Não é possível sair deste ano isento de arranhões. Mergulhamos de cabeça no mundo online, há quem tenha feito jornais de gratidão e também quem tenha se esforçado para conseguir fazer todos os cursos ao alcance: em tempo “livre”, produtividade é lei. Trancados dentro de casa, o home office para alguns virou pesadelo, para outros foi a confirmação de que aquela reunião realmente poderia ser um e-mail.
E agora, com a vacina sendo distribuída enquanto a segunda onda e a segunda cepa vão atingindo mais países, nos encontramos no final do ano se perguntando se no final do arco-íris vai ter algum pote de ouro.
Vale a pena fazer planos?
Planos são para pessoas que têm perspectivas. E onde ficam estas esperanças, quando tudo ao lado desaba? Gostaria de dizer que vai ficar tudo bem, mas situações complexas não se acertam com respostas simples. Tem muito entulho dentro e fora da gente, pra deixar a casa toda em ordem, se é que um dia ela será ajeitada.
No meu caso, enquanto ainda estou a demolir meu sapário interno (e outras construções emocionais em situação de risco que já passaram da hora de saírem dali), no meio deste ano decidi ser mais gentil comigo. Ao alcance de minhas capacidades, foquei em cuidar do emocional - e isso não me impediu de dar apoio para as pessoas ao meu lado, carinho é sempre bem vindo. Enquanto eu, minha saúde mental priorizada e bem cuidada gera perspectivas. Com perspectivas consigo olhar pro amanhã e ainda ter uma pontinha de esperança de que as coisas irão melhorar.
Nessa, de coisas pra fazer no ano que vem, gostaria de passear e viajar mais, entretanto não acho que isso acontecerá tão cedo e nem tão barato. Logo, coloquei uma meta acessível (acho / espero / tenho fé) para cumprir no ano que vem: consumir mais arte.
Consumir mais arte não por desespero na pandemia, mas porque arte faz de mim alguém melhor. Até o começo do ano, estava cansada e desesperada demais para poder apreciar o tempo livre sem ser me julgando por não estar fazendo algo voltado para melhorar comercialmente enquanto pessoa. Nesses meses em isolamento tive o privilégio de poder me dedicar a outras coisas, e, principalmente, me dedicar em prazeres que não tinham nenhum retorno financeiro.
Se antes eu tinha consciência pesada por não estar me aperfeiçoando até nas horas de folga, hoje fico mais tranquila se percebo que passei o domingo lendo uma história boba com o celular no modo não perturbe. Porque consumir arte me faz ver o mundo com outros olhos, e conseguindo pegar visões e sentimentos que são alheios à minha realidade, acredito que eu possa ser alguém melhor. Melhor não porque vou ser valorizada no trabalho, mas melhor enquanto ser humano e, acima de tudo, melhor comigo também.
Espero que para o ano que vem você também encontre as coisas que te façam ter perspectivas.