Aos oito anos comecei a fazer aulas de piano. Dona Maria Amélia era a minha professora. As aulas eram pela manhã na casa dela, na ladeira, em cima da loja de quinquilharias do marido libanês. Eu subia as escadas e lá estava ela, volumosa, ao lado do piano: não tinha sobrancelhas e no lugar fazia um traço vermelho com lápis, usava roupas floridas, se abanava com um leque. Eu me sentava tímida no banquinho do piano e então a aula começava: dó-ré-mi-fa-sol-la-si-la-sol-fa-mi-ré-dó. Depois do aquecimento, as valsinhas. Os olhos ficavam atentos tentando ler a partitura corretamente e as mãozinhas de dedos curtos tocavam desordenadamente. "Disciplina nos dedos", dizia. "Atenção ao ritmo! Toque mais uma vez! Mais uma vez! Mais uma vez! Mais uma vez! Outra vez!" Até que um relógio cuco anunciava o fim da aula: "lembre-se de estudar mais", ela advertia, "como você que tem piano em casa, não há desculpas para não estudar". E ela comentava para me provocar: "a próxima aluna, a coreaninha, não tem piano e estuda mesmo assim em casa; com fita crepe ela faz as teclas na mesa e treina o movimento dos dedos. Ela já toca maravilhosamente!". Na época, eu morava com a minha avó e ela tinha um piano. Mesmo tendo o instrumento e uma avó pianista, abandonei as aulas de piano com a Dona Maria Amélia. Faltava-me talento e, principalmente, disciplina. Nunca mais estudei música. Não consigo distinguir um dó de um ré. Nem mesmo as letras das canções eu consigo decorar. A única música que aprendi a tocar - muito mas muito mal - com a Dona Maria Amélia foi Pour Elise, do Beethoven. Essa é, segundo o Tom Zé, a música que mais identifica São Paulo porque toca no caminhão de gás em todo canto da cidade. Para mim, Pour Elise é o hino do meu fracasso musical.
Que belezura de texto... não sei se choro, não se rio, não sei se cantarolo a música do gás... simplesmente uma artista completa! Parabéns Luana V!
ResponderExcluirhttp://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/teatromunicipal/corpos_artisticos/index.php?p=1042
ResponderExcluirAh, que gracinha... a colega é uma grande musica! Graduada em letras e toca piano! Ah, o Pedro que não toca nada, só quer saber de beber...aiai
ResponderExcluirAh! A Dona Maria Amélia lembrou a minha professora de Literatura, ela também fazia sobrancelhas com lápis de olho e vestia roupas floridas.
ResponderExcluiréééééé o ultragaezzzzzzzzzz.
ResponderExcluirMinha tia também pintava a sobrancelha com um lápis.. eu sempre achei estranho
ResponderExcluirFiquei o dia todo esperando esse texto.... valeu muito a pena!
ResponderExcluirSim, a canção de são Paulo! Até me assustei quando descobri que se tratava de Beethoven. Mas, olha, realmente não consigo ouvir essa música sem pensar na Ultragaz.
ResponderExcluirPour Elise?
ResponderExcluirMuito triste ver que minha música virou a música do Ultragás...
ResponderExcluirA música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da poesia.
ResponderExcluirEu gastei aquela dinherama e vc só aprendeu uma música??????? Precisamos conversar mocinha!
ResponderExcluirBotei a música pra tocar aqui nessas caixinhas e quase deixei o leite derramar descendo as escadas correndo pra chamar o moço do gás!Que gozado!
ResponderExcluirDisparado, minha pior aluna! E com piano em casa!
ResponderExcluirDepois dela, me aposentei...
Musiquinha do gás? Rá, esse Beethoven é mesmo um deselegante.
ResponderExcluirOh, God!
ResponderExcluirÉ, menina, ao menos nisso há consenso entre nós!
ResponderExcluirKochałem swoją dziewczynę tekstu.
ResponderExcluirAfra S2
.vixiiii te humilhava no piano chupppaaa! brasileirinha!
ResponderExcluirÔxe! Do que você tá falando, menina?! Eu, hein! Gente louca...
ResponderExcluirBarrasileirros, parrem de faze isso com meu musica.
ResponderExcluirAs únicas notam que interessam são as de empenho. Aliás, esse processo do piano já passou pelo parecer da Contabilidade?
ResponderExcluirSem comentários, meus queridos. hahaha
ResponderExcluirCaracas...esse post ta bombando....é disso que eu to falando meus caros 29 blogueiros!
ResponderExcluirseu piano é a minha bola de vôlei.
ResponderExcluirVocê me lembrou eu mesmo. Bem, não tive aulas de piano quando criança, mas não consigo distinguir um dó de um ré e muito menos decorar uma canção simples e ainda erro o paranbéns quando canto sozinha.
ResponderExcluirO seu melhor post.