sábado, 27 de junho de 2020

9 razões sobre como e por que devemos viajar

Vimos estrelas
E ondas; vimos areia também.
E, apesar de muitas crises e desastres
Inesperados,
Muitas vezes sentimos tédio,
Exatamente como aqui.

Charles Baudelaire.

Parece até uma provocação barata escrever um texto sobre viagem no meio de uma pandemia que nos convoca a manter isolamento social. Mas fazia tempo que estava com esse livro empacado nas minhas leituras e gostaria de compartilhar com vocês as reflexões do filósofo suíço Alain de Botton sobre viagem.

Na busca obsessiva pela felicidade, provavelmente viajar está entre as atividades que mais se destaca como forte candidata a satisfazer esses anseios. No livro A arte de viajar (2002), De Botton propõe uma investigação sobre como e por que deveríamos viajar. Quero trazer aqui os principais pontos do livro que está dividido em nove capítulos, nos quais o autor traz suas próprias experiências pessoais de viagem a partir do olhar e reflexão de artistas e pensadores seletos.

  1. A expectativa
J. K. Huysmans, em seu livro Às avessas (1884), apresenta um herói decadente que acreditava que “a imaginação era capaz de proporcionar um substituto mais do que adequado à realidade vulgar da experiência concreta”. É verdade que você pode ter muitos aborrecimentos durante uma viagem como ficar doente ou não se livrar da preocupação com uma possível demissão quando retornar, mas só porque a expectativa de que tudo se transformaria magicamente não se concretizou não significa que não valha à pena.

Assim, é preciso lidar com as inevitáveis frustrações que podem surgir durante ou após uma viagem, pois freqüentemente a experiência é diferente do que imaginamos.

  1. Os destinos de viagem
cena do filme "O céu de Suely"
Talvez o sentimento de insatisfação e inquietação não atinja a todos do mesmo jeito, mas provavelmente em algum momento você já pensou que sua vida seria diferente se sumisse, fosse para outro lugar longe. “A vida é um hospital em que cada paciente está obcecado com a ideia de mudar de cama”, teria dito o poeta Charles Baudelaire.
A “poesia da partida” evocada por Baudelaire é uma sentimento que compartilho. Uma inexplicável sensação de conforto e alegria ao observar terminais rodoviários, aeroportos, cais.  O ambiente doméstico que por vezes pode aprisionar uma face do nosso “eu” se liberta com a ideia de movimento evocada pela viagem. Viajar oferece a oportunidade de conhecer “eus” adormecidos, escapar de hábitos mentais cristalizados e a ter novas idéias.

  1. Exótico
O interesse pelo exótico não deveria ser lido apenas como uma curiosidade em si mesma. Podemos nos encantar com elementos estrangeiros porque são aspectos que valorizamos e gostaríamos que nossa terra natal se parecesse. Como observou Flaubert, na vida adulta temos a liberdade de recriar na imaginação nossa identidade de acordo com nossa essência.

  1. Curiosidade
Ativar a curiosidade para além do que guias turísticos e outros turistas apontam como local de interesse para se conhecer pode trazer enriquecimento para nossas vidas. Isso porque ao visitar um local e investigar as marcas do passado nele traz compreensão, segundo Nietzsche, um olhar para além da própria existência individual e transitória ganhando um senso de continuidade e vinculação com a própria sociedade.
Ter curiosidade não apenas em territórios estrangeiros, mas inclusive na própria cidade. Refletir sobre como nossa identidade também é fruto de quem veio antes de nós.

  1. Campo e cidade
Se no início foi motivo de chacota, o mesmo não se pode dizer com o passar do tempo sobre a poesia de William Wordsworth. O poeta inglês exaltava a natureza e acreditava que ela era corretivo indispensável para os danos psicológicos infligidos pela vida urbana.
Estar o tempo todo imerso no mundo dos humanos nos aliena de fazer parte de um todo, nos faz esquecer que dividimos o planeta com outros seres vivos. Testemunhar a vida selvagem nos estimula a olhar pra vida por meio de outra perspectiva, em respeito aos outros e também a nós mesmos.

  1. Sublime
O filósofo Edmund Burke discute como o sublime tem relação com um sentimento de fraqueza. Assim, segundo o autor, o sublime seria um encontro prazeroso e, até inebriante, da fraqueza humana diante da força, da idade e das dimensões do Universo.
Paisagens que evocam o sublime, portanto, não seriam apenas lugares bonitos. Mas aqueles que através de sua grandeza e força nos lembram que a vida humana não é medida de todas as coisas. É um sentimento muito poderoso porque traz conexão com uma realidade maior, que pode ser entendida em termos religiosos ou não, que nos possibilita ver além de nós mesmos. Talvez ao ser confrontado com a própria fragilidade seja curiosamente uma fonte de energia para lidar com os obstáculos mundanos, afinal, nada pode ser tão importante diante de tamanha força que existe antes de nascermos e continuará existindo depois de nossa extinção.

  1. Arte que abre os olhos
Uma paisagem pode se tornar mais atraente depois de a conhecermos pelo olhar de algum artista. De Botton compartilha sua própria experiência de visitar Proença mediado pela obra de Van Gogh. Ele foi guiado pelas cores, pela vegetação, pelos locais registrados pelo pintor.

  1. Eternizar a beleza
Ao nos deparamos com a beleza temos o ímpeto de tomarmos posse dela. Podemos manifestar esse desejo através da compra de souvenirs, deixar uma marca física, fotografar... Tive o desprazer de presenciar uma manifestação desse desejo no Festival das Cerejeiras, em São Paulo (SP). Durante poucos dias, as cerejeiras florescem proporcionando um lindo espetáculo de beleza para a cidade, mas o desejo de posse fez com que o público arrancasse galhos numa tentativa de levar para casa o que viu. Acontece que a delicadeza das flores fazia com que elas se despedaçassem ainda no parque: nem a “beleza” foi possuída pelas pessoas,  nem pôde continuar existindo, já que foi parcialmente destruída.
John Ruskin acreditava que somente nos apossamos da beleza quando nos tornamos consciente dos fatores (psicológicos e visuais) que nos fazem admirar algo. Ele defendia que atingimos essa consciência através da arte, escrita ou desenho. O desenho revelaria nossa cegueira anterior ante a verdadeira aparência das coisas. Aprender a ver e a transmitir nossas impressões da beleza seria uma maneira precisa na análise do que vimos e sentimos. De modo que ter essa clareza no permitiria possuir a beleza, eternizando-a na nossa memória.

  1. Hábito
Devido a nossa enorme capacidade de adaptação, nos habituamos a olhar para nosso redor sem atenção a beleza, sentimento de assombro ou gratidão. O hábito é o oposto de um estado de espírito de viajante. Ele dificulta cultivar humildade, pois o que é interessante ou não já parece pré- definido.
Viagem ao redor do meu quarto escrito por Xavier de Maistre (1790) é um chamado a acender esse estado de espírito de viajante. Ele brinca com os limites do próprio quarto para mostrar como podemos descobrir novas coisas se olharmos atentamente mesmo para paisagens familiares. Não precisamos necessariamente viajar para longe para realizar boas descobertas.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Estreia


Olá a todas e todos.


Hoje estou aqui contribuindo (ou não) com meu primeiro texto neste blog. Então, me pareceu razoável que eu falasse sobre estreias. 

Quando buscamos no dicionário Priberam o significado de “estreia’, esbarramos com nove significados possíveis, dos quais, seis dizem respeito a algo que é feito “pela primeira vez”, seja um discurso, uma apresentação pública… um texto. Pois bem, antes de mais nada, estamos, de fato, em uma estreia. 


O primeiro dos significados do Priberam (e que não remete a uma “primeira vez”) diz que “estreia” é o ato de estrear ou estrear-se. Pois bem. Imagino que esta ação primordial nos remete, por outro lado, a ideia de rotina. Estrear é quebrar a rotina. Pá!.

Mas a relação entre essas duas coisas me parece, antes, dialética, do que antitética; quer dizer, elas se retroalimentam, em vez de se oporem, pura e simplesmente, em uma relação aparentemente paradoxal. 

Se uma estreia é a quebra da rotina, o sucesso do discurso, da apresentação pública…  de um texto (ou do próprio sujeito) estreante vai ser, necessariamente, a sua transformação em rotina. Seja na rotinização do processo produtivo do sujeito estreante, seja na reprodução e consumo ao longo do tempo da coisa estreada. Já a continuidade da rotina, por sua vez, é marcada por novas estreias, que lhes dão novo fôlego, mantendo-a viva. 

Enfim, não há estreia sem rotina, e vice versa. 


O dicionário Priberam explica que o termo “estrear” vem do latim strena: “presente dado como bom presságio”. O efetivo sentido presságio, bom ou ruim, só o tempo irá dizer, ou transformar, ou não, em rotina (do ato de produzi-lo ou do produto em si. Como no caso de… um texto).

Enfim, espero que este texto, seja um bom presságio.
E continuaremo falando de rotinas, no próximo texto (caso minha presença aqui vire uma rotina).

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Mascarado Mundo

Num diário exercício de cegueira controlada,
nós mascaramos o mundo.
Mascaramos a falta de pão,
a falta de escola,
os gritos da vizinha que chora,
o tio violento, o presidente virulento,
o desaforo recebido, os mortos e os feridos.
Mascaramos até mesmo nosso ofício de mascarar.
Mascaramos para poder dormir tranquilos na cama quente,
para poder sair de casa com a cara limpa,
rumo a um mundo-cloroquina de respostas fáceis e pessoas felizes.

As máscaras esterilizam o mundo,
tornam as dores herméticas,
as diferenças opacas,
estampam falsos sorrisos em bocas que querem gritar,
em dentes que querem morder
em rostos que querem vazar, se contorcer de dor.

E quando todas as máscaras caírem,
o mundo se mostrará desnudo.
Os andaimes do castelo estarão à mostra
e todos poderão ver de que traumas ele é feito,
sob sua ciranda de mascarados
a desfilar num carnaval de dores.

domingo, 21 de junho de 2020

Superando a fobia

Fala galera do blog!
Que saudade que eu tava de sentar aqui no meu quarto, com essa página em branco, no meu notebook, para compartilhar com vocês algumas palavras nesse dia que assumi aqui, anos atrás...!

Partilho com vocês a alegria de dizer que finalmente terminei meu tratamento dentário! Depois de anos sem passar no dentista, por puro pavor que tinha, resolvi, em setembro do ano passado, encarar a fobia e lá fui eu, pesquisar clínicas e mais clínicas, pra ver onde eu teria a coragem de me tratar.

Acontece que na Sorridents, aqui de Caçapava, fui muito bem recebido, e por isso, lá fui eu.
O tratamento terminou, mas as parcelas no cartão de crédito ainda perdurarão durante mais alguns meses! 

Mas ok! Pelo menos minha saúde bucal está garantida!

Esse medo me acompanhava desde minha infância, quando um doutor começou a utilizar o "motorzinho", e disse que se me sentisse desconfortável, com dor ou algo assim, era pra levantar a mão que ele pararia. Não senti dor. Nem desconforto. Mas levantei minha mão porque ele simplesmente não percebeu que minha boca transbordaria por causa da água da broca. 

Minha mão ficou do lado de fora da sala onde estava, me aguardando. Ela não entrou.

Levantei da cadeira, e lavei a mesma com aquela água toda. Ele beliscou minha boca, chacoalhou e disse num tom ameaçador: "Olha só o quê você fez na minha cadeira."

Depois daquilo, é claro que passei em outros dentistas. Mas com um grande intervalo de anos entre essas visitas. 

De setembro de 2019 pra cá, fui ao dentista quase que semanalmente. O tratamento teria terminado meses atrás, mas por causa da Pandemia da "gripezinha", o consultório precisou fechar, e atrasou um pouco, mas tudo bem! Tudo tem sua hora e seu tempo! 

Daqui uns 5 meses volto lá para a visita que deveria ter feito de 6 em 6 meses, durante toda a minha vida. Graças a Deus, não foi tarde para começar. Sim. Perdi uns dentes no fundo. Quebraram, e achei que tava de boa. Ledo engano. Além deles, tirei um siso também, que deu mais trabalho do quê o doutor acharia que daria. Mas tudo bem. Deu certo.

Estou feliz por compartilhar essa história com vocês!
Fobia é um tipo de sentimento que paralisa a gente.
Hoje estou livre do quê me atazanou durante uma boa parte dos anos vividos.

Um prazerzaço ter escrito direitinho, no dia 21, nesse mês!
Também estou feliz pelo movimento e pelas novas almas que estão escrevendo conosco aqui no blog (bem pelo retorno de alguns velhos amigos conhecidos também)!

Ótimo mês à todos. Dia 21 do mês que vem, venho escrever um pouco mais.
Nesse meio tempo, vamos prestigiando o talento dessa galera linda que se dedica a estar aqui!

sábado, 20 de junho de 2020

Autoridades

 
Deslocado para uma ocorrência em Alphaville, o Soldado chegou pensando que era melhor quando atuava na periferia. Não por estar mais perto de casa e muito menos por segurança, mas sentia que era na periferia que tinha a liberdade para trabalhar.

Quando chegava nas comunidades impunha a autoridade que desejou desde criança. Ultimamente se sentia como o presidente, mostrando quem é que mandava, sem ter que tolerar conversa fiada. Ainda no caminho brincava com os amigos na viatura, “hora de desestressar”.

Em Alphaville era diferente. Quando desceu do carro e instintivamente levou a mão à arma, sentiu logo um cutucão do amigo. Lá isso não era necessário, nem aconselhável. Sobretudo para a denúncia de briga de casal. Uma simples e rápida conversa resolveria tudo civilizadamente - termo com o qual o Soldado implicava, por ser um militar e não civil.

O lado bom é que estava entre gente de bem, entre admiradores que tiravam selfies com os soldados em manifestações e que admiravam o presidente. Só não diria que se sentia em casa pois nunca havia visto casas tão deslumbrantes.

Tudo correu bem entre os dois passos que separavam a viatura da metade da calçada. Antes mesmo de pisar no gramado que levava à porta de entrada o Soldado foi surpreendido pelo proprietário que abriu a porta aos berros. Desde que entrou na polícia nunca havia sido tão insultado, arriscava dizer que nunca na vida havia sido tão humilhado.

Foi chamado de filho da puta, de corno, de merda do caralho. Ouviu xingamentos e ameaças que não toleraria nem do próprio pai. Ah, que saudade da periferia…

Achou melhor não criar caso. Não era covardia, era um recuo estratégico. Alguma explicação apareceria para tudo aquilo. Talvez um mal entendido. Até o presidente baixa a cabeça e se cala quando o Trump quebra promessas e o prejudica. O importante era respeitar a autoridade e todo mundo tem uma autoridade à respeitar.

O Soldado teve um dia ruim, mas passaria. Talvez tenha sido algum engano e tudo seria resolvido da melhor forma, afinal, eram todos pessoas de bem. No dia seguinte, com sorte seria encaminhado para a periferia e poderia se livrar de todo aquele estresse.

Sim, tinha a certeza de que era uma peça fundamental na manutenção da lei e da ordem, principalmente diante de baderneiros que tentavam barrar o avanço do país. Não seria um pequeno detalhe que o desviaria do caminho certo. Para isso se tornou Soldado e ninguém atrapalharia sua missão.

Com olhos marejados, pensou que não foi por acaso que o governo protegeu o Trump e defendeu a polícia na ONU. Todo mundo tem uma autoridade à obedecer e o importante era manter a lei e a ordem. Talvez o homem de Alphaville estivesse mesmo correto. Para que chamar a polícia para uma briga de casal? Deve ter sido coisa de mulher histérica, que surta por qualquer coisinha.

O dia seguinte seria da periferia. Ah, que saudade da periferia...

quinta-feira, 18 de junho de 2020

beijo em prosa e beijo em poesia


São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2020

- beijo em prosa e beijo em poesia - Cristina Santos - post 2 - Blog das 30 pessoas -

     Oie! Espero que estejam bem 💛. Tenho uma sugestão: escutem bem baixinho a música - Beija eu - da Marisa Monte, enquanto vocês leem a prosa e o poema. Façam o teste.  ;) :) Vamos lá.   


título: beijo em prosa

     Nadavam graciosamente no ineditismo daquele mar de música alta e luzes coloridas, quando sem querer querendo se encontraram na estrela. E o beijo que era previsto para aquele momento, chegou na hora, que era a hora certa para a estreia acontecer.



título: beijo em poesia

em alto...
mar
nas luzes...
do anoitecer
a estreia... 
da estrela
no beijo...
do querer


     Essa prosa e poema, escrevi em maio no curso online: Encontros de Escrita Criativa (abril e maio de 2020 - realização - Núcleo Atômico), que foi coordenado pelo amigo de longa data e parceiro em muitos escritos: Tadeu Renato.
     E por hoje é só pessoal. Sintam-se abraçadas e abraçados. Cuidem-se. E até o próximo post.
     Beijos
     Cristina Santos 



" Beija eu
  Beija eu
  Beija eu, me beija
  Deixa
  O que seja ser "

- Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Arto Lindsay -
- trecho da música: Beija eu -   


terça-feira, 16 de junho de 2020

PAISAGENS

 Eu vi um menino correndo, eu vi o tempo. Na verdade, não vi nada disso: moro em um prédio pequeno cercado por imensos edifícios comerciais. O sol que ilumina a sala é um simulacro, reflexo do vidro espelhado de algum consultório. Acesso um trecho imensamente pequeno do céu, uma ou outra estrela e a lua que dá o aro da graça a depender da época do ano. Da janela sobre a minha mesa de trabalho, no horizonte que termina no próximo quarteirão, um grupo de urubus vigia a cidade do alto de uma dessas torres. Sei que dali deitam a vista até o norte longínquo dessa capital. Por vezes desconfio que olham cá dentro, mancomunados em planos de invadir a vida humana antes mesmo do seu fim. Ou talvez estejam apenas esperando aqueles momentos desprevenidos em que caminhamos nus sem que a cortina esteja fechada. Pretensão à toa supor que estão preocupados conosco: têm um mundo inteiro de estímulos visuais para reparar.
Abro janelas virtuais, por onde passeio sem sair da cadeira. Mesmo antes do isolamento gostava de caminhadas cartográficas, tenho desde sempre atração por mapas e guias: estradas, ruas, rios, distâncias. Um prazer tátil de passar a ponta dos dedos no papel, fechar os olhos e deixar a aleatoriedade do movimento indicar um local. Com os mapas virtuais, minha curiosidade ganhou de presente a possibilidade de enviar uma espécie de avatar para dentro da cidade. Agora mesmo solto o pequeno boneco sem escolher o chão. Caio em Kampala, capital de Uganda. E explodindo intimidades, sou arremessado ao quintal de uma casa feita de restos de madeira e papelão. Um homem mexe em um monte de entulhos. O que busca? Sabe que está sendo vigiado – não por mim, mas pela máquina que o reteve naquele instante? Atravesso as vias (não sei como nomear os espaços informes, talvez não sejam ruas, apenas passagens). Encontro um casal de pessoas muito brancas andando entre as vielas. Serão turistas? Participantes de uma organização internacional? Burgueses conferindo seus domínios? Dou um salto e logo estou em outra paisagem, casarões e ruas asfaltadas. Por um instante fico em dúvida se não estou confundindo e observando um mapa de São Paulo. Não: é a miséria globalizada. Aqui e lá herdeiros de violento processo colonizador (redundância, eu sei!). Tento seguir em linha reta e aterrisso em Piatra Neamt, cidade romena cercada por morros. Tomo um susto com a mulher de chapéu que surge em primeiro plano. Ao redor, prédios baixos e a luz de uma cidade litorânea que está deslocada do mar. De águas, apenas presença do rio Bistrita. E lá vai o pensamento tentando encontrar referências no já conhecido: parece Itanhaém? Mongaguá?  Meu coração não é maior que o mundo, como escreveu Drummond. Nele mal cabe a geografia dos meus arredores. 
Neste apartamento, em época de passos assustados com o exterior, me atento à paisagem sonora: o cão do andar acima arranha o chão. Alguém caminha no corredor, o salto ritmando com o sabiá-laranjeira ajeitado no muro. Há uma louvação pedindo a deus que também volte sua curiosidade para esse território. Uma criança ri. A lava-roupas dá vontade de cantar. Quando o silêncio é denso, os pingos dentro do filtro de barro conversam uma prosa arrastada com os ponteiros do relógio. O som de uma janela se abrindo com força: um homem no prédio vizinho coloca a cabeça para fora, respira fundo, percebe que eu o observo. Fazemos um sinal mútuo e mudo e seguimos cada qual na sua existência, independentes de observadores. Somos paisagens.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Notícias do Brasil

Um dias desses acordei com mensagens no WhatsApp de vários amigos que fiz em Manchester, no intercâmbio do UK. Pensei, nossa que estranho! Todo mundo resolveu me escrever de uma vez. Deve ter acontecido alguma coisa.

Falei primeiro com o meu amigo mais próximo, um mexicano bem figura (acho que ele merece um post exclusivo nesse blog) e perguntei se ele sabia o que tinha acontecido para todos falarem comigo de repente. A resposta foi: sim, nosso amigo de Bangladesh está tentando falar com você e ficou preocupado porque você não respondeu a mensagem dele ainda. Bem, ele me escreveu quando eu estava dormindo (temos 9h de diferença). Então ainda não entendi o motivo da urgência.

Em seguida, fui falar com esse amigo de Bangladesh e ele pediu para me ligar. No telefone, ele disse: Jacque, eu ouvi notícias sobre o Brasil, a pandemia de corona vírus está grave aí, a coisa está feia. Fiquei preocupado com você e quis saber como você está. FOFO! 

Bem queridos leitores, tem duas coisas que quero compartilhar com vocês sobre esse episódio:

1) Sim, a coisa está feia mesmo aqui no Brasil e o mundo inteiro já sabe. Mas, como você já deve ter uma overdose de notícias e comentários sobre isso, não quero te amolar com esse assunto.

2) O melhor do meu intercâmbio no UK foi o contato com pessoas do mundo inteiro! Ter a chance de experimentar a diversidade, diferentes culturas, modos de pensar, de comer, de vestir, de agir. Esse é, de longe, o aspecto mais enriqueceder para mim. Depois da inusitada, porém bem vinda ligação por conta das más notícias sobre o Brasil, decidimos organizar uma chamada em grupo para matar as saudades. Acredite você ou não, mas graças a quarenta, foi relativamente fácil juntar a galera. Oito pessoas, oito países: Paquistão, Brazil, Bangladesh, Egito, Jordânia, Iraque, México, Angola. Chamo isso de pequenas alegrias de quarentena. Como de costume, deixo aqui a foto que registrou esse momento especial.



domingo, 14 de junho de 2020



.



amanhecemos com
- na ponta da língua
como no papel -
um dia de cada vez
(amanhã, talvez)

menos notícias e café
no café
terminar a sessão de louça
ou ioga esboçadas
olhar generosamente como rito
o preparo de comida de verdade
(amanhã, talvez)

mas numa piscada mais longa
de sono horror ou preguiça
de repente
algo já não é colocado em seu lugar
e então mordemos
por dentro da boca
a pele já inchada de outras mordidas
e coçamos a ferida
quase cicatrizada
e açúcar depois dos dentes
a essa hora
já bem escovados
e as palavras que podiam
ter sido mais amargas
ou o contrário

e por pouco esquecemos
por segundos desistimos de interromper
os pequenos maus hábitos
e perdemos o entendimento
da sua proporção
confusos entre
o autocuidado
e a autopiedade
seriam pequenos afagos
no meio do caos
ou pequenos reflexos
de pulsão de morte
não identificados

meme em forma de yin-yang:
um pouco de droga
um pouco de salada









.



sexta-feira, 12 de junho de 2020

Barco

Uma pessoa me disse ''não se preocupe, o Brasil sempre foi um país à deriva, parece que afundamos, mas o barco não vira''.

Não vira? Não vira mais, você quer dizer, porque já virou.

É justo viver nesse desgaste? Sem saber qual o futuro e a mercê de absurdas guerras políticas internas?

A pessoa responde ''o Brasil sempre foi um projeto pessoal de quem está no poder, nunca pensaram na nação, apenas nos seus interesses''.

E até onde vamos nós, cidadãos? Qual é o limite de nossa resistência?

Que inveja tenho de países que ''apenas'' lidam com uma pandemia. Que inveja. Sem circo de horrores. Sem brigas internas. Apenas lidam com uma pandemia e resolvem os problemas.
Aqui o Brasil é o problema. Sem rumo, sem eira nem beira. Debaixo de um sol escaldante.
Seguimos. 


terça-feira, 9 de junho de 2020

O mar em mim

O mar é mistério, fascínio, beleza, medo, segredo. Inspira histórias, lendas, viagens, aventuras, paixões, despedidas, buscas, poemas, pinturas, músicas...

Seja pelo encanto e violência das ondas bailando e se quebrando nos rochedos, pelos seres ocultos em profundidades por nós jamais alcançadas, por nos afastar e aproximar de nossos irmãos extracontinentais. Seja por seus sons e suas cores... o azul esverdeado, o verde azulado, o branco das espumas, o prateado das sardinhas e o vermelho dos corais... 

Nascemos no mar, viajamos através dele, flutuamos, mergulhamos, observamos as marés, admiramos as vidas marinhas, nos inspiramos e nos afogamos... 

Sabe quando se é criança, e, nas férias, se passa o dia todo no mar, até os dedos se enrugarem e a pele arder? E a noite, já na cama, esperando o sono vir, fecha-se os olhos e é possível sentir o corpo balançando, no ritmo e leveza das ondas do mar? É disso que estou falando.
Uma lembrança doce, de água salgada e cheiro de mar. Já me esqueci quando foi a última vez que coloquei uma concha na orelha para ouvir o som do mar...

Ontem foi o dia mundial dos oceanos, um lembrete para nós contribuirmos com a preservação dos oceanos (e do planeta) através de nossas escolhas e atitudes, inspirados por nossas relações com o mar e suas simbologias.

Qual a sua relação com o mar?


Arte de Estela Miazzi @estelamiazzi

domingo, 7 de junho de 2020

¡Que no se te pierda el alma!



¡Que no se te pierda el alma!

   Un cazador africano y un cazador blanco, recién llegado al continente, emprenden una travesía a pie hasta el lugar en que se suponía encontrarían sus presas. El recorrido desde la aldea hasta la zona de caza podía llevar varias horas o días de caminata.

   El cazador extranjero, con hábitos y ritmos muy diferentes al de los nativos, comenzó entusiasmado a caminar… dos horas, tres horas, ¡ocho horas de caminata sin parar! Y todavía faltaba. Hasta que, en determinado momento, el cazador africano decide aprovechar la sombra de un árbol y se sientan a descansar.

   Sorprendido y con el sentido de urgencia a flor de piel, el cazador blanco se vuelve para preguntarle qué ocurría, siendo que, con un cuerpo fuerte y conocedor de la zona, no debería haber tenido ningún problema para continuar el viaje:

       -          ¿Por qué te detienes si aún falta largo trecho para llegar a destino?

   A lo que el cazador nativo, con tranquilidad por conocer sobre los ritmos de la naturaleza le responde:

       -          Llevamos varias horas caminando a buena velocidad y pronto llegaremos. Mi cuerpo no presenta dificultad alguna, pero al ir tan rápido, tenemos que esperar un tiempo para permitir a nuestras almas que nos alcancen. Si avanzamos muy de a prisa, ellas pueden alejarse demasiado, perderse y ya no encontrarnos más.


   Este cuento africano que había leído hace un tiempo, cada tanto vuelve a mi memoria. Ya que no son pocas las veces que, por estar enfocados en una meta, olvidamos que el proceso es parte del todo. Que al fin, la vida es un proceso continuo de evolución hacia el desarrollo de uno mismo; hacia la búsqueda de experiencias que nos permitan acercarnos a nuestra identidad, esa que está más allá de los nombres, de las profesiones, de la nación y de las circunstancias en que nos encontremos.

   Embebidos en el afán de alcanzar y acumular resultados, atropellamos todo tipo de ciclo y olvidamos las etapas de los procesos. Tal vez podamos aprender a organizar nuestras acciones de tal forma que encontremos el ritmo justo entre actividad y descanso para recordar que de vez en cuando, tenemos que frenar para permitir que el alma nos alcance nuevamente y apurados por llegar a destino, no perderla en el camino.

Franco P. Soffietti

sábado, 6 de junho de 2020

Acordares distantes


Quando o isolamento começou foi o incio da saudade, da coragem.
A gente escolheu seguir por casas diferentes, por dias distantes, por ligações de vídeo em meio ao barulho de silêncios.
E cada acordar se torna abraço do que somos juntos. 

      10h13

O amanhecer

veio no sussurro
das palavras.
Do bom dia
do café
prometido
adiado.
Um acordar de
gosto
compartilhado
nos desejos atos:
das grades tombadas,
da simplicidade
gingada
passeando
entre danças, transas.
Amanhecendo em
risada.




Fabrício Zava e Renata Cirilo Projeto #aoamor

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Não tem carneirinho certo


É dia 2 de junho, uma terça-feira. Apertei o adiar do despertador várias vezes. Era melhor ter colocado meio-dia em vez de fatiar o sono assim, de dez em dez minutos, desde as 9h30. O cuco insistente gritando na tela. Nem dorme nem sonha nem levanta. A gata veio, subiu na cama, lambeu meu braço, língua de amolador na minha pele-faca. Persianas, sol, sede. Levantei, fiz um café. Emendei assando peito de frango para o almoço. Demorei muito para dormir na noite anterior. Essas últimas noites têm sido de insônia. Saudades de mainha. Pensei que há tempos não nos encontramos. Pensei na sua idade avançada. Pensei na morte. E se não der tempo de nos despedirmos? Depois do almoço, comprei maçãs, peras, uvas e fui visitá-la. Já pode abraçar? Tirei a camisa, passei álcool pelo corpo todo – já que fui de Uber – e demos um abraço desajeitado. Os dois de máscaras. Mainha chorou. Passei meia hora com ela e voltei pra casa desejando que esse vírus desapareça.


quinta-feira, 4 de junho de 2020

Fui de Recruta a Pro no call of duty mobile.

Quando era criança me perguntava porque os adultos esqueceriam dos games. Um negócio que te aproxima dos amigos, gera assunto para a vida toda e ainda por cima desenvolve seus sentidos nunca poderia sair da minha rotina. Pois saiu. 

Agora beirando os trinta recuperei minha proximidade com o video game mas de outra forma. Já não é necessário mais ter um console, seja ele um Playstation, Xbox ou Pc se quiser jogar com os amigos espalhados mundo afora. Pelo próprio celular tenho gráficos satisfatórios e com o tempo pode se desenvolver uma boa jogabilidade. 

Recuperei o tesão justamente com os clássicos, Good of War, FIFA, GTA e Call of duty. O último nomeia esse texto pois é o que tenho no celular e consigo jogar sempre a ponto de subir ao nível PRO em um jogo multiplayer. 

Se eu ouvisse isso dois anos atrás me acharia até meio idiota "perdendo tempo com isso" mas tem ajudado bastante a aliviar essa quarentena. Além de evitar o contato físico que eu tinha nos esportes coletivos, ainda desenvolvo meu tempo de resposta às diversas situações, mantenho contato com as pessoas e o mais importante, me divirto. 

quarta-feira, 3 de junho de 2020

A velha e o botão


Era uma vez uma velha, que de velha ficou sozinha e de sozinha ficou louca. Ela morava numa casa que, certamente, fora parecida com uma num passado bem distante. Essa casa ficava perto de uma central de Call Center e ao lado de um conjunto residencial de prédios médios.

A velha não saia de casa já fazia muito tempo. Uma meia sobrinha visitava-a uma vez por semana para trazer suprimentos básicos e a visita não se estendia por mais de meia hora (deve ser coisa de meio parente com meia culpa). Nesses últimos tempos, a visita, que já era curta, passou a ser só mais um serviço de delivery e, para velha, era como se nada tivesse mudado.

Quem circulava por ali, moradores e trabalhadores, não viam a velha, mas a ouviam, fosse da calçada, durante os 15 minutos de pausa, fosse das sacadas, ao longo de mais um dia de trabalho remoto, fosse durante as rápidas idas ao mercado. Isso porque, a velha louca travava longos diálogos, em alto e bom som, com “quem” quer que fosse. Naquele dia de junho, seu “quem” era um botão.
- Quem te viu quem te vê hein, seu atrevido! Era todo prosa e agora tá aí, jogado no canto. Tá velho feito eu, hihihi.

- Te lembro naquele terno de linho branco! Ficava tão charmoso, tão elegante... Agora não te cabe mais, redondo desse jeito, como a calça vai entrar? Também, não pára de comer... Virou um come/ dorme.

- Que foi? Que tá me olhando com esse risinho sonso?

- Gorda, eu? Olha o respeito, seu velho bocudo! Pra seu governo eu ainda tô muito bonita, mesmo mais cheinha... eu já sou velha, né?! Que você queria, a Martha Rocha toda a vida?

- Eu era muito bonita, você lembra? Tinha aquele cabelo enrolado, cheio... Tava sempre arrumada...

- Que foi? Que tá com esse zoinho apertado? Tá triste? Fica triste não! A velha te cuida, viu? Você tá bonitão ainda, sempre foi, né? Quem resiste esse zoinho...

- Escuta! É o sinal! A molecada já vai voltar pra fábrica... Lembra da fábrica?

Era mesmo o sinal. Os atendentes precisavam voltar. Apagaram seus cigarros, engoliram seus cafés e entraram. Mas a velha continuava a falar, sem se importar com a audiência que, naquele instante, passava a ser menor. Ela não se dava conta da plateia porque era muito velha e de tão velha acabou louca e de tão louca acabou sozinha.

Ela não se dava conta da plateia porque já era muito sozinha e de tão sozinha envelheceu e de tão velha enlouqueceu.

Ela não se dava conta da plateia porque já era muito louca e de tão louca ficou só e por estar sozinha envelheceu, sem se dar conta. 


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segunda-feira, 1 de junho de 2020

Netflix and Chill



Netflix and Chill




Para aqueles que não estão acostumados com o termo, imagine que seja uma desculpa pras filhas e filhos usarem quando forem sair de casa e tiverem que dar explicações para seus pais:
- "ô maezinha, o Marquinhos me chamou pra ver Netflix"
- "Vai lá filha, mas não fica muito tempo assistindo TV que faz mal pros olhos"
- "Pode deixar mainha!, tchau!”  ( ͡° ͜ʖ ͡°) 
-“Essa menina... vive assistindo Netflix com o Marquinhos e tá sempre reclamando que ta atrasada com as séries. porque será né?”

Convite aceito, partiu #sentar no sofá.
Normalmente os Marquinhos que te chamam pra ver Netflix são mais práticos, te atendem na porta já segurando o controle remoto. Sem tempo a perder.
Conversa? Só quando a boca não estiver mais ocupada. Com pipoca claro. 
Beber algo? só quando já estivesse ofegante durante os intervalos. 

Uma coisa que não te disseram sobre os programas da Netflix, é que durante os episódios seu corpo também produz dopamina, uma substância que combate os hormônios do estresse, e endorfinas, ambos responsáveis pela sensação de felicidade, euforia e bem-estar, e depois de uma maratona inteira, você acaba jogado na cama ou no sofá sem fôlego, com o corpo em êxtase e achando tudo maravilhoso.

E o Marquinhos pode até não te deixar escolher a série, não fazer comentários durante os episódios,ou marcar no facebook o que estava vendo com você... nada disso, mas ainda assim você jura que foi a melhor série da sua vida, ou pelo menos uma série que vale a pena ver de novo, e então você começa automaticamente a pensar nas próximas séries que verão juntos.

Você se prepara pra ver os créditos subindo, e conversar mais sobre os episódios. Até tenta pegar o nome do diretor pra ver se tem outras séries parecidas para procurar no catálogo, mas de repente as luzes acendem, e a tela fecha. Com o controle na mão, Marquinhos começa a bocejar “Só tem uma temporada, né? que pena” dando sinais de que acabou e é melhor você ir para casa. E você vai, ainda cheio de esperanças de uma segunda temporada em breve.

Você passa a próxima semana inteira pesquisando sobre os atores, notícias, notas e críticas, esperando ansiosamente pelo anúncio de renovação. E apesar das críticas dizerem que “A série tinha inúmeros defeitos” você saia comentando que:
“Era uma série de nicho, eles não entenderam” e que “Não iriam terminar sem dar um final decente.”

Até que vem a notícia clara e conclusiva de que a série foi cancelada, e os atores já estão em outra. Ai, só te resta achar outras séries, e talvez passar por isso mais algumas vezes, porque inevitavelmente a Netflix vai te decepcionar e cancelar algumas séries.

E é por isso que algumas pessoas levam séries tão sério. Você não quer acompanhar toda uma história que vai acabar do nada. É sempre bom analisar bem antes, pra pelo menos termos garantias de que haverá uma próxima temporada.

Se bem que, nem isso é o bastante, pois sempre volta a nossa cabeça aquela série que tinha tudo pra ser épica, mas que no final estragaram com um roteiro ruim e decepcionante... 
(Game Of Thrones, estou falando de você)

Mas enfim, acho que 16 cm de texto está bom!
Bye