sábado, 24 de outubro de 2020

Pulso (um texto sem fim)

Há algo que subsiste à vida e à morte. Algo que está além do que é ser humano e de tudo aquilo que se pode perceber com os sentidos. Um invisível que se embrenha entre os carros em alta velocidade que cortam as avenidas e que também atravessa as pessoas que caminham pelas calçadas. Há “um algo” que justifica a dor, o amor e permeia todos os pensamentos mesmo quando não é pensado. Que não tem som, cor ou cheiro, simplesmente está lá porque, por alguma razão desconhecida, deve estar, e mesmo que não se explique por nenhuma razão que somos capazes de acessar, simplesmente o é.

Algo que dá sabor ao vinho, melodia às músicas, poesia às palavras. Algo que é transcendente e não se materializa pelo trabalho, nem pela tecnologia e que por isso não está em nenhum lugar que se busque, e ao mesmo tempo está em todos os lugares. Mas não tem crença, nem prisão, chega mesmo a ultrapassar o entendimento da fé. Que tece laços e une pessoas, persiste, que sobrevive a tudo, até mesmo ao tempo, porque quanto tempo já se passou desde que “nos tornamos humanos”, transformando hábitos, valores, ordens e castas... quantas coisas passaram e quantas outras apareceram, mas esse algo persistiu, atravessou os séculos. Isso que digo, evoco e não entendo, está além da apreensão dos sentidos e dos significados e por isso não pode ser descrito nem neste e nem em qualquer outro texto, que de tão abstrato nos move e nos traz (inconscientemente?) o desejo de continuar a sentir todo esse inexplicável que é viver, ainda que em sua incompletude.


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