terça-feira, 25 de maio de 2021

Sobre "Um Bom Homem é Difícil de Encontrar"

Um Bom Homem é Difícil de Encontrar


Um livro de contos é feito de altos e baixos. Dificilmente, sua diversidade agradará a um(a) leitor(a) de modo homogêneo e constante ao longo das páginas. Eu queria comparar a uma montanha-russa, mas, jamais andei em uma (e, provavelmente, nunca o farei), isso não será possível. Talvez, dê pra dizer que um livro de contos seja como a vida cotidiana ao longo de uma semana, um ano ou mesmo de um dia. Com momentos bons, ruins, outros melhores e alguns, ainda, piores. 

Essa variação na duração de um ano, uma semana ou um dia, também toma forma na plasticidade temporal dos contos de um livro. A história, nos diz Paul Veyne, é lacunar: um século pode ser descrito em dez páginas e um ano, num livro inteiro. No caso de “um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias”, há o que se passa durante a subida de uma escada por quatro andares de um prédio! Um deles dura alguns meses e se expande até o além-mar (se pudermos mensurar o espaço subjetivamente, como Agostinho nos ensinou a medir o tempo). E ainda outros que se passam em uma cidade; entre duas cidades num único dia; no intervalo de alguns dias, enfim. O conto parece um cobertor curto, quando cobrimos a cabeça, descobrimos o pé e vice-versa. Assim, ele pode não nos oferece a profundidade da experiência artística que assombrava Adam Gordon; porém, nos leva a vários sobressaltos - algumas batem mais forte, outros passam batidos - em um único livro. Bom, não se pode ter tudo ao mesmo tempo, como o juiz, seu primeiro esposo, dizia a Mrs. McIntyre

Assim, ler um livro de contos não chega a ser uma grande aposta, como ler um romance sem muitas referências sobre ele, mas é uma sequência de pequenas apostas, como jogos de loteria semanais ao longo de um ano. Ainda que, ao contrário da loto, nos contos, eu diria, ganhamos mais do que perdemos ao final.  “Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias” não poderia fugir disso. Ao fim do livro, não diria que ganhei em todos os bilhetes que apostei, mas não tenho dúvidas, também, de que me dei bem na maior parte dos contos. 

O livro de O’connor começa muito bem, a meu ver; passa pelo conto, bem divertido, que se se desenrola nos poucos lances de escada; e fecha com chave de ouro, com um conto que nos remete a um figura que sempre tira as cidades pequenas do seu marasmo; figura característica das cidades grandes: o estrangeiro! Uma figura sempre liminar, nem lá, nem cá… mas na qual não se pode confiar plenamente. Mr. Guizac poderia muito bem ser um exemplo literário usado por Georg Simmel em sua reflexão sobre “O Estrangeiro”, por toda a incerteza que leva ao cotidiano da fazenda de Mrs. McIntyre. Mas, “O refugiado de Guerra” foi escrito algumas décadas depois do texto do sociólogo alemão. Ops… Mas, O’Connor era formada em Ciências Sociais, nos Estados Unidos, cuja sociologia foi fortemente inspirada em… Simmel! Será que não se deu o inverso? Talvez Mr. Guizac não ilustre, mas tenha sido inspirado em outro “estrangeiro”, o de Simmel. 



quinta-feira, 20 de maio de 2021

O feitiço do fundamentalismo


O bombom Feitiçaria, lançado pela Lacta no final de 2020, teve duração efêmera. Após o protesto de grupos religiosos viralizar, associando o produto ao satanismo e sugerindo um pacto da empresa com o demônio, a Lacta mudou o nome do bombom. Um pequeno passo para a indústria de chocolate, mas um grande salto para o fundamentalismo religioso.


As redes sociais aumentaram a pressão dos consumidores sobre as marcas. Nos últimos anos algumas campanhas de marketing foram reprovadas pelo público, que já não tolera o machismo das antigas propagandas de cerveja, ou o racismo velado de campanhas que exibem somente loiras de olhos claros em um país miscigenado.

Porém a indignação dos consumidores é seletiva. A própria Lacta saiu ilesa ao comprar cacau com origem em uma fazenda com trabalhadores em regime análogo ao da escravidão, na Bahia. Os fanáticos preferiram atacar o nome do inocente bombom.

Acreditar que o demônio vai entrar nos lares brasileiros por meio da embalagem de um chocolate barato é digno de esquete do Porta dos Fundos. Seria cômico, se não tivéssemos exemplos de onde o fundamentalismo religioso pode chegar, aos poucos, avançando através de detalhes.

Em Persépolis, nos quadrinhos ou na adaptação em filme, Marjane Satrapi conta através da própria história como foram as transformações no Irã, desde a década de 1970. Um país com problemas, como todos os outros, mas onde a população tinha liberdades individuais, de criticar o governo, de expor as próprias ideias, de escolher as próprias roupas, de escolher os próprios chocolates.

Não foi da noite para o dia que o Irã se tornou uma república islâmica, que obriga as mulheres a usarem véu, proíbe o consumo de álcool e impõe hábitos religiosos à população, independente das crenças individuais.

Os extremistas islâmicos ganharam espaço aos poucos, ao formarem alianças estratégicas com grupos políticos que souberam tirar vantagem das crises. Desprezados e ridicularizados, os extremistas nunca foram levados a sério, sempre pareceram uma onda passageira de insanidade, até se perpetuarem no poder.

No Irã o problema não é o islamismo e suas práticas. Cada um que adote para si as práticas que julgar adequadas. O problema é a imposição dessas práticas por meio de instituições do Estado.

Seguindo o mesmo raciocínio, as igrejas neopentecostais não são a origem do problema. Elas crescem e se fortalecem ocupando lacunas na sociedade. Em muitos locais são a única fonte de socialização, diversão, entretenimento e até mesmo educação da comunidade local. Os pastores, na ausência de psicólogos, dão atenção e conselhos àqueles que costumam enfrentar problemas da hora em que acordam até adormecer.

A autoridade desenvolvida por pastores despertou o interesse de políticos perspicazes, que enxergaram os benefícios de alianças capazes de garantir votos nas eleições do Estado laico, que se rende pouco a pouco às influências religiosas.

Há dois anos o instituto Datafolha apontou que o Brasil tinha 66 milhões de evangélicos, pouco mais de 30% da população, e o pesquisador José Eustáquio Alves aponta que em 2050 o segmento deve atingir mais da metade dos brasileiros.

Na política é impensável disputar um cargo majoritário sem atender à metade dos eleitores. Para as empresas, os consumidores ditam as regras do Mercado, entidade com status quase divino na sociedade. A junção é temerária.

O fundamentalismo religioso ganha terreno elegendo deputados, senadores e até prefeito. Já costura acordos para ganhar uma vaga no Supremo Tribunal Federal, através de um ministro ‘terrivelmente evangélico’ – o problema está no terrivelmente – e em relação ao consumo, parece não tolerar sequer um mísero chocolate com nome destoante da doutrina, que dirá questões mais divergentes e relevantes.



terça-feira, 18 de maio de 2021

1 ano no blog: é tempo de morangos

São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2021.

- 1 ano no blog: é tempo de morangos - Cristina Santos - post 13 - Blog das 30 pessoas - 

título: 1 ano no blog: é tempo de morangos

   Sim. Vou começar com uma frase clichê: "o tempo voa rápido". Não obstante, o tempo também pode voar devagar, já que ele, o tempo, é relativo. Como o nosso colega Albertinho explicou, há tempos.
   O tempo, na conjuntura atual têm nos atravessado de uma maneira ... atroz ... que está difícil nos mantermos minimamente equilibrados.
   Parafraseando o Fernando - o nosso outro coleguinha do rolê existencial - Escrever É Preciso.
   Será?
   Sei que preciso escrever, mas escrever é preciso?
   Acho que vai depender de quem escreve, não?
  Para finalizar, pois o tempo urge! Com a palavra, a nossa amiga Clarice: "Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim".


   Oiê! Espero que estejam bem 💜
   Caramba !!! 1 ano já !!! 💜 
   Mais uma vez, agradeço o convite feito pela Renata Cirilo, para fazer parte deste Blog tão especial 💜💛💚que há tempos, desde de 2009, compartilha os escritos de seus participantes. Obrigada !!! Adoro !!! 💖💖💖
   Até o próximo post.
   Beijos,
   Cristina Santos



domingo, 16 de maio de 2021

Pequenas mortes



trecho de livro de artista: tadeu renato

*

FÍGADO


Meu pai tem essa mania de andar pela casa rindo, deixando o chinelo no caminho e lembrando histórias que jura minha participação, mesmo eu dizendo que não sei quem são as pessoas que ele narra, muito menos os lugares. Ele ri, diz que eu não lembro porque bebi um pouco e estou falando feito um bobo. Ri das nossas rimas, temos o mesmo nome. Ele e essa mania de fingir que não sabe que está morto. Ou estou meio bêbado e inventado uma história em que ele é que não reconhece as pessoas, os fatos, os espaços?  Vamos tirar uma foto para mostrar aos meus irmãos que você ainda está faminto, querendo aquele churrasco que prometemos quando você melhorasse. Meu pai ri da mania que eu tinha de ficar abrindo e fechando a porta só para ouvir o canto enferrujado das dobradiças e depois ri dos próprios gemidos que seu fígado o fazia disparar de hora em hora, alarme dolente que não deixava a esposa descansar. Nunca entendi o humor do meu pai.

                                           *                                      

RIM

 

Essa casa não é minha, como não foram minhas mãos que plantaram essa goiaba (explodindo de madura) que agora aspiro tentando tornar real seu sabor que não posso mais provar. Essa cama não é a mesma que tive por anos: precisei trocar depois da operação. Não é meu esse fígado filtrando meu tempo e já não são minhas as pedras malcheirosas que foram britadas pelo rim. Da mesma forma não são meus  esses grampos que costuravam o novo órgão até que ele se acostumasse com seu novo espaço. Guardei essas presas e as pedras em vidros que antes continham as ervas para banho. Espiei por muito tempo essas réstias que meu corpo expeliu, busquei seus formatos, os granulados das pedras prestes à se dissolverem em pó, o aço inoxidável que fez ponto em minha pele e ainda brilhando. Feita de terra, cismo, sou terra de onde brotam minérios. Dar à luz a plantas também seria um desejo, se eu pudesse, assim meus vasos não teriam secado enquanto estive internada.

Ainda sou interna de um corpo cansado, mantido de pé por 720 comprimidos mensais e muita água. Alcalina, disse a médica. Enfatizou: ALCALINA. Nascemos alcalinos e, velhas, somos cada vez mais ácidas. Preciso ser criança outra vez? Preciso morrer para isso? Pequenas mortes são o suficiente? Preciso voltar à água.

É de ondas esse sono que não me pertence, é resultado da medicação, acordo e durmo com a mesma displicência, seja noite ou dia. Um sono de peixe que dorme sem parecer. Imagens que não reconheço, lembranças que não tenho. Não são meus esses sonhos. São do rim que me habita. Acordo com um convicto desejo de despejar minhas pedras e grampos cirúrgicos no vaso da orquídea que perde a força. Peço licença para que ela me ensine a me acostumar com a morte.

 *

COLUNA

 

Tem que disseram quinze dias, cata suas coisas e deixa o barraco. Antes eu voava por cima das vielas e depois dançava com a chama das velas que acendem sempre na esquina. Agora não consigo mais, que minha coluna dói, fica me obrigando a rastejar e não tem jeito que me faça levantar a cabeça. Fosse por mim, arrancava essa cobra das minhas costas e usava para laçar meu filho e não soltar. Ele vai entrar por aquela porta mais uma vez, como tem feito toda noite, vai dizer meu nome, sorrir sua molecagem e querer se apagar, mas minha serpente vai segurar ele aqui: sai mais não, menino, lá fora é perigoso.

Tem que nem é de muito o que preciso colocar em caixa, a maior parte ficou na enchente dos dias e o resto eu poderia contar por anos à fio, sem parar para deitar, sem parar nas contas das dores, sem dar tempo pros remédios. Falaria até acabar o ar e ainda teria o que dizer do que tenho comigo, mas não gosto disso, de ficar olhando dentro do poço sujo: se está lá embaixo, a gente só traz pra cima em casa de incêndio ou sede sem fim. Já me basta ouvir meu filho entrando em casa toda note, chamando mãe com aquele sorriso debochado e não querendo esperar uma janta. Engole algo, menino, eu engulo comprimidos enormes e você não consegue nem engolir esse sangue todo saindo pela boca?

Tem que gritar desse jeito de arrebentar a porta a pontapé? Tem que ser polícia atirando sem piscar, abrindo buraco em você e nos seus amigos? Não consigo mais voar, prefiro entrar nos buracos do seu peito e ficar lá, escondida três semanas até que me esqueçam, até que eu durma quentinha aqui, entre os bichos de pelúcia que é só o que a mão pode tocar dos meus guardados. E quando a pílula explode dentro do meu estômago é que você entra sonhando meu sonho e parece tão bem, tão meu, tão teimoso que me dá vontade de te juntar todo, só que você sempre se parte e vai. E é por isso que não sei mais como se dorme bem.

 

- "Pequenas mortes" é como algumas culturas ameríndias se referem ao sono/sonhos.

 Essas prosas (contos?) são parte de um projeto que venho desenvolvendo a partir da escuta e reelaboração poética de sonhos alheios. 

 

sábado, 15 de maio de 2021

Por que brasileiros traduzem "to apply" como "aplicar"?

Colegas leitores e leitoras,

Nos últimos dois posts, compartilhei com vocês a minha jornada até conseguir a vaga de doutorado + a bolsa de estudo na Universidade de Edimburgo. Eu ainda estou no Brasil, me preparando para viajar para a Escócia em Setembro. Prometo continuar contando tudo sobre essa jornada por aqui.

Hoje, gostaria de fazer uma provocação e convidá-los para refletir. 

Para quem ainda não sabe, as inscrições para a bolsa de estudo Chevening abrirão em 03  de agosto 2021. Se você for no site do Chevening buscar informações, você verá um link destacado em vermelho escrito Apply. O verbo to apply é comumente utilizado em inglês em situações nas quais se tem um processo seletivo (seja de estudos, trabalho, financiamento) e os potenciais candidatos devem se inscrever para então serem avaliados.

No dicionário Cambridge, o verbo to apply tem os seguintes significados:
  1. to officially ask for something (oficialmente solicitar alguma coisa); solicitar, candidatar-se; Exemplo: I have applied for a job (Eu me candidatei para o trabalho).
  2. to affect a particular person or situation (afetar alguma pessoa ou situação particular); aplicar-se, dizer respeito; Exemplo: This law only applies to married people (Essa lei se aplica para pessoas casadas).
  3. to spread something on a surface; aplicar; Exemplo: Apply the paint to a clean, dry surface (Aplicar a tinta numa superfície limpa e seca).
Repare que dentre os três significados do verbo to apply, o primeiro (to officially ask for something /oficialmente solicitar alguma coisa) se enquadra bem no contexto de se inscrever para oportunidades de estudo ou trabalho. Justamente esse primeiro significado não tem equivalência com o verbo em português aplicar, o qual possui outros significados. No dicionário Michaelis, vemos 13 significados diferentes para o verbo aplicar. 
  1. Pôr (uma coisa) sobre (outra); apor, justapor, sobrepor: O enfermeiro aplicou pomada sobre o inchaço.
  2. Pôr em prática (ideia, método, princípio etc.); empregar, usar: Afinal, quando vão aplicar essas novas leis? Aplicou seu talento à formação de novos atores.
  3. Tornar apropriado, oportuno; adaptar, adequar, apropriar: Aplicava o mesmo critério a casos diferentes.
  4. Infligir (multa, punição etc.); cominar, impor, prescrever: Os pais aplicaram o castigo que o filho merecia. Aplicou-lhe corretamente o cartão vermelho.
  5. Recorrer à força física (contra alguém ou algo); desferir, impingir, pespegar: Aplicou socos e pontapés a torto e a direito. Chamou o filho e aplicou-lhe uns bons cascudos.
  6. Sobrepor (algo) a título de adorno, enfeite, atavio; justapor, pôr, sobrepor: Aplicou pequenos retalhos coloridos à colcha.
  7. Entregar-se com vontade a (trabalho, estudo etc.); concentrar-se, dedicar-se, esmerar-se: Aplicar-me-ei, pois quero recuperar o tempo perdido.
  8. Injetar droga (alucinógeno, entorpecente etc.) em si mesmo, por via endovenosa: Aplicou-se uma dose letal de morfina.
  9. Atribuir alcunha ou apelido a (alguém); alcunhar, apelidar, cognominar: Gosta de aplicar apelidos vexatórios. Por preconceito, aplicavam-lhe apelidos cruéis na escola.
  10. Fazer investimento financeiro a fim de auferir rendimentos; empregar, investir: O rapaz aplicou todo o seu dinheiro para abrir uma empresa. O investidor aplicou seu capital em ações.
  11. Dar a, ingerir ou injetar (medicamento); administrar, ministrar: O médico aplicou soro na veia do paciente.
  12. Vir a propósito; ajustar-se, concernir, servir: Aplica-se, neste caso, o provérbio.
  13. Transportar (uma linha) a uma figura curvilínea ou poligonal, de modo que as suas extremidades estejam na circunferência ou perímetro da figura.
Repare também que nenhum desses 13 significados do verbo aplicar corresponde ao contexto de inscrever-se ou candidatar-se para uma vaga de estudos/trabalho. Bem, se você forçar muito a barra talvez o significado 7 (Entregar-se com vontade a (trabalho, estudo etc.)) se encaixe no contexto de quem está avidamente buscando por uma oportunidade de estudos no exterior.

Constantemente me pergunto: por que diabos os brasileiros traduzem o verbo to apply como aplicar quando estão se referindo à vagas de estudos/trabalho? Exemplos de tradução incorreta comumente usada pelos brasileiros: "Aplicar para a bolsa de estudos"; "Aplicar para a vaga"; "Aplicar para a bolsa Chevening"; "Aplicar para o visto". 

Até entendo que as palavras são parecidas na escrita, pois começam com ap. Também entendo que em algumas situações, o verbo to apply pode de fato ser traduzido como aplicar, como nos exemplos listados no dicionário de Cambridge (This law only applies to married people /Essa lei se aplica para pessoas casadas; Apply the paint to a clean, dry surface / Aplicar a tinta numa superfície limpa e seca). Entretanto, traduzir to apply como aplicar é definitivamente incorreto quando o contexto diz respeito a  pleitear uma oportunidade de estudos ou trabalho. 

Então, por que nós brasileiros com alto nível de escolaridade, com graduação, mestrado, doutorado e mentorando novos estudandes, continuamos traduzindo dessa forma? Adoraria ouvir a opinião dessa galera.


Até o próximo post.
Jacqueline.



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quarta-feira, 12 de maio de 2021

Silêncio

O que explica o comportamento do brasileiro?
Já escutei de tudo, desde aquelas teorias de que somos frutos de uma colonização infeliz, até uma confusa mistura de povos que deu certo.

Todos acreditam que existe algo de especial no brasileiro. Será a alegria? Será o amor pela música? Pelo carnaval? Talvez o cheiro do mar os mantém animados.

Durante um tempo também fui ingênua e iludida, pensava que os brasileiros eram diferentes do resto do mundo, animados, divertidos, otimistas.
Mas é como dizem por aí, quando quiser conhecer alguém, vá morar com ele.

Nos meus anos de Brasil, no tempo que venho morando neste país, aprendi uma coisa: nada é o que parece ser.
Eu nasci em São Paulo, deveria saber como as coisas funcionam, mas uns anos fora me deram a impressão de que o Brasil é um país diferente, cheio de esperança.

Não é.
A verdade sobre os brasileiros é algo que só as festas escondem: brasileiros são apáticos, arrastados e conformistas.

Quase quinhentas mil pessoas morreram de covid neste país. Quando morreu o ator Paulo Gustavo, eu pensei ''agora o país acorda'', agora se chegou ao limite, agora as pessoas vão entender o horror que estamos vivendo e vão reagir. Silêncio. Silêncio de sepulcro.

Não foi uma morte casual, foi uma morte política, que veio a coroar as quatrocentas mil mortes. O Brasil tem vacina há uns meses, nesta altura ninguém deveria estar morrendo.
Vemos incompetência, corrupção, desorganização, falta de ética e pior de tudo: a a vacina virou arma eleitoral, usada apenas para garantir os votos.

As pessoas me dizem ''você espera uma revolução? As pessoas não podem sair de casa para fazer protestos e estão morrendo de fome, o que você queria que elas fizessem?''.

Eu não sei, mas qualquer coisa seria melhor do que esse silêncio. Até porque não se escuta não nada, mas a roda continua girando, pessoas estão sem vacinas, famílias estão perdendo seus entes queridos.
Nada mudou.

E não se escuta nada além de silêncio.
Dizem que o silêncio é o aviso da tempestade. Não no Brasil. Aqui nunca chove, somos secos de reação.

Brasil é como o filho renegado, todos sabem que é seu filho, mas não assumem nem aceitam. Pessoas  falam ''ah, o Brasil....'', como se não morassem aqui!

Barulho no Brasil só quando tem carnaval. No resto do ano é o silêncio que impera, nem parece que nesta casa moram 200 milhões de pessoas.
O silêncio aqui vem matando a todos. A todos.

terça-feira, 4 de maio de 2021

Paz de coisa nenhuma

E depois da luta 
vem outra luta
 
Acordo na luta 
Durmo na luta 
Saio pra luta 
Entro na luta 
Vivo de luta 
Descanso na luta

Eu vendo a luta
Ao vivo luto
Só vence quem luta 
Só perde quem luta 
Só lute ou luto 
Ou luta, ou luta.