Um dia, a festa acaba, a luz apaga, o povo some, a noite esfria. José sabe muito bem disso, mas está inerte numa situação delicada que não lhe permite impedir esses acontecimentos
José é uma boa pessoa, quem o conhece afirma com segurança que ele é decerto um dos companheiros mais divertidos. Quem o conhece, porém, também afirma com segurança que Clóvis, alter ego de José, é totalmente desestimulante. Há inúmeras diferenças entre um e outro e todos são capazes de reconhecê-las facilmente. Saber quando José é José e não Clóvis também é fácil – o motivo pela existência do outro eu de José é bem visível: o namoro.
José, um dia, se apaixonou e foi correspondido. Conforme o sentimento aumentava, envolveu-se num romance. Eis que Clóvis surgiu. Este veio para suprir a necessidade daquele de agradar em todos os aspectos a namorada. Se José é liberal, engraçado, confidente e próximo, Clóvis caminha no sentido oposto: ele é contido, sério, distante e intimidador. Quem vê José, rapidamente deseja lhe dar um abraço e conversar com ele sobre os acontecimentos da vida. Quem vê Clóvis logo deduz que não haverá espaço para uma boa conversa.
A namorada de José o adora – afinal, com ela, ele é ele mesmo e também o outro, fazendo-a, portanto, muito feliz. Os amigos de José, no entanto, não sabem como se portar diante disso. Ora o vêem como aquele que conheceram, três anos antes; ora o vêem como o homem sisudo que veio em decorrência de uma sutil incompatibilidade entre as personalidades de José e de sua namorada. Os eventos em conjunto tendem à tensão: nunca se sabe se quem vem é José ou se é Clóvis - ou ainda se José se tornará Clóvis ao longo da noite. Uns preferem a presença de Clóvis à ausência de José, outros preferem sua total ausência à possibilidade da vinda de Clóvis. Não há consenso, nem todos concordam com a alternância de personalidade e nem todos discordam dela.
A namorada de José, todos deduzem, garante a ele: você não ficará sem mulher, não ficará sem discurso, não ficará sem carinho. Os amigos, inseguros em relação ao que devem e ao que não devem falar, pensam: o dia não virá, o bonde não virá, o riso não virá e nem virá a utopia, e tudo acabará, tudo mofará. Receiam, contudo, esse pensamento e optam pelo otimismo – até porque, quando saem junto com Clóvis, notam que suas personalidades são intercambiáveis e às vezes percebem que estão a falar com José por alguns minutos, antes de ele voltar a ser Clóvis. Vale ressaltar que José convive bem com Clóvis. José é consciente da existência do seu alterego, parece não ligar em sê-lo às vezes, e, na maioria das vezes, opta por ser o outro a ser ele mesmo.
Ninguém diz, mas todo mundo pensa: um dia, José poderá acabar sozinho no escuro, tal qual bicho-do-mato. E querem todos que ele não se iluda com falsas liberdades, com palavras gentis que confundam o seu discernimento. Querem apenas que ele dose bem os seus momentos como José e seus momentos como o outro, a fim de que sua festa não acabe, a luz não apague, o povo não suma, sua noite não esfrie e, por fim, ele tenha que perguntar a si mesmo: e agora, José?.
José é uma boa pessoa, quem o conhece afirma com segurança que ele é decerto um dos companheiros mais divertidos. Quem o conhece, porém, também afirma com segurança que Clóvis, alter ego de José, é totalmente desestimulante. Há inúmeras diferenças entre um e outro e todos são capazes de reconhecê-las facilmente. Saber quando José é José e não Clóvis também é fácil – o motivo pela existência do outro eu de José é bem visível: o namoro.
José, um dia, se apaixonou e foi correspondido. Conforme o sentimento aumentava, envolveu-se num romance. Eis que Clóvis surgiu. Este veio para suprir a necessidade daquele de agradar em todos os aspectos a namorada. Se José é liberal, engraçado, confidente e próximo, Clóvis caminha no sentido oposto: ele é contido, sério, distante e intimidador. Quem vê José, rapidamente deseja lhe dar um abraço e conversar com ele sobre os acontecimentos da vida. Quem vê Clóvis logo deduz que não haverá espaço para uma boa conversa.
A namorada de José o adora – afinal, com ela, ele é ele mesmo e também o outro, fazendo-a, portanto, muito feliz. Os amigos de José, no entanto, não sabem como se portar diante disso. Ora o vêem como aquele que conheceram, três anos antes; ora o vêem como o homem sisudo que veio em decorrência de uma sutil incompatibilidade entre as personalidades de José e de sua namorada. Os eventos em conjunto tendem à tensão: nunca se sabe se quem vem é José ou se é Clóvis - ou ainda se José se tornará Clóvis ao longo da noite. Uns preferem a presença de Clóvis à ausência de José, outros preferem sua total ausência à possibilidade da vinda de Clóvis. Não há consenso, nem todos concordam com a alternância de personalidade e nem todos discordam dela.
A namorada de José, todos deduzem, garante a ele: você não ficará sem mulher, não ficará sem discurso, não ficará sem carinho. Os amigos, inseguros em relação ao que devem e ao que não devem falar, pensam: o dia não virá, o bonde não virá, o riso não virá e nem virá a utopia, e tudo acabará, tudo mofará. Receiam, contudo, esse pensamento e optam pelo otimismo – até porque, quando saem junto com Clóvis, notam que suas personalidades são intercambiáveis e às vezes percebem que estão a falar com José por alguns minutos, antes de ele voltar a ser Clóvis. Vale ressaltar que José convive bem com Clóvis. José é consciente da existência do seu alterego, parece não ligar em sê-lo às vezes, e, na maioria das vezes, opta por ser o outro a ser ele mesmo.
Ninguém diz, mas todo mundo pensa: um dia, José poderá acabar sozinho no escuro, tal qual bicho-do-mato. E querem todos que ele não se iluda com falsas liberdades, com palavras gentis que confundam o seu discernimento. Querem apenas que ele dose bem os seus momentos como José e seus momentos como o outro, a fim de que sua festa não acabe, a luz não apague, o povo não suma, sua noite não esfrie e, por fim, ele tenha que perguntar a si mesmo: e agora, José?.
Depois de ler esse texto, identifiquei alguns Josés entre meus amigos... ou seriam eles Clóvis?
ResponderExcluirÉ complicado, já vi um desses Josés acabar abandonado pela mulher e precisar ser socorrido pelos amigos, vítima de si próprio... mas creio que não há realmente nada que possamos efetivamente fazer, não é mesmo? Ficamos observando e torcendo pela felicidade alheia, com saudade de outros tempos.
É, eu acho que você sabe muito bem que eu te entendo.
ResponderExcluirAgora não sei ao certo o que pensar sobre o assunto, receio que o Clóvis não apareça mais. E nem o José. Enfim, um beijo :)
Penso que talvez todos nós tenhamos um pouco de Clóvis e José. O primeiro surge como uma tentativa de manter a carência afetiva suprida, o segundo, que é ele mesmo, só existe pois tem a certeza infindável de que não importa qtos "eus" possa existir, os amigos estarão sempre lá para qualquer Clóvis, José, João, Maria (ou não)
ResponderExcluirdefendo, na minha psicologia de banca de jornal, que somos "personagens". variados personagens escolhidos conforme a cena, de acordo com o personagem com quem estamos encenando no momento.
ResponderExcluireu sou assim....