quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Livros lidos em 2021


1.       A senhora das velas (Walcyr Carrasco – Brasil)

2.       O feijão e o sonho (Orígines Lesssa – Brasil)

3.       O meu pé de laranja lima (3ª leitura) (José Mauro de Vasconcelos – Brasil)

4.       O caranguejo (Liniane Brum – Brasil)

5.       As louras da minha vida (Fernando Neves - Brasil)

6.       Se eu tivesse meu próprio dicionário (Ni Brisant – Brasil)

7.       Perdoa-me por me traíres (Nelson Rodrigues – Brasil)

8.       A serpente (Nelson Rodrigues – Brasil)

9.       Valsa nº 6 (Nelson Rodrigues – Brasil)

10.   Do amor e outros demônios (Gabriel García Marques – Colômbia)

11.   Ira: Xadrês, truco e outras guerras (José Roberto Torero – Brasil)

12.   Perifobia (2ª leitura) (Lilia Guerra – Brasil)

13.   O boxeador polaco (2ª leitura) (Eduardo Halfón – Guatemala)

14.   Pássaros na boca (2ª leitura) (Samanta Schweblin – Argentina)

15.   Cartas para a minha mãe (Teresa Cárdenas – Cuba)

16.   Doce inimiga minha (Marcela Serrano – Chile)

17.   Espaços Íntimos (Cristina Perí Rossi – Uruguai)

18.   Memória por correspondência (Emma Reyes – Colômbia)

19.   Mulheres de olhos grandes (Ángelles Mastretta – México)

20.   Desde os anos 2000: minha vida (Mauricio Salles Vasconcelos – Brasil)

21.   A vida secreta dos escritores (Guillaume Musso – França)

22.   Se Deus me chamar não vou (Mariana Salomão Carrara – Brasil)

23.   A vida pela frente (Romain Gary – França)

24.   Acre (Lucrecia Zappi – Brasil)

25.   Rua do Larguinho (Lilia Guerra – Brasil)

26.   A vida não é útil (Aínton Krenak – Brasil)

27.   Apresentação do rosto (Herberto Helder – Portugal)

28.   O pai da menina morta (2ª leitura) (Tiago Ferro – Brasil)

29.   E se eu fosse puta (Amara Moira – Brasil)

30.   Moloy (Samuel Beckett – Irlanda)

31.   Malone Morre (Samuel Beckett – Irlanda)

32.   O inominável (Samuel Beckett – Irlanda)

33.   O fogo e o relato (Giorgio Agamben - Itália)

34.   Copo Vazio (Natália Timerman – Brasil)

35.   Suíte Tóquio (Giovana Madalosso - Brasil)

36.   O quarto branco (Gabriela Aguerre - Brasil)

37.   O fim da história (Lydia Davis – EUA)

38.   Pequena coreografia do adeus (Aline Bei – Brasil)

39.   A pediatra (Andrea del Fuego – Brasil)

40.   Tudo pode ser roubado (Giovana Madalosso – Brasil)

41.   É sempre a hora da nossa morte amém (Mariana Salomão Carrara – Brasil)

42.   Três porcos (Marcelo Labes – Brasil)

43.   Agora aqui ninguém precisa de si (Arnaldo Antunes – Brasil)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O filho de Maria

O Natal de Maria sempre foi no dia 26 de dezembro. Lembra, quando criança, do pai consertando pisca-piscas encontrados em meio às toneladas de lixo que chegavam no aterro. “É coisa simples, uma gambiarra resolve.” E lá estavam as luzinhas coloridas alegrando o cômodo dividido por toda a família.

A ceia sempre foi recolhida, nunca escolhida. Ainda assim dava para considerar um banquete, comparada aos outros dias do ano. Em outros tempos chegou a ganhar um panetone da patroa. Não daqueles chiques, que ao cortar um pedaço o recheio escorre pela massa, mas procurando bem, o presente tinha até uvas-passas.

Neste ano o jeito foi recorrer à tradição familiar, que Maria passou para os filhos. Ela considerava uma questão de sorte. Teve ano que a sorte estava ao seu lado e encontrou, de uma vez, um frango assado inteiro. Parecia que ninguém havia tocado. Na mesma sacola estavam as sobras de um pudim de leite, bem ensacado para não vazar. Deu para dividir entre todos.

Ultimamente a sorte não costumava brilhar. A cada ano ficava mais difícil encontrar comida para montar a ceia e Maria ainda tinha que lidar com a rebeldia do filho, que considerava injustiça revirar o lixo para ter o que comer. Foi justamente ele que encontrou a árvore de natal que enfeitou a casa até o Dia de Reis.

Ao ver a pequena árvore ao lado de uma imagem do Papai Noel e a frase “seja rico ou seja pobre, o velhinho sempre vem”, enfeitada com notas musicais, o filho de Maria discordou. Nunca ganhou nada do que queira e ainda tinha que revirar o que era jogado fora.

Para ele, o amor, que tanta gente evoca nesta época do ano, não era notado nas expressões de raiva dos motoristas, nos carros que paravam no semáforo. Muito menos no rigor dos policiais, que atuavam para “manter a paz”. O filho de Maria tinha uma ideia muito distinta de amor e paz. Escolher entre fugir ou morrer não combinava com nada do que ele idealizava.

Na semana do Natal, Maria juntou as moedas de toda a família. Não abria mão de comprar pelo menos um refrigerante, já que só as embalagens de bebidas chegam ao aterro. Os protestos do filho foram contornados com rigor. Deveriam ficar para o dia seguinte, para que pelo menos um dia do ano a família passasse reunida para uma celebração.

Coube ao filho de Maria, quase como um castigo pelos protestos, repartir a comida e servir a bebida. Não foi fácil servir a todos. A vontade era de multiplicar as pequenas porções para que todos pudessem comer até se sentirem satisfeitos, transformar a água em uma bebida melhor que o refrigerante barato que encheu os copos. Ainda suspirou quando teve que chacoalhar a garrafa para que a última gota pingasse no último copo, ainda pela metade. Encontrou o olhar de Maria. “Não reclama, menino. Tanta gente que vai dormir com fome hoje.”

sábado, 18 de dezembro de 2021

peixe-lua

São Paulo, sábado, 18 de dezembro de 2021.

- peixe-lua - Cristina Santos - post 20 - Blog das 30 pessoas -


título: peixe-lua

A coruja que mora na minha cama, todas as noites faz a mesma pergunta:
- Sabia que existe um peixe-lua? E que ele não veio da Lua? 


Oiê, Pessoal!
Esse é o último post do ano, e é com micro conto inédito! Que 2022 traga para cada um de nós, o que o nosso coração, o que a nossa alma verdadeiramente precisa, para que seja possível continuarmos a caminhar.
Até o próximo post.
Beijos,
Cristina Santos 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Garoto de programa

Oi pessoal!

No último post, contei um pouco sobre a nossa primeira grande saga em Edinburgh: achar uma casa. A segunda grande saga seria encontrar um emprego para o Lucas. Com muita alegria, posso dizer que a segunda saga também foi muito bem sucedida e o Lucas já está trabalhando há duas semanas!!!

O caso dele foi bem atípico. Ele conseguiu um emprego menos de dois meses após a nossa chegada aqui. Um tempo recorde! A gente não chegou a usar nenhuma estratégia super refinada. Não deu tempo, não foi necessário buscar algum apoio mais específico, o que a gente considerava seriamente fazer, se fosse o caso.

Basicamente, definimos as palavras chaves que descreviam as vagas que interessavam. Nesse caso "full stack", "web developer", "entry-level". Buscávamos no Linkedin e também num site de busca chamado indeed. A gente lia bem a descrição da vaga para ver se de fato interessava. Em caso afirmativo, preparávamos a candidatura com o CV e carta de motivação.

Um ponto muito importante: foram muitas horas dedicadas para preparar um CV super legal, bonito, curto e informativo. Mais outras boas horas escrevendo a carta de motivação. Para cada um dos documentos, foi feito um modelo que era adaptado conforme necessidade para cada vaga. Nunca enviávamos o mesmo CV e motivation letter para vagas diferentes. SEMPRE fazíamos ajustes, ainda que pequenos.

O Lucas chegou a se inscrever em umas 10 vagas. Algumas nunca responderam, outras disseram não logo de cara. Uma empresa respondeu pedindo para que ele fizesse pequeno programa / site mostrando uma lista de eventos e a previsão de tempo no dia do evento. Ele se dedicou muito e fez um trabalho impecável, super legal. Não deu outra! Ele foi convidado para uma entrevista inicial, online, com os programadores da empresa. Depois, ele foi para outra entrevista, dessa vez presencial, com os sócios-diretores. 

Bem, nesse ponto o Lucas estava num grau de empolgação bem grande. Eu confesse que também fiquei empolgada, mas também com medo de não dar certo dessa vez e isso dar uma desanimada. Para a nossa surpresa, alegria, gratidão e alívio, o Lucas foi selecionado para a vaga!!! E já começaria a trabalhar em poucos dias. Nossa, fica até díficil descrever todas as emoções que sentimos em palavras.

Uma vez ouvi essa piada ruim: os caras que trabalham com programação são garotos de programa. Agora que o Lucas está trabalhando com programação aqui em Edinburgh, eu uso essa piada ruim e digo que ele é um garoto de programa na Escócia. Daí o título desse post =D

Hoje encerro desejando boas festas a todos. Que 2022 seja cheio de aventuras, alegrias, saúde e mais!

Abraços,
Jacque.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Registro Geral

 



O que me exalta nas fotografias é o roubo — aquele roubo abrupto, resguardador, defensivo — às forças expansivas do tempo. Na primeira, o olhar de quem teme o caráter inaugural de todas as coisas. Na primeira, eu nada sabia de ti. Será possível que a criança já tudo saiba?Você parando na estrada para que eu pudesse descer e vomitar o café da manhã. Eis a única lembrança que tenho de ti. Na segunda, a velhice prematura, o cansaço que só os jovens conseguem ter. Porque, pensando, eu era velho, velho, os meus anos acumulavam-se num tempo indeciso, e estavam cheios de coisas monstruosas. Na terceira.... na terceira sim eu sabia de ti, na terceira, sim, tu estavas. Era eu, mas também eras tu. Um certo olhar resignado. Os caminhos que trilhavam tua face, já insinuando-se na minha. Os cabelos que inexistiam em tua cabeça principiando a inexistir na minha. Na terceira, já era indisfarçável. Na primeira, um rosto plano, sem mácula, um olhar de quem parece querer fugir, de quem ainda está por se habituar, de quem não conhece todas as instalações, de quem ainda precisa da hospitalidade de anfitriões. Na segunda, pareço buscar por um inimigo, a guarda sempre levantada à espera de um combate. O mundo mal se apresentou e parece já ter se exaurido. Cansaço. Na segunda eu sinto cansaço. Cansaço e raiva. Tampouco havia tu na segunda. Apenas na terceira. No princípio, um ódio por cada sinal da passagem do tempo. A decrepitude é para os outros. Mas só na terceira tu estás. Só com os primeiros sinais de minha decrepitude é que tu apareces. E é na decrepitude que me aproximo de ti. Tu, a quem eu já conheci decrépito. Tu e tuas marcas difusas em minha vida. Tu que nunca quis, sempre temeu deixar qualquer vestígio em minha vida, nunca pôde ter controle sobre as marcas que deixaria na terceira, em cada poro de minha face. Em cada esgar, em cada sorriso. E justo na terceira, a primeira em que tu não podes alcançar, em que teu tempo já não intersecciona com o meu. As idades apoiam-se na sua própria memória. Teu nome não está em meu registro geral. Teu rosto sim. Na terceira, tu estás, com tuas marcas indeléveis, como a dar uma piscada cúmplice aos que ainda lembram de ti. O quanto de ti definiu o lugar que ocupo no mundo? O autobiógrafo é a vítima do seu crime.
 
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Nota: Os trechos em vermelho são extraídos de "Apresentação do rosto", de Herberto Helder, romance que motivou o presente texto.