sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um feliz ano se vai, outro feliz se aproxima


Quase já se despedindo de mim, e de todos, 2011 encerra seu espetáculo. As cortinas compostas por seus dias já na iminência de fecharem-se anunciam o fim. Foram 365 dias intensos. Uns dias duraram anos, outros, apenas algumas horas. Sorri, chorei, vivi. De cada alegria, o desejo de reviver, de cada tristeza, a lição pra não mais vivê-la. Tive perdas necessárias pros ganhos futuros. Tive ganhos expressivos e afáveis. Amei demais. E fui demasiadamente amada. Tive ao meu lado as melhores pessoas, as que compensavam outras que nem valeram a pena manter ao meu lado. Errei e acertei quase na mesma proporção. Cresci. Escrevi mais e melhores versos. Versos de uma felicidade explícita, de amores infindáveis, antigos e recentes. Descobri sensações novas. Me reinventei pra me tornar melhor para mim mesma, pro meu filho querido e pros amigos encantadores que tenho. Aprendi a reconhecer meu sentimentalismo mais intimamente e a usá-lo na medida certa. Conquistei e fui conquistada. Tive encontros e reencontros memoráveis. Revivi histórias incríveis, reaprendi a ser eu. 2011 foi um ano importantíssimo. Um marco. Começou meio indesejado, termina completamente bem quisto. Deu-me dias fantásticos. Não os esquecerei jamais. Deu-me pessoas presenteáveis. Repaginou a minha vida como há tempo nenhum outro ano o fez. Foi um ano de suma importância pra mim, pra minha vida, pro meu futuro. Só tenho a agradecer e aqui não caberiam os tantos nomes que merecem e devem ser citados, por isso, não os citarei, mas eles estão escritos dentro de mim, implícito nessas e em todas as linhas que eu escrevo. Que venha um novo ano. Estou preparada para recebê-lo de braços abertos, de versos pensados, de euforia antecipada. Com muito amor, muita verdade, muita cumplicidade, muita inspiração, muita ternura. Que sejam dias ainda melhores. Que venham conquistas ainda maiores. E que as pessoas que me acompanham estejam ainda mais presentes, não apenas aqui bem dentro de mim, mas ao lado da minha presença. Então, desejo à todos um feliz ano novo e que as felicidades que busco pra mim se estendam à cada um. Muito obrigada aos amigos íntimos, aos meus familiares, ao meu filho, especialmente, à Deus e a todos aqueles que, em menor ou maior proporção, contribuíram para que eu me tornasse a pessoa que sou, bem como agradeço por me inspirarem a escrever os meus melhores e mais intensos versos. Que estejamos todos sempre juntos, física ou emocionalmente.

Um feliz 2012 à todos e um beijo meu em cada um.

Lai Paiva

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

♫♪♫...2012...♫♪♫



, passou 2011...Passou por mim sem aviso. Sem data marcada, passou...Pensamentos a mil por hora, fora de ordem, um desassossego na mente. Se é mal? Não, pelo contrário, é bom. Solto sorrisos, involuntários, descontraídos, sorrisos. De ouvir e rir e pensar - "não acredito, de novo...?" Faz tanto tempo...quase não consigo identificar. Aconteci de repente, do nada, feito vento. Lembrei do filme Across the Universe, na cena que ela chora a morte, depois sorri sentada próxima do lago espantada com desenho e quando corre para o abraço da canção cantada por ele.O marco é o final, quando em nada acredita, quando está prestes a desistir, quando assume ser fraca demais prá tentar. E a sensibilidade te convida a repensar, não existe vida se não relembrar o passado, se não afirmar o presente e principalmente se não quiser o futuro, acertar. Só prá saber e constar neste espaço que sempre teve uma parte de mim - eu quero acertar! Prá dormir e acordar com música...
Tchau 2011!
E pra você, um abraço, um beijo e um carinho ♫♪...2012...♫♪

Feliz Ano Novo!



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Lista de atitudes

Vivemos naquela época em que todos desejam a liberdade, mas carregam a certeza (e os impedimentos pessoais) de que ser livre é um sacrilégio. Uma dificuldade sem tamanho.

- Enquanto você não assumir pra você mesmo o tamanho da sua liberdade, ela se resume ao tráfego trabalho-casa no seu carro próprio. E quem se resume às bênçãos do carro próprio, não desfruta os prazeres de andar descalço mundo afora.




Há quem faz as listas de começo de ano (eu sou uma) e coloca as mil coisas que - provavelmente - se repetirão na lista do próximo ano. Eu mesma tenho um desejo que está no alto da minha lista tem pelo menos uns 10 anos. Ele continua lá pelo simples fato de que eu não me esforço por ele. É a coisa que eu mais quero na vida (quem me conhece sabe), mas enxergo na força de vontade um empecilho maior: o da impossibilidade. E o pior é que eu sei, e tem muito tempo, que 'o impossível é APENAS uma palavra'.

- Enquanto você (me incluo) não se esforça para resolver os problemas que travam a sua existência, tem muita gente por aí rindo da vida, empurrando a miséria com a barriga e sambando quando amanhece o dia. Os problemas somem quando você os abstrai. Não assim, ao pé da letra. Mas são desatados os nós da angústia e se torna mais simples de resolver.


Viver é fácil. É fácil sim! E delicioso!

- Enquanto você esquenta sua cabeça com neuras e incômodos pessoais, lembre-se que isso só afeta a você. Que ninguém se importa com as suas neuras e que seu incômodo tolo não fará o vizinho do som alto mudar de casa. Eu penso nos outros antes de fazer alguma coisa, e já disse aqui que tenho medo incomodar as pessoas. Mas, como diz meu amigo Lucas, não se pode cobrar o bom senso de ninguém. O ideal, bem, é abstrair e viver mais leve. Quando está em suas mãos, faça! E quando não esta? Vai ficar incomodadinho com isso e sofrendo por 30 anos com o pagodão do vizinho? Viva mais leve. E viva.



Às vezes deixamos de fazer coisas bobas por medo, e nos privamos de experiências redentoras. Eu sou meio desbravadora e não tenho medo de encarar o mundo. Penso nas milhões de oportunidades que teria perdido se levasse a sério minha tonturinha em lugares altos, ou se não abstraísse meu enjôo de estômago toda vez que entro em *qualquer* meio de transporte, ou aquele medo bobo de quem acha que não tem chão ao ir desbravar um outro país.

- Enquanto você se esconde debaixo do edredom nos dias quentes com medo da Cuca, tem gente que dorme na areia da praia e acorda com a brisa do mar dando bom dia. O seu medo foi criado por você. E só tem uma maneira de ele ir embora. Você já sabe, né?



Cansada das resoluções de ano novo que eu sempre faço por mim e nunca as cumpro, resolvi montar minha lista com coisas que promovem a minha (e talvez a sua) mudança interior. E isso é só o primeiro passo - e não termina em 2012.


Feliz ano novo, queridos leitores!


PS: perdão por não escrever no mês passado, perdi a data pois estava de mudança durante meus últimos dias na Argentina.

PS 2: no 28 do próximo mês, estarei de mochilão pela Latino América. creio que nessa data, estarei no Equador. então, bom, ainda não sei. pois não levarei computador. mas tentarei postar de alguma lan house, coisa assim. ou deixar programado. e já tenho o tema!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

no novo ano, conseguir

neste ano, eu consegui ler Anna Karîenina, com suas 816 páginas. mas não consegui ler O homem sem qualidades, como havia planejado. para uma professora de literatura, deveria soar estranho o verbo "conseguir" na frase anterior, afinal livros literários são a matéria-prima de minha profissão. mas o certo é que talvez não exista hoje nenhuma instituição pública mais burocratizada do que a universidade. não foram poucas as vezes em que me sentia "irresponsável" porque estava lendo um livro, pois havia sempre um sem fim de formulários a ser preenchidos, de projetos a ser aprovados, de orientações a serem dadas etecetera

tenho pensado muito nisso. de como é preciso escavar contra a estranheza das instituições. a estranheza da vida. uma luta branca mas permanente para não vivermos como autômatos. para pertencermos, sem a perda de nós mesmos, do que consideramos como essenciais para manter nossa integridade, nossa fé nas pessoas e na vida. porque a vida não é natural. não é mesmo. então é isto que eu desejo a todos - as outras 29 pessoas que escrevem aqui. e aos tantos leitores que por aqui devem passar. que no novo ano consigam. consigam tudo que, fora da ordem imposta, os façam mais inteiros.
*
*

sábado, 24 de dezembro de 2011

Um título clichê

Me dei conta de várias coisas hoje.

Então é dia 24. E o que você fez? O peru, a farofa? Limpou a casa? Embrulhou os presentes? Abraçou as pessoas queridas? Mandou mensagens de Natal? O dia termina, sabe? E aí nasce outra vez, mas é outro dia também. E tudo que você deixou de fazer, dizendo que faria outra hora, deixou de acontecer. 

Houve um tempo em que não gostei do Natal. Ainda escrevia em letra minúscula: natal. Achava uma celebração hipócrita, consumista, em que as pessoas vomitavam mensagens e emoções que deveriam ter durante o ano todo, mas das quais eram acometidas subitamente só quando chegava esta época do ano. Um espírito de bondade com hora pra chegar e data de validade pra expirar. 

Hoje eu ainda acho isso. E me cobro sobre essas coisas também. Afinal, não é certo eu, que reclamo disso tudo, apenas criticar os outros e não olhar pro meu umbigo. Acho tudo isso, mas não é só isso. Compreendo também a necessidade de renovação que as pessoas têm e que o final de ano traz. De como tantos pensamentos focados numa mesma direção fazem bem pro mundo e de como isso favorece a todos nós, que só por um acaso estamos aqui neste mundo. Tem toda uma história também sobre energias, mas não vou fingir que entendo disso.

E tem a festa. Espírito natalino à parte, é sempre bom estar com as pessoas de quem a gente gosta. Faltam ocasiões para reuni-las.

Então é Natal. E logo, logo 2012 tá aí. Vai ser o final de muitas coisas. Vai ser o começo de mais um monte também. De coisas boas e ruins, os fins e começos. Nunca a ideia "aproveite cada dia como se fosse o último" foi tão séria. Muitas pessoas vão fazer essa brincadeira ao longo do ano, até que perca a graça. Hoje mesmo já não é tão engraçada assim. 

...e eu acabo de receber o SMS de um amigo. Do pai de uma amiga que hoje é mais meu amigo do que ela. E a mensagem dele abriu um sorriso aqui. Então, cinismos de lado, que todos tenham uma excelente noite e que, de agora em diante, os dias sejam cada vez melhores. Pra todos nós!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz 2012!

A partir de hoje estou de férias.
Embarco na segunda para um spa, levando na mala muita preocupação, tristeza, angústia, ansiedade e kilos a mais, que espero deixar por lá para começar o ano zerada.
Esse ano foi incrível. Incrível mesmo, se tivessem me contado eu não acreditaria.

Desejo que 2012 seja mais tranquilo. Esse ano eu quero curtir todas as coisas boas que aconteceram em 2011 e rir das coisas ruins. Só isso.
Só tenho a agradecer. E muito.

Aos que ficam e aos que vão para outros lugares, desejo um Natal maravilhoso e um ano novo bem claro, cheio de esperança e de vontade de fazer dar certo. Uma hora realmente dá.

Boas festas/ferias/o que vier a todos, e até 2012!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Lc 10:25-37

Esses dias me lembrei de meu primeiro emprego.

Era balconista, operador de caixa, lavador de banheiro e substituto da gerente em uma das unidades da rede Drogasil. Lá, de jaleco branco com gola vermelha e listras pretas, eu aprendi de tudo, até mesmo atender ao telefone com classe: "Drogasil Bonfiglioli, com descontos de 10 até 55% em todos os medicamentos tarjados, Felipe, boa tarde!"

Mas não quero vir aqui me gabar por ter usado a maior saudação telefônica de todos os tempos. Me lembrei de meu primeiro emprego porque lembrei de uma cena um tanto curiosa que presenciei por lá. Estávamos para fechar a loja, devia ser umas dez e meia da noite e estava  muito frio. Fazia um inverno com I maiúsculo em São Paulo naquele ano de 2005 e, a exemplo de outros estabelecimentos nesta época do ano, mantínhamos uma caixa da "Campanha do Agasalho" na porta da loja. A caixa já estava quase cheia e mais dia, menos dia, um caminhão passaria para recolher os agasalhos para doação.

Estava eu todo agasalhado, com o jaleco por cima da blusa, só contando os minutos para abaixar a pesada porta da loja, até que eles apareceram. Na distração em que estava não vi bem de onde vieram e nem quando entraram, mas reparei bem como se vestiam: estavam de camiseta regata, bermuda rasgada e chinelo Havaianas, olhavam para a caixa com os agasalhos. A gerente da loja, que naquele dia fazia plantão, logo se aproximou "O que vocês querem aqui?". O menino mais novo fez menção de partir, puxando o mais velho pelo braço. O menino mais velho, ainda que timidamente, tomou coragem para falar com minha gerente: "Será que a gente pode pegar uma blusa da caixa?". Minha gerente, muito bem agasalhada, prontamente lhes respondeu: "Não, essa caixa é para a "Campanha do Agasalho", para ajudar as pessoas que sentem frio"...

Os meninos não questionaram a resposta daquela senhora tão bem apessoada e tão distintamente agasalhada e  se foram... abraçados um ao outro para tentar esquentar aquela noite que acabara de se revelar ainda mais fria...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Tem alguém aí?

Tenho uma dificuldade profunda em entender as pessoas. E acho que isso se deve ao fato de eu ser um profundo conhecedor das pessoas. Eu as conheço tanto que me incomoda entender porque agem de forma tão estranha.
As pessoas se sabotam, se inventam, se esquivam... de quem? Pra quê? Eu vivo agora um momento de carência de profundidade. Na verdade sempre fui meio guloso no sentido de absorver o máximo das coisas, mas me mantinha extremamente paciente com as superficialidades. Elas não andam me atraindo mais. Isso vira um problema grande quando você percebe que está cercado por uma profundidade bem rasa.
Ando com uma vontade incontrolável de gente. De convivência. De vivência intelectual. Nao ter onde me satisfazer anda me deixando mal-humorado. De repente você percebe que suas atitudes começam a ser encaradas com desconfiança.
Eu me sinto sozinho no mundo tentando encontrar companhia.
_ Oooooooiii?! Tem alguém aííííííí?

sábado, 17 de dezembro de 2011

Fim do mundo

Eu tinha pensado em escrever um texto alegre, algo divertido. Pensei ainda em escrever uma retrospectiva, um  balanço de 2011. Aí nesses dias me deparei com tanta desgraça, com tantas agressões, tantas crianças cometendo crimes, tantas demonstrações de desrespeito, de falta de amor...
Em Guarapuava, onde morei até ano passado, uma adolescente de 15 anos foi morta a facada por três colegas, aparentemente por ser 'popular' na escola. Em Minas, uma menina foi esfaqueada e queimada por outras meninas, por causa de um menino. Conseguiu sobreviver. E as cicatrizes lá.
Três moradores de rua foram espancados até a morte em Campinas. Aqui em São Paulo, a gente tropeça todos os dias neles e a maioria quase nem lembra que eles são seres humanos e não seres inanimados como o poste, a lixeira, a calçada.
A violência pode ter existido desde sempre. Mas foi esse ano que eu me deparei com ela a níveis assustadores. Por que ela chega a esse ponto, por que ela é vista como a única saída, o único escape, é isso que eu não entendo. Eu torço para que no próximo ano a gente viva mesmo o fim do mundo. O fim deste mundo tão individualista, que gera indivíduos por vezes doentes, frustrados, sozinhos. Indivíduos que consomem tanto mas não sabem se doar. Indivíduos que também se chocam com tanta violência e ao invés de pregar o amor pregam mais violência, a justiça pelas próprias mãos.
Mais que um Feliz 2012 eu desejo um 2012 mais humano. Para todos nós.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Uma espécie de retrospectiva que se mistura com declaração de amor



O amor,
que medo que dá
podemos
nos debater,
fugir, esquivar,
mas...
por tortuosos caminhos e tempos...

Em 2009: E a vida recomeça:
" I want somebody to love me
I want somebody to be nice
See the boy, I once was in my eyes
Nobody's gonna save my life"


Em 2010: O equilíbrio necessário:
"As pernas das mulheres são compassos que percorrem o globo terrestre em todos os sentidos dando-lhe equilíbrio e harmonia."



Em 2011: O que sobrou aos demais:
"Todo mundo quer amor. Todos os tipos de amor: amor físico, amor sentimental ou simplesmente a ternura desinteressada de alguém que escolheu outro alguém para a vida toda, e não tem olhos para mais ninguém."


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Balanço

O ano da tristeza mais doída de toda minha existência.

Da porta batida com força várias vezes na cara. 

Do amor não (ou mal - o que seria pior?) correspondido que não esgota.

Do retorno cabisbaixo e amargo.

Da janelinha espremida que se abriu. E do contorcionismo para passar por ela.

Da certeza conformada de que sou eu, comigo mesma (quizá meus pais) e meu Deus.

Da esperança que 2012 seja mais generoso - ou que eu seja menos covarde. Pero sin perder la ternura.






terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Choque

Saí do interior e vim para a LOUCURA (em caixa alta mesmo) de uma capital para suprimir uma timidez que me incomoda; e para que essa vinda sirva de fitinha amarrada no dedo, para sempre me lembrar que o mundo é muito mais do que aquilo que eu vivo e vejo todos os dias.

Sou confrontado a toda hora, pelo diferente, pelos contrastes, pelo feio, pelo exuberante, pelos cheiros e principalmente pela loucura. Mas quem pode definir o que é normalidade? E é por essa normalidade, do meu interior, tão cheia de regras antagônicas de bem e mal e de bom ou ruim e excludente de todo o restante, rico restante, que tento fugir dessas visões pudicas, arraigadas em mim.

Conviver com pessoas tão diferentes e num lugar diferente, tem me feito pensar muito no valor que damos aos convencionalismos e como nossa (ou melhor, a minha) visão ainda foi treinada para se chocar com o diferente e um choque nem sempre positivo.

Recentemente vi o “A pele que habito” do Almodóvar e achei o filme muito bom, diferente dos outros que já tinha visto dele e com uma história fantástica; e acho que foi pelo choque. Ao falar sobre isso, não pude deixar de lembra de um curta que vi há um tempo, também do Almodóvar, que acho o texto hilário e fantástico ao mesmo tempo. Já nas primeiras frases da vereadora antropófoga:

“Estou farta de tudo… dos homens, das dietas, do colágeno, da lipoaspiração, da política… de tudo, menos de sexo.”

Quero, no próximo ano, ainda estar farto dos lugares comuns e das fórmulas ultrapassadas; me chocar cada vez menos com aquilo é diferente do que está dentro de mim.

Ps. A qualidade está ruim, mas o vídeo vale à pena.


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Não é só o chocolate que derrete

Descobri que sou boa em muitas coisas.Melhor do que eu imaginava, um talento nato. Aprendi a derreter chocolate amargo na panela ( eu não sabia ) e jogar castanhas-do-pará.Depois tiro com uma colher e jogo no papel alumínio,coloco na geladeira e como depois.É bom porque é saudável, o chocolate amargo tem antioxidantes e as castanhas-do-pará são cheias de nutrientes.
Infelizmente engordam, já que uma inocente castanha-do-pará equivale a uma fatia de pão.
Minha vida tem sido assim durante anos, pensar em um alimento que equivale a outro e então com essa conta faço a troca.
Fiquei tão boa nisso,de trocar uma coisa pela outra, que agora percebi o quanto sou perfeita para trocar  minha tristeza por uma falsa sensação de que tudo está bem.Meu único rastro são minhas palavras, mas também elas as vezes me ajudam.
Não sei porque decidi fazer isso, mas decidi e fiz,resolvi esconder que estou triste.Tenho motivos, argumentos, razões,situações, tudo que me levou a estar triste.Mas resolvi esconder.
Assim como o chocolate se derrete na panela,perde seu formato, eu perdi o meu.Me derreti no calor, me misturei com outras coisas e acabei triste.Não uma tristeza de horas nem momentos, mas sim uma coisa que vem me massacrando lentamente nos últimos anos.
Alguém já me disse que tristeza dá e passa.Resolvi conversar com algumas pessoas.Todas me disseram a mesma coisa,sim, todos temos algum motivo para estar triste,não interessa qual,mas está ali,escondido na alma, meio que chorando de vez em quando,meio que se derretendo para se juntar a outra coisa.
Alegria, alegria,dizem os comerciais.Minha tristeza dá risada.Não foi intencional ficar triste.
Fiz como o chocolate, eu resisti ao calor o máximo que pude.Antes eu pensava que ia passar, mas hoje as vezes penso que esqueci como seria a vida sem isso.
Um psicólogo me disse - É depressão.
Pois é, não é. É tristeza.Não é a mesma coisa .Já tive depressão e sei como é.Tristeza é diferente,tão diferente que a gente esconde e ninguém percebe,nem a gente.Tristeza dá umas puxadinhas internas, aperta o coração quando vemos um sonho virar pó.Tristeza te faz sentir saudades de momentos que não foram tão bons assim, mas a vida pulsava.
Tristeza te faz perguntar porque você não é como antes, não acredita como antes,não confia como antes.Tristeza é a passagem que se ganha ao perder a inocência.É um caminho sem volta, é a garantia de saúde mental de quem mora neste planeta.As vezes estar triste ou se sentir assim é a confirmação que ainda resta alguma coisa humana dentro de nós.O chocolate se derrete e se mistura com as castanhas-do-pará,mas ainda continua sendo chocolate,ainda dá pra sentir o gosto.Me derreti,me misturei,mas ainda tem alguma parte minha ,a tristeza.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Qualé, mané?!

É, eu devo mesmo tá ficando velho.  É a única explicação pra falta de tolerância que vem me acometendo, dia após dia.  Confesso que eu sempre fui partidário do “deixa pra lá”, “esquece, não foi por mal”, “vai se estressar por tão pouco?”, mas, ultimamente, tenho estado mais pra turma do “Não fode”, “vá encher a mãe” e “tá pensando que eu sou otário, Mané?"

    Tá que, às vezes, penso se o problema é meu ou se é do enxame de chatos que apareceu na minha vida, de uns tempos pra cá.  Desde o parente sem noção até o vizinho pentelho, o encosto dos pé-no-saco baixou no meu caminho e não me larga nem com reza braba.

    Dia desses, ocorreu algo que surpreendeu a todos - principalmente, eu mesmo.  Estava eu esperando o ônibus, há quase duas horas, e, quando ele finalmente chega, o motorista me aparece, com uma cara de pau, pedindo que eu “pulasse” a roleta.  Isso depois d’eu ter pago a passagem.  Sim, eu havia pago a passagem.  Subi no meu salto 15 e o monge budista que habita dentro de mim foi pras cucuias:

    - Tá pensando o quê, Mané? Que eu sou otário, é? É só a cara, rapá! É só a cara!

    O motorista, espantado, pediu desculpas, mas eu já tinha baixado o barraco, a favela inteira.  Continuei gritando, o resto da viagem, feito  profeta no meio do deserto:

    - Vai tirar onda com a cara de outro, ouviu? Tá pensando o quê, porra?!

    Naquele dia, os passageiros daquele ônibus é que devem ter tido certeza que um chato havia atravessado o caminho deles...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Atenção: polêmica a frente.

Eu poderia jogar mais um dos meus textinhos pseudo-filosóficos por aqui, e na verdade estava pronto pra deixar pra fazer isso uns dias antes da postagem, mas aqui estou eu, e ainda é 17 de Novembro! O motivo é simples: ler inspira. E mesmo que seja aquela leitura que você localiza de canto de olho e arrisca só pela falta de algo um pouco melhor para fazer. No caso, uma edição da National Geographic Brasil que achei jogada na mesa da cozinha esses dias. A revistinha data de Agosto de 2005, e apesar da chocante imagem da bomba atômica de Hiroshima na capa, me impressionou por outra reportagem que recheia suas interessantes páginas.

O título do meu post vai se justificar logo. A matéria é intitulada “A Voz do Sagrado”, e contém uma espécie e excerto de um livro maior que seria publicado pela Nat Geo, este mais explicitamente chamado “A História das Religiões”. O textinho é assinado por um arcebispo e uma reverenda cristãos, e o mais impressionante pra mim foi que, mesmo em tal condição, os dois demonstram enorme respeito por todas as religiões sobre as quais dissertam e, além disso, a visão expressada por eles converge muito com a minha. Eu mal tenho 18 anos, vocês podem dizer. Mas eu sei no que eu acredito hoje.

Acho que é melhor deixá-los falar por alguns trechinhos:

Qualquer fé carrega o potencial de criar santos e fanáticos. O hinduísmo trouxe-nos a sabedoria de Gandhi e a tristeza do seu assassinato. No budismo podemos ver a face tranquila do Dalai Lama e a brutalidade de Pol Pot. Com o judaísmo, chegou até nós a coragem de Anne Frank e a loucura fundamentalista de Baruch Goldstein. O Islã é a fé do poeta místico Rumi e do terrorista Osama Bin Laden. O cristianismo foi a religião acolhida por Madre Teresa de Calcutá e Adolf Hitler.”

Cada uma das religiões oferecem um caminho para Deus. Deveríamos saber o que elas têm a nos ensinar. Pois o Deus que nos criou é maior do que qualquer religião – e os caminhos que vão dar no Seu conhecimento podem ser em maior número do que aqueles que imaginamos existirem. Deus é demasiado grande para caber na nossa caixinha.”

Se todo mundo pensasse assim…

 

PS1: Não estranhem a dica musical do mês ser Lily Allen. A letra de “Him” (como todas as escritas pela inglesa, aliás) é acima da média, e tem tudo a ver com o nosso tema. Audição altamente recomendável.

PS2: Se alguém ficou se perguntando, não sou cirstão nem judeu, muçulmano nem budista, tampouco protestante. Sou deísta, cujo preceito maior é justamente que “Deus é demasiado grande para caber na nossa caixinha”. Mas não quero fazer propaganda. Assim como esses dois cristãos inteligentes, eu sei que cada religião é só uma forma diferente de chegar a Deus. Pena que a gente as distorça tanto que elas se tornem, como diz o meu melhor amigo, apenas algo “funcional” para controlar a sociedade.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

2011/2012

shopping centers lotados
a felicidade nos cartões magnéticos
roupas para os sobrinhos
perfume para a mãe
cd's e livros para os amigos
nenhum amor nas vitrines

domingo, 4 de dezembro de 2011

SOB A MARQUISE, SEM GUARDA-CHUVA E LOUCO

por Gilberto Amendola

De repente era o amor sangrando o mar feito um navio pirata – com sua bandeira de caveira caprichosamente bordada por crianças órfãs e asiáticas. 
De repente era aquela mulher atracando no porto das almas encardidas – enjoada daquele balanço tedioso dos dias repetidos. 
De repente era o céu ensaiando uma tempestade – nuvens grávidas pairando sobre a cabeça dos distraídos. 
– Vai chover!, gritou um porta-voz do óbvio.
De repente era aquilo que o dicionário chama de epifania. 
Ou talvez eu só estivesse impressionado com o cenário, com as circunstâncias e com o horóscopo do dia. Bastava respirar fundo e procurar um pouco de clareza naquele devaneio de velho bêbado.
Em breve minha vida voltaria ao modo ‘bula de remédio’.
Em breve ela entraria num táxi qualquer, repetiria um endereço qualquer e sumiria em direção ao seu futuro qualquer. Longe desse presente indigno e sem guarda-chuva que nós dois nos encontrávamos. Ou melhor: dividíamos. 
De repente eu pensei em como seria bom ser um sujeito mais impulsivo, não pensar demais no constrangimento do próximo passo e mergulhar na piscina dos tubarões aleatórios.
– Você tem um cigarro? – ela me perguntou como se nós estivéssemos presos em um comercial picareta de desodorante masculino.
De repente eu percebi que o meu pulmão limpinho, purinho, inteirinho e escandalosamente saudável iria me matar.
Como eu queria ser uma chaminé de nicotina e tabaco, ter os dedos amarelos de tanto tragar ou o corpo coberto por aqueles adesivos caretas e inúteis. 
Procurei os cigarros no bolso – mesmo sabendo que eles nunca estariam lá. Acho que contando com um milagre ou com a intervenção de alguma fada sacana. 
– Poxa, acabou – sussurrei.
E notei, imediatamente, que o ‘poxa’ era uma expressão vergonhosamente infantil. Um homem de verdade nunca diria ‘poxa’. 
De repente ela agradeceu sem convicção e olhou duas vezes para o relógio – como se na primeira vez não tivesse acreditado naquilo que os ponteiros contavam.
Ela estava esperando alguém. Mas que tipo de alguém? Um tipo extraordinário, diferenciado, barba por fazer, óculos escuros e cigarro no canto da boca. Um tipo empresário, poderoso, confiante e cheio da grana. Um tipo que nunca seria surpreendido pela chuva.
Em breve ela entraria no carro dele. Eles trocariam palavras carinhosas. Ela contaria como foi sua viagem. Ele inventaria uma mentira convincente sobre o sábado à noite. Eles chegariam no apartamento dele. Ela iria clamar por um banho. Ele não deixaria. Os dois se amariam no sofá da sala – com a janela aberta e sem nenhum medo da curiosidade dos vizinhos do prédio da frente. 
De repente ela tira um livro de dentro da bolsa. Estiquei os olhos para identificar o autor. Torci pra ser um desses livros de autoajuda, um desses autores de best-seller, uma dessas bobagens da lista dos mais vendidos. Torci para que ela se tornasse desinteressante. Torci para que eu fosse, ao menos, intelectualmente superior.
Que nada. Ela estava lendo Anna Karenina. Senti um misto de humilhação e tesão. 
De repente ela reparou no meu desconforto. Olhou pra mim e, feito uma enfermeira aborrecida, perguntou se estava tudo bem. 
– Obra-prima – comentei.
– É – ela grunhiu com raiva.
Mas eu queria o quê? Uma resenha aprofundada sobre literatura russa? Ou fogos de artifício para comemorar o encontro de duas pessoas medianamente alfabetizadas sob a marquise de um fast-food nojento? 
Nada. O carro chegou. Ela guardou seu Tolstoi e foi embora. De repente eu me senti infeliz, como ninguém mais se sentiria. 

sábado, 3 de dezembro de 2011

Às capivaras

Todo dia eu voltava do trabalho e elas estavam ali na beira do rio, as capivaras. Tão fofas, uma família de porquinhos da índia gigante. Eu encostava na ponte e ficava olhando. Os carros que passavam na avenida diminuíam a velocidade para olhar também, e elas lá, pastando calmamente. Fiz até uma amizade lá na ponte das capivaras, uma moça que vinha de bicicleta e ficava observando também. Não sei o nome dela, mas conversamos todos os dias. Você viu como aquela ali cresceu?- ela me perguntava.

Um dia na TV vi uma reportagem com uma veterinária defendendo o extermínio das minhas amigas dentuças. Segundo a doutora, elas passam febre maculosa, quer dizer, elas não, os carrapatos que elas carregam no pelo. A reportagem seguiu com um fazendeiro, explicando também que com a falta de predadores naturais e muita oferta de comida (as lavouras) elas estavam se multiplicando demais e acabando com as plantações.

Então é assim? Elas têm carrapatos, vamos matar geral? Por que não desenvolvem uma medicação, um veneno para carrapatos? E quanto a superpopulação e as plantações, ora, na Índia também temos superlotações de pessoas. Vamos jogar uma bomba na índia então e resolvemos o problema de alimentos do mundo! Foi o que eu disse para a amiga da bicicleta, que viu a reportagem também, mas não entendeu minha analogia e me olhou meio assustada. Talvez eu tenha exagerado no tom, mas eu achava mesmo um absurdo.

Vi também uma reportagem sobre um grave acidente de trânsito causado por capivaras que invadiram a pista. Nem foi aqui na região, mas pessoas morreram. Fiquei engasgada. Dias depois as capivaras sumiram. Semanas se passaram e nada delas. Mataram todas. Nem a moça da bicicleta eu vi mais.

Mas não é que hoje, dia 03, eu estava andando na avenida e descubro que elas não foram exterminadas por nenhuma veterinária sanguinária? Elas estavam lá, no mesmo lugar de sempre, a ruiva e sua trupe, mas agora com lindos bebezinhos. Quatro. A coisa mais fofa do mundo. Agora quero encontrar a amiga da bicicleta e cantar "as capivaras voltaram, e eu também voltei". Ela vai me olhar de um jeito estranho de novo, mas quem liga?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Pequeno momento para reflexão

Quando um site de fofocas publica uma foto de um jogador de futebol com uma mulher bonita, os comentários são sempre os mesmos. "Ah, se ele fosse um favelado pobretão ela nem olharia pra ele"

Eu só gostaria de ter a chance de perguntar uma coisa a todos aqueles que postam comentários como esse:
"Se a sua namorada fosse uma favelada pobretona, você namoraria com ela?"

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

eu só peço a deus.

eu só peço a deus um pouco de malandragem e também menos vergonha na cara. um pouco mais de amor próprio e uma vida mais light. mais tempo pra me dedicar a mim e mais interesse pelas minhas próprias coisas. mais auto-confiança e dinheiro. menos blog, menos facebook, menos internet. mais livros e viagens. menos mestrado e mais milkshake do bob's. menos avenida paulista e mais campinas, campos, camping. menos natal, ano-novo, dia dos pais e das mães. mais aniversários e cerveja. mais amigos, sejam eles verdadeiros ou falsos. mais beijos, abraços e sexo. mais contato. mais toque, mais vida. menos desilusão e cobrança. mais música, teatro e poesia. menos filmes noir e mais comédia romântica. mais dia e menos noite. mais delicadeza e sensibilidade. menos polícia e miséria. mais tolerância e travestis. mais ouvir do que falar. mais mar, amar, amor. eu só peço a deus um pouco mais de mim pra mim. amém.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tudo Novo



Novo de novo
Novo dia
Dia novo
Tudo de novo
Tudo novo
Novo amanhecer
Amanhecer de novo
Novo sabor
Um sabor novo
Sentir de novo
Novo sentir
Aquilo tudo novo
Tudo aquilo de novo
Novo verso
Um verso novo
Novo olhar
Olhar de novo
Isto que é novo
Escrever de novo
Apenas o novo
Inovar de novo
O novo de agora
Agora e de novo
Viver o novo
Um novo viver
De novo e de novo...


Lai Paiva
@lainepaiva

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Turnê 2012

A intenção era partilhar o seminário de formação profissional na UFRJ e tudo que rolou nos quatro dias. A cultura, a primeira de muitas que virão, plenária cheia. A fala do Mc Leonardo do ApaFUNK, o funk politizado. As palmas, muitas palmas, para o Mc, para o Braz.

A mesa mais interessante, academia ao lado do popular. O popular construído a partir da literatura, leitura. Até a enfermidade ajuda, ajuda a carregar livro, ajuda a virar a página, leitura deve servir de chave. Chave para abrir a boca dos meninos que tem 50 palavras no dicionário, sendo 25 palavrão, 25 gíria, essa descoberta não é minha é do Mc. Ele é exemplo vivo, a leitura abre porta, a palavra salva e a escrita eterniza a palavra liberdade.

Mas às vezes, algumas palavras tem o poder de ferir, magoar, chatear. E o bem que poderia fazer se torna em mal. Erro, troco letras por outras, desajustando a ordem certa das coisas, solto também palavras de dor, que ferem, tento não ferir, por saber que palavras são afiadas e feito punhal dilacera a carne. Palavras são só palavras. Mentira, isso não me cabe, elas sempre têm significado, valor, sentido.

Por isso, leio a canção, em cada palavra um significado, para cada momento uma palavra. E a dor vai desaguando em qualquer lugar, vai acalmando, dela por ela, palavra por palavra.

Que venha 2012 cheio de palavras que não ferem, palavras que alimentam, palavras que libertam. Justo em 2012 tem turnê e esses moços tem prá dar e vender, os tipos de palavras que eu almejo.

ouvir, escutar.



sábado, 26 de novembro de 2011

Ainda sobre os desejos e as viagens


Acabo de chegar de uma viagem que seria muito inusitada, se não houvesse outras, igualmente extemporâneas, que a precederam. De acaso em acaso, eu fui a São Paulo porque queria ver Fernanda Montenegro no palco interpretando Simone de Beauvoir, em Viver sem tempos mortos, assim como, um dia, fui lá também, junto com uma amiga, só para assistir a uma peça teatral, não importava qual, e calhou que foi Quem tem medo de Virginia Woolf, com Marieta Severo e Marco Nanini, numa interpretação de Nanini que me  impressiona até hoje. Também fui agora para ver Em nome dos artistas, exposição de arte contemporânea, que está no Pavilhão da Bienal. 


Já parti da gélida Paris, sozinha, para Bruxelas, tendo como única certeza de que assistiria ao show de Bob Dylan, porque encasquetei que nunca mais estaria tão próxima dessa oportunidade. E também fui a Madri, sem um tostão no bolso, além do suficiente para comer mal e me embriagar no bar do hotel, unicamente para ver O jardim das delícias, de Bosch, porque minha cultura parca não me deixava saber que a poucos metros estaria também Guernica, de Picasso. E em mais algumas quadras, As meninas, de Velazquez.  E por muito tempo, eu disse, e ainda gosto de dizer, que só queria ir a Paris para andar nos corredores do Colégio da França, onde Barthes havia lecionado seus famosos cursos e proferido Aula, o texto que, sem dúvida, marcou toda a minha trajetória acadêmica.


Comigo sempre foi assim, vivendo de urgências que parecem não ter fim e de desejos que ora iluminam ora obscurecem meus dias. Às vezes de modo leve, às vezes abalada, eu penso que poderia desejar menos. Ser mais focada, seria o termo ideal. Porém, na verdade, eu tenho muito pouco apreço por quem não deseja, como se, adulta, eu continuasse insistindo em preencher as lacunas que ficaram para trás e que, certamente, existirão mais à frente.


Num tempo em que tantos proclamam seus anseios, espanto-me como se tem cada vez menos desejado o saber, o simples saber, aquele que não vai trazer nenhuma vantagem a não ser o prazer. E se eu insisto em construir meus dias nem que seja com pequenos intervalos de fruição, é porque acredito que não podemos naturalizar a vida, estabelecendo  modelos àquilo que, como diz Fernanda-Simone, é trespassado tantas vezes pelas leis do acaso. Não quero me entregar à lógica do cotidiano que tantas vezes nos embrutece. Amar os livros, os filmes, os lugares, os artistas, os eteceteras, é o meu modo de me aproximar  de mim, de trazer à tona as minhas emoções. Uma forma de fugir das loucuras e dos desencantos do mundo.


Por isso, fui, embora só para chegar até lá tenha viajado 10 horas de ônibus, esperado 7 horas no aeroporto, mais 2h30 no avião, além de 2h entre ônibus, metrô e taxi para chegar ao meu destino. Nada é natural. Menos ainda a força poderosa que move Fernanda Montenegro, transvestida de Simone de Beauvoir, por uma hora, num palco despido de tudo, quase à sombra.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mafalda e meus devaneios

Passeando por um blog me deparei com uma tirinha da Mafalda. Quino sempre deixando a gente de boca aberta diante das palavras daquela pequena (só no tamanho). Mas, dessa vez, a Mafalda foi tão cruel que me doeu o corpo todo. Não sei se por ser mulher, ou por ser filha, neta, sobrinha.

Nós, mulheres, o que devemos ser? Já somos predestinadas aos serviços domésticos e de maternidade, ou podemos ser tudo o que quisermos? E um coro todo grita: seremos o que quisermos. Mas, se por uma fatalidade do destino, criação, vontade, escolhermos ser devotas do serviço doméstico e da maternidade? Estaremos ainda na posição de mulher moderna-alternativa-decidida-independente? Ou, para sermos esse rótulo, só vale produção independente, diarista e lava-louças, prato-feito no restaurante?

Fico irritada e desconsolada. Na verdade, não consegui achar as palavras certas para definir como eu me sinto. Me sinto triste. Sim, triste. Ao pensar que as mulheres que não optaram por uma vida de trabalho fora de casa, produções acadêmicas, trânsito, não possuem vida. E, que se elas vivessem, não estariam no (des)aconchego de seus lares, cuidando com amor dos filhos que não sabem o quanto deveriam agradecer por aquela cama arrumada, aquela roupa lavada com cheiro de amaciante Ypê e carinho; ou mimando os maridos, que após o abandono do seio materno, buscam na esposa o cuidado de filho e o amor de amante. Ser a mulher predestinada não é fácil. Talvez seja mais desafiador do que ser a típica mulher moderna independente.

Acredito que a gente acaba por inverter papéis meio que sem querer – talvez pra dar continuidade a movimentos feministas, Simone de Beauvoir, sutiãs queimados. Mas essa mulher tida dependente me parece justamente o contrário. Não seriam seus maridos, filhos, agregados, animais de estimação, todos eles dependentes dessa mulher que não vive apenas uma vida, mas várias? Se preocupando com os mínimos detalhes para fazer quem está perto, pelo menos, um pouco feliz? Acredito que nós, mulheres prafrentex modernets, consideramos termos vida por não conseguirmos ter várias vidas como a mulher predestinada. E o que seria de nós, sem os cuidados delas?

Esse post é dedicado a todas as mulheres fabulosas como a minha mãe Alexandra que é uma maravilhosa mãe, uma ótima dona de casa, uma excelente cozinheira e uma exímia artista nas artes de viver, ajudar, e encher de amor as várias vidas que pegou para si.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Maior abandonado

É muito fácil encontrar pessoas que se sentem solitárias. Hoje em dia parece que ninguém se relaciona mais. O mundo globalizado aproxima tudo de todos e torna as pessoas cada vez mais isoladas, protegidas por uma verdadeira muralha de conexões. 

Pode parecer um exagero meu, mas vamos fazer um teste então. Só hoje, quantas pessoas você viu com os olhos baixos, vidrados no celular, no meio da rua/metrô/ônibus? Não foram poucas, né? Pois bem. E, meio paradoxalmente, me espanta ainda o exemplo de dois amigos, que se conheceram  no ônibus a caminho do trabalho e hoje estão casados. Admiro, mas ainda me espanta. Mesmo assim, isolar-se no meio de sete bilhões de pessoas é bem surreal. Por isso mesmo eu procuro me relacionar com as pessoas ao meu redor. Nada de ficar atualizando status de facebook quando estou na companhia de outras pessoas de verdade, de carne e osso. Ok, eu ando dando uma chance para o foursquare, mas sou discreto. Por sua vez, quem me abandonou foram as lojas de departamentos. Me sinto completamente negligenciado quando entro numa Renner, C&A, Riachuelo...até a Luigi Bertolli anda me decepcionando. Parece que não me conhecem mais. Vocês já viram o que vendem na seção masculina dessas lojas? Não fazem mais roupas pra mim. Pra começar, aquelas calças justas. Sério, tenho certeza de quem criou essas calças fez uma vasectomia, se arrependeu e quis que todo mundo sofresse com ele. Aposto que essas calças serão a causa de uma queda na taxa de natalidade daqui a alguns anos. 

Ontem mesmo fui entrar numa loja e dei meia-volta quando vi o manequim com um lenço roxo enrolado no pescoço, uma camiseta gola V que faria inveja a muito decote e uma calça quadriculada branca e vermelha. 

Estou sozinho. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Solte a panela

O URSO E A PANELA

"Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca de alimento.
A época era de escassez, porém, seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida e o conduziu à um acampamento de caçadores.
Ao chegar lá, o urso, percebendo que o acampamento estava vazio, foi até a fogueira, ardendo em brasas, e dela tirou um panelão de comida.
Quando a tina já estava fora da fogueira, o urso a abraçou com toda sua força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo.
Enquanto abraçava a panela, começou a perceber algo lhe atingindo.
Na verdade, era o calor da tina...
Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e por onde mais a panela encostava.
O urso nunca havia experimentado aquela sensação e, então, interpretou as queimaduras pelo seu corpo como uma coisa que queria lhe tirar a comida.
Começou a urrar muito alto. E, quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra seu imenso corpo. Quanto mais a tina quente lhe queimava, mais ele apertava contra o seu corpo e
mais alto ainda rugia.
Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso recostado a uma árvore próxima à fogueira, segurando a tina de comida.
O urso tinha tantas queimaduras que o fizeram grudar na panela e, seu imenso corpo, mesmo morto, ainda mantinha a expressão de estar rugindo."

Autor desconhecido Edson Arantes do Nascimento

Eu quero ter paciência para deixar a comida esfriar.
Quero lembrar que posso comer os caçadores que estão chegando.
Tenho tanto medo de abandonar o que me faz mal que não percebo que isso também está me matando.
Nem sempre o que parece é realmente o melhor, mas como é difícil largar essa merda de panela!

E fica uma musica que diz exatamente o que a adolescente que mora em mim quer dizer com tudo isso:


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Um relato constrangedor de um estudante em fim de carreira

Tenho pesquisado muito nestas últimas semanas.

É meu último semestre na faculdade e todo o conhecimento produzido até hoje pela humanidade parece querer vir ao meu encontro. Depois de anos e anos bebendo da fonte de saber de mestres da sabedoria ocidental como Marx, Weber, Freud e Foucault, chego agora ao último suspiro, aos últimos dias nesta caminhada rumo à fina flor da erudição... o que faz de minha recente biografia um mar de tédio sem fim.

E no meio de tanto labor, de tanto sacrifício intelectual, de tantos livros suplicando com toda aquela lascívia que lhes é peculiar "abra-me", "leia-me", "devora-me", no meio de toda esta provação, enfim veio a recompensa ao aguerrido guerreiro: "Como fazer uma cara sensual usando apenas a imaginação"!

Ahh...agora sim! - pensei eu quando vi o folheto entre os livros - para que preciso de tanta filosofia se conseguir fazer uma cara sensual?!

O folheto, no entanto, não era nada animador. Imaginação nunca foi o meu forte e o primeiro passo era justamente "imaginar"...imaginar que havia um sol (o folheto falava em um "sol bruxuleante", mas eu não sabia o que era isso, então tentei imaginar um sol normal mesmo)...numa dessas eu já nem lembrava mais de Marx, de Weber e muito menos de Foucault, então peguei um espelho e me coloquei a treinar freneticamente... treinei... treinei como se não houvesse amanhã, treinei como se minha vida dependesse disso.

Ao final de algumas horas já conseguia fazer uma cara mais ou menos convincente...bom, não estava propriamente sensual, ou melhor, não estava nada sensual... parecia mais um míope tentando ler alguma coisa do que propriamente alguém incomodado com um sol "bruxuleante"... mas vamos lá, esse era meu novo projeto de vida e eu não ia desistir tão fácil! Passei ao passo 2!

Ora! Este me parecia mais difícil que o primeiro! Eu deveria manter a cara de míope, ou melhor, de alguém incomodado com a luz de um sol bruxuleante, e pronunciar a singela palavra "salame". Aquilo estava começando a ficar estranho, mas não de uma estranheza qualquer, era de uma estranheza constrangedora, de uma estranheza que quase me fez desistir e voltar para aqueles livros empoeirados e enfadonhos! Mas não!

À guisa de me manter protegido contra vizinhos um pouco mais curiosos e maledicentes, cerrei todas as janelas e cortinas da casa. Voltei ao folheto! O maldito dizia que eu finalmente chegaria ao meu objetivo se pronunciasse a nada sensual palavra "salame" interrompendo melindrosamente a mesma na segunda sílaba, momento crucial em que a lingua chegaria aos céus, ao palato, ao famigerado céu da boca!

Meu coração aumentou o batimento ante a perspectiva de finalmente chegar ao clímax, ante a perspectiva de mostrar para quem quisesse ver, que eu não era apenas um estudante enfadonho em fim de carreira! Eu estava próximo de mostrar à gentalha que eu também podia fazer uma cara sensual! Ah, se podia!

Não, não podia!

Ao final de dezenas ou, quiçá, centenas de tentativas, o mais próximo que eu cheguei de sensualidade foi um misto de náusea e prisão de ventre, o que só me fazia ter cada vez mais pena do meu espelho. Minha lingua já estava com caimbras de tanto falar "salame" (melhor seria falar abobrinha) e eu só tinha vontade de me vingar do desditoso ser que teve a brilhante ideia de fazer aquele folheto! Aquele maldito folheto!

Não! Não! Não! A quem eu queria enganar? De que me adiantaria uma cara sensual? Foi então que percebi que minha sensualidade era outra... foi então que voltei pra eles! E eles estavam ali, como os havia deixado, estavam ME esperando, estivesse eu com cara sensual ou não! Esperando este estudante em fim de carreira para quem tudo, TUDO neste momento, parece mais atraente e interesante do que fixar as nádegas na cadeira e se debruçar sobre seus livros empoeirados!

Oh, meus queridos livros! Tudo isso um dia vai passar e vou voltar a vê-los novamente como amigos e não como adversários!

sábado, 19 de novembro de 2011

What the fuck?

Imagens como essa andam sendo disseminadas pela internet e por sites de relacionamento. Todo mundo "curte" e acha o máximo. Dezenas de comentários do tipo "verdade", "é isso mesmo", "falou tudo" acabam aparecendo cada vez que alguém divulga essa mensagem.Eu fico me perguntando que tipo de pessoa acha realmente que isso é verdade. Prefiro acreditar que ninguém. As pessoas acostumaram a se sabotar. Ou alguém concorda que prefere não ser correspondido, que preferia que as pessoas que te interessam te ignorassem ao invés de corresponder às suas investidas? Eu aprendi desde cedo a correr atrás do que eu quero, a me colocar disponível, visível e apto aos meus interesses. Não acho que eu esteja errado. Adoro a série, me divirto e acho fascinante o humor ácido do Dr. House, mas como uma série, como uma forma de me fazer das risadas, não como realidade.A frase não é mentira. É realmente nisso que as pessoas se baseiam hoje em dia quando, raramente, se interessam de verdade por alguém. Mas convenhamos que, caso todo mundo comece a agir dessa forma, ninguém nunca mais vai conseguir se relacionar. Alguém tem que ceder pra que isso dê certo, e aí a responsabilidade de fazer o relacionamento dar certo vai sempre estar nas mãos do que for menos idiota pra agir da maneira como realmentre quer.Fala-se tanto em personalidade, em ser forte, em superar expectativas hoje em dia, e só o que consigo ver é um monte de crianças brincando de esconde-esconde pra sempre. Se escondendo delas mesmas pra ver se alguém de fato as encontra. Isso faz algum sentido pra vocês?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Assim justifico essa chatice

Quero ser velho. Finalmente usar chapéu, boina, com a senil permissão do tempo (saiba você jovem, por um na cabeça é blasfêmia maior que cuspir em santa). Quero cagar nas calças sem culpa, deitado ali, assistindo uma tela, enquanto me viram, limpam e trocam a fralda, sem que eu me esforce. O mínimo. Quero sair de casa pra jogar bocha no horário de pico só pra rir da tua cara jovem, cansado, esgotado, que trabalhou o dia inteiro em pé e que vai ter que aguentar mais um pouquinho, pra eu ir sentado no busão. Quero levantar às 3:30hs pra buscar o pãozinho, e na primeira fornada do dia cornetar o balconista: - O mais torradinho filho! esse! Deus abençoe... . Quero deixar os pelôs do nariz e das orelhas crescerem, sem limites. Quero cochilar de tédio. Alguém começa um assunto pé no saco e ao invés de dar atenção, eu ronco (ninguém questiona o vô nessas horas). Quero xingar todo mundo de arrombado, roubar supermercados, caguetar os segredos da família inteira pra depois por a culpa no Alzheimer.
Quero ser Clint. Na verdade quero ser Morgan, pena não ser preto. Porque no fundo mesmo quero é ser Nelson. Maior blasfêmia que essa só saindo na rua de boina.




  

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cozinha


Picava cebolas como picava problemas. Cortava todos em partes quase simétricas, em partes passíveis de serem mastigadas. Aí então resolvia parte por parte, não sem antes enxugar as lágrimas nos olhos.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Alemanha versus Espanha

E se o tempo não for a cura?
 
Assisti a dois filmes de diretores tão diferentes, de países diferentes, de escolas diferentes, de preferência sexual tão distintas e que implicitamente passam por este tema. O cinema é assim mesmo, é o empréstimo dos olhos de pessoas tão diferentes de nós: vc quer ver o meu mundo? Pior que a gente vê e mesmo assim, todavia, teima em não deixa de ser o nosso mundo, inclusive nos casos que este mundo ganha mais uma dimensão ou mesmo quando ele tem apenas duas cores.
 
Afinal o que nos cura?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

15 de novembro

Há 122 anos, proclamaram a república.
Há 2 minutos, proclamei a minha ira. 

Se cuida, neguinho.

domingo, 13 de novembro de 2011

Anúncio

To me vendendo.

E não estou nem um pouco preocupado em ser um “vendido”.

Sou publicitário e me vendo por qualquer trabalho que seja financeiramente mais rentável que o meu.

Cansei de pensar, tentar ser criativo, inovar.

To cansado de muito abacaxi pra pouco salário; muito pepino pra pouco reconhecimento; muito sapo pra pouca promoção.

To aceitando ser subcelebridade, apresentador na rede TV, ator da malhação...e o que mais der grana por aí.

Sem me prolongar a ponto desse post virar uma carta de lamúrias, eu aviso que joguei esta semana meus idealismos e discursos intelectualóides no mar. Quem sabe um dia eles voltem, trazidos pela maré e eu, inconstante que sou, os receba de braços abertos, com toda saudade.

Enquanto isso, ou até amanhã, quero ser o próximo ex ex-BBB que comprou uma cobertura no Leblon, preocupado se o nudge vai ser o novo preto na próxima estação.

Contatos para propostas: só deixar nos comentários.




PS.:Talvez amanhã eu queira ser astronauta da NASA.

sábado, 12 de novembro de 2011

Mas é o creme da Barbie...

Como se lida com o envelhecimento ?Bom, nunca pensei que escreveria sobre isso,já que vivo mergulhada no complexo de Dorian Gray, achando apenas que meu retrato envelhece,não eu.
Não entendo o envelhecimento, porque meu cérebro não permite.Continuo me sentindo com dezoito anos mentalmente, como se isso fosse uma coisa boa.
Hoje em uma farmácia fiquei encantada com um creme da Barbie, com um cheiro doce.Mas como comprar aquilo, se estou em uma idade que os cremes tem que vir com alguma promessa de milagre ? Seja para eternizar minha pele, rejuvenescer anos em questão de horas,dar firmeza ou trazer de volta um tal de colágeno.
Quando eu era adolescente ainda não existiam no Brasil esses cremes da Barbie, minha mãe usava e me fazia usar o creme do capeta, aquela maldita lata azul da Nivea, uma produto sem nenhum propósito visual ou olfativo, não cheirava bem, não era bonito de ver e não se podia fazer nada com a lata depois.Meu irmão até que inventou um bom uso, deu para o gato brincar, ele adorava correr atrás dessa latinha azul.
Não tenho vontade de usar esses cremes anti -isso e anti -aquilo.Com tantos químicos ardem na pele, custam caros demais e não tenho vontade de olhar para eles todos os dias.
Ninguém me avisou nada,mas não me sinto envelhecendo.Tive dores no joelho,mas depois passou.Sinto que minha pele não é mais a mesma ,mas nem por isso parece que estou envelhecendo.
Meu pai diz para me preparar para a velhice, porque fica pior.Ah, bom saber! Conselhos depressivos são com meu pai, mestre e doutor nisso.
Eu até disfarcei na farmácia.Peguei cremes com milhões de ingredientes e garantias de eternidade, olhei, li os rótulos, fingi me impressionar com tudo o que diziam, mas no fim comprei o creme da Barbie, uma garrafinha rosa, cheia de brilho, com glitter. Não serve de muito ,mas gosto do cheiro. E o que seria envelhecer ? Não sei.Mas enquanto minha alma se encantar com algumas coisas,está bom para mim.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O que você vai ser?

Estavam três amigas brincando, tinham por volta de 6 anos de idade.
Perguntaram para a primeira o que queria ser quando crescer, e ela respondeu:
professora!
Pergutaram o mesmo para a segunda, e ela respondeu:
professora!
Perguntaram para a terceira a mesma coisa, e ela respondeu:
detetive!

Claro que a terceira era eu, e esse é um dos poucos vídeos que tenho guardado junto com minhas poucas fotos de infância.

Sumiu um prontuário, um documento, qualquer coisa, lá estou eu investigando, fazendo perguntas, criando teorias malucas, estou lá, brincando de detetive no meio do expediente com a vantagem de quase sempre encerrar meus casos com sucesso.

E sabe que se olhar bem vai ver todos lá sendo crianças, sendo igualzinhos eram quando pequenos, a mulher brincando de comidinha (que eu adoro os quitutes!) a bailarina delicada, a professora, o médico, a mamãe, a filhinha, a do vídeo game.

Está ali minha chefe, mimada, que pega a boneca dos outros sem pedir e que não deixa ninguém pegar a dela, a que deixa o quarto bagunçado, a encarregada que marca na lousa o nome de quem ficou bagunçando, a administrativa que pediu para responderem a chamada para ela, a terapeuta que parou de fazer xixi na cama, o psicólogo que puxa o cabelo das meninas, o auxiliar que não gosta de tomar banho.





Todos com 6 anos, de novo e ainda.


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

???

Hoje quero propôr um post diferente.  Me fizeram uma pergunta e, desde então, ela vem martelando em minha cabeça.  Alguém tem a resposta pra me dar?

"É POSSÍVEL AMAR ALGUÉM SEM MEDO DE PERDÊ-LO?"


Agradecido.


domingo, 6 de novembro de 2011

<Insira seu título pseudo-filosófico aqui>

Um mês termina. Outro começa. Não quero dizer coisas óbvias, mas aviso que o produto do que vai encher essas linhas é pura e simplesmente o do jorro de consciência que estou deixando escorrer em palavras nessa madrugada de terça-feira. Primeiro de novembro, como se fosse sequer importante. Em que furacão estou me metendo, me deixando levar assim, tentando ver até que ponto posso ir sem desmoronar de novo? Me perdoem a licença de pseudo-escritor-intimista, não quero transformar isso em algo bom. Estive perto dos meus amigos, e gostei de estar. Daqueles que não posso estar perto, bom, ainda não sei explicar o que nos liga com tanta força. Sei que não vai passar tão logo (e esse medo eterno de usar a palavra “nunca”?). Tanta coisa mudou. Tanta coisa ainda muda. Tanta coisa ainda vai mudar. Tenho medo. Se temo com fundamento ou não, só o tempo vai dizer.

More than this, you know there’s nothing… ♫

O QUE FICA É A MÚSICA.

sábado, 5 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quando não sou eu o cara na jaula dos leões

(por Gilberto Amendola)

Parece tão fácil quando não é comigo, quando não sou eu o cara que vai lotar o cinzeiro com bitucas tristes e pedir a conta minutos antes do simpático garçom passar avisando que a cozinha, infelizmente, "vai fechar."

Parece tão natural quando não sou eu o cara sem saber o que fazer com as mãos – o cara sem saber o que dizer quando ela, enfim, abrir seus olhos verdes como quem exibe um Royal Straight Flush numa mesa de pôquer.

Parece tão simples quando não sou eu o cara parado na plataforma – seguindo os vagões com a cabeça em zigue-zague. Ou ainda quando não sou eu o cara vendo ela relaxar os ombros no fundo da sala de embarque (o mesmo cara que, depois, vai ficar olhando para o céu e tentando adivinhar em que avião ela está).

Parece tão civilizado quando não sou eu o cara que finge não sentir o chão se abrir em alçapão ao vê-la passar feliz com o seu novo e brilhante amor. É tão ‘primeiro mundo’ quando não sou eu o cara mudando de calçada ou se escondendo atrás da barraquinha de pastel.

Parece tão matemático quando não sou eu o cara ouvindo a mesma música o dia inteiro, quando não sou eu o cara fazendo Air Guitar no quarto – e iludindo-se com uma plateia de carrinhos de ferro e Playmobil.

Parece tão razoável quando não sou eu o cara sozinho no cinema – afogado num saquinho de pipoca e esperando uma mensagem salva-vidas vibrar no celular. É tão melhor quando não sou eu o cara disfarçando o choro na derradeira cena de Blue Valentine.

Parece tão ‘de bom tom’ quando não sou eu o cara dentro do táxi pedindo para o motorista dar voltas pela Vila Madalena até uma angústia antiga encontrar um canto para descansar em paz.

Parece tão leve quando não sou eu o cara com a cara enfiada no jornal do dia, procurando, nos classificados, alguém que tenha paciência para ouvir a íntegra das minhas desventuras semanais.

Parece tão ‘cinema francês’ quando não sou eu o cara com a cabeça grudada no vidro do ônibus – pensando, repassando e recriando aquela chance, aquele deixa, aquela rixa, aquele adeus.

Parece tão empírico quando não sou eu o cara pondo fogo no mundo, bagunçando o coreto e usando artilharia antiaérea para chamar a atenção dela.

Parece tão bonito quando não sou eu o cara travado de gin me fingindo de Leonard Cohen tupiniquim. Tão, mas tão mais digno, quando não sou eu o cara trançando as pernas na Rua Augusta e procurando as chaves do apartamento no bolso da calça. É tão ‘fofo’ quando não sou eu o cara com o chaveiro do Snoopy e a camiseta do Charlie Brown.

Parece tão natural quando não sou eu o cara que não consegue tirar o rosto dela do primeiro plano da memória. Tão concreto quando não sou eu o cara tentando medir as palavras com a régua azul da solidão.

Parece tão engraçado quando não sou eu o cara protagonizando o próximo tropeço público, quando não sou eu o cara prestes a receber a torta de creme no rosto, quando não sou eu o cara na mira do atirador de facas ou preso na jaula dos leões banguelas. Parece tão hilário quando não sou eu o cara usando o nariz vermelho no centro do picadeiro. Tão incrível quando não sou eu o cara tomando porrada – e com a alma roxa de vergonha.

Parece tão humano quando não sou eu o cara sentindo esse frio polar na espinha. Parece tão chique quando não sou eu o cara que já não tem mais vinte anos, mas ainda insiste em usar xadrez. Tão lúdico quando não sou eu o cara que sobrou com a vassoura na mão no fim da festa.

Parece tão inteligente quando não sou eu o cara escrevendo poemas pra ela.

Porque quando é comigo...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Irmãos

Acho uma puta sacanagem gente que quer ter, tem, um filho só. É ser no mínimo muito egoísta. É ter um filho para suprir necessidades biológicas, culturais, ou sei lá o que, mas ele que se dane daqui uns 20 anos. Já pensou você e seu companheiro(a), velhinhos, com artrose, esclerose, alzheimer, e um único ser para carregar todo esse peso nas costas? E quando você morrer? Ele vai ficar sozinho nesse mundão de meu deus?

Sei da super população, do esgotamento dos recursos naturais, do preço da educação hoje em dia, de pequenos consumidores que exigem dos pais o céu de presentes, sei e penso sobre isso tudo, mas acho sacanagem ainda. Uma puta sacanagem.

Acredito que a convivência com irmãos é muito mais importante para a formação da sua identidade do que a própria convivência com os pais. Os pais trabalham (cada dia mais), os pais chegam cansados e dormem em outro quarto. É com seu irmão que você divide o medo do escuro, assiste desenhos na TV, brinca de carrinho de rolimã na garagem, passa manhã, tarde, noite, faz dever de casa, brigadeiro de panela e quase põe fogo na casa fazendo pipoca.

Meus primeiros discos e CDs, por exemplo, foi meu irmão que me mostrou. Os primeiros bailinhos que eu fui, fui vestida com roupas da minha irmã. Claro que a gente se estapiava por um danoninho, um controle remoto, mas hoje, lembrando de todas as coisas que já vivemos, posso dizer: os filhos únicos que me perdoem, mas ter irmão é fundamental.


* foto do meu irmão Rodrigo, tirada enquanto testava o flash na aula de fotografia que estamos fazendo juntos.