainda não sei explicar o que nos liga com tanta força. Sei que não vai passar tão logo (e esse medo eterno de usar a palavra “nunca”?). Tanta coisa mudou. Tanta coisa ainda muda. Tanta coisa ainda vai mudar. Tenho medo. Se temo com fundamento ou não, só o tempo vai dizer.

More than this, you know there’s nothing… ♫

O QUE FICA É A MÚSICA.

sábado, 5 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quando não sou eu o cara na jaula dos leões

(por Gilberto Amendola)

Parece tão fácil quando não é comigo, quando não sou eu o cara que vai lotar o cinzeiro com bitucas tristes e pedir a conta minutos antes do simpático garçom passar avisando que a cozinha, infelizmente, "vai fechar."

Parece tão natural quando não sou eu o cara sem saber o que fazer com as mãos – o cara sem saber o que dizer quando ela, enfim, abrir seus olhos verdes como quem exibe um Royal Straight Flush numa mesa de pôquer.

Parece tão simples quando não sou eu o cara parado na plataforma – seguindo os vagões com a cabeça em zigue-zague. Ou ainda quando não sou eu o cara vendo ela relaxar os ombros no fundo da sala de embarque (o mesmo cara que, depois, vai ficar olhando para o céu e tentando adivinhar em que avião ela está).

Parece tão civilizado quando não sou eu o cara que finge não sentir o chão se abrir em alçapão ao vê-la passar feliz com o seu novo e brilhante amor. É tão ‘primeiro mundo’ quando não sou eu o cara mudando de calçada ou se escondendo atrás da barraquinha de pastel.

Parece tão matemático quando não sou eu o cara ouvindo a mesma música o dia inteiro, quando não sou eu o cara fazendo Air Guitar no quarto – e iludindo-se com uma plateia de carrinhos de ferro e Playmobil.

Parece tão razoável quando não sou eu o cara sozinho no cinema – afogado num saquinho de pipoca e esperando uma mensagem salva-vidas vibrar no celular. É tão melhor quando não sou eu o cara disfarçando o choro na derradeira cena de Blue Valentine.

Parece tão ‘de bom tom’ quando não sou eu o cara dentro do táxi pedindo para o motorista dar voltas pela Vila Madalena até uma angústia antiga encontrar um canto para descansar em paz.

Parece tão leve quando não sou eu o cara com a cara enfiada no jornal do dia, procurando, nos classificados, alguém que tenha paciência para ouvir a íntegra das minhas desventuras semanais.

Parece tão ‘cinema francês’ quando não sou eu o cara com a cabeça grudada no vidro do ônibus – pensando, repassando e recriando aquela chance, aquele deixa, aquela rixa, aquele adeus.

Parece tão empírico quando não sou eu o cara pondo fogo no mundo, bagunçando o coreto e usando artilharia antiaérea para chamar a atenção dela.

Parece tão bonito quando não sou eu o cara travado de gin me fingindo de Leonard Cohen tupiniquim. Tão, mas tão mais digno, quando não sou eu o cara trançando as pernas na Rua Augusta e procurando as chaves do apartamento no bolso da calça. É tão ‘fofo’ quando não sou eu o cara com o chaveiro do Snoopy e a camiseta do Charlie Brown.

Parece tão natural quando não sou eu o cara que não consegue tirar o rosto dela do primeiro plano da memória. Tão concreto quando não sou eu o cara tentando medir as palavras com a régua azul da solidão.

Parece tão engraçado quando não sou eu o cara protagonizando o próximo tropeço público, quando não sou eu o cara prestes a receber a torta de creme no rosto, quando não sou eu o cara na mira do atirador de facas ou preso na jaula dos leões banguelas. Parece tão hilário quando não sou eu o cara usando o nariz vermelho no centro do picadeiro. Tão incrível quando não sou eu o cara tomando porrada – e com a alma roxa de vergonha.

Parece tão humano quando não sou eu o cara sentindo esse frio polar na espinha. Parece tão chique quando não sou eu o cara que já não tem mais vinte anos, mas ainda insiste em usar xadrez. Tão lúdico quando não sou eu o cara que sobrou com a vassoura na mão no fim da festa.

Parece tão inteligente quando não sou eu o cara escrevendo poemas pra ela.

Porque quando é comigo...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Irmãos

Acho uma puta sacanagem gente que quer ter, tem, um filho só. É ser no mínimo muito egoísta. É ter um filho para suprir necessidades biológicas, culturais, ou sei lá o que, mas ele que se dane daqui uns 20 anos. Já pensou você e seu companheiro(a), velhinhos, com artrose, esclerose, alzheimer, e um único ser para carregar todo esse peso nas costas? E quando você morrer? Ele vai ficar sozinho nesse mundão de meu deus?

Sei da super população, do esgotamento dos recursos naturais, do preço da educação hoje em dia, de pequenos consumidores que exigem dos pais o céu de presentes, sei e penso sobre isso tudo, mas acho sacanagem ainda. Uma puta sacanagem.

Acredito que a convivência com irmãos é muito mais importante para a formação da sua identidade do que a própria convivência com os pais. Os pais trabalham (cada dia mais), os pais chegam cansados e dormem em outro quarto. É com seu irmão que você divide o medo do escuro, assiste desenhos na TV, brinca de carrinho de rolimã na garagem, passa manhã, tarde, noite, faz dever de casa, brigadeiro de panela e quase põe fogo na casa fazendo pipoca.

Meus primeiros discos e CDs, por exemplo, foi meu irmão que me mostrou. Os primeiros bailinhos que eu fui, fui vestida com roupas da minha irmã. Claro que a gente se estapiava por um danoninho, um controle remoto, mas hoje, lembrando de todas as coisas que já vivemos, posso dizer: os filhos únicos que me perdoem, mas ter irmão é fundamental.


* foto do meu irmão Rodrigo, tirada enquanto testava o flash na aula de fotografia que estamos fazendo juntos.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Publicar ou não publicar, eis a questão


Depois de muitos anos tentando escrever um romance, na primeira pessoa de um jornalista, me pego às voltas - mais do que nunca - no seguinte dilema: de que modo os amigos, a namorada, os colegas, os familiares e os conhecidos vão me enxergar depois de ler o livro? Quase toda a história é ficção, mas será que vão acreditar nisso?

Sempre que eu comento isso com alguém, esse alguém diz que eu tenho que publicar, que é bobagem minha e que todo mundo vai gostar. A questão não é se vão gostar ou não. Podem perfeitamente gostar, mas me considerar um completo idiota. "Esse cara é um bosta, mas o livro é legalzinho". Talvez seja bobagem mesmo, mas tem um lado meu que acha absolutamente desnecessário publicar esse romance. Será que falta coragem? Acho que é exatamente isso. Me falta coragem. Não estou nem aí se vai vender 3 exemplares ou 300 mil. O meu problema é unicamente com o verbo publicar, que vai gerar um evento no facebook chamando os amigos para o lançamento de um livro que eu gosto, mas não quero que ninguém leia.

Estou muito animado com a minha minha vida profissional, mas a minha vida literária (este blog, meu blog e o primeiro romance) passa por um período bastante turbulento de indecisões. A maior parte dos meus textos aqui e no meu blog são crônicas e eu já não sei mais se tenho fôlego/paciência/tempo/motivação/coragem para prosseguir nessa exposição contemporânea da minha vida pessoal. E se eu mudasse o meu estilo e passasse a escrever contos? Cairia no mesmo dilema ficcional/não-ficcional do romance. Ou então falasse só de futebol? E se eu fizesse críticas de filmes, discos, shows, óperas ou peças infantis? Não sei o que vai acontecer, mas pelo menos a minha crise literária me deu uma nova crônica. E nem foi das piores. Até a próxima. Quer dizer, se tiver uma próxima.

Obs.: Ao contrário do personagem principal do meu livro, que é jornalista, sou formado em administração.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

1h11

Foi então que ele apareceu, vestindo apenas um lenço preto amarrado em sua cintura, semi-nu, semi-deus. Pediu pra sentar ao meu lado e deixei. O mar estava calmo, a areia, mesmo de madrugada, ainda estava quente. Sozinho com meu bloco de anotações, não me assustei ao avistá-lo. Poucas pessoas costumavam aparecer na praia aquela hora, mas sua presença me confortava.

Aconchegando sua cabeça sob minhas coxas, dormiu. Em seu sonho particular pronunciava algumas frases que não entendi, mas minutos depois as coisas passaram a ter sentido. Do que pude anotar, guardei naquele velho bloco de anotações. Transcrevo:

"Quando morri, chorei. Fiquei parado na cama e com a cabeça entre os joelhos vi minhas lágrimas transformando em rios aquele lençol vermelho até então intacto. Gota por gota, percebi ficar diminuído por cada lembrança daquilo que era meu, tão meu e agora não era nada além do vazio que eu só conhecia nos livros do poeta. Neste momento choro a morte daquele que nunca ouvira falar de mim, que nunca me vira, nem sequer soubera da minha pequena e deselegante existência."

Assim que pronunciou essas palavras - dormindo - deu um leve suspiro e se levantou. Eu não posso contar tudo o que presenciei deste momento em diante, mas foi uma experiência incrível. Antes de partir, deixou um bilhete. Dizia:

"Não escondo minha soberba ao afirmar a mim mesmo que sou superior a todos eles, a todos vocês, meros reprodutores de frases feitas, clichês pré-fabricados, manifestações de rebeldia sem causa e queixas, muitas queixas. Eu sou poeta e isso me basta. Não serei solidário à minha própria dor. E como ouso eu dizer que nunca ouvi falar de mim, que nunca me vi, nem sequer soube de minha pequena e deselegante existência? Eu me fui, logo me conhecia. Logo posso dizer que sabia de todas as minhas angústias e mentiras, de todas as minhas alegrias e paixões, de todo meu eu."

Isto nem me pareceu tão estranho, confesso. Guardei o bilhete e, de volta ao meu quarto, reli. Pensei muito sobre toda essa loucura que eu acabava de presenciar. Para minha surpresa ele voltou e quando vi já estava novamente em minha cama. Me beijou e, como se precisasse explicar algo mais finalizou:

"Minha poesia não foi efêmera como nenhuma poesia é, por isso precisei partir, para que ela continuasse a viver. Por isso parto para que meu nome seja eternizado nos livros de escola, para que eu seja lembrado por ter criado um movimento. Eu parto para começar a existir."

Foi neste momento que eu vi sua matéria se decompor. Ele desaparecia aos poucos e logo me vi abraçando o vazio. Seu corpo tinha sumido, mas ainda sentia algo de sua presença no meu quarto. Os detalhes só eu guardo na memória. E sonho para que um dia o poeta volte e me faça acordar.