A menina lança essa junto ao abraço quente, suado, de quem se esgueirava descalça pelo quarteirão nem dez minutos antes. Um sorriso torpe em contra-plongée, o queixo apoiado no cinto da mãe e o coração batuqueando-lhe a cintura.
[corpo curvilíneo de gravidez recente, corpo carimbado da cesárea que hoje lhe afaga aos pés do lar, corpo amarelo, branco, corpo escuro - ei, bela mulata | ou | parece encardidinha | ou | tu não é negra-negra | ou | ... - corpo maculado, profanado, menstruado, abortado, feito para a estante, para o tanque, para amante, para samba-salto-dez e só, sem alargar opções que o bi-o-ló-gi-co não condiz, cê sabe, corpo de família, mas que não se ama, corpo antiestético, paradoxal, corpo esmorecido no tranco da condução diária, escorraçado no plural de tantos corpos, corpo coberto para não incitar, corpo invadido por não evadir, corpo que tão perscrutado torna-se coisa-outra que não corpo, coisa-amorfa.]
A mulher, ainda com mão na chave - que dependurada, balangava atada a um badulaque de nossasenhoraparecida - apertava o metal na palma encardida de rua, olhos atônitos, imagem tácita.
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