quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Não é hora de otimismo

O ano de 2022 já começou frustrando expectativas dos mais otimistas; classe que ultimamente já deve estar acostumada às frustrações. O vírus da Covid-19 mostrou logo que não está para brincadeiras e não deixará os aglomerados sem máscara em paz tão cedo.

Absorvida a frustração logo nas duas primeiras semanas do ano, é hora de olhar para o futuro com mais cabeça e menos coração. A 9 meses da eleição, teremos pela frente uma gestação de risco, que exige cuidados e acompanhamento rigoroso.

Em condições normais o presidente não será reeleito. Porém, em condições normais ele não teria sido eleito. Em 2018, as ações de Sergio Moro foram fundamentais para uma democracia de fachada, assim como o apoio que o atual presidente recebeu de pessoas que fizeram vista grossa para as atitudes racistas, homofóbicas, machistas, além do apoio à tortura e à ditadura, entre tantos sinais gritantes da incapacidade do então candidato.

Neste ano Sergio Moro pretende concorrer à presidência como se não tivesse feito nada de errado e como se suas falcatruas não tivessem sido desmascaradas pela Vaza Jato. Muitos dos que apoiaram a eleição do presidente alegam terem se enganado e também pretendem concorrer à presidência.

Políticos que dizem ter acreditado no presidente ou agiram de má-fé, e por isso sequer deveriam estar na política, ou foram inocentes a ponto de acreditar em uma pessoa que afirma categoricamente ser favorável à tortura, e por isso sequer deveriam estar na política.

Para esta eleição o presidente não conta com estes preciosos apoios, não conta com o respaldo de um bom governo, não conta a suposta competência do “posto Ipiranga”, não conta nem com a exploração da facada de 2018. O camarão das férias de fim de ano deixou claro que insistir nas consequências da facada já não comove, além de mostrar que o presidente não sabe fazer certas coisas, como mastigar.

Fica cada vez mais claro que, perdido por perdido, o presidente seguirá os passos de Donald Trump, inflamando a militância mais radical, para investir no caos e tentar tirar algum proveito.

Em nosso favor, ao que tudo indica, teremos uma diferença expressiva de votos entre os candidatos. Trump obteve pouco menos da metade dos votos, o que indica que quase metade dos eleitores queriam sua reeleição. Aqui o apoio gira em torno dos 20%. É muito se pensarmos na qualidade do atual governo, mas pouco para indicar a vontade da maioria.

Por outro lado, o funcionamento das instituições será posto à prova. As mesmas instituições que fizeram vista grossa para todas as insanidades do presidente, quando ele ainda era uma piada de mau gosto.

A lição para este ano já foi dada pelo vírus da Covid-19 logo no início. Não podemos nos apegar ao otimismo e esquecer das medidas necessárias para combater um perigo traiçoeiro. Vale para o vírus. Vale para as eleições.

sábado, 15 de janeiro de 2022

Quando o governo leva a pandemia a sério

Pessoal, feliz 2022 para vocês!!!

Passamos o réveillon com aqui em Edinburgh mesmo com dois amigos brasileiros. Um deles mora aqui, o outro veio visitar e voltaria para o Brasil logo após o ano novo. Como procedimento padrão, seria necessário fazer o PCR alguns dias antes da viagem. Esse amigo tomou vários cuidados pré-viagem, evitou encontrar pessoas e aglomerar. 

O exame PCR estava agendado para 31/12/2021. Antes de ir coletar o PCR, ele fez um exame rápido (aqui chamado de lateral flow), que deu negativo. Então, ficamos tranquilos e fomos encontrar com ele para passar o réveillon juntos. 

Dois dias depois, o resultado do PCR chegou: positivo!!! O cara estava sem sintomas, o lateral flow deu negativo, mas o PCR deu positivo. Lucas e eu fomos imediatamente fazer um lateral flow também, que felizmente deu negativo. No dia seguinte, recebemos um e-mail do NHS (o SUS daqui) informando que nós éramos contatos próximos de alguém com COVID e por isso tínhamos a obrigação legal de nos isolarmos por 10 dias. O e-mail também dizia que se suspeitassem que estávamos desrespeitando o isolamento, a polícia poderia ser acionada! A gente também precisava fazer o exame PCR. Recebemos o kit de coleta na nossa casa e nós mesmos fizemos a coleta do SWAB nasal. Como estávamos em isolamento, não poderíamos entrar nos correios (aqui chamado de Royal Mail). Mas aqui é tão moderno que tem um lugar especial para depositar a correspondência (vejam foto). Então, eu fui até lá levar a nossa amostra biológica, que seria analisada pelo NHS. O resultado chegou por e-mail em dois dias e também foi negativo.



Outra coisa legal é que esse teste rápido - lateral flow - é distribuído gratuitamente. É possível retirá-los em alguma farmácia ou fazer um pedido pelo site do governo e daí entregam na sua casa. O lateral flow serve para pessoas sem sintomas que pretendem encontrar algum grupo de pessoas. Por exemplo, tive que ir para uma reunião presencial da universidade. Como eu estava sem sintomas, fiz o lateral flow, que deu negativo, então eu estava liberada para ir no encontro presencial. Se o lateral flow fosse positivo, eu obviamente não teria ido ao encontro. E, obviamente de novo, seu eu estivesse com sintomas também não teria ido ao encontro. Outro exemplo: o eletricista virá aqui em casa fazer uma vistoria. Como estaremos em casa quando ele vier, nós dois teremos fazer o lateral flow um dia antes da visita. Se o resultado der positivo, teremos que cancelar a visita.

Cada vez que fazemos um lateral flow, devemos cadastrar os resultados no site do governo. Não importa se o resultado foi negativo, positivo ou inconclusivo. Temos que reportar!

Ficaram impressionados? Eu também!!! Dá gosto morar num país que leva a pandemia a sério.

Até breve!
Jacque.


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quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Pântano

Conversando com uma pessoa de outro país, ela me disse ''que maravilhoso deve ser morar em um país tropical''.

Obrigada pela lembrança! Eu não estava atenta a esse detalhe, moro em um país tropical.
Na verdade me sinto morando um pântano, por mais assustador que possa parecer. 
Quando penso que conquistei algo ou as coisas melhoraram, afunda tudo.

Me dizem que a economia global é assim mesmo, gera essa insegurança, culpa da pandemia.
Mas eu nasci há décadas, não tinha nenhuma pandemia e ainda assim parecia um pântano.

Hoje me sinto ridícula. No ano novo respondi as mensagens das amigas dizendo que seria um bom ano, já estamos todas vacinadas, imunizadas, reforçadas e plenas. Eu falei ''gente, esse ano vai ser bom''. Agora sinto que menti. Como saber se o ano vai ser bom? Foi um comentário precipitado. 

Eu sei que faltam ainda onze meses, mas já bateu um desânimo, um desespero. 

Precisamos dessa vacina também, contra o desânimo, a frustração de ver como as coisas andam politicamente e economicamente neste país. 
É um desgaste viver assim, em um pântano. Em um país que deveria ser tropical, um paraíso na Terra, um santuário para a humanidade.

Amanhã vai ter sol, talvez isso me anime um pouco. Os dias têm sido cinzas e chuvosos, nada que anime uma alma cansada.
Sol, é isso que falta. Mas não é só isso que precisamos. 
Falta cor, alegria, paz. Falta vida. Falta justiça.
Mas ainda temos onze meses pela frente. 
Coragem. 
Seguimos.