segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

diálogo grego


Dias atrás estava lendo algo sobre o DiEM25 – Movimento para a Democracia na Europa 2025 encabeçado por Yanis Varoufakis. 


A fia mais não conheço o moço. Não sei quem é. Nunca vi mais branco! Então per favore e pelo amor de meu deus procure saber agora. Seja por aqui ou procure no Pai Google (maiores informações sobre crise grega e etc).


E achei a ideia do DiEM25 uma ação ousada para não dizer radical. Principalmente considerando o contexto político e econômico da Grécia, Europa e porque não dizer do globo terrestre.


Por quê?


Porque sim, estamos numa crise e isso pode ser importantíssimo para nós dependendo dos desdobramentos.


Embora queiram te fazer acreditar que somente e apenas o Brasil está em crise pela má gestão ou pelo mar de lama da corrupção (que existe há séculos) venho por meio desta informar (ou avisar os desavisados) que a economia mundial encontra-se em mais uma de tantas crises do capital.


Então compreende-se que não, não se trata de marolinha, ou não é mudando os rumos da economia com privatizações inescrupulosas e com prejuízos ao país ou ainda alterando a presidência seja em pessoa ou partido que irá mudar ou suavizar a crise.


Infelizmente desde os atentados terroristas na França a crise do capital na Europa está reduzida em noticiários na crise da imigração ou em ações contra o terrorismo. Como se uma (crise do capital) não fosse consequência das outras né?!


O terrorismo e imigração (e não imigrantes, tão marginalizados quanto os revoltados) transformaram-se num remédio maldito para reafirmar o comodismo, intimidação no cessar das lutas na Europa. 


E quando os revoltados tomaram às ruas não foi com gritos de contra a corrupção, ou para cantar o hino e demonstrar nacionalismo, ou pior ainda vestir a camisa para brincar de carnapolítica.


Os revoltados foram por motivos reais de sobrevivência ou para sobreviver, quando a revolta transpassou os gritos e bancos e equipamentos quaisquer que representasse o Estado eram depredados e pichados pelos manifestantes.


Não que considere revolucionário depredar ou pichar equipamentos públicos ou privados, mas observo a representação simbólica da insatisfação plena com a especulação (imobiliária, financeira etc.) e insatisfação absoluta na qualidade de vida nas cidades.


Ainda assim, sem considerar revolucionário este tipo de ação ou tática cabe pontuar que mesmo após manifestações desta natureza (com depredações e pichações) nenhum dos Estados Europeus propôs leis com margem para interpretações dúbias pelas instituições jurídicas (neste Estado Democrático que pune apenas pobres) para enquadrar e prender manifestantes como terroristas.


De qualquer forma é bom relembrar os principais motivos de repúdio dos manifestantes europeus para a época, a ausência de postos de trabalhos e o empobrecimento e endividamento da população e consequentemente do Estado.


Até então ou desde a crise de 2008 quando ainda vivenciamos os desdobramentos não existe crescimento econômico noutra parte do planeta que não seja nos EUA.


E mesmo que lá tenha crescimento econômico não significa que a população negra e latina encontra-se vivendo o Bem Estar (ou no Bem Viver numa perspectiva do livro que ainda não li), mas sobrevivendo. Ou pelo menos esta é a informação que tenho ao ler matérias, artigos, comentários e blá blá da mídia alternativa.


Mas se está desconfiado e achando que se trata de melindre da louca, recomendo que leia e acompanhe os dados de crescimento divulgado pelo FMI, segundo os próprios o crescimento em 2016 para economia mundial será medíocre o que reafirma mais uma de tantas que virão crise do capital.


Cabe mencionar que para perceber essa conjuntura é necessário buscar a informação, não espere em grandes meios de comunicação, porque neles sequer recebemos notícias rápidas de quando decretam greves ou manifestações na Europa.


Noutro dia vi na TV Minuto dentro do ônibus notícia sobre uma greve dos trabalhadores na França, mas foi tão rápida que não consegui compreender quais trabalhadores. 


Tanto que quando cheguei em casa fui logo procurar em todos noticiários sem encontrar uma nota sequer; e observo as constantes tentativas de desvencilhar atenção para a crise (que se arrasta) e seus desdobramentos, o que de fato interessa a todos.


Por isso acredito na ação Yanis em lançar o DiEM25.


Considero necessária e urgente para impulsionar manifestações populares com reivindicações que nos contemplem. E tenho andado curiosa para saber mais do lançamento do DiEM25 em 09/02/2016.


E com dúvidas sobre qual o momento da participação popular. Sabendo que o Reino Unido implantou o referendo para reafirmar ou não a permanência no bloco do euro e seja qual for  o resultado jamais receberiam do mercado financeiro, mesmo com dívidas o tratamento dado aos gregos.


As tentativas de humilhar a vontade popular quando deram a resposta severa foi para servir de exemplo a quem se atrevesse a exercer a democracia na estrutura financeira e nos limites do restrito grupelho ou establishment. 


É justamente quando percebo como esta ação é importante ou vejo como é radical se observar a nefasta insistência em humilhar os líderes (e democracia?) que desafiam as condições impostas pela aristocracia financeira.


Acredito na ação Yanis em criar o DiEM25 mesmo desconfiada que seja em princípio uma ação reformista. E mesmo se sonhar altíssimo e de forma utópica na adesão massiva do movimento em democratizar a Europa o que faria com a transparência?


Será possível alterar ou reformar uma estrutura financeira construída para beneficiar a especulação e acumulação do capital que beneficia poucos, mais precisamente 67 pessoas ou os 1% que detém a riqueza mundial?


E se a reivindicação de democratizar o mercado financeiro e/ou Europa falhar? 
Qual o plano B, criar algo como BRICS? 
A estratégia contra ações como BRICS não está no acordo TAFTA ou TTIP? 
Existe possibilidade de criar setores financeiros sem fins lucrativos?


Pode parecer impossível, mas as estruturas financeiras de hoje existem por causa dos centavos acumulados (que ninguém faz questão no aumento das passagens sabe), dinheiro de plástico (cartão) e principalmente na especulação. Então acho enviável agora, mas futuramente quem sabe.


E quando olho para América Latina, o quintal da especulação, acumulação do capital e exploração do Imperialismo e daí compreende-se que não se trata dos EUA inteiro e de todos os americanos penso se teríamos força e vontade popular e política para criar algo parecido por aqui.


Embora guarde as esperanças não as tenho por inocentes e livre da falta de representação política, pois mesmo os partidos que se dizem progressistas não tem outro horizonte senão:

 “...o discurso político é claramente de rendição ao capitalismo e ao neoliberalismo como estruturas inexoráveis.” conforme analisado de forma criteriosa e precisa a Crise brasileira e direito por Alysson Leandro Mascaro no blog da Boitempo.


Aqui somos praticamente recém-nascidos no que diz respeito à democracia, não superamos em tempo a ditadura civil militar; ainda lutamos e reivindicamos direitos básicos e de forma fragmentada; não temos representação política sequer na direita e sendo objetiva para não ser rude até mesmo ela pareci ridícula nas reivindicações e ações.


A única força está nos movimentos sociais e ainda assim resistem para garantir direitos já conquistados ou na reivindicação dos direitos básicos e ataques de egos de políticos ultraconservadores.

Então por essa e outras acredito no DiEM25.


E quem melhor do que os gregos para pleitear algo que provavelmente daqui alguns anos reivindicaremos.Mesmo que em princípio soe uma ação reformista ou seja semelhante a pedir reformas ou invés de revolução.


Talvez ou somente quando aprofundarmos a democracia é que as contradições surgirão, mas desta vez vivenciadas nas lutas e esgotamento de todas as reformas.


Assim se tornaria mais evidente a inviabilidade absoluta da transparência, da garantia de direitos e consequentemente justiça (inclusive a social), qualidade de vida e Bem Estar seja nas cidades, no campo ou em qualquer lugar deste bendito planeta.


Ou noutras palavras reivindicar mais democracia na junção capitalismo + democracia é revelar com todo respeito o presente de grego que vivemos.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Dizeres em torno do cinema - ou não.




assisti a boa parte dos filmes concorrentes ao Oscar 2016. e não posso dizer que desgostei de nenhum deles. por outro lado, posso dizer tranquilamente que nenhum me arrebatou, embora muitos tenham me comovido. e alguns outros tenham deixado algum rastro de memória. 

mas de tudo, vou ficar com a sensação de um certo esgotamento da ideia de cinemão - aquele cinema feito para nos emocionar. porque, para mim, só vale a emoção quando eu não sinto claramente a manipulação --- as cenas construídas unicamente para tirar de mim uma lágrima, um susto, uma falsa expectativa. porque aí meus sentimentos se distraem::: porque aí a emoção é forjada a partir de algo que, de fato, constitui pouca monta para aquilo que avalio ser um grande cinema. um cinema no qual vale a pena investir as longas horas. 
 
estão nessa categoria filmes como O quarto de Jack, O regresso, Perdido em marte, A garota dinamarquesa, que são filmes muito bons no momento em que assistimos, mas que quando pensamos seriamente sobre eles, identificamos facilmente as receitas, as recorrências e logo colocamos naquela categoria de filmes de entretenimento. filmes que nos fazem chorar, ou rir, dentro de uma convenção cinematográfica. 

penso que estamos exatamente neste ponto: o da convenção --- que estende seus tentáculos para todos os campos de atuação do imaginário. é claro que deve ter por aí muitos filmes que rompem com esta ordem. mas para eles é necessário pesquisa, disposição, coragem. 

Anomalisa, mesmo, é um filme que exige uma certa coragem. e também um certo discernimento. porque ele nos diz uma coisa, mas nos permite pensar outra. em linhas gerais, é fácil culpabilizar os outros, que são todos iguais, pelo desencanto de Michael Stone, palestrante motivacional sem motivação alguma para a vida. mas pergunto o que há de impostura no olhar de uma pessoa que passa a ver todos como iguais por causa de um simples "pontinho no nariz"? eu preferi acatar a pobreza do humano na figura de Michael, e não na daqueles que o cercam. e isso, sim, é um filme que não é exatamente de entretenimento, que causa um incômodo não exatamente localizável.  porque nos permite estar diante de, no mínimo, duas vias.

no meio desses possíveis "oscarizáveis", assisti ao filme Mia madre, de Nanni Moretti e o documentário Eduardo Coutinho,  7 de outubro. e estranhamente, foram na verbalização nervosa de Moretti e na precisão do olhar de Coutinho que senti, realmente, por que o cinema nos causa um abismo inominável. e não digo mais nada

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Fernanda Torres, não te desculpo!

O pedido de desculpas da Fernanda Torres não me convenceu, nem me comoveu. 
Quer saber o que ela escreveu no dia 22/02? Tá aqui: http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/.../22/mulher/, com o meu destaque para "A vitimização do discurso feminista me irrita mais do que o machismo."
Aí, depois de pensar "a semana toda", postando um pedido de desculpas dois dias depois (ué, uma semana tem quantos dias mesmo?) neste link aqui ó 
http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/.../mea-culpa/, achei o texto engessado (não acho que tenha sido escrito realmente por ela, pela diferença na escrita), frio e conversa pra boi dormir.
Ela tem o direito de repensar uma opinião? Tem e deve. Eu estou sempre pensando, repensando, discutindo, falando antes e se arrependendo depois. Aprendendo que não é assim ou assado.
Porém, se não fosse a repercussão que aconteceu durante os três dias, duvido que ela se retratasse da maneira que fez.

Não aceito que uma mulher com acesso a tanta informação, solte um texto dessas, enfiando no lixo os próprios textos publicados e bem fundamentados no blog ‪#‎AgoraÉQueSãoElas‬ por outras mulheres que lutam diariamente contra a maré preconceituosa.


Quer escrever sobre o feminismo? Escreva! Quer criticar o feminismo? Critique! Mas leia, conheça, pense e opine.
Esses discursos colocados de maneira genérica na internet, só reforçam aquilo que Jout Jout Prazer disse uma vez e eu endosso: #VamosFazerUmEscândalo.

Do lado de cá, os machistas não passarão. As machistas também não. Foi assim que aprendi com a mulherada lá de casa e é por isso que hoje defendo o que elas fizeram anos atrás.

Até mês que vem! 




terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Quinto Ciclo

Sempre amei aviação. 
De 1997 a 2000 trabalhei em companhia aérea, mas meu primeiro vôo foi em 2001. 
Tenho um problema no ouvido então infelizmente tive que seguir outro caminho. Recentemente fui promovida para um cargo que precisava viajar bastante. Cada semana estava em uma cidade diferente, era tudo que eu mais queria. 
Quando eu achei que não poderia ser mais feliz recebo uma proposta de emprego ainda melhor. 
Na quarta feira de cinzas foi meu último dia em São Paulo.
Me vi no lugar daqueles passageiros que eu atendia com tanta admiração. 
Não é fácil mudar de cidade. É uma mistura de ansiedade e medo. Não é fácil, mas é libertador.
Sinto como se tivesse tendo uma nova chance. 
Dizem que a vida é feita de ciclos de 7 anos. Assim começa meu 5o. ciclo.
Manaus me recebeu muito bem. A natureza aqui é linda, as pessoas boas. 
Estou muito feliz por ter vindo, minhas melhores expectativas foram superadas.
É isso que desejo para vocês esse ano. Que vocês tenham oportunidade e coragem de ousar e que sejam muito felizes por isso!
Essa é a vista do meu apartamento

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Estudo sobre o olhar em três etapas

I. Do olhar pra baixo

Às vezes fico imaginando se os pilotos de avião se dão conta do grande papel que eles têm para a sociedade. Não, não me refiro ao também importante papel de transportar as pessoas, com razoável conforto e velocidade, de um lado para o outro. Estou me referindo ao papel que eles têm para com as crianças. Sim, porque se alguém tivesse o poder de enxergar de tão longe, veria que por onde um avião passa existe uma criança assombrada apontado para o céu e dizendo "olha um avião!". Imagina o quão bonito seria se pudéssemos ver toda a trajetória de mãos apontadas para o céu de um voo que fosse de Manaus até Porto Alegre. Uma grande onda iniciada por um grupo de pequenos manauaras - olha um avião! olha um avião! - e que logo passaria por crianças paraenses, mato-grossenses, goianienses, mineiras, paulistas, paranaenses, catarinenses e gaúchas. Não, não podemos enxergar tanto, mas isso seguramente ocorre todos os dias. Acho que os pilotos de avião deveriam ter licença para olhar pra baixo enquanto pilotam. Mal sabem eles que cena bonita estão perdendo!

PS.: Em menor escala, este fenômeno também funciona com kombis e com fuscas azuis.

II. Do olhar pra cima

As pessoas também deveriam ser autorizadas a olhar pra cima. Se já são, deveriam gozar mais do direito que possuem, do direito universal de olhar pra cima! Falo isso por experiência própria. Não fosse o alerta de uma amiga minha, eu passaria a vida sem saber que no meu costumeiro caminho de casa pro trabalho e do trabalho pra casa, existe um pé de seriguela, um pé de acerola, uma mexeriqueira, algumas pitangueiras e um sem número de outros pés de frutas de nomes por mim desconhecidos, mas que tem aquele gosto, por vezes mais azedo, por vezes mais doces, que as frutas costumam ter. Acho importante informar, para que não digam desaforos, que não moro em nenhuma cidadela rural. Pelo contrário, moro numa dessas cidades grandes em que as pessoas são desde cedo treinadas a somente olhar para a frente.

III. Do simplesmente olhar

Qual tipo de pessoa passa por mais contatos humanos do que o caixa de supermercado? Qual tipo de pessoa passa por menos contatos humanos verdadeiros do que o caixa de supermercado? Sim, porque a pessoa que pergunta se vai CPF na nota, que por vezes também indaga se hoje você vai de débito ou crédito e que mais recentemente também lhe questiona se hoje vai sacola ou não, é um ser-humano complexo que sonha, chora, ri e pensa, mas que depois de tantos CPFs, cartões e sacolas, deve ter se travestido em máquina, deve ser se metamorfoseado em caixa-registradora, igualzinho a todas as outras, que só repete mecanicamente perguntas e instruções e que só recebe do outro lado - de outra maquininha - respostas mecanizadas. Deve ser por isso que dia desses o sistema entrou em colapso. A moça que estava na minha frente na fila, pegou um chocolate que tinha acabado de ser registrado e o entregou ao caixa "Toma! Este eu comprei pra você". O rapaz a olhou sem entender nada, visivelmente despreparado para lidar com aquela situação inesperada, e arreganhou os lábios num baita sorriso!

E olha que ele nem gostava de chocolate...

domingo, 21 de fevereiro de 2016

DEVANEIOS...

Pensando numa maneira! A difícil arte de ser melhor!
Até porque nunca agradamos à todos! Alguém sempre fica para trás! Nos resta então saber colocar prioridades na vida! A árdua tarefa de crescer! Tomar decisões que afetam a nossa e a vida dos outros também! Ave... Coisa mais difícil! Coisas sem nexo!

Hoje, escrevo devaneios! Pensamentos que vem e vão! Coisas aparentemente sem sentido, mas que vale a pena pôr na tela do PC! Nem sei o por quê!

Será que eu deveria publicar isso em frases então?!

Sei lá!

Permita-me hoje, escrever sem sentido, sem sei lá o quê!

Por que será que a gente tem dias assim?! Inspiração é o que não falta! O motivo e a razão existem, mas definitivamente hoje não tá dando para colocar ordem nas coisas! Aprendi que nem sempre dá prá organizar! Acho que hoje estou desorganizado. Peço desculpas, mas hoje essa é uma de minhas limitações, que, você sabe, não são poucas. Mas tô tentando melhorar!

Um dia lindo, um sol maravilhoso, que ainda não aproveitei! E só irei fazê-lo quando for perto de 14h15! Antes não! Não caminhei hoje, como sabe!
Nem tirei aquelas fotos!
Nem fui ao banco!
Escrevendo assim lembrei-me da Legião Urbana! Grande poeta Renato Russo! Pura e simplesmente por causa de umas frases curtas que ele usava para compôr algumas de suas canções!
Aliás, que saudade desse cara! Cantava muito! Hoje à noite não tem luar...

Devaneios...

Coisas aparentemente sem sentido!

Tô assim hoje, me sentindo meio perdido! Me ajude a me encontrar, por favor!

Me vem à mente a imagem de um menininho perdido num parque de diversões, em meio a tanta gente, mas sozinho! Tudo seria motivo pra diversão, mas não é para ele! Os brinquedos giram, sobem, abaixam... As outras crianças se divertem, mas ele não... Ele sofre quietinho, uma lágrima teima em escorrer de seus olhos... Qual o motivo? Onde estão seus pais? Seus responsáveis?

Irresponsáveis...

Deixaram o menino à mercê da sorte. E que sorte. Sofrimento da solidão tão criança assim...

Creio que às vezes nos sentimos assim. Como essa criança perdida nesse mundo maluco cada vez mais louco que vivemos! Deus é nossa únca esperança, mas não sou alienado! Não somos! Somos humanos, e não robôs... Temos sentimentos também, e a vida do ser humano não é matemática. Nem sempre é ciência exata. Acho que é por isso que, embora seja formado técnico em contabilidade, sempre preferi, quando criança, Biologia, e após crescido, Comunicação! Ciências Biológicas! Ciências Humanas!

Não gosto da idéia que nos traduz como números. Sei que somos contados. Tudo na vida conta!

Mas... e quanto aos sentimentos? E quanto à nossa humanidade?! E quanto ao sermos presença e presentes na vida de alguém?

Devaneios...

Devaneios que nos dão liberdade de expressar através das palavras, senão explodiríamos.

Seja aqui no Blog, ou no Recanto, que bom que sei que procuro me expressar da melhor maneira possível para que você me entenda! Porém, acho que hoje será difícil! Trechos sem conclusão... Mudanças bruscas no assunto... Sem enredo aparente...

Você, formado em Letras, nas artes da Literatura, que me perdôe! Mas hoje, quero ter a liberdade de escrever assim! E se, você ainda não desistiu de ler esse texto "sem sentido", agradeço de coração.

Hoje, nem eu tô me entendendo comigo mesmo! Vai entender?!

Por hoje, basta que saibas que és importante. Dentro de mim, dentro de minh'alma. Dentro dos meus pensamentos e de todo o meu ser. Já quis ser muito compreendido! Mas cheguei à conclusão que isso é quase impossível, para qualquer um! Não me entendo e quero que me entendam!

Devaneios inexplicáveis do entender! Ninguém entende!

Hoje não consigo me explicar! Perdão! Mas tente me entender! Farei de tudo para que você consiga!

Ou que me aceite!

Mesmo sem me entender! Porque eu também não entendo!

Devaneios...

Publicado originalmente no Blog do Márcio Luís

sábado, 20 de fevereiro de 2016

O pajé Guaíra

O pajé Guaíra contempla o mar pela manhã com a serenidade dos olhos emblemáticos de quem retira das próprias reflexões o conhecimento necessário para lidar com os problemas do mundo.

Beirando os setenta anos, discerne entre tudo o que os brancos têm a oferecer o que há de aproveitável e o que deve ser mantido distante. Essa postura tranquila se estende para as próprias pessoas que cruzam seu caminho.

Perdeu a conta de quantas vezes, vendendo seu artesanato, viu alguém estereotipando um índio, com um grito agudo cortado por leves tapas nos lábios. Hoje isso provoca um suspiro involuntário. A indiferença externa camufla um certo desânimo diante da ignorância.

O artesanato é uma necessidade. A comida é comprada. As roupas também. A ideia romantizada do índio como um ser que vive na mata, extraindo tudo o que precisa da natureza que o cerca já não existe há séculos.

Porém o que o velho índio realmente gosta é de pegar seu violão; desafinado e sem a sexta corda, mas suficiente para acompanhar seus cantos e rezas. É assim que ele, o último pajé de sua tribo, passa seus ensinamentos aos mais novos. Ser pajé é um dom. Exige muito conhecimento acumulado ao longo da vida, postura compatível com a responsabilidade de sua função, mas, sobretudo vocação para lidar com tamanha responsabilidade.

À luz da fogueira Guaíra conta como, quando ainda era criança, se aproximou da velha índia doente, estendeu as pequenas mas já calejadas mãos sobre o rosto dela e percorreu seu corpo, até sentir um peso ao chegar na perna ferida, que a impedia de se levantar. Cinco meses depois, com a índia já falecida, Guaíra sentia leve comichão em sua mão direita, aumentando cada vez mais. Com uma rama de unha-de-gato conseguiu extrair de um dos calos uma pedrinha branca.

Essa foi a primeira manifestação de seu dom. Tivessem os mais velhos acreditado na criança de instintos manifestos, poderiam ter tratado a mão que carregou a doença e salvado a índia, que morreu de corpo seco.

Depois disso Guaíra passou por muitas provações ao longo de vários anos. A maior delas foi a bebida dos brancos. O líquido incolor queimava a garganta e franzia o cenho, mesmo assim em pouco tempo a tentação de provar mais um gole era mais forte que ele. Entre os brancos o índio era motivo de piada. Embriagado, entoava os cânticos de sua tribo de forma embolada, até cair e ser esquecido ao relento.

A vida híbrida, entre os costumes dos índios e os maus hábitos dos brancos, fez o índio Guaíra adoecer. A tuberculose, agravada pelas noites frias regadas à cachaça, o levou ao hospital quando já escarrava sangue. O corpo rústico, habituado a tribo, estava agora em um quarto gelado, de uma claridade opressora, com tubos e fios limitando seus movimentos.

Naquela noite, Guaíra desejou morrer.

Após tossir compulsivamente por mais de uma hora, o índio adormeceu. Em meio ao sono pesado e intranquilo viu na escuridão um pequeno ponto luminoso, que assim como a coceira em sua mão quando criança, aumentou lentamente até virar um brilho intenso e ofuscante, no qual surgiu a imagem de sua falecida mãe.

Emocionado ele viu a índia se aproximar devagar. Ela estava exatamente igual à imagem que ele se lembrava, ornada com penas, colares, tornozeleiras e a face meticulosamente pintada. Ao chegar bem perto ela segurou o rosto do filho com as duas mãos e disse em tupi-guarani “agora você está pronto para ser pajé da sua tribo”.

Ao acordar o pajé Guaíra já não tossia. Ainda sentia na boca um aroma de ferro, graças ao sangue que expelira na noite anterior; os músculos do peito doíam por conta da forte tosse, mas uma onda de paz parecia envolver seu corpo, que parecia já ter se livrado dos desejos inconvenientes.

O pajé Guaíra nunca mais bebeu. Hoje fica pensando em como era capaz de consumir algo que precisava fazer cara feia para beber. Encontrou nas origens de sua tribo muitas coisas que dão prazer sem cobrar em saúde.

Sua tribo tem uma nova aldeia, ainda pequena, mas com futuro promissor. Guaíra não guarda ressentimentos de quem quer que seja. Todos são acolhidos e bem recebidos por ele na aldeia Awa Porungawa Dju. Sua habilidade em identificar na mata as plantas benéficas e as parasitas se estende às relações humanas. Hoje Guaíra carrega todo o peso de ser o único pajé da tribo com a serenidade de quem equilibra uma leve pena entre os dedos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Presente? Obrigado! Precisava sim.



Quando criança, eu preferia brinquedos.
Quando adolescente, eu preferia discos.
No começo da vida adulta, eu queria apenas estar com a família em paz e estar com os melhores amigos pra comemorar meu aniversário.
Isso pra mim era felicidade. Para que mais?

Mas teria mais... o futuro, que virou presente. Meu maior presente possível em mais este ano de vida: o próprio presente!

Pra muitos, pode não parecer uma grande evolução pra quem está com a "meia idade" batendo à porta, pra outros pode parecer falta de "ambição", mesmo com tantas mudanças. Mas se você recapitular o começo do texto, perceberá que valores são diferentes de preços, gosto do que nunca estará a venda. Essa foi minha evolução, é o que minha vida se tornou naturalmente, é o meu presente.

Tenho hoje o que sempre sonhei: família, paz e amigos verdadeiros. Discos e brinquedos ainda me acompanham nessa evolução, hoje os brinquedos são da minha filha e os discos, ainda tenho o prazer de tocar em casa e por aí a fora de vez em quando.

Se você faz parte do meu presente, se considere meu presente de aniversário, que me deixa feliz e não deixa de me surpreender a cada 18 de Fevereiro! 

Obrigado! Eu precisava, sim. E nunca vou precisar trocar esse presente, pois cada um sempre trás algo novo que sempre vai me servir e completar a minha coleção a cada ano que passa e que vou ficando mais velho (velho não, clássico).

Feliz Vida para todos nós!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Amores e sapatilhas

“Quer essa sapatilha? Não dá em mim, aperta meu pé”. Conferi o número, provei e era linda, então aceitei a doação da minha amiga, que estava fazendo uma limpa no guarda-roupa. Usei a bichinha um dia e deu tudo certo. Mas no segundo dia senti. Apertou calcanhar e dedo mindinho, suplício de um dia todo. Machucou de tal forma que eu queria tudo, menos estar calçando aquele martírio.
Pensei o mesmo sobre pessoas. A gente se relaciona com um punhado de gente e, quando dá errado, quando o calo aperta, quando faz bolha, machuca, culpamos primeiramente o pé. Nem falo do pé na bunda. Falo do pé metafórico que calçou aquele relacionamento. Não deu certo, não rolou. Fiz algo de errado. Não sirvo para isso. A química não deu certo, isso sempre acontece comigo. Hoje, baseando minha hipótese em duas usuárias-testes, eu e minha amiga, vi que a culpa era da sapatilha. O problema é do calçado, da sua forma assassina. Às vezes, a pessoa que cria calo, bolha, independentemente de quem a pise. Faz o inferno, independentemente em que vida passe.
De qualquer forma, tem uma sapatilha aqui em casa para doação. Porque acredito que mesmo que nos machuquem, cada uma delas, pessoas e sapatilhas, merecem sempre mais uma chance.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

.na esquina onde sempre há um pombo morto.

é aí que o domingo faz seu pouso. de alguma janela o que parece uma viola contrasta com a cantoria ecumênica que escapa da portinhola no avançar da rua: não avisto nada além das flores enredadas no portão. entre o pombo e eu, restos da semana já finda; sacos minuciosamente rasgados pelos cachorros do bairro. não escolho meu passo, tateio por instinto o que é calçamento meio à fraldas, um celular de brinquedo, pacotes de macarrão instantâneo e estilhaços do que antes cerveja e festejo. certamente havia maior diversidade, não vi, não escolho meu passo e nem minha atenção. outro pombo, repito o óbvio em silêncio, isso sempre me perturba, mas aos domingos o comichão é dum incômodo mais acentuado.

lembro ainda aquele dia: espera de rodoviária, mochila nas costas, moscas e cheiro de salgadinho. também era domingo. foi um instante e desajeito de quem deveria ter voado, mas não voou. meus olhos em frenesi: no pombo, no ônibus, naquele pneu imenso na direção do - voa, meu filho, voa, que cê tá esperando? - alguns segundos, não mais que isso, ainda assim a memória teve tempo de me trazer dia ainda mais envelhecido: instrutor da auto-escola, eu tímida, eu nervosa, pombos não param de me atravessar o para-brisas, ele zombeteiro: sempre digo que aquele que conseguir atropelar um pombo aqui ganha de mim um prêmio, tranquila, eles sempre voam. - foi um instante, eu na rodoviária, na esperança, e ploc. surdo, exato, pastoso, domingo. 

eu não escolho meu passo, eu não escolho minha atenção, eu não escolho os pombos que me percorrem. 

ainda teve aquele, em minha espreita, quando abri a porta do apartamento. 

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Viver é perigoso

Minha avó sempre diz que no tempo dela não existiam tantas doenças como existem hoje.
Pra rebater o argumento dela, eu costumava dizer que existiam sim, mas as pessoas acabavam morrendo e não sabiam exatamente do que ou ainda morriam muitas pessoas e, por falta de comunicação, nem ficavam sabendo.

Ela ainda sempre acrescenta que, em sua infância, comiam colheradas generosas de melado todos os dias e ninguém tinha diabetes e que tudo era preparado com banha de porco e ninguém morria por problemas de veias entupidas.

Há 4 meses deixei de beber leite por causas das pesquisas que andei lendo e dos artigos que afirmavam os malefícios da bebida. 

Recentemente descobriram que bacon é cancerígeno.

Ontem, ao abrir o facebook, me deparei com um artigo que dizia que, nos pães que compramos nos supermercados, usam uma substância para fazê-los inchar e ficarem molinhos chamada Azodicarbonamida. Essa mesma substância - banida em vários países - é usada para fazer plásticos e emborrachados aerados através de gases - muitos tóxicos. Então na hora da compra, optamos pelo integral (que muitos usam o termo, mas na composição não tem farinha integral, mas sim farinha enriquecida) , pelas fibras e pelas substâncias tóxicas.

Se nenhum acidente acontecer no percurso da vida, a comida pode nos matar.

O mundo tá perigoso demais.

Talvez minha avó tenha razão.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Não carreguem bebês desconhecidos no colo!

Quando era pequena minha avó me levava na Semana Santa para passear, tínhamos que ir em sete igrejas durante a noite, no México isso é conhecido como o ''a visita a sete casas'', não sei se fazem a mesma coisa no Brasil, mas representa as sete paradas que Jesus fez antes do seu calvário na cruz. Depois da ceia, Jesus vai a casa de Anás, saindo de lá vai a casa de Caifás, logo vai com Pilatos, em seguida a vai a casa do Rei Herodes, é levado pela segunda vez diante de Pilatos e finalmente colocado na cruz.

Então vamos a sete igrejas e rezamos por Jesus em cada uma delas, até que na última assistimos a missa.

Não sei se isso mudou, devido a violência que se vive na Cidade do México, mas quando eu era pequena era uma das coisas mais divertidas do mundo. Essa tradição começou com a chegada dos espanhóis no México e pela distância entre as cidades e a falta de transporte era comum as igrejas colocarem comida e água, para que os fiéis aguentassem caminhar durante horas entre uma igreja e outra. Os mexicanos preservaram isso, a diferença é que hoje se vende a comida, mas existe muita fartura, as igrejas estão no mesmo lugar, não é mais necessário caminhar quilômetros e muitas pessoas fazem o passeio apenas pela comida.

Dura a noite inteira, nunca entendi essa parte, mas as pessoas começam a ir nas igrejas à tarde e passam a noite inteira entrando e saindo delas. Os mexicanos são barulhentos e gostam de música, então os lugares sempre estão cheios de música do lado de fora. É uma  festa, o cheiro da comida se mistura com o cheiro das flores que as pessoas levam, o barulho da música se mistura com as pessoas falando e as missas acontecendo.

Minha avó não abria mão desse passeio nem que o mundo caísse, mas era cansativo, eu lembro que sempre me obrigavam a dormir à tarde para aguentar a noite inteira indo de um lado para outro. Meu irmão não gostava, minha avó fazia o que podia para amenizar, comprava comida, balões, mas ele se irritava e ficava perguntando quantas igrejas ainda faltava visitar. Minhas primas menores acabavam dormindo no carro, é, eu sei, é uma coisa maluca, imprudente, mas naqueles tempos o México não era uma cidade tão violenta e meus tios deixavam as crianças dormindo no carro. Comigo isso nunca aconteceu, sou fresca desde que nasci, ou durmo na minha cama ou fico em pé, não consigo encostar em qualquer lugar e dormir.

E estávamos nesse passeio, quando ao sair da missa escutamos um bebê chorando, ele estava em um carrinho e a mãe estava distraída. Minha avó se aproximou e ficou conversando com o bebê, que sossegou. Ela sempre teve um tom de voz tão doce que hipnotizava as crianças, a gente ficava quieto na hora. A mãe se aproximou e agradeceu minha avó, percebeu que eu estava encantada com o bebê e me perguntou se eu queria pegar ele no colo. Eu respondi que sim, mas minha avó não deixou, disse que era tarde e me puxou. 

Quando nos afastamos perguntei porque não me deixou pegar o bebê e ela respondeu:

-Porque é tarde! São quase as três da manhã, nunca carregue no colo um bebê desconhecido perto dessa hora.

Não entendi, mas guardei a resposta por alguns anos, até que um dia estava na casa da minha tia, em uma noite de Natal, e uma das minhas primas estava carregando seu bebê, ela me deu ele, mas eu disse que não carregaria porque eram quase as três da manhã. Minha avó começou a rir e disse que eu poderia carregar o bebê, porque era da família, mas se fosse estranho não poderia. Perguntei o motivo e ela me contou que morava no campo e poucas vezes ia a cidade próxima, mas sempre ficava sabendo das ''fofocas''.

De repente começou a correr uma história, a cidade tinha uma estrada que ligava a outras duas, era comum as pessoas passarem ali à noite e de madrugada. Um dia um homem passou ali e escutou um bebê chorando, começou a procurar e o achou embrulhado em um cobertor. Pegou o bebê para levá-lo a igreja, naquela época era o que as pessoas faziam ao achar bebês nas ruas. Ele começou a caminhar com o bebê no colo e conforme avançava sentia o bebê ficar mais e mais pesado, ele não aguentava mais o peso da criança e se abaixou para colocá-lo no chão, quando fez isso percebeu que estava carregando um porco com um rabo de lagarto, que ao ser descoberto começou a rir. Ele se assustou e saiu correndo, enquanto o porco ria.

Aconteceu várias vezes com diferentes pessoas e começou a correr a lenda de que existia na cidade um demônio brincalhão, ele se divertia fazendo isso, se disfarçava de bebê, deixava as pessoas pegarem ele no colo, o ninarem e depois virava um porco. A coisa foi crescendo e pessoas começaram a aparecer mortas, a conclusão do Padre da cidade é que o demônio se disfarçava de bebê para fazer uma brincadeira, mas quando percebia que a pessoa que tinha caído na brincadeira era fraca espiritualmente ele levava sua alma. Mas essa brincadeira só acontecia entre três da manhã e quatro da manhã.

Perguntei para minha avó porque ele só ''brincava'' nessa hora e ela me respondeu:

-Porque é a hora dele! Ele faz tudo ao contrário de Jesus, adora provocar e tirar sarro das coisas importantes. Jesus morreu as três da tarde, na cruz, por isso essa hora é conhecida no mundo inteiro como a hora da misericórdia, é o horário santo. E o que o capeta fez? Foi e pegou outro horário para ele, as três da manhã, o auge dele é as 3:33, mas ele fica vagando e procurando por almas até as quatro da manhã. O uso do número três é uma burla com a Santíssima Trinidade, Pai, o filho e o Espírito Santo.

Foi por isso que você não me deixou carregar o bebê, naquela igreja?

-É, eram quase três da manhã! Poderia ser o diabo disfarçado de bebê, se você carregasse, era muito pequena, ele poderia ter te levado, ele não brinca disso apenas em uma cidade, faz isso pelo mundo inteiro. Nesse horário só podemos fazer duas coisas, ou rezamos ou estamos dormindo, mas não se pode beber, nem fumar, nem estar fazendo besteira, porque isso atrai ele, e nessa hora ele é forte nesse momento. É quando ele está por perto. E se você estiver dormindo e acordar justo nessa hora reze um Pai-Nosso, porque se você acordou é porque ele está dando voltas na tua vida. E pessoas que fazem rituais para prejudicar outras trabalham nessa hora. Não é um bom horário para estar fora de casa, na rua as coisas ficam mais fáceis para ele. Em casa não é tão simples entrar, mas saindo, ele faz a festa. A conta dele é a mesma de Jesus, ele quer levar o máximo de almas possíveis deste mundo, enquanto Jesus quer manter aqui o maior número delas.

Até essa explicação eu nunca tinha entendido porque em todos os filmes de terror sempre aparece um relógio mostrando a hora e sempre marca entre as três da manhã e quatro. É um clássico, todos os filmes mostram isso, mas existem registros reais desse horário. Um dos casos mais famosos do mundo é de uma casa nos Estados Unidos, onde o rapaz acordou as 3:15 e matou toda a família, depois a casa foi vendida e uma outra família se mudou e disse que todos os dias as 3:15 a casa virava um inferno, foi tão forte a perseguição dos fantasmas que a família saiu correndo com a roupa do corpo depois de treze dias, não voltaram nem para pegar seus documentos.

Em algum post contei sobre as coisas que minha avó dizia, na verdade estou sempre falando sobre isso e uma das minhas primas me procurou e disse:

-Absurdo escrever aquilo! Você sabe que a abuelita era de outra época, nem frequentou escola, tudo nela era superstição, mitos e você está fazendo o quê com tanta ignorância? Está passando para a frente, acho isso um erro, você está espalhando desconhecimento, alimentando coisas que não existem e contando histórias que te parecem interessantes, mas no fundo são trágicas, só mostram como a nossa abuelita era ignorante!

Nossa, nessa parte fiquei acesa! Cortei a conversa ali, chamar minha abuelita de ignorante é a maior ofensa que alguém pode me dirigir. Ela foi fruto de uma época e circunstância, mas não era ignorante nem burra, a sua maneira entendeu o seu entorno e como a vida era.

E eu já passei dos trinta anos, sei por experiência que muitas coisas não são lendas, jamais negaria a existência de uma força contrária a Jesus, até porque já cruzei com algumas representações dela.

Minha prima mandou um email dizendo ''se vai espalhar as coisas que a abuelita contava, pelo menos que sejam as receitas de cozinha, que eram geniais''.

Né, prima? Entendeu agora o que eu faço? Eu espalho as receitas dela, mas não as de cozinha, eu espalho as receitas de vida dela. Leia e aprenda.


Iara De Dupont

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Errar é...

Errar é deixar de escrever seu nome na areia só porque o mar logo vai apagar.
Errar é deixar de litografar uma rocha só por medo de depois de uma era ela se desgastar.
Errar é se preocupar que o tempo vai fazer esquecer essa mesma rocha, lá escrita, mesmo que teu nome permaneça lá, ainda assim, esquecida pelos anos e não compreendida pelas gerações que estariam por vir.
Errar é deixar de dizer teu nome tão alto, por medo de ser dito em vão aos quatro cantos até que os ventos carreguem e transformem teu eco em um vasto e pesado silêncio.
Errar é deixar o pesar da tristeza invadir tu'alma, sendo que tua face só transpira alegria e ternura.
Errar é deixar de errar pelo medo de que o que é certo seja anulado pelo rejeito do seu olhar.
Errar é fazer com que o erro de ter medo anule o que será certamente aceito, pra tua surpresa, por aquele mesmo olhar que você pretensiosamente achou que iria te rejeitar.
Errar é...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Lembranças Amargas.

Ela disse que não iria se importar mais, e se importou...
Disse que não choraria mais, chorou...
Disse que não ligaria mais, ligou.
Que não amaria mais, amou.
Disse que o esqueceria, lembrou...
Suas lembranças tinham um gosto amargo tão ruim que causava náuseas.
Lembrou de tudo que fez, como se tivesse feito errado, mas a errada não era só ela.
Ela errou em acreditar em algo que já havia acabado. (Se consola dizendo: A gente tem dessas de acreditar no nada)
Vez ou outra encontra alguém que pergunta o que se passou, já sente o peso da resposta.
Fui idiota, burra e infantil e ele o mesmo crápula de sempre.
É a resposta que ela gostaria de dar mas, se limita em dizer:
Só não deu certo.
Vez ou outra também é obrigada a explicar que não o ama mais, que está muito melhor e detalhe já estava bem antes mesmo de estar acompanhada
Aprendeu que as pessoas escutam e acreditam no que querem, pouco importa explicações e ela acha isso muito triste.
Hoje ela sente como é ter um amor que ama, que é leve, puro, fácil...
Ela aprendeu a fazer planos, aprendeu a ser amada.
Ela ainda aprende várias coisas com o passar dos dias e se livra das amarras que a vida lhe colocou e agora a vida ensina a se livrar.
A vida tem dessas de dar nós e ensinar à desatar, ainda bem.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Carnaval

Ela adorava carnaval!
Gostava de se fantasiar, pular, dançar.
Tudo era festa, tudo era alegria.
Universo lúdico, tempos infantis.
Música, confete e serpentina.

Cresceu.

Foi assediada, desrespeitada, agredida.
Percebeu o outro lado do carnaval.
Sentiu que perdeu algo dentro de si
que nunca mais recuperará.
Continua gostando do carnaval, mas nem tanto.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

A Via Láctea

Pequenos vaga-lumes fazem morada na teia do céu. A lua sorria em ser tríplice e entoava canções de um tempo muito antigo. Ouvia-se o tremor de asas dos besouros e a dança das folhas, animadas com a visita da brisa noturna. Eu era criança e sabia muito pouco sobre o desenrolar do destino. Com os pés descalços, sentia a umidade da grama como um pequeno prazer.
Meu irmão e eu, travessos de uma curiosidade de cientista, pegamos a pequena chave azul para desvendar o universo. Aquela chave dava passagem ao cômodo da casa que guardava todos os mistérios dos que ali já haviam vivido: fotografias armazenadas em suportes de plástico que, quando olhadas pelo buraquinho, pareciam se mover; maletas de couro com moedas acobreadas pela vida; livros, inúmeros deles, com histórias de crianças transformadas em lobo na quaresma, animais pré-históricos que viviam em cavernas, receitas de banhos de alecrim para sonhos premonitórios, um oráculo chinês.
Ao fundo do cômodo, encostada em um armário de madeira desenhado pelo tempo, estava a luneta. Via Láctea era seu nome, devido ao seu corpo branco e suas bordas negras. Ela era sustentada por um tripé cujas extremidades estavam descascadas, deixando à mostra sua pele metálica. 
Os adultos estavam bem humorados – era uma noite de verão estonteante. Cantavam alegres "Vaga-lume vem, vaga-lume vem vem, seu pai tá aqui, sua mãe também", na tentativa de atrair para perto de si luminescências. 
Permitiram-nos levar a Via Láctea para fora e observar o céu que, naquele dia, era só nosso.






Imagem disponível em: http://weheartit.com/entry/222180728/search?context_type=search&context_user=rubben_88&query=universo . Acesso em 02 de fevereiro de 2016.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

NERD

um dia ainda crio um app pra baixar você
nos domingos entediantes
um café 
(uma desculpa qualquer pra ouvir você cantar caetano no meu ouvido)
um dia ainda crio um app pra baixar você
no meio da semana
uma cerveja despretensiosa
(desculpa pra caber no teu sorriso)

- Cleyton Cabral - 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Privilégios, meritocracia e caridade

Por todo canto ouvimos discursos que nos levam a crer que tudo depende de nós, como se um ser humano fosse o centro do universo e as influências externas e todo o legado histórico durante anos e anos da vida na terra não impedisse o avanço de muitos ou beneficiasse o avanço de poucos. No atual cenário que vivemos na história é compreensível o discurso de alguns e fica até difícil esperar algo diferente das pessoas historicamente menos favorecidas, mas que fazem parte de uma parcela que recentemente conseguiu realizar algo. Pois se esses conseguiram algum avanço automaticamente acreditam que os outros também irão conseguir na base do esforço e dedicação despendidos por eles, o resto é coitadismo.

Fonte: http://desabafosocial.com.br/wp-content/uploads/2015/11/meritocracia1.jpg


Acredito que, “é muita ingenuidade achar que você só chega em um lugar por você mesmo, a vida é um conjunto infindável de acasos e pequenos detalhes que no futuro fazem toda a diferença. E na nossa sociedade esses detalhes tem a ver com sua cor, seu gênero, seu acesso a educação na infância, a cultura/princípios que você ganha dos seus pais e tantos outros privilégios.” 


Fico triste quando escuto caras negros que comeram o pão que o diabo amassou no passado e hoje amparam suas ideias somente em suas trajetórias de vida, para dizer que o restante do povo negro só não tem o que eles tem, por que não se esforçam como eles se esforçaram. Deixando toda luta do movimento para trás e olhando apenas pros seus próprios umbigos. 


O dinheiro parece criar uma legião de seguidores. E quem fica por cima vem puxando toda a boiada para o curral dizendo que há muito sal e capim para todos, que não existe exploração, mas a verdade é que os bois que chegam na frente bebem a água mais pura, e o restante fica com a sujeira e a lama. Criaram uma ideia de que pra ser é preciso ter. E hoje já não basta ter, tem que ter o que os mais ricos tem. Se não for caro não presta, se não for caro não vale a pena. 


Em todo canto estamos expostos a um infinito de coisas que não podemos comprar, mas que o marketing insiste que se tivermos aquilo teremos inúmeros benefícios como reconhecimento, atratividade e sucesso. Frases como: "Você tem que comprar um carro pra ter uma bela namorada", "Você precisa comprar uma casa pra poder casar", "Você precisa passar numa boa faculdade pra não morrer burro", "Você precisa ganhar muito bem pra vencer na vida" são ditas a todo momento por ai como verdades absolutas e pessoas dão suas vidas para conquistar essas coisas. E mesmo quando alcançam se sentem inferiores ao andar, por exemplo, pelas ruas de Alphaville e ver aquelas casas luxuosas e carrões na rua. Coisas que talvez nem 1% das pessoas que eu já conheci nessa vida pode ter. 


Recentemente o autor Alex Castro publicou no site do Pdh esse texto aqui que elucida bem a questão do privilégio de uma minoria e que ele mesmo acha que faz parte também. Mostrando a visão lúcida de quem faz parte dessa minoria branca e afortunada que ainda hoje acredita ser superior aos outros. Vale a pena a leitura.


Um comentário referente ao texto se tornou complementar para entender essa festa dos privilégios: “Nossa sociedade garante privilégios e as pessoas privilegiadas não precisam dizer "sim, eu aceito esses privilégios": basta deixar tudo como está. Esses privilégios não explicam sozinhos o sucesso de uma pessoa, mas uma pessoa que é branca terá mais facilidade em uma entrevista de emprego, por exemplo. Uma pessoa branca, como mostram os dados estatísticos, tem mais probabilidade de ser de uma família com melhores condições financeiras (e aí, qual é o mérito pessoal de nascer nessa família?), de ter melhores condições de estudo, melhores condições de competir no mercado de trabalho. Os homens recebem mais que as mulheres. Dados estatísticos. Se você quer questionar, não use sua experiência pessoal, porque ela é irrelevante. Estude estatística e vá discutir em termos estatísticos a metodologia utilizada pra esses dados e pesquisas. Se uma pessoa tem que fazer um esforço x para alcançar determinado status social sendo branca, por exemplo, sendo homem, por exemplo, e outra pessoa que não é branca ou não é homem precisa fazer um esforço 3x para alcançar a mesma coisa, isso se chama privilégio. Isso não anula seus esforços pessoais, nem sua história, nem suas conquistas, mas existe e afeta sua vida e a das outras pessoas, e afeta também o que você alcança com seu esforço x.” 


Olha, não é questão de reclamar de alguém que está na posição financeira superior. É questão de alguém nessa posição se conscientizar que a meritocracia existe sim para 1 a cada 1 milhão que acredita nela. E a partir disso tentar contribuir ou criar mecanismos para dar acesso às condições básicas de vida a esses 999 mil que restam. Ninguém está falando de dinheiro em si, mas mais oportunidades e condições para que eles pelo menos sobrevivam, já que a "vitória" é privilégio somente para os "fortes". É preciso olhar para o próximo com mais empatia. 


Em um país de maioria cristã, é contraditório não ver um ensinamento básico presente na bíblia sendo fortemente manifestado – a caridade. Se não me engano, em alguma parte da primeira carta de São Paulo aos Coríntios diz o seguinte: “Atualmente permanecem estas três coisas: Fé, esperança, e caridade. Mas a maior delas é a caridade.” E não é o que vejo sendo aplicado por ai. Lembro-me de uma missa que fui e o Padre disse que o sonho dele era ver cada um que vai à igreja levando algum alimento quando eles fazem campanha de arrecadação. Em muitos casos, nem metade das pessoas que vão à missa contribuem nessas campanhas de arrecadação de alimentos, de roupas e etc. Numa sociedade cada vez mais individualista e competitiva, o amor ao próximo tão disseminado por Jesus tem ficado de lado e dado espaço ao amor próprio. As frases religiosas, vem sendo muito utilizadas em tatuagens e como legenda de fotos, mas na prática elas se tornam tão superficiais como as pessoas que as utilizam fora do contexto na vida. 


A informação está ai para todos e mesmo assim há muitas pessoas sem nenhuma base de conhecimento a respeito do racismo, da homofobia, do machismo, do sexismo, das cotas ou da meritocracia que só falam de acordo com a suas realidades pessoais e esquecem que existe um mundo lá fora cheio de outras pessoas que vivem uma realidade totalmente diferente. É extremamente necessário se informar algum tanto para entender o contexto em que vivemos, e a partir disso entrar em um consenso sobre as questões para não sair por ai falando merda.