quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Programa SP 2040

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Enquanto a prefeitura de Sampa divulga o planejamento para 2040, recheado de letrinhas e palavrinhas que muito me ilude, como:promoção do equilíbrio social, desenvolvimento urbano e sustentável, mobilidade e acessibilidade, melhoria ambiental e oportunidade de negócios. Além do principal, se não mais importante foco, na qualidade de vida dos moradores, com investimentos na Educação e Saúde Pública. Um verdadeiro conto da carochinha, queira Deus e a sorte do universo que eu esteja enganada. Enfim... Lembrei que eu estou: sem plano, sem meta e sem programa para daqui a cinco meses, dirá para 2040, ano que eu nem sei se estarei viva.

Lembrei também de um livro. Uma leitura de anos, do livro emprestado que não devolvi (também lembrei agora) cujo autor, enfatiza a importância do planejamento. Se não, a longo prazo, como nas empresas made in china, made in japão, made in usa, com planejamento para 20,30, 50 anos, pelo menos para uma semana,um mês, seis meses, um ano. Achei graça quando li. Porque sempre fiquei a mercê da sorte, circunstâncias e divino. Muito crente que a qualquer momento a lua se voltaria pro meu rabo, tendo em vista que o meu rabo não nasceu virado pra lua e menos ainda para o sol.

Até que resolvi me testar.
Decidi do nada estabelecer metas curtas e simbólicas, das quais, eram certeza o alcance. A princípio foi bom e acabei por aumentá-las pouco a pouco. Isto me deixou um pouco mais organizada, mas não o suficiente para planejamento a longo prazo. Foi um teste, a cobaia, eu mesma. E confesso, a ideia surgiu a partir da leitura do livro que não devolvi, do autor, idoso, rabudo, bilionário, pão duro, capitalista e empresário famoso.

Ao ler o programa de Sampa senti uma certa necessidade de organizar algumas coisas. Ou estabelecer metas a minha vida. A ser mais centrada no que faço; a ter menos atrasos, em tudo e pra tudo; a ter mais objetivos; a ter mais opções para driblar o tédio; a ter mais vontade de viver e por aí vai...Mas eu bem sei, que essa vontade de organização e planejamento a perder de vista, não funciona comigo.

Estabelecer metas a longo prazo significa ficar amarrada a obrigatoriedade de cumpri-lás. Além de perder a liberdade de mudanças. Ignorar o fato de que estou sujeita a metamorfoses constantes, sujeita a adaptações do tempo, a mudanças de metas e objetivos...Embora, tão teimosa, tenho que admitir, metade do que planejei quando tinha 20 anos ficou para trás.

Matei e ressucitei alguns sonhos, melhorei algumas coisas e não consegui transformar outras. A única certeza - a morte, mais dia menos dia ela virá, queira não queira ela virá, aceite e não aceite ela virá. E a única diferença entre eu e os abastados, cujo rabo nasceu virado para o sistema solar, é o enterro e os vermes, talvez um cemitério ou crematório chique, ou verme mais hábil para devorar a carcaça. No mais, nenhuma diferença, nem melhor e nem pior, iguais.

Portanto, sinto muito, não farei como a prefeitura de Sampa. Nada de programa, com planejamento a perder de vista. Já que corre o risco de ficar no papel ou perdido numa janela "killer" frustrada e amargurada, por não concluir o programa. Continuarei no curto prazo, sonhando sempre muito alto, sem perder de vista, o agora, o já, o instante, porque isto que é vida!
Então, para os próximos quatro dias segue meu programa:

- enfiar o pé na bunda de 2010 e correr para o abraço e encontro de 2011.
- sorrir muito e dar muita risada.
- brincar nas pedras, fazer tudo aquilo que fiz quando visitei a cidade em outubro e + um pouco, sambar na areia e ver o sol se perder no mar.
- abraçar meu amigos e fazer outros amigos.
- ficar extremamente bronzeada, com marca sensual de biquíni.
- voltar com a carinha que Deus deu pra cima, rindo, com sorriso largo...

Para receber bem o ano de 2011.

Feliz Ano Novo!

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Stop Motion - de quadro a quadro

É provável que você já tenha ouvido falar, e mais provável ainda que você já tenha visto alguma animação feita com a técnica chamada Stop Motion. Se você, como um espírito incansável de criança, viu “A Fuga das Galinhas” ou “Wallace e Gromit” ou ainda “O Estranho Mundo de Jack”, já está familiarizado com o assunto.

Stop Motion é uma técnica em que o animador trabalha fotografando objetos, fotograma por fotograma, quadro a quadro, e que, quando passados rapidamente, dão a ilusão de movimento.

Na verdade, essa técnica surgiu juntamente com o cinema e foi mais trabalhada quando começaram a surgir as primeiras animações - como é o caso do longa da Disney “Branca de Neve” (1937). Eu me lembro, quando pequenina, que no final da exibição filme + créditos da fita VHS, havia um making off da produção, da montagem quadro a quadro e da escolha da trilha sonora.

Pra matar a saudade, consegui encontrar esse making off no Youtube:

Bom, hoje, com os artifícios high tech que vemos por aí, as animações são digitalizadas, tudo bonitinho, tudo parecendo de verdade. Mas, sempre existem (e ainda bem que existem) os queridos e criativos inovadores. Tim Burton é um deles. Depois da produção do longa “O Estranho Mundo de Jack” (1993), ainda dirigiu “A Noiva Cadáver” (2005). Ambos com o uso de bonecos e cenários reais, quadro a quadro. Imaginem o trabalhão!

Na internet a fora também encontramos provas que o futuro do Stop Motion é brilhante e que não morrerá com o avanço da computação gráfica. A técnica é também utilizada para construção de videoclipes, curtas, propagandas e outros trabalhos audiovisuais que necessitem de impacto e um toque de magia na concretização.

Recentemente conheci um videoclipe que já vi, vi de novo, mais uma vez e viciei! Uma coisa linda. Um trabalho artístico e alto padrão e criatividade. O nome do músico é Oren Lavie, que também dirige o videoclipe. É um israelita que já foi diretor e roteirista e hoje decidiu (para nossa sorte!) compor e cantar. O artista já teve suas músicas carimbadas na trilha sonora do filme “As Crônicas de Nárnia”, mas ficou mais conhecido mesmo através desse clipe, lançado esse ano.

Abaixo:

Um amigo meu, sabendo dessa paixão por Stop Motion, me enviou via twitter (@SimiaoCastro) uma produção graciosa e super bem elaborada. Acredito que foram dias e dias de muito trabalho para concretização desse vídeo. É uma propaganda da marca de câmeras fotográficas Olympus. Para essa produção, foram tiradas 60.000 fotos, reveladas 9.600 e, para a organização em quadro a quadro, mais 1.800 fotografadas novamente. Um abuso da capacidade criadora! Haha

Mas é um vídeo encantador!

Abaixo temos mais três exemplos muito bem trabalhados. O primeiro é uma propaganda da Ebay, que imita o layout do site com folhas de papel desenhadas. O segundo é um projeto do Colégio de Arte e Design e Savannah, todo dirigido por japoneses, que utiliza como base a colagem de Post-It formando desenhos. Já o terceiro é um jogo humano de tétris muito muito inovador!rs


Bom, fico por aqui!

Espero que tenham gostado :)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ho ho ho!


Alguns riem ha ha ha, outros he he he. Vez por outra, rola um hi hi hi. Mas e o ho ho ho, pobrezinho? Só uma vez por ano.
Mas poderia ser pior, vai. Hu hu hu é sacanagem.

Wave of Mutilation

A postagem de hoje seria algo relacionado ao Natal, talvez colocasse um dos meus contos de natal sangrento ou sobrenatural. Mas apenas postarei uma homenagem ao cara que resolveu dois dias atrás tirar sua vida, se jogando do ultimo andar no centro da cidade. Passei talvez dois ou três minutos depois do ocorrido, onde as pessoas se aglomeravam nas sacadas e janelas e os transeuntes passavam tapando os olhos, ou riam do que acontecia.

Ouvi muita idiotice, vi como a vida alheia nada representa. Mas quem pode julgar aquele homem? Quem sabe as dores e angustias que o atormentavam? O salto de 40 metros ou mais, veio como um alívio, um analgésico eterno. Anos e anos de alegrias e tristezas, de amores e ódios, se esvaiam pelo concreto cinza da calçada.
Se ele quis assim, que bom que obteve sucesso.

Em sua homenagem deixo uma musica que aprecio, fala sobre suicidas japoneses.



Wave Of Mutilation - Pixies

Cease to resist, giving my goodbye
drive my car into the ocean
you'll think i'm dead, but i sail away
on a wave of mutilation
a wave
wave

i've kissed mermaids, rode the el nino
walked the sand with the crustaceans
could find my way to mariana
on a wave of mutilation,
wave of mutilation
wave of mutilation
wave

wave of mutilation
wave

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Amor Incondicional




Super me identifiquei com o cachorrinho. Porque as pessoas não podem nos amar como somos, sem sapatos? Só abanar o rabo quando o dono chega não deveria bastar?

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Reflexão sobre a Vida

Esses dias, eu resolvi fazer algo que vinha prometendo a mim há anos: li A Hora da Estrela. Durante toda a minha graduação – isso há muito tempo –, eu ouvia comentários sobre o jeito que a autora escrevia e também sobre como era bom esse livro. Na época, não fiquei interessado, mas prometi pra mim que um dia leria. E foi o que eu fiz semana passada.

Não sei como dizer, mas ler esse livro fez com que eu repensasse a vida e viajasse no tempo, lembrando da época da faculdade. Conheci tantas Macabéas na vida e nunca tinha me dado conta disso antes. Mas me lembrei bem de uma, um rosto que me marcou muito. Curioso, né? Justamente o rosto de uma garota sem rosto. Todo dia ao entrar na sala, eu via a garota sentada, esperando a aula começar. No rosto dela, nem ansiedade nem tédio – um rosto vazio, que não demonstrava nada. Do começo ao fim da aula, aquela mesma expressão, ou melhor, não-expressão. Todos tinham um grupo de colegas, todo mundo encontrava compatibilidade com outra pessoa. Menos ela. Sempre sozinha. Chegava antes de todos e ia embora por último, nunca ouvi a voz dela.

Até poderia descrever essa menina, mas não tem um porquê de fazer isso. Ela pode ser qualquer pessoa que passa por aí na rua, olhando pro nada, físico igual ao de todas as outras garotas que também não têm uma personalidade destacada. Assim como Macabéa, ela não fazia diferença pro mundo. Eu imaginava como era a relação dela com os pais – eles a amavam, lhe davam carinho? Imaginei o que fazia na sua casa – ouvia música, via filmes? Não, eu tinha certeza que não. A arte a sufocaria, ela talvez nem fosse inteligente para compreendê-la. Ela devia escrever poesia, uma letra torta e rimas pobres, devia escrever sobre como se sentia sozinha e como isso um dia mudaria.

Não pude deixar de pensar: será que mudou? Como disse, faz tempo que me graduei, desde então eu nunca mais a vi. Mas ela devia estar por aí, andando com a sua blusa rosa no braço, segurando os seus livros, olhando sempre sem levantar a cabeça. Aí, também tive que me perguntar: será que ter vivido fez diferença pra ela? E também me perguntei: será que fez diferença pra mim? Por que então eu me lembrei dessa garota? Eu até acharia que é porque foi dela que lembrei, mas acho que no fundo tem um motivo mais egoísta. Saber que ela era assim e que é assim até hoje provavelmente me afirma como alguém melhor do que ela – tive amigos, vivi bem, experimentei muitas coisas novas, amei alguém. Nunca fui a pessoa sem sal que ela foi nem deixei de me fazer notar. Hoje tô repensando a vida, buscando validade nas coisas que fiz – e tenho dó dela, que provavelmente nunca poderá repensar a vida que nunca teve.

(Vale esclarecer que, para esse texto, é preciso diferenciar autor do narrador. Tal como Machado de Assis ao compor Dom Casmurro - ele, autor; Bentinho, narrador -, o mesmo processo se aplica aqui)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Desconstruindo Papai Noel

"- Fredinho, você gosta do papai noel?"
"- Aquele velhinho que fica lá no shopping?"
"- É, ele mesmo!"
"- Não! Ele fede, eca..."
"- Ãh, e você, Bia? Gosta do papai noel?"
"- Não!!! Eu tenho medo dele!"
"- Er... Kati?"
"- Ahhh, não gosto muito não, tia... Uma vez eu puxei a barba dele e vi que era de mentira. Ele ficou brabo e me deu um beliscão!"
"- Poutz! E você, Paulinho? Também não gosta do papai noel?"
"- Eu? Eu adoooro o papai noel!"
"- Ufa, enfim uma criança normal..."
"- Ele me deixou ver o seu saco!"
"- O saco de presentes?"
"- Não! O que fica escondidinho e..."
"- Pshhhhhhhhhhh!"

E enquanto nos preocupamos em encher as nossas mesas com fartura e presentear os nossos entes queridos, certamente muita gente não vai poder sonhar com uma noite de brilhos e de sonhos... Feliz Natal para quem acredita.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Viajar é viver e vice versa

Acho que algo que temos em comum nesse coletivo é a paixão por viajar - pelos mais diversos motivos. Então, neste tempo de parar, pensar, reprogramar e renovar (de preferência viajando), resolvi divagar sobre o tema.

Já faz quase 1 ano da minha ultima viagem e me sinto um morto vivo. O que me mantém é a esperança de sair de SP o mais rápido possível, assim que tiver uma chance.

Alguém me disse que viajar não é quando você passa por um lugar, mas quando o lugar passa por você, de uma maneira quase espiritual.

Conheço um lugar assim, um lugar que habita meus sonhos, um lugar que me chama sempre.
Para mim, esse lugar é especial por que ajudou a construir a pessoa que sou hoje, com os contrastes que me apresentou quando comecei a comparar e a entender o que significa qualidade de vida, quebrou minha mente em milhões de pequenos estilhaços e me fez compreender que a realidade é completamente relativa.

Tão relativa que eu me conduzi a uma reeducação de valores. Aqui na Vila Olímpia, na rua, passam milhares de pessoas diariamente. Alguns caminhando na hora do almoço, outros engarrafados no trânsito da noite. A linha de raciocínio que move as pessoas por aqui é o que elas acreditam ser “vencer na vida” Estudaram muito, se sacrificam no trânsito para chegar ao escritório e para voltar para casa, se submetem às humilhações impostas pelos patrões, calculam formas de vender, comprar, produzir, seduzir, arrumar soluções e desculpas, lucrar sempre.

Em tempo – enquanto escrevo este texto, uma menina do atendimento, vermelha, veio à minha mesa perguntar sobre um job que deveria ficar pronto hoje, mas não está. Ela saiu daqui desolada imaginando a reação do cliente. Irônico não? Sempre há alguém mais poderoso querendo foder a vida de alguém.

Pobre de nós, pessoas evoluídas em meio ao progresso. Fico imaginando um amigo meu que mora no interior. Nesta hora ele já deve ter fechado seu pequeno comércio, cuidado da horta e recolhido alguns legumes e temperos para o jantar.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Não venham

Sou nascida e criada em Salvador e é com muita dor no coração que venho dizer a qualquer pessoa que deseja conhecer a cidade de todos os santos, encantos e axé: não venha.

Sem querer parecer pedante, nós temos potencial para ser uma das cidades mais bonitas do Brasil (do Rio de Janeiro ninguém ganha, hehehe). Além das belezas naturais (50km de praia), temos construções e bagagem história magníficas (fomos a cidade mais importante do país por 300 anos) e uma cultura particular e deliciosa. O que não temos? Todo o resto.

Quem vier a Salvador hoje não vai se deparar com um lindo mar azul, cultura verdejante e calorosas boas vindas. Vai dar de cara com uma cidade que, literalmente, fede, tem alta densidade de lixo no chão, sistema de transporte público caótico, violência crescente e trata o turista de maneira agressiva e predatória (é mais fácil ganhar na megasena do que ir a um ponto turístico e não ser incomodado por pelo menos uma criatura vestida de baiana, um falso guia e um pivete).

Por essas e outras, recomendo a todos que desejam vir a Salvador nessas férias que guardem seu sonho numa caixinha e esperem. Prometo dar notícias quando as coisas melhorarem. Até lá, dêem preferência a cidades que tenham prefeito, onde não seja normal e cotidiano as pessoas urinarem na rua, onde existam lixeiras públicas e coleta de lixo regular, onde os engarrafamentos não sejam tão intensos e a população saiba tratar o turista de maneira cordial e respeitosa. Por enquanto, não venham.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Sua culpa Cabral

Você que prefere o Q.I em detrimento do que tem mais condições
Você que xinga o jornal num dia pra guardar de bolso o troco errado noutro
Você que crucifica o todo pra apontar o erro de um, um só
Você que aceita todas as tribos, desde que seja longe da tua casa
Você que admira a cultura alheia ignorando a nossa
Você que santifica nossa cultura desprezando todo o resto
Você que quer nordestino afogado e Maluf outra vez
Responde, que culpa tem Cabral?

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

De repente é dezembro



De repente a Simone urra nas rádios, de repente meu pai surge vestido de Papai Noel, de repente minha cunhada aparece com um panetone. Olho no meu celular e me espanto que de repente tem um 12 depois da data, me apavoro com as pessoas dizendo “fica pro ano que vem” sem ironias, de repente a cidade se enche de luzinhas. De repente eu voltei de uma viagem longa e o ano tá acabando, que brincadeira de mau gosto é essa, e meu preparo psicológico de ver tudo se arrastar para enfim terminar? De repente conto uma história dos tempos da faculdade e reparo, em choque, que não aconteceu há dois anos, mas há seis. De repente entendi mais do que nunca Quintana, de repente eu tenho 25 anos, de repente é aniversário do Gil, de repente minha amiga de infância vai ter filho. De repente, tempo, senti que você está de sacanagem comigo, antes você passava mais suave, camarada. Para de correr assim, me dá tempo pra pensar.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Heineken, TIM e 8.

Lá pelas tantas, depois de dezenas de Heineken a conversa enveredou o óbvio: O SQL Server pode ser tão parrudo que o DB2, basta sabê-lo configurar.
 
O grupo de moças que trabalhavam na IBM tentavam dizer que não, eu também não acredito nisso, mas não podia deixar de ser polêmico. Olhei para o lado e depois para o outro e lancei: "Meninas tenho que ir embora, o meu prazo de validade venceu, contudo gostaria de conversar sobre o Lotus e Outlook numa outra hora, bem você me poderiam dar o número de telefone de você." Pior, funcionou.
 
Como já dizia Nash, foco é tudo. Em tempos da minha sempre crise financeira, a escolha no outro final de semana, foi pela operadora. Claro que tinha que tinha que ser TIM, eu sempre vivo sem grana. Sim, maldita portabilidade, o começo pelo 8 foi a regra inicial de filtro. A sorte é que você é fiel e o seu 8 não foi portado.
 
Próximo dia 8 nos casaremos e mesmo assim prefiro o SQL Server. 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Prezada Manguaça

Venho por meio desta informar que você já não é bem quista na minha vida.

Tive uma epifania forçada após meu último fiasco e entendi que já perdeu a graça as patetices que você me leva a fazer. Tampouco há charme em não lembrar, nem vagamente, o que fiz embreagada. Muito embora você renda os assuntos mais divertidos tratados em depoimentos jamais aceitos pelo orkut, já não compensa mais para mim passar o domingo inteiro me contorcendo de ressaca em troca deles. Não quero mais remoer atitudes impensadas e ter que aguentar o olhar de reprovação ou as risadinhas marotas de gente que pensa que a existência delas é menos ridícula que a minha.

Demorou, mas eu estou começando a pegar a ideia de que as pessoas são chatas,  a música vai sempre me desagradar e as festas não são mais para mim.  E eu me anestesiar até a morte não modificará nenhum dos fatos. Por isso farei igual ao Charlie Harper: vou parar com o álcool. Daqui para frente, só cerveja e vinho.

Não confunda este desabafo com ingratidão. Não te quero mal, só acho que precisamos seguir nossos caminhos: você, corrompendo novas almas e eu, conseguindo fazer o quatro com as pernas. Obrigada pela companhia que me fez até hoje e espero que você não se importe de eu mencionar futuramente alguns de nossos homéricos momentos para provar para os meus netos (ou companheiros de asilo) o quanto tive uma juventude radical.


Att.;
Camila Rufine

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Passio

Te pedi teu amor
Você me deu aspirina
Te pedi um beijo
Você me deu sal de frutas
Procurei teu olhar
Encontrei um colírio
Achei que era delírio meu

A tua hipocondria
Não é hipocrisia
Acho até que você me ama
Dividimos a cama
E a quarentena
Isso não é coisa pequena

Mas tanto cuidado
Tanto temor
Você se protegia tanto
Que acabou me afastando

Eu tentei te dizer
Que deixar de doer
Não é o mesmo que ter prazer
Você não quis me ouvir

Agora eu deixo doer
Não quero analgésico
Nem anestesia
Quero sentir meu coração em pedaços
Sem ponte de safena
Sem curativo
Deixa eu sentir pena de mim
Que às vezes doer não dói tanto assim

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sobre deuses e monstros

Tem jeito? A gente manda nesse coração cachorro? A gente quer é se ferrar fazendo tudo errado. Tudo que não deve. E sabendo que a gente vai se ferrar depois (por que sei). O caminho melhor é aquele outro. Mas essa pá de cal fica na mão. A gente tem que velar o corpo do amor, entregar o cadáver a Deus, enterrar bem fundo, fazer missa de sétimo dia, chorar até esquecer. Mas lá vai a gente: psicografia, mensagem pro além, chico-xavear o amor defunto, evocá-lo, zumbizar pela cidade. Tem jeito? O cérebro devorado no final. E esse nó no peito. Quem entende? Por que a vida não pode ser simples assim, como era, antes de tudo desbaratar certezas?

sábado, 11 de dezembro de 2010

Olha o meu tamanho!

Quando a minha irmã mais nova nasceu, eu, então com 3 anos e meio, entrava debaixo da blusa da minha mãe, e dizia que queria voltar pra barriga. Um tempo depois, fui até uma loja de roupas de criança no dia do meu aniversário de 6 anos, e comprei uma blusa exatamente tamanho 6 anos, que ficou enorme, praticamente um vestido (o pessoal aqui em casa nunca foi dos maiores). Mais tarde, quando eu tinha meus 13, 14 anos, queria parecer ter mais - as minhas amigas já eram mulheres feitas com esta idade, e iam a todas as festinhas nos finais de semana, enquanto eu, menina, ficava em casa esperando meus 18. Mas o tempo passa rápido. E a gente não sabe de nada mesmo. Hoje, com quase 30, adoro meus quase 30, como sei que vou adorar os 30 ano que vem. Não queria que eles fossem 35, nem 40, nem 18 ou 25. Adoro quem eu sou e tudo o que vivi nestes quase 30, e também tudo que ainda vou viver nos outros tantos que me esperam.



Daniel, ontem mesmo


Daniel, orgulhoso dos seus 3 anos: "olha o meu tamanho!"

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Emprestando da amiga

Ando evitando me desentender com o mundo e por isso meu texto nesse mês é na verdade um poema escrito pela Ana Guadalupe, que eu conheci recentemente e recomendo pra todo mundo. Prometo que em janeiro faço uma retrospectiva (estou selecionando fotos, mas tenho milhares) e um texto que obviamente não será tão bom quanto o que segue:

calor no inverno

até calafrios de febre
podem substituir ventiladores
quando faz calor em pleno inverno
e alguém esquece de puxar os fios
do frio

a cidade e todos que conhecemos
não andam se entendendo
nós, ao contrário da cidade,
quase sempre lavamos sozinhos
e com capricho
os cabelos

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Conversa ( Carol Campregher)


As pessoas coversavam, uma diz, conta e outra participa. Na hora, a resposta sem espera, instântanea.
Magicamente simples. Já quando não podem se ver, tudo muda. Quando escrito, bilhetes ou cartas, tem a espera, a elaboração, o cuidado. Uma carta sem espaço para resposta, uma carta longa, caprichada.

Há algum tempo eu lia um livro e pronto. Podia conversar com outra pessoa que leu o mesmo, mas no geral, a leitura
era alguma coisa sua com você mesmo. Não gostou, achou erros de português, achou ótimo, mudou sua vida? Ficava só pra você. Mandar uma carta para a editora ou o escritor? Complicado, incerto e distante.
Já revistas e gibis abrem um cantinho para o leitor, um cantinho para as erratas, ficando um pouco mais interativo, você se sente interferindo um pouquinho.

Então começaram os blogs, você lê, e discute, comentam, participa. E os vlogs, blogs de ideias cantadas, com cara, com voz, ainda com espaço para interfir, elogiar, concordar e chingar . Temos também as respostas em vídeo, em outros vlogs, chats ao vivo, com imagem e som, dito e respondido na hora. Por consequencia menos cartas, blogs menos escritos, mais visuais, com poucos ou quase nenhum comentário, quando não são proíbidos.
Existiria algo mais moderno, mais interativo? Qual será o próximo passo? Enfim, como vamos conversar?



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sr.F e a Solidão

Sr. F e a Solidão

(ao som de Solidão - Alceu Valença ou She's a mystery to me - Roy Orbison

Misteriosa garota
A solidão é fera a solidão devora
É amiga das horas, prima irmã do tempo...
Solidão
(alceu valença)


Sr. F está em uma festa, uma confraternização com seus colegas – a maioria gente do trabalho, a maioria Sr. F conhece apenas de vista. Seu melhor amigo ali é uma garrafa de whisky e este não o impede de adormecer num canto que parece ser o mais opaco do lugar.
Uma música gira na cabeça de Sr.F, tem uma rouca voz, gaita e violão, mas as palavras ele não consegue discernir. Eis que com as pálpebras lentamente abrindo Sr.F vê, no meio da multidão uma mulher toda de branco se aproximando. Anda mas parece flutuar longos cabelos negros, aspecto jovial, a pueril feição de quem tem algo importante a dizer.
Misteriosa garota ( assim Sr.F a chama) - Posso me sentar ?
Sr.F – mas claro, sinta-se a vontade.
Permita que eu lhe peça um drink?
M.G – Muito obrigada mas vou recusar. (olha para o lado e torna o olhar para F)
Você não percebeu, mas eu estava aqui o tempo todo e na verdade já
brindamos bastante esta noite. Nós e sua estimável garrafa de whisky.
Sr.F – Perdoa-me senhorita, mas por mais aturdido que eu pudesse estar, me lembraria
de tal presença
M.G – Você se engana. A maioria das pessoas, inclusive não quer me ver, procuram as
mais diversas formas de me, ou de se enganar para que isto não aconteça.
Sr.F – E o que a torna tão indesejável ?
M.G – O vazio, a sensação de não saber para onde ir, se fica, se corre, se fica, se vai...
Talvez, eu seja má....
Sr.F – E o que te tornas má ? O que faz as pessoas pensarem assim de ti?
M.G Sou amiga do tempo, colega do desespero, irmã do pesadelo e amante da
loucura. As pessoas querem distância de mim.
Sr.F - Vieste aqui para me buscar ?
É isso?
M.G - (gargalha estridentemente – Sr.F. olha para os lados como se envergonhado com
o fato, mas as pessoas não alteram o que estão fazendo. O que é motivo de
estranhamento para Sr.F. )
- Por que todos pensam assim? Não, não sou quem estas pensando.
Não venho te buscar, mas te acompanhar.
Sr.F – Isto muito me tranqüiliza mas ainda me assustas.
M.G – Pois não se assustes, não percebestes mas estou mais ao seu lado do que
qualquer outra pessoa que tu conheças.
Sr.F – Me confunde, o que significas ? Porque estas aqui?
M.G – (coloca lentamente a mão sobre a mão de F.) Você me enxergar é reconhecer. Tu
sabes lidar comigo, por isso estou aqui. Outras pessoas costumam me abominar,
fingem que não me vêem, não percebem que podem conviver comigo.
Sr.F – És...
M.G – Não! (grita, interrompendo bruscamente a F.) Não digas meu nome, senão me sentirei obrigada a partir.
Sr.F – Se és quem penso, eu não deveria estar só com minha garrafa de whisky ?
M.G – Como pode fazer tal observação ? Estou aqui ao seu lado e existem dezenas de
pessoas ao redor.
Sr.F – E não te notam.
M.G – Correto.
Não precisas estar sozinho para que eu apareça. Pode sentir minha presença, ou
me ver até mesmo em um estádio de futebol lotado.
Sr.F – E o quanto ruim pra mim é sua presença ?
M.G – Se te incomodo, já digo que é ruim.
Mas tu és quem tem de saber o seu limite do suportável.
Se já me reconheces, tem um problema a menos, aliás, não diria que sou um
problema, as vezes sou solução,
Às vezes começo, às vezes fim...
Não se desesperes se não tens ninguém a quem recorrer,
Sempre terás a mim.
Eu, fera, de braços abertos,
Fiel companheira,
Use-me como quiseres,
Minha ausência dá alivio,
A minha presença perturba o coração,
Sou eu,
A sólidão...
Sai de cena a misteriosa garota, Sr.F se retira do local e vai para casa.
Nunca mais tornou a vê-la.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Depois de estourar tempo regulamentar

Moro em Poços de Caldas e trabalho em São Joao da Boa Vista. Vou e volto todo dia. Quarenta minutos de carro. Perto, né? Eu gastava mais tempo quando morava em São Bernardo e trabalhava na Paulista. Não quis me mudar e assumir o peso de aluguel e gastos com casa (prefiro gastar meu dinheiro com coisas supérfluas), e muito menos quis morar em republica, não a essa altura do campeonato. Digo que já esgotei minha cota de repúblicas, pois convenhamos, é uma merda.

A maioria acha uma loucura viajar todo dia, mas eu gosto da ideia de voltar pra minha cidade, pra minha casa, pra minha cama e, principalmente, dormir de edredon. Gente, dormir descoberto não é vida, ok? E não, em São João não seria possível, lá é um calor dos infernos. Saio de casa de blusa de frio e chego lá implorando por uma havaiana.

Acho curioso que duas cidades tão perto sejam tão distintas. Além do clima, o comercio é totalmente diferente, com umas lojas caríssimas, o que me leva a crer que lá as pessoas tem mais dinheiro. Lá falam “acha?” o tempo todo, uma interjeição que não entendo muito bem e quase todo mundo tem o sobrenome Vasconcellos.

Os São Joanenses se orgulham muito do seu crepúsculo. Dizem que é o mais bonito do país. Fico pensando: onde se julga isso? Existe o comitê nacional do crepúsculo? CNC? De qualquer forma não posso contestar. Cinco horas da tarde eu já estou no ônibus de volta. E falam assim mesmo, crepúsculo. Antes da trilogia dos vampirinhos. Eu prefiro entardecer. Ou pôr-do-sol. Bem mais bonito.

Outra curiosidade é a luminosidade da cidade. A segunda cidade mais luminosa do brasil. A culpa é da topografia, dizem. E parece que isso não é uma coisa boa não. Falam em até alto índice de suicídio. Parece que o cérebro não reage bem a toda essa luz. Acho que os neurônios fritam, sei lá.

Dai já não sei se fui sugestionada, mas agora começo a achar a cidade clara demais mesmo. E é uma luz que cansa. Muitos já me indicaram usar óculos escuros na rua. Nem trabalho tanto assim, mas chego totalmente esgotada em casa, a ponto de só querer dormir, dormir, e não conseguir ter ânimo de fazer nada, nem de pensar em blog, desculpem. Mas cá estamos, porque mais do que sentir cansaço, eu sinto culpa.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Uma Odisseia em San Francisco

O meu primeiro destino era San Francisco, o segundo era Vancouver e o último, Seattle. Eu sabia mais do que ninguém que uma nova viagem para os Estados Unidos não seria agendada tão cedo. Canadá então, nem se fala. Muito provavelmente só pisaria novamente em solo canadense numa próxima vida, ao reencarnar um pássaro viajante japonês, daqueles que voa sem moderação pelo hemisfério norte. Sendo assim, precisava aproveitar ao máximo os cinco preciosos dias em San Francisco, as três miraculosas noites em Vancouver e os dois promissores e gélidos crepúsculos em Seattle.

Cheguei em San Francisco no dia 10 de novembro de 2010. Me hospedei na casa de uma amiga dos tempos de colégio que dividia o apartamento com um amigo coreano. Já o tinha visto no Brasil umas duas ou três vezes. Depois daquele papo básico inicial do tipo “tudo bem, cara?”, “como foi de viagem?”, “que bom te ver por aqui”, ele emendou com uma pergunta totalmente inesperada. Imagine o show da sua banda preferida. Seria o equivalente aos caras tocarem aquela música que você tanto gosta, mas nunca é executada ao vivo.

- Quer jogar futebol hoje?

Quando eu disse sim, a minha amiga me olhou incrédula. Ela já sabia que ele me faria o convite, mas achava que eu ia recusar. Ela pensou que eu ia dizer que estava cansado da viagem, como se macaco recusasse banana. Eu poderia estar dez noites sem dormir que eu não desperdiçaria aquela oportunidade. Ainda mais em solo estrangeiro, numa semifinal de um campeonato amador, podendo jogar a final no mesmo dia e sair de lá “campeão”.

- Só tem um problema – eu disse. – Eu não tenho chuteira e nem short.

Eu fiz aquele comentário já cogitando a possibilidade de comprar uma chuteira nova no mesmo dia(estava mesmo precisando de uma e ainda estou!), caso ele dissesse que não poderia me ajudar.

- Não se preocupe quanto a isso. Eu arrumo pra você. O único problema é a sua legalização na partida. Talvez o juiz não deixe você jogar porque você não está inscrito no torneio. Mas a partida é só às nove da noite. Eu dou um jeito até lá.

Então eu saí para passear pela cidade com a minha amiga. Só voltamos à noite. Tudo certo. Vesti o short, o meião, coloquei o meu sapatênis e fomos – a chuteira seria entregue por outro jogador na hora do jogo.

Tratava-se de um enorme complexo futebolístico de grama sintética com dezenas de partidas sendo disputadas ao mesmo tempo. O número de mulheres no complexo excedia o número de homens, o que não era uma grande surpresa, estávamos nos Estados Unidos. No “nosso campo” rolava a outra semifinal do torneio. Felizmente o melhor time desse confronto perdeu nos pênaltis. Aos poucos, os jogadores do nosso time foram chegando, os do outro time também. E não era só isso. O outro time tinha uma torcida muito animada com diversos cartazes, composta por oito ou dez indivíduos, na sua maioria fêmeas. Os cartazes eram extremamente mal feitos. Só no fim da partida, quando cheguei muito perto, eu consegui ler o que estava escrito.

O nosso time tinha três reservas: eu e mais dois. Mas eles explicaram que o time deveria fazer um rodízio a cada cinco minutos. Quem estivesse cansado deveria dar lugar a outro. Se não me engano, cada tempo tinha 25 minutos.

O juiz apitou o início do jogo e para o meu espanto, eu era um dos titulares. Não fazia sentido algum. Eu não conhecia ninguém e nunca tinham me visto jogar antes. Será que o capitão do time apostou em mim só porque eu era brasileiro?

Pouco importa. Comecei correndo que nem um louco e fui para o ataque. Porém, um cara do time baixou a minha bola. Disse que eu deveria fazer a lateral esquerda, ou seja, jogar mais recuado. Se não bastasse isso, o juiz chegou bem perto de mim e disse que eu não poderia jogar sem alguma coisa que eu não estava entendendo. A primeira coisa que eu pensei foi no tal problema de legalização que o coreano havia me explicado mais cedo. Mas não era nada disso. Um jogador do meu time me mostrou o que eu precisava pra jogar: caneleiras. Sem caneleiras eu teria de ficar do lado de fora, morrendo de frio e de ódio.

Saí correndo feito um louco novamente, mas dessa vez em direção às mochilas que estavam atrás do gol, ao lado da torcidinha de merda do time deles. Abri umas três mochilas até encontrar o que eu precisava. Não sabia de quem eram aquelas mochilas. Não foi um ato muito ético da minha parte, mas depois do jogo eu devolveria. Poderia ser uma mochila de alguém do outro time, ou até de alguém que tinha jogado a outra semifinal. A única coisa importante naquele momento era poder jogar futebol.

Fim do primeiro tempo. 0 x 0. Joguei muito mal. Estava puto com a minha atuação. Mas eu já tinha um plano para o segundo tempo. Começaria na reserva e só entraria quando alguém do ataque saísse. E jogaria até o fim do jogo, ou caso alguém me tirasse na base da força.

O pessoal do banco de reservas foi entrando e quando chegou a minha vez de entrar, quem saiu foi um cara do meio campo. Cedi a minha vez. Depois saiu um zagueiro e também cedi a minha vez. Até que finalmente um dos atacantes foi pro banco.

Eram 7 jogadores na linha e um no gol. O outro time tinha muito mais volume de jogo, muito mais posse de bola. O nosso time jogava no contra-ataque. E era justamente por isso que eu fazia questão de ir pro ataque. Sabia que podia levar a zaga do time adversário na minha velocidade.

Logo no meu primeiro lance, quase marco um golaço. Recebo a bola na direita. Puxo a bola pro meio, carregando com a esquerda, que é a perna boa, a marcação se atrapalha, continuo carregando pelo meio e fico cara a cara com o goleiro. Era só bater colocado no canto e correr pro abraço, mas o chute saiu fraco, no meio do gol.

Continuei fazendo boas jogadas até que em mais um contra-ataque do nosso time, um cara foi até a linha de fundo e lançou pra mim no meio da área. Só tive o trabalho de empurrar a bola pra dentro do gol. 1 x 0. O jogo já estava acabando. Era só segurar a vitória. Em mais um contra-ataque, fiz bela jogada pelo lado direito e deixei o cara que tinha me dado a assistência pro gol, cara a cara com o goleiro. Estava retribuindo a gentileza. Era só marcar e carimbar o passaporte para a final. Ele também chutou em cima do goleiro e no último minuto, o time deles empata com um gol bastante semelhante ao nosso que levou a torcidinha de merda à loucura.

Prorrogação. 5 minutos cada tempo. Se continuasse empate, pênaltis. E no último minuto do segundo tempo da prorrogação os caras marcaram mais um gol e viraram a partida. Eu, o coreano e a minha amiga de infância ficamos arrasados com aquela virada inesperada. Ainda mais depois ter o jogo na mão. Mas ainda assim, valeu muito pela experiência única de ter jogado um torneio de futebol amador em San Francisco.

Eu achava que seria o evento mais inusitado daquela viagem, mas definitvamente não foi. Na quarta-feira seguinte, em Seattle, aconteceu talvez a aventura mais incrível de toda a minha vida. Não só pelo o que aconteceu em si, mas por toda a história, tudo que desencadeou o episódio. Então não perca, dia 17 de dezembro, “Uma Odisseia em Seattle”. Será postado no meu blog pessoal: http://paulopilha.wordpress.com/

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

antes que o livro acabe


é que às vezes fico com certo medo das coisas que escrevo aqui devido ao efeito que uma frase mal (ou bem) interpretada pode causar na vida de outras pessoas. paciência. estou enrolando pra terminar de ler indignação, do philip roth. apesar de já imaginar o que acontece no final, quero prolongar um pouco este fim. a verdade é que já sei o final, da mesma forma que às vezes tomo decisões e insisto em coisas que sei muito bem (ou mal) como vão acabar.

aí me lembro desta frase. mais uma dentre tantas que martelam minha cabeça quando vou dormir.

"a forma terrível e incompreensível pela qual nossas escolhas mais banais, fortuitas e até cômicas conduzem a resultados tão desproporcionais"

ok, este é o trecho mais citado por aí e bem sei que não é o melhor, nem o mais original. talvez seja o mais óbvio. mas o que é a vida senão uma sucessão destes momentos óbvios repetidos e repetidos a cada dia?

"a forma terrível e incompreensível pela qual nossas escolhas mais banais, fortuitas e até cômicas conduzem a resultados tão desproporcionais"

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O meu amigo secreto é...

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Agora discorra a vontade, sobre: como o capitalismo influência a vida de todos, ou modo de (re)produção das pitombas não sei das quantas, trata as relações como mercadoria.

A-la-vonté,discorra, discuta, eu não estou nem aí!
Na boa, quer saber de uma coisa?
O mês mais gostoso do ano, é DEZEMBRO e ponto final.
Para família doriana e não, rica ou não, não importa, não interessa.

Eu quero é mais.

Comer até o rabicó não aguentar mais, abraçar e abraçar.

Ver o Enzo elouquecer a família (é o mais danado), e ouvir - Ana pelo amor de Deus, dá um jeito nesse menino! Rir até chorar e pegá-lo pelo bracinho fino (tão magrinho o bichinho, só tem cabeça rsrs) e brincar de "destruir" a sala da minha mãe, com pega-pega, esconde-esconde, montinho de almofadas, e "quem é esse"...

Além de servir de intérprete e professorinha ao traduzir à fala russa do João Victor. E irritá-lo muito ao esconder seus brinquedos (adoro fazer isso), ou assustá-lo dizendo que o sansão vai morder e comé-lo vivo (ahahahaahhaahh, ele chora e ri ao mesmo tempo)

Ou ainda, encher a Anne de beijos, abraços, e apertá-la como a Felícia do Tiny Toon, até ouvir aquela risada e ver aquele sorriso lindo (fofa demais, gut-gut de linda, uma mocinha, quase 2 aninhos).

Depois, a confusão, todos falando ao mesmo tempo, contando as velhas histórias, mas que todos riem como se fossem novas. Comer e comer de novo! Doce e salgado tudo-junto-e-misturado. E no dia seguinte, um dia de rainha.

Ouvir os tios pedindo mais e mais cerveja, por que o churrasco tá duro, tá salgado (ahahhaha, bando de bebum), ou vê-los molhando os pés no rio ou no mar, para amenizar o porre! As tias reclamando que os maridos são cachaceiros,e rir muito com as palhaçadas da minha mãe e primos.

Brincar com o dylan.
Brincar com o sansão e ter as pernas e mãos babadas (ai credo!).

Não adianta. Tem jeito não. Pra mim é o melhor mês.

Para abraçar quem amo, bagunçar, ganhar presentes de loja de $1.99 ou caro, que só vem da mãe (ah, por falar nisso mãe, eu quero :aquele conjuntinho lá sabe, rosa choque, cheio de rendinha, aquele tênis vermelho ou azul com borboleta bordada,os brincos de praia, e aquele perfume de flores e folhas, é minha mamãe-noel rsrs)

Não interessa se é o mês/data mais comercial de todas, eu não estou nem aí.

Eu quero que chegue logo e depressa! Mas antes, é... assim sabe?

Mais rápido que o Natal, eu quero que chegue logo o dia 17, amigo secreto daqui.

Por que, tenho urticárias, comichões, cataporas de tanta curiosidade.

Quero muito descobrir quem é o Gladiador.
Ou abraçar (diabos, quem é?) o Sub-Zero.

E encher os pakovás até o próximo natal (se ainda estiver trabalhando aqui),devido a tantos recados "engraçadinhos" e se for meu chefe entãooo, hummmm, fechou!

E claro né, comer muito, muito mesmo, afinal $40 pilas por pessoa, maldito restaurante.

putaquilamerda! Negócio caro da bexiga!

Tem problema não, mesmo assim, continuo gostando, mesmo ficando DURA!

domingo, 28 de novembro de 2010

O invisível e o curioso

Nossas vidas são construidas através de imagens. Momentos que vivemos, que gostariamos de viver, coisas que foram inseridas em nosso cotidiano sem nos darmos conta. São esses resquícios que, em comunhão as impressões que sobram depois da experimentação, formam as visões de mundo, o caráter e constróem nosso repertório.

Muitas vezes não somos nós que juntamos todas essas fagulhas e transformamos em coisas palpáveis, pertinentes com a rotina necessária para nosso reconhecimento em sociedade. Somos também moldados por tudo que nos é dito, repassado, direcionado. A vivência de outrém muito interessa na constituição do sujeito. Para sermos indivíduos, precisamos nos rechear de coletividade.

Nesse contexto, observe a cidade de Mariana. Basta uma semana experimentando o lugar para que toda a bagagem que carregamos seja brutalmente modificada. Por trás dos casarões coloniais, das igrejas barrocas e de todo imaginário setecentista existe uma cidade comum, com problemas de infra-estrutura, com a rispidez dos moradores, com pobreza e violência.

A verdade é que a fuga é algo constante em todos. Lidar com problemas diariamente não é simples. A fluidez e a velocidade de tudo que nos cerca é, ao pé da letra, um labirinto. Assim, imaginar a paz interiorana e a perfeição barroca é uma espécie de fuga. Então fugimos. Para Mariana, para o colo da mãe. Paz de espírito é o "sonho da casa própria" da conteporâneidade.

Toda essa reflexão serve para amarrar um outro lugar de fuga, objeto de nossa pesquisa. Lugar que pode ser invisível ao desatento e inútil ao descrente. Escondida no fundo de um quintal, atrás de um supermercado e poluida por toda movimentação de um centro urbano, está a Ermida De São Geraldo. Construida em 1916, a capelinha é imponente para quem a descobre. Traz consigo pinturas em afresco, um jardim com árvores frutiferas, um pequeno lago com carpas e paz no meio do caos do centro da cidade. Existe ainda um mito: um provável osso do santo padroeiro, que aumenta a peculiaridade do lugar.

A São Geraldo Magela, padroeiro das mães e dos alfaiates, é atribuida uma qualidade aterradora, na ordem do super poder mesmo, a capacidade de ser bilocate, ou seja, estar em dois lugares ao mesmo tempo. Foi canonizado depois de uma vida humilde e injusta, com falsas acusações e a rejeição da própria Igreja Católica.

Mas foi um outro Geraldo o responsável pela construção do santuário. Geraldo Carneiro, que nos fundos da sua casa, segundo tradições passadas, ergueu a capela em homenagem ao santo homônimo. Desde então está aberta para visitação. E é muito visitada. Uma missa é realizada toda segunda-feira, excursões de outros lugares são promovidas e existe até um coral que lá se apresenta. E é estranho perceber que muitas pessoas conhecem o que você ainda não havia nem notado. Culpa da visão, que é usada apenas como sentido: ver. Já o olhar, que compreende uma especificidade muito mais humanizada, quase sempre sofre um revés no dia-a-dia das pessoas.

Uma vez dentro da ermida, a sensação de paz é imediata. Um estranho silêncio toma conta do lugar (que está no meio da eloquência dos pontos de ôbibus, comércios e trânsito efervescente, e ainda assim é silencioso), e só é interrompido pelo barulho de uma bica d'água, que só faz relaxar ainda mais.

Ao longo do tempo, as acomodações da capela vieram sofrendo ajustes. Aumentou de tamanho, anexou um sepulcro de Bom Jesus, abriu uma pequena loja de artigos religiosos. Tem fruta no pé, sombra, água de dois tipos: de mina e benta. Tem conforto religioso, para os crentes e conforto espiritual, para os necessitados.

O portão encoberto por plantas que mostra apenas um corredor estreito, e nada convidativo, esconde esse refúgio. Um refúgio que não faz propaganda. Que você só consegue fazer parte dele se receber um chamado boca a boca ou se tiver a curiosidade.

Mais do que uma entrada, o beco funciona como um portal. Depois de atravessá-lo, a primeira pessoa a ser vista é Seu José Efigênio, tratado por Zezé, uma espécie de zelador-faz-tudo da ermida. Acende vela, varre o chão, tira as folhagens e ainda vende imagens de santo na lojinha.

Apesar de muito solícito, Zezé diz que trabalha lá somente há dois anos. Logo, nossas questões não foram de cara respondidas, o que serviu de fermento para nossas pequenas dúvidas. Assim, começaram dois novos exercícios: observar e deduzir. Observar todas as faces que por lá passavam – os olhos fechados, os dedos pulando as contas do terço, sinal da cruz. Deduzir as angústias – as amarguras pelas quais essas pessoas buscavam conforto - ou as graças alcançadas, as bênçãos recebidas. Esses todos são mistérios, frutos também da nossa curiosidade.

É, no mínimo, um lugar diferente. Causa um sentimento estranho, de não pertencimento, e parece ser exigido que pertençamos a cada passo à dentro da instalação. É o incômodo do novo, misturado com o constrangimento do primeiro dia de aula em uma turma diferente. As coisas não estão óbvias. Não existe nada escancarado. Uma hipótese formada: talvez essa seja a prova de fogo para o conforto que os frequentadores assíduos parecem desfrutar.

E a boa resposta é aquela que gera mais dúvidas e, portanto, nos deixa mais curiosos. A curiosidade é algo muito difícil de se lidar. Ela é recompensada com o conhecimento. Porém, para alcançarmos esse resultado, é necessário antes que sejam derrubadas muitas barreiras, preconceitos e mitos já bem resolvidos em nosso repertório. Esse confronto é constrangedor, uma espécie de catarse.

E as perguntas ainda não foram respondidas. E tomara que nunca sejam. Pois quando se trata do homem, a simetria não é uma regra. E a certeza é só uma manifestação da preguiça de ser curioso.


Por Enrico Mencarelli e Tábata Romero


Galeria de fotos

Blog das 30 pessoas

sábado, 27 de novembro de 2010

Já tem bastante neve na Europa!





Aqui em Sampa está um puta calor, sol, todo mundo na piscina.

Na Europa o pessoal já está escolhendo a pista que vai esquiar.

O Terra já botou essas imagens no ar. Gosta de frio?? Demorou!!


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quando o futuro chega, em 140 caracteres.

Depois de uns cinco anos passeando em outros temas, ler o último Harry Potter antes do filme já não é a mesma coisa. Pura insistência minha.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O que você aprendeu na escola?

Quanta coisa uma criança aprende em dez anos?
Muita.

Quantas na escola?
Muitas.

Ta, mas com exceção do recreio, da entrada e da saída. Quanto?
Hum. Quase nada.

Pois é. Pense em seus 8, 10 anos de idade. O que você aprendeu e não esqueceu mais? Eu aprendi que chutar de chapa faz a bola ir no canto, que dá pra fazer uma zarabatana com caneta Bic, que mandar bilhetinho para a Bruna fazia as amigas dela rirem da minha cara, que não era boa ideia brigar com o Alessandro que era repetente, que dar peteleco bem na ponta da orelha doía mais... estas coisas da vida. Tabuada não é vida.

Mas de vez em quando, assim quase nunca, a gente lá sentado ouvindo o blón blón blón que não acabava, uma manhã demorava mais que uma semana pra passar, no meio daquele nada, assim, pá!, de repente a professora dizia algo aprendível. Era raro, mas nos enchia de luz, era como se abrissem as janelas emboloradas e o Sol entrasse em nossas cabeças. Aquelas coisas que você não esquece nunca mais.
Coisas que aprendi na escola:

Existem bactérias em você
Como assim? Serezinhos se mexendo embaixo da minha unha? Mas eu não vejo! Não ouço! Demais, as bactérias.

Atravessar a rua em diagonal
Foi uma aula de Educação no Trânsito. Para não ser atropelado, você primeiro cruza a rua para o lado, e depois cruza a outra rua, para a frente. Faz um L, apesar do caminho mais curto ser a diagonal. Genial!

O mundo é redondo
Esta é demais. A Tia Leonor explicou e na hora lembrei daquela vez na praia, eu tinha 5 anos e saí correndo em direção ao Sol que se punha, enlouquecido, os gritos de minha mãe ao fundo, devo ter corrido 200, 300 metros, gritando “o Sol tá embaixo!” e eu estava determinado a “vou pegar o Sol! Eu vou pegar o Sol!”. Quando me contiveram, e me debatia desesperado, faltava só um pouquinho! pra chegar, faltava só um pouquinho.
E agora, de repente, o mundo era redondo. E eu nunca mais ia alcançar o Sol.

90% do corpo é água
Aula de Ciências. Não lembro o nome da Tia, mas era nariguda. A gente ficou se apertando para ver se saía água, mas não saía. Acho que o Adriano já tinha percebido que não saía, mas continuou apertando o Haroldo só de sacanagem, coitado, era sempre o Haroldo que levava geral. Eeee....eeeeeeeeEEEEE!

A gente nasceu porque papai e mamãe fizeram sexo
Foi o Tio Sandrine. A aula tinha acabado, mas sobrou tempo. A molecada fazendo a maior zona, ele resolveu explicar de onde viemos. Desenhando na lousa e tudo. Deu certo, a classe ficou em silêncio absoluto. Um misto de estarrecimento, choque, nojo.
“Mas tem que fazer mesmo? Se não fizer não nasce?”, eu perguntava no caminho de casa para minha mãe, que penou para desconversar.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

45%

Ei! Escreva sobre mim. Descreva sobre como sou ruim.
Coloque em letras capitulares: MONSTRO, DEMONIO ou algo assim.
Quem sabe com isso, seja livre enfim?

Ei escritor! Conte quem sou, e relate todas penúrias que fiz.
Descreva também os que destruí. E aqueles que por vezes vieram contra mim.
Mas não se esqueça, EU sempre venci.

Ah! Antes de começar,ouça o sussurro que sibila em seus ouvidos.
Ele diz claramente:
Tome um pouquinho de mim. Só mais um pouco de mim. Tome um pouquinho de mim.
E essa será a ultima vez.
Talvez...


Fernando Ferric

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Quanto tempo dura um inferno astral?

Casei. Sem padre, nem juiz. Foi uma conversa, só nós dois, sem testemunha nem assinatura. Você topa? Topo. Então vamos pegar suas coisas. Simples assim.
Duas semanas depois tirei o apêndice. Comecei a sentir dor de barriga na sexta, mas como tinha almoçado um pacote de baconzitos achei normal. A dor foi ficando cada vez mais forte, no domingo de manhã (meu aniversário) fui ao hospital, onde tive o diagnóstico de apendicite. Operei na segunda, antes dos meus pais chegarem. Tive medo de morrer sem vê-los. Passou tanta coisa na minha cabeça... eu devia ter feito uma festa de aniversário.
Eu devia ter votado antes. O Serra perdeu, me senti culpada.
Eu devia ter avisado minha mãe e meu peixe. Devia ter ido na missa. Devia ter lavado a louça antes de sair. Já devia ter defendido meu mestrado. Devia ter deixado o carro em casa. Milhões de "devias", que só serviram para me deixar ainda mais angustiada.
Pensei no meu túmulo, com a mesma data de nascimento e morte. Eu sempre procurava isso quando ia à um cemitério. Seria um castigo de algum morto que não gostou da minha brincadeira? Pedi desculpas, eu era criança e só queria me distrair. Cemitério não é um bom lugar para crianças. Devo ter sido convincente, o morto me perdoou. Pude avisar meus pais. Pude contar com as pessoas que amo. Depois de 3 dias, pude tomar um copo d´agua. Pude me livrar dos acessos que minhas veias não suportavam. Pude passar um final de semana com meu marido antes dele viajar para a Coréia. Pude voltar para minha vida.
Contratei uma faxineira. É estranho pagar para alguém limpar minha bagunça, mas quero me acostumar a esse luxo.
Levei uma multa por estar sábado às 13:30 na faixa exclusiva de ônibus. Eu não sabia que eles só liberavam às 15:00. Paciência, mas que eu fico muito puta da minha vida eu fico.
Falando em puta, elas estão liberadas a usar camisinha pelo Papa. Devo virar uma para ficar com a consciência tranquila ou continuo desobedecendo a Santa Igreja Católica?
Agora tenho uma chefe no trabalho. Sério, preciso urgente de um novo emprego senão vou pirar. Ainda mais.
Continuo indo na nutricionista. Tenho emagrecido um kilo a cada dois meses, mas eu suspeito que ela que não quer que eu desanime e mente pra mim.. Cara, como é difícil perder peso. Como eu amo comer porcaria.. Mas enfim, nesse passo, talvez no dia em que for moda ser gordinha eu chegue no meu peso ideal. Isso se o mundo não acabar antes. Enfim, pelo menos estou tentando. Também voltei a caminhar. Mentira, só andei ontem e hoje, mas já posso dizer que voltei.. mals ae quem não curte diarinho, mas foi o que deu vontade de escrever esse mês... uma idéia de como anda a vida.



segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E agora, José?

Um dia, a festa acaba, a luz apaga, o povo some, a noite esfria. José sabe muito bem disso, mas está inerte numa situação delicada que não lhe permite impedir esses acontecimentos

José é uma boa pessoa, quem o conhece afirma com segurança que ele é decerto um dos companheiros mais divertidos. Quem o conhece, porém, também afirma com segurança que Clóvis, alter ego de José, é totalmente desestimulante. Há inúmeras diferenças entre um e outro e todos são capazes de reconhecê-las facilmente. Saber quando José é José e não Clóvis também é fácil – o motivo pela existência do outro eu de José é bem visível: o namoro.

José, um dia, se apaixonou e foi correspondido. Conforme o sentimento aumentava, envolveu-se num romance. Eis que Clóvis surgiu. Este veio para suprir a necessidade daquele de agradar em todos os aspectos a namorada. Se José é liberal, engraçado, confidente e próximo, Clóvis caminha no sentido oposto: ele é contido, sério, distante e intimidador. Quem vê José, rapidamente deseja lhe dar um abraço e conversar com ele sobre os acontecimentos da vida. Quem vê Clóvis logo deduz que não haverá espaço para uma boa conversa.


A namorada de José o adora – afinal, com ela, ele é ele mesmo e também o outro, fazendo-a, portanto, muito feliz. Os amigos de José, no entanto, não sabem como se portar diante disso. Ora o vêem como aquele que conheceram, três anos antes; ora o vêem como o homem sisudo que veio em decorrência de uma sutil incompatibilidade entre as personalidades de José e de sua namorada. Os eventos em conjunto tendem à tensão: nunca se sabe se quem vem é José ou se é Clóvis - ou ainda se José se tornará Clóvis ao longo da noite. Uns preferem a presença de Clóvis à ausência de José, outros preferem sua total ausência à possibilidade da vinda de Clóvis. Não há consenso, nem todos concordam com a alternância de personalidade e nem todos discordam dela.

A namorada de José, todos deduzem, garante a ele: você não ficará sem mulher, não ficará sem discurso, não ficará sem carinho. Os amigos, inseguros em relação ao que devem e ao que não devem falar, pensam: o dia não virá, o bonde não virá, o riso não virá e nem virá a utopia, e tudo acabará, tudo mofará. Receiam, contudo, esse pensamento e optam pelo otimismo – até porque, quando saem junto com Clóvis, notam que suas personalidades são intercambiáveis e às vezes percebem que estão a falar com José por alguns minutos, antes de ele voltar a ser Clóvis. Vale ressaltar que José convive bem com Clóvis. José é consciente da existência do seu alterego, parece não ligar em sê-lo às vezes, e, na maioria das vezes, opta por ser o outro a ser ele mesmo.

Ninguém diz, mas todo mundo pensa: um dia, José poderá acabar sozinho no escuro, tal qual bicho-do-mato. E querem todos que ele não se iluda com falsas liberdades, com palavras gentis que confundam o seu discernimento. Querem apenas que ele dose bem os seus momentos como José e seus momentos como o outro, a fim de que sua festa não acabe, a luz não apague, o povo não suma, sua noite não esfrie e, por fim, ele tenha que perguntar a si mesmo: e agora, José?.

domingo, 21 de novembro de 2010

O Retorno

"- Passa a gilette na minha nuca?"
"- Hum, quer ficar bonito para quem?"
"- E desde quando eu sou bonito?"
"- Risos! Para mim você continua sendo..."
"- Humpf!"

A mulher pegou o aparelho de barbear e começou a raspar os pêlos que insistiam em crescer desalinhados na nuca do marido. Há tempos eles não tinham tanta proximidade física, pois estavam passando por um período em que cada um estava ocupado demais com seus próprios afazeres. Ela aproveitou-se do momento para roçar maliciosamente os seus seios nas costas dele que ficou meio sem entender suas intenções. Minutos depois:

"- Prontinho, está feito!"

Teso e tenso, o homem puxou com força sua esposa pelo braço que caiu sentada desajeitada no colo dele. Antes que alguém pudesse reclamar ou se manifestar, beijaram-se primeiro suavemente, depois com mais intensidade...

Com a chama do desejo acesa, ambos se lembraram porque tinham resolvido namorar e depois engatar o relacionamento em um casamento. Não entenderam porque tinham se afastado tanto. Em instantes, as mãos já estavam entrando por dentro das roupas e vasculhando partes úmidas de seus corpos até atingirem o clímax quase que simultaneamente.

De repente, lembraram-se do compromisso:

"- Que horas são?"
"- Quinze para o meio dia..."
"- Puta que o pariu! O táxi está aí desde às onze e meia!"

Desceram correndo os lances de escada do prédio que estava sem luz. O taxista estava com a costumeira cara amarrada de sempre:

"- Toca pro metrô mais próximo, xará!"

Chegaram na estação sorrindo e de mãos dadas, mesmo tendo pago alguns minutos a mais na corrida.

sábado, 20 de novembro de 2010

Estrelinhas

Quando eu era criança, sempre que fechava meus olhos, na hora de dormir, tinha o breu dos olhos fechados invadido por milhares de pequenos pontinhos multicoloridos, parecido com estrelinhas, que ficavam rodopiando e navegando como cardumes sobre a escuridão.

Toda noite era assim. Depois de chegar da escola e passar as tardes pulando entre as árvores e brincando com os animais que meu pai criava no quintal da minha casa, eu me recolhia na noite e não tinha medo. Pois sabia que as estrelinhas, que era como eu as chamava, estariam lá para embalar meu sono.

Mas uma noite elas não apareceram. E depois e depois. Nunca mais me encontrei com as estrelinhas e descobri que isto era crescer.

Toquei a vida, comecei a construir meu caminho e atender ao chamado das expectativa de todos que me cercavam. Primeiro pai, depois mulher e enfim, filhos. Fui consumido pela rotina, embriagado pelo tempo, trabalho e dinheiro mas, ao conversar com minha filha, descobri que, todas as noites, as estrelinhas a visitavam.

O mundo girou ao meu redor e percebi – acho que a tempo – o que estava fazendo com a minha vida. Entregando meu tempo e inspiração por um punhado de moedas, em troca via, pela janela, passar meus dias mal vividos, como um espectador distante.

Voltar a brincar foi estranho, mas era preciso... logo estava pensando em como pude deixar de fazer isso com minha filha por tanto tempo. Minha filha enfim estava re-ensinando a viver e eu, um bom aluno.

Na noite passada estava preocupado com o que poderia publicar neste blog, mas quando fechei os olhos percebi que as estrelinhas voltaram.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

19 Again

Ando com vontade de fazer uma experiência no melhor estilo Julie & Julia, ou seja, cozinhar todas as receitas de algum clássico da cozinha nacional e blogar a respeito. Não seria muito original, é verdade, mas acho que já passei da idade de querer ter idéias novas e brilhantes o tempo inteiro (a privação de sono me envelheceu 20 anos nos últimos 11 meses). Já até escolhi possíveis vítimas: "O Livro de Receitas de Cláudia" ou "Comer Bem" (aquele com a Dona Benta na capa).

Acontece que não sei cozinhar nada e sempre tive a forte impressão de que essa é mais uma daquelas habilidades-armadilha que te prende mais do que liberta. Além disso, tem o problema das calorias. Nunca conheci nenhuma da qual não tenha gostado, mas estar acima do peso é algo que não me faz bem (e não sou do tipo de mutante intergalático e lendário que, diante de comida boa, come pouco ou adora fazer exercícios).

Acho que essa vai entrar pro rol das coisas que eu não fiz. Tipo postar mês passado. Foi mal.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

DDA e outros déficits

Eu não tirei a outra via do cartão, não experimentei o paletó, não aprendi articoli determinativi, não vi o gol do Marcos Assunção, ainda não sei o que aconteceu com o Silvio Santos, não organizei os livros no acervo, não comprei a passagem, ainda não fui pra casa do Bola e nem almoçei.
É que eu estava pensando em você, pelada.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Intolerante à intolerância


- Mãe, quem são eles?
- São ciganos.
- Quem?
- Ciganos, vai me dizer que não sabe o que é um cigano?

Nesse momento, escutei atentamente a mãe italiana explicar ao seu filho de 6 anos “o que eram os ciganos”.

- São pessoas que não tem casa, moram em trailers e roubam. É isso que eles fazem, roubam.
- São ladrões? Não, ladrões são outra coisa né, mãe?
- É a mesma coisa.

Eu já ouvi dezenas de afirmações iguais ou piores que essa. Ao invés de ciganos, os alvos se transformavam em romenos, marroquinos, africanos. Os brasileiros também entram na lista. Mesmo quando a ouvinte sou eu, uma brasileira vivendo na Itália, portanto, também estrangeira. Não senti preconceito na pele, quer dizer, não fui xingada nem maltratada por vim de onde vim, mas já senti desprezo em olhares, já respondi perguntas absurdas e me indignei diante da imagem construída por muitos italianos do Brasil. Geralmente ela não é boa, posso garantir.
Se é correta a teoria que a arquitetura de um país diz muito sobre a cultura e a personalidade de um povo, algumas cidades italianas retratam bem porque o país é considerado um dos mais preconceituosos do mundo. Muitas das cidades onde estive têm imponentes fortalezas em seu entorno. Dentro dos muros, geralmente ainda intactos, está a cidade, protegida contra a invasão “dos outros”.
Zygmunt Bauman, em seu livro O amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos, explica que as pessoas assustadas pela misteriosa e inexplicável precariedade de seus destinos e pelas névoas globais que ocultam suas esperanças buscam desesperadamente os culpados por seus problemas e tribulações. Adivinha quem geralmente são os acusados? Os forasteiros.
Quando eu comento sobre essas situações com amigos brasileiros, a maioria vem com aquele argumento de que no Brasil é o contrário, já que “gringo, aqui, é rei”. Mas de que “gringo” estamos falando? Veneramos mesmo os estrangeiros? Então, quais são as imagens que construímos da África? E pra não sair do continente americano, o que pensamos de bolivianos, peruanos, equatorianos?
Difícil saber como o preconceito nasce, por que a xenofobia pulsa entre os povos, por quais motivos essas falsas imagens são construídas, disseminadas, cristalizadas. A conversa que presenciei entre mãe e filho na Itália é um desses inícios. Pode demorar para que o menino italiano encontre um cigano, mas algo muito forte dentro de mim diz que ele terá medo assim que se deparar com um. Infelizmente, ninguém vai roubar isso dele. Acho que esse é um dos piores males do preconceito. A cegueira não se cura. Leis são criadas no intuito de acabar com o racismo e a intolerância, mas esse é um dos “crimes” nos quais medidas autoritárias são pouco eficientes. Pior, são capazes de agigantar a raiva, a revolta contra aquele grupo marginalizado.
Enquanto o politicamente correto continuar polindo as afirmações em público e as aberrações continuarem a ser ensinadas dentro das casas, das escolas, das igrejas, enfim, o preconceito continuará mais forte (e mais propagado).
Mas não foi minha estada na Itália que me fez pensar nisso. Posso dizer, sem medo de errar, que sou intolerante à intolerância há muito tempo. Não digo que sou isenta desse mal, já que porto essa semente, germinada vez em quando outra, quando caio na tentação de generalizar outros povos, quando aperto a bolsa contra o corpo diante de alguém “suspeito” - que fala uma língua desconhecida e tem traços diversos - quando reduzo alguém a sua nacionalidade, como se identidade fosse só isso.
Esses dias, conversando com uma amiga, falávamos do preconceito sofrido por brasileiros na Europa. Eu lhe disse que nós também temos as nossas intolerâncias e que não podemos apenas nos colocar na posição de vítimas. No que ela respondeu: “ah, mas nesse caso não que seja certo termos preconceito, mas é uma coisa quase natural”. Meu medo é justamente esse. Viver em um mundo onde intolerância seja natural, quando respeito mútuo o deveria ser.
Não sou uma “nova engajada raivosa”, para usar uma das expressões que ouvi quando deixei pública minha revolta contra os comentários absurdos sobre nordestinos depois da vitória da presidente eleita. Não sou de levantar bandeiras, sou menos politizada do que gostaria e uma das minhas grandes frustrações é não ter nenhuma grande causa para defender.
É por isso que eu quis escrever isso aqui. No sentido de compartilhar uma ferida que não me cicatriza nunca. Se eu fosse mais evoluída, quem sabe, levantaria essa bandeira, de um mundo sem muralhas. Porque se derrubar nossos muros nos deixa desprotegidos, também nos dá a possibilidade de conhecer outros mundos, de igual para igual, ou seja, respeitando nossas enriquecedoras diferenças. Não seríamos divididos, mas inteiros.