sábado, 28 de maio de 2011

Tire esse azedume do seu peito. Por 21 dias.

Tive sorte por esses meses, vou confessar. Sempre fico matutando uma ideia na cabeça, ela vai florescendo, divagando, percorrendo tudo o que há em mim. Quando menos, vira texto. Ainda bem que eu escrevo no final do mês.

Claro que esse não foi diferente. Mas, bom, vamos lá!

Descobri internet afora uma teoria de um cara chamado Maxwell Maltz (link) que diz o seguinte: se você repetir uma ação por 21 dias – ininterruptamente – ela vira um hábito. Ou seja, se você passar aquele creme antirrugas que sempre é deixado no fundinho do armário torcendo para ser lembrado por 21 dias seguidos, vai fazer parte da rotina. Vira um costume. Ou se resolver não comer doce, parar de roer unhas, sorrir pras pessoas na rua, fazer a dança da chuva ou os 5 ritos tibetanos diariamente, nessa seguida quantidade de dias, pronto. Faz parte de você.

Aí descobri uma galera de um movimento mundial muito peculiar, e legaaaaal! Eles tem a missão de ficar por 21 dias sem reclamar (o site é esse: http://www.acomplaintfreeworld.org/). Achei muito legal!

Resolvi tentar. E por 21 deu certo. E até hoje tem dado! (já faz uns 30 dias). Recomendo, de verdade. A gente reclama muito das coisas, da maior bobeira do mundo até a mais cabulosa delas. Mas reclama! Eu decidi não reclamar, nem pra ninguém, muito menos pra mim, de tudo o que se passa na minha vida.

Hoje cedo, andando pela rua, caí num buraco gigantesco. Gigantesco, to falando. Seria muito fácil, e cômodo, e estressante, e chato, e desanimador, sair reclamando por aí: “Que m*rda essa cidade! Deixam um buraco desse tamanho na rua, aí cai um, quebra a perna, e aí? Essa calçada é horrível, essa rua é esburacada, esse trânsito é impossível!!!”. Pronto. Uma reclamação gera outras mil, e vai só crescendo. E dali a pouco, sua vida inteira é só reclamação. Uó, né?

Bom, eu caí, e claro que machuquei meu joelho (que é a parte de mim que mais sofre com meus desastres e desequilíbrios, sem sombra de dúvidas). Mas olhei para minhas amigas, dei risada e disse “Super adrenalina! Até deu um friozinho na barriga!”. Pronto. Evitei uma ruga a mais na minha vida.

Vamos escolher os momentos certos pra reclamar. Você vai reclamar lá com o cara das Casas Bahia se ele entregar um vaso de violetas ao invés da geladeira duplex de aço escovado que você comprou pela internet. Você vai reclamar se um dia um babaca apertar seu bumbum na balada. Você vai reclamar se um dia alguém reclamar da vida com você, e vai mandar ele se mancar e ler esse texto aqui. Bobão.

Nessa teoria também diz que bastam apenas 3 dias de combinações erradas para derrubar esse hábito, então não deixe que os problemas que se prolongam estraguem sua rotina de bom humor. Não vou falar pra você fazer a Janaína (do BBB 11) e achar tudo lindo, mil maravilhas, tudo sorridente e na vibe ‘vamos construir um mundo melhor através do amor em nossos corações’. Mas vamos exercitar. Reclamação gera reclamação. E quem vive enfurecido, leva consigo uma nuvem de coisas ruins. Aí é muito azar, muita coisa dando errada, uma confusão. E mais reclamação. Tente parar esse ciclo. Por 21 dias! Para sempre!

Pra mim deu certo. Vai lá, bee, faz a locona e tira esse azedume do seu peito.



















Rugas a menos.

Foto: Dougal Waters

twitter: @tabataaa

quinta-feira, 26 de maio de 2011

literatura: o espaço do desejo





na minha primeira postagem no blog, e sendo  professora de literatura, o mais óbvio é que eu escrevesse sobre o assunto. mas existem tantas maneiras de abordagem sobre a tal literatura que me sinto, de repente, constrangida. primeiro, porque não sou crítica literária, embora na minha profissão uma das funções seja analisar. segundo, porque tenho cá pra mim que uma certa “linguagem” se sobressai neste canto de 30 pessoas, e não é a linguagem da crítica, tão afeita a assertivas.


gosto da ideia de vizinhanças que o formato do blog deixa transparecer. o que aqui se escreve avizinha-se a muitos gêneros. roça várias “linguagens” sem jamais de fato almejar ser nenhuma delas. e se agora falo em linguagens, entre aspas, é porque recentemente reli um dos livros de Roland Barthes. os leitores daqui não sabem, mas Barthes é, em falta de palavra melhor, minha grande paixão da escrita. paixão por aquele que marcou a indissociabilidade entre literatura, escritura, texto.

boa parte das pessoas, quando pensa em  Paris, relaciona-a aos seus inúmeros cartões postais, todos tão imaculados quanto de fato o são. quase todos querem uma foto embaixo da torre Eiffel, embora raramente se consiga uma foto de “cartão postal”. isso parece não ter importância. o que vale é o imaginário. eu, não. quando pensava em Paris, imaginava-me andando pelos corredores do Collège de France, onde Barthes dava aula nos seus últimos anos de vida. tenho fotos embaixo da torre eiffel. e nenhuma nos corredores do colégio. lá, bastou-me a emoção. um outro imaginário, c’est vrai.

eu gosto de pensar que esse imaginário é de outra ordem, pois ele é forjado no mundo da escrita. ainda ontem, no meu blog, eu falava que tem horas que a literatura pede só uma declaração de amor. ainda mais nestes tempos em que qualquer amor parece sem sentido. e minha amiga completou que às vezes mais vale um punctum, uma olhadela, uma miopia. então, se há o que falar sobre literatura, num espaço tão bonito e diverso como este, é preciso colocá-la no lugar do desejo. reafirmar quantas vezes for preciso que à literatura nos cabe entregar. vivenciá-la, sentir seu cheiro, seja fezes, seja flores. e vivenciar é isto: fazer valer o desejo. buscar o impossível porque as palavras existem. e por que existem, desejamos. um círculo bem círculo.  

mas este assunto pode se estender na outra postagem, no próximo dia 26. até lá, então.
*

terça-feira, 24 de maio de 2011

Água e sabão

Eu estava me perguntando como começar a escrever aqui. Hoje não é simplesmente o dia 24, é meu primeiro dia aqui nas fileiras do 30 pessoas. E faz tempo que não piso num blog. Se vocês ouvirem algum barulho estranho, peço que me desculpem. São as minhas dobradiças.
Há muitos anos, eu classifiquei os blogs de quem escrevia sobre a própria vida como “diários de princesa”. Essas pessoas só faziam contar do seu dia-a-dia, como se o simples fato de terem um blog as tornasse celebridades e uma legião de fãs surgisse da noite pro dia. Ok, hoje temos vários exemplos vivos disso, mas há dez anos eu juro que não era assim. E só estou contando isso porque neste exato momento me pego pensando no que vou escrever aqui. Como a Camila apontou aqui embaixo, o mundo não acabou e continuamos com as mesmas preocupações de antes.
Não quero realmente escrever sobre meus dias. Não que meus dias sejam muito emocionantes – tenho ido de casa pro trabalho e vice-versa -, mas porque, afinal de contas, é meu primeiro texto e as primeiras impressões não saem nem com muita água e sabão.
Foi então que me lembrei da minha última grande dúvida. Entendam: dúvidas nós temos a todo instante (eu fiquei de comprar pão? cadê minha camisa? quem era mesmo o terceiro goleiro em 94?) mas grandes dúvidas são aquelas a que você dedica mais tempo e esforço pra resolver. Não basta perguntar pra uma pessoa, é preciso fazer pesquisas na internet e depois ponderar sobre o assunto até convencer seu cérebro de que aquela é a ação mais coerente. E, bom, eu estava pensando em como lavar minha esponja de banho.
Claro, poucas pessoas devem ter se preocupado com isso e menos ainda já se importaram com minha esponja de banho, mas garanto que passei algum tempo pensando no assunto. Não que eu seja um sujeito imundo, mas até toalhas ficam sujas, e elas só são usadas depois que estamos limpos, ora. Sendo assim, esponjas precisam ser lavadas. A minha, em especial. Houve um final de semana em que estive fora e ela ficou embaixo do sabonete. Não sei qual foi a reação química em ação ali, só sei que na segunda-feira ela estava com um cheiro meio ruim. Frescura? Tá, talvez. Mas eu iria até o fim com aquilo.
Esfregar com o sabonete não deu muito certo, uma vez que essa tinha sido a causa do problema. Usar uma outra esponja então? Não fazia muito sentido. A internet traz várias receitas, como deixar em água quente por quinze minutos, secar ao sol e até jogar sal, mas isso era só pra ficar com aparência de novo. Mundinho fútil.
Admito, minhas grandes dúvidas nem sempre são questões fundamentais. E este não é um grande início de relacionamento, mas eu garanto que sou uma boa pessoa. Me deem uma chance, embora eu escreva "me deem" e fique com vontade de colocar o circunflexo de volta no "e". Vocês têm trinta dias para provarem. Se não gostarem eu não prometo a devolução de dinheiro algum.
A propósito, comprei outra esponja.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Saiu no Jornal Nacional que o mundo ia acabar

Eu achei que o mundo fosse acabar sábado e não escrevi nenhum post para hoje.
Não fiz o trabalho do mestrado que devo há mais de um mês,
Comprei o celular dos meus sonhos porque achei que nunca o pagaria,
Não limpei nem arrumei a casa,
Não fiz regime nem exercícios.

Fiquei comendo bobagem no sofá,
Namorando meu amor e brincando com os gatinhos,
Assisti meu filme preferido pela milésima vez,
Fiquei horas em blogs de humor, vendo vídeos engraçados...
Dormi como um anjo...

Acontece que o mundo não acabou.

E estou aqui no trabalho, com duas monitorias e todo o sono do mundo tentando escrever um post legal, mas está difícil. Fica para o próximo mês.

domingo, 22 de maio de 2011

Elis Regina e uma afirmação questionável

Sinto que não conseguirei escrever esse texto sem recorrer a alguns bons exemplos de cultura geral e cultura bastante específica. Estruturar o meu questionamento requer comparações, análises menos superficiais - é preciso, talvez, de certa subjetividade para entender aonde quero chegar.

A música é Como nossos pais. O compositor é Belchior e a intérprete é Elis Regina. Na voz dela, tão peremptória e incisiva - ao mesmo tempo doce e carinhosa, porém - ouvimos que "viver é melhor que sonhar", que, dentro do contexto crítico a que se propõe essa canção, é extremamente aceitável. Fosse escrito de outro modo, fosse apresentado de outro modo, decerto a estrutura discursiva se perderia sem que os elementos artísticos dessa obra se revelassem em sua totalidade. Não se pode ignorar, aliás, que dentro da própria canção essa afirmação encaixa-se num paradoxo aparentemente imutável devido à constante retroalimentação do passar das gerações, que parece se mostrar cíclico: por mais que os personagens de quem o eu-lírico fale tentem algo novo, por mais que tracem caminhos diferentes, que saiam às ruas, que relembrem - que sonhem! - eles sempre serão como os seus pais. Se viver é melhor que sonhar, como então a vida pode não se fazer modificar, estagnando as pessoas a situações que as precedem e que não as obrigatoriamente forçam a permanecer de um mesmo modo?

Decerto há argumentos bastante sólidos a respeito do porquê viver é melhor do que se manter à margem da vida, idealizando-a em vez de a consumar. Afirma-se que as experiências de viver, ainda que tragam consequências ruins, são necessárias à formação do indivíduo, pois conseguem construir-lhe uma personalidade, um caráter, moldá-lo de modo que ele aprenda a ter discernimento a respeito das situações. Um sonho, porém, é capaz de modificar o pensamento de alguém em relação às situações que ela obrigatoriamente conhece - assumir que sonhar e viver são antônimos é afirmar que quem sonha não está vivo, o que não se verifica verdadeiro, posto que, para idealizar (aqui intepretado com sinônino de sonhar), é necessário que se conheça a realidade e que se tenha certas experiências de mundo. A busca pelo idealizado, pelo "inalcançável", resulta na percepção de que a vida real não pode conceber o desejo como se lhe quer - inevitavelmente, surge um pensamento crítico a respeito do que a vida pode oferecer e se é justo que ela não ofereça mais.

Alega-se que quem só sonha não vive, só se ilude. Aí, contraponho uma pergunta a essa afirmação: e quem vive, por viver, não se ilude? Por experiência de vida, afirmo que viver é também se iludir, porque a felicidade a que somos submetidos - a felicidade que a vida nos oferece - é em sua maior parte clandestina e alieanadora: chega como não devia e, em vez de exaltar o espírito, apenas encobre a realidade. Esquece-se assim, por causa de breves momentos de felicidade - estes oferecidos por viver -, de tudo aquilo que é fonte de problema; esquece-se, por assumir-se vívido e feliz, daquilo que pouco a pouco destrói o humor, dilacera a obstinação, interrompe os planos e, acima de tudo, perturba a funcionalidade do dia-a-dia. Contraditoriamente, então, de viver oriunda-se a distração da busca por uma vida melhor: é a vida atrapalhando a vida. Se, para Marx, "a religião é o ópio do povo", esse mesmo ópio é, para Schopenhauer, a felicidade. O filósofo alemão afirmava que o homem não deve sentir-se feliz, já que isso não lhe trazia qualquer bem, apenas o afastava de um motivo maior - deve-se, segundo ele, viver para não ser feliz; qual é, então, a função da vida se a felicidade é justamente o que todos buscam?

Os poetas decadentistas preteriam a vida em função do sonho. Para eles, em oposição à música cantada por Elis, "sonhar é melhor que viver": nos sonhos, há a perfeição; a idealização traz consigo o tipo de felicidade que a vida jamais poderá oferecer, haja vista que ela, bastante coletiva e concreta, não faz jus à individualidade - e consequentemente às necessidades e merecimentos de cada ser. Que problemáticas existem nos sonhos se eles acontecem exclusivamente num plano subjetivo e, bons ou ruins, mantêm-se apenas na mente de quem os sonhos? Numa oposição, percebe-se que a vida, considerando esse aspecto, traz mais desvantagens, uma vez que ela oferece fome, miséria, dor, desespero, frio a quaisquer pessoas.

Esse texto se trata, sobretudo, de uma análise, mas também de um desabafo.
Gostaria, agora, de estar sonhando, não vivendo.

sábado, 21 de maio de 2011

Dos filhos ingratos deste solo és mãe gentil, pátria amada.

Sou louca, apaixonada pelo Brasil. Não há outro lugar no mundo onde eu gostaria de viver, a não ser nesta terra abençoada sem furacões, terremotos e tsunamis. Nossas praias são as mais quentes e belas, temos a melhor música, a cultura mais rica, vários climas, paisagens, o melhor futebol... e é essa parte mesmo que me preocupa.

Como é de conhecimento geral, a copa de 2014 vai ser neste país tropical abençoado por Deus. E eu não consigo parar de pensar nesse fato porque temos exatamente três anos pra conseguir o seguinte:

- Demolir todos os estádios e construir tudo de novo. Sim, porque parece que projeto de reforma nenhum tava certo e tão tendo que refazer tudo, porque vai ser gasto muito mais dinheiro do que foi previsto. Pensando bem, melhor arrumar uma área bem grande e construir logo uma cidade nova, cheia de estádios, porque já economiza o tempo de demolir e remover os entulhos. O Maracanã tão destruindo desde o ano passado. Mas pra quem construiu Brasília inteira nos anos 60, é mel na chupeta.

- Armar um plano infalível pra conter a torcida no caso do Brasil ser eliminado. Lembrem-se de que o país inteiro vai estar torcendo pelo mesmo time, e se a torcida de um timezinho só faz o estrago que faz...

Além dos problemas infra-estruturais:

- Fazer a polícia parar de roubar, traficar, bater antes de perguntar, inclusive em idosos e crianças, sem falar em matar antes de perguntar, mesmo porque não dá pra perguntar depois, entre outras coisas. Imaginar a polícia contendo a torcida então... tô pensando em tirar umas férias no Butão durante a copa;

- Fazer com que as pessoas entendam que quebrando um ônibus estão tirando dinheiro do próprio bolso pra consertá-lo, e jogando lixo na rua estão afundando a própria casa no esgoto;

- Construir uns dois mil hospitais e formar uns 50 mil profissionais de saúde, pra dar conta além da população, dos turistas. O que inclui colocar uma cadeira de direitos humanos nesses cursos, pra ver se os profissionais ficam mais humildes, e aumentar o salário deles também, pra ver se pegam gosto pelo trabalho. Isto inclui também aumentar os salários dos professores e formar esse povo pra ensinar, e não pra enfeitar sala de aula com a própria presença, quando está presente.

Não vai caber aqui tudo que tem pra listar. Só espero que ainda caiba nesse país um pouquinho só de consciência de que antes de reclamar dos médicos do SUS, da polícia e dos governantes, temos que lembrar que esse povo é gente que saiu do meio da gente, que nasceu e se criou nesse meio ambiente doente, viciado em achar normal os absurdos que nos rodeiam.
Eu vejo notícias por aí de sistemas de coleta de lixo subterrâneos, sistemas de geração de energia barata, como a eólica e a solar, transportes revolucionários, rápidos e eficientes, técnicas simples aplicadas nas escolas que combatem evasão e dificuldade de aprendizagem, leis que têm fundamento e que funcionam, mas tudo isso fora daqui. Por quê, Deus, se tu és brasileiro? Por quê somos conterrâneos de Bolsonaro? Por quê?
Tô, tô puta mesmo. Tem hora que cansa viver aqui. Sou louca, apaixonada pelo Brasil, e por isso mesmo me dói ver tanta desgraça acontecer por opção. Antes a gente tivesse furacão e tsunami, desastres NATURAIS, e não consequência de burrice.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Nem tão Pequeno Príncipe

Já é sabido que o Pequeno Príncipe cativou a Raposa e ela chorou quando ele partiu. Mas a má língua da Serpente me contou que o que tem lá no livro, na verdade, foi um "pano" que o Exupéry fez pro Príncipe, porque eram muito amigos. A versão da Raposa é um pouco diferente:

- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua - disse o Principezinho - Aliás, esse negócio de ser responsável por aquilo que cativas é o xaveco mais fraco que eu já ouvi.
- Que? Como assim?
- Isso mesmo. Pura projeção da tua carência pra cima de mim.
- Opa, pera lá! Não fui eu quem deitou na relva pra chorar. Por que essa grosseria agora?
- Você foi oportunista aquele dia. No fundo eu sei que você queria ser cativada, mas não quis nem saber se eu queria cativar alguém ou ser cativado Tava na minha e tu veio com esse papo. Cativou por si só e me transferiu a responsabilidade. Quis ser bajulada e nada mais.
- Quando passei, você disse que estava triste. Me chamou pra brincar e disse que eu era bonita… Agora a culpa é minha por ter acreditado em você?
- Tava sem nada pra fazer, quis ser gentil. Olha, eu curti muito te conhecer, de verdade. Até estava entrando nessa de ser cativado e tal, mas esse papo, essa cobrança toda de ser responsável por te cativar deu no saco. Eu não queria nada disso. E você não é única. Eu sou um Príncipe…
- Estou vendo, um Lord…
- … um viajante, deixei a Rosa me esperando em casa e você sempre soube disso, desde o começo. E agora vejo que o melhor a fazer é voltar pra lá. Essa sua vida de responsabilidades e rituais não é pra mim.
- Porque voce é um mané! Chega aqui, se achando o Principezinho, com esse papo doce de que tem uma Rosa, mas ela não cuida bem de você, e a gente acaba caindo feito besta… Pois quer saber? Que vá, que morra sozinho. E fique sabendo também que o essencial…
- Ah não, outra conversa fiada... O essencial é o quê?
- … O essencial é que a tal da Rosa também deve te achar um escroto, mas te suporta por pena, ou porque deve ser uma perdida feito você. Isso não é invisível aos olhos de ninguém.
- Eu bem que te avisei no começo que não tinha muito tempo. Quis te proteger mas você insistiu. Mas não dá mais. Tenho muita coisa a descobrir, muita gente a conhecer… e acho que você deveria fazer o mesmo.

A Raposa virou as costas e saiu pisando duro, chorando, arrasada com o que tinha acabado de ouvir. Sabia que não devia confiar nos homens, quanto menos os que se dizem príncipes. Ligou pra sua amiga, a Serpente, e à noite saíram pra beber. A Serpente bem que tinha avisado à amiga que o cara era problemático, e aqueles papos de morar um planeta distante, da Rosa, de querer se matar… Achava que ele só queria chamar a atenção e a Raposa, que gostava desses tipos misteriosos, acabou caindo na conversa. "Mas bola pra frente, amiga!" A Raposa agora só queria saber de olhar para os campos de trigo e pensar em bons goles de cerveja.


O Príncipe chegou quebrado em seu planeta, por causa da viagem. Só queria um bom banho vulcânico e um abraço da sua Rosinha antes de sair de novo. Mas foi recepcionado por um bilhetinho:

"Saí com uns amigos, não volto hoje.
Deixei as chaves com o Baobá.
"


Era da Rosa.
Entrou em casa, aquele silêncio de sempre. Abriu a geladeira e mais uma vez não tinha janta, só o que tinha era uma garrafa de vinho aberta, meio choco, já. Tirou a rolha e deu um gole largo. Aquele cheiro e aquele gosto de uva velha trouxeram na hora a lembrança da Raposa, de como corriam e riam na relva dos caçadores, dos passeios vespertinos até a vina. Quis saber o que ela estaria fazendo a uma hora daquelas. Se perdeu em pensamentos que até esqueceu do banho e da ausência da sua Rosa. "Porra, cadê a Rosa? Voltei só por causa dela."
Virou metade da garrafa. Mais uma vez, ele nunca se sentia tão só. Lembrou que, na pressa de ir embora, nem trouxe o carneirinho que ganhara do seu amigo aviador, "Puts!".

E então, deitado no sofá, ele chorou.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

"As pessoas grandes são estranhas"

Durante minha aula de hoje, toda a classe entrou em estado de choque quando um dos meus alunos, ao se deparar com uma citação do livro "O Pequeno Príncipe", disse nunca ter ouvido falar sobre essa história. Depois de meia hora falando sobre o livro pra ele, fui questionado sobre o público alvo do livro. "É um livro pra crianças?", ele perguntou. Concluí minha explicação dizendo que era um livro para todas as idades, e acrescentei que o livro tem significados muito diferentes quando lido por uma criança e quando lido por um adulto.

Saint Exupéry foi incrível ao escrever essa história por vários motivos, mas me encanta especialmente sua sensibilidade. Acredito que, nos dias de hoje, seja impossível alguém possuir uma sensibilidade tão pura ao ponto de ainda conseguir enxergar o mundo com a visão de uma criança que tem muito a ensinar pro mundo.

Quem, nos dias de hoje, consegue amadurecer tanto sem perder a pureza da infãncia? O pequeno príncipe nos diz que "somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos". Essa frase, que já foi tão famosa e apreciada no tempo em que éramos crianças, ainda faz sentido nos dias de hoje?

Tenho acompanhado atualmente o caso de duas amigas que sofreram com infidelidades em seus relacionamentos, e, de alguma forma, acabei relacionando a frase do Pequeno Príncipe com os relacionamentos que tenho vivenciado hoje em dia. Acredito que esse conceito de se tornar responsável por aquilo que cativas se perdeu completamente. O objetivo hoje em dia parece ser o de apenas cativar. Indiscriminadamente e quantitativamente. O objetivo é atraiar atenção, é conquistar números, é ser desejado. Ser responsável por isso, não. As academias lotam cada vez mais de corpos esculpidos pelo desejo de atraiar atenção. Os casamentos acontecem hoje em dia em uma demanda inferiormente proporcional à procura pelo divórcio. Quase ninguém mais entende o valor que tem a conquista, a convivência, a responsabilidade um com o outro, o carinho...

Nós crescemos tanto, evoluímos tanto, melhoramos em tantos sentidos. Porque nos permitimos regredir logo nos assuntos do coração? Se voltássemos a ser crianças, certamente iríamos nos achar ridículos por agir de diversas formas que agimos hoje em dia. Afinal, "adultos nunca entendem e é cansativo para as crianças sempre terem que explicar as coisas a eles." - disse o Pequeno Príncipe ao homem.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quem garante que era barro?

Bosta não é um. Bosta é a. A bosta. Uma bosta. 
Pessoa é um. É o. É a também. É mais que dois. 
É todo mundo. Mas não é bosta.
Bosta não é humana. É pouca. Pouca bosta. Não é igual pessoa. 
Pessoa sim é muita bosta. 
E humana.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza de desinventar

É só me deixar bem quietinha, que coração ferido cospe mesmo mágoa na esperança de criar carapaça, porque coração ferido é bicho doido, chora mais que pano torcido, sabe que é hora de calar mas joga fora tudo que é palavra feia, mesmo sem saber que não é isso, que vai passar, sempre passa, mãe vive dizendo essa máxima quando afaga, e a gente sabe, chorando baixinho, que raiva passa, lava a gente e no final tudo fica novo, cheirando a amaciante e pronto pra ser recolhido do varal.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

SOS

Os dias passam rápido demais, não tenho tempo até para o nada. Os sonhos quando se atrevem a aparecer são confusos, entrecortados e ofegantes, como iniciante em uma maratona. Ironicamente quando me lembro tenho sono e as lembranças são insípidas cor cinza que me deixa desesperançado. Para que esse dia seja melhor, o meu remédio é o seu sorriso acompanhado de suas mímicas desajeitamente elegantes, não padeça a qualquer ameaça do meu humor inconstante e peço por gentileza que não suma. Salve-me.

domingo, 15 de maio de 2011

Cativeiro

Falta de noção deveria ser crime. 
 
É óbvio que você conhece alguém do tipo. Gente sem semancol está por toda parte, camulfada de amigo, parente, vizinho ou conhecido. É aquele que pede seu dinheiro emprestado e nunca devolve (e que volta a pedir depois), que aparece sem avisar, que dá em cima do seu namorado, que te faz passar vexame constantemente, que conta seus podres para o pessoal do trabalho, que mal chega e já vai abrindo sua geladeira sem pedir permissão...
 
Não há limites para a criatividade de um sem-noção. E o pior é que ele sempre vem no combo com o adicional Orgulho Zero, tamanho grande. Se você se irrita e fala o que lhe incomoda na lata, o sem-noção interpreta como um momento passageiro de estresse ou tensão pré menstrual, te perdoa (ah, como ele é nobre!) e logo depois volta com a sua falta de setocômetro mais afiada do que nunca. Se você decide evitar o confronto mandando mensagens subliminares, piorou. Um sem-noção "profissa" mesmo não se abate com as suas saídas pela tangente, com as cortadas de caminho que você faz para não encontrar com ele, nem com as mentiras mirabolantes que você inventa para justificar suas grandes escapadas. Pois jamais passará pela cabeça de um sem-noção que alguém queira se privar da sua agradável companhia
. Um ou outro sem-noção de vez em quando entende o recado e seu orgulho dá uma estremecida. Mas aí a coisa se torna perigosa. Pessoas sem setocômetro são famosas por darem escândalo, jogarem a merda no ventilador e se fazerem de vítima.
 
Ou seja: somos reféns dos sem-noção.
 
E onde está a justiça, meu Brasil? Cadê a punição para essa gente desprovida de espelho em casa? Quando é que poderemos sair com as pessoas que gostamos sem nos preocupar em justificar o motivo de não termos chamado aquele chato? Quando é que poderemos nos valer de nossos direitos de que não somos obrigados a agradar a todos? Quando é que poderemos dizer "eu não gosto de você" sem ganhar
 um boneco de vodu com nossas características? 

Nas próximas eleições eu só voto se o candidato prometer que vai colocar um projeto de lei a respeito.
 
Obs: ah, e se você discorda de tudo isso e acha que não conhece nenhum sem-noção, sinto lhe informar: você é um deles, fique longe de mim.

sábado, 14 de maio de 2011

Uma ideia

Ideia para o transporte público paulista (ou de qualquer outro lugar, na verdade): vender os naming rights das estações do Metrô e da CPTM: a empresa paga uma quantia e pode colocar o nome da sua marca junto ao nome da estação por uns anos. O dinheiro então seria usado pra melhorar/ampliar o sistema de transportes.

Já tenho até algumas idéias, ó:
  • Estação Brigadeiro Nestlé
  • Estação Clínicas Pfizer
  • Estação Luz AES Eletropaulo
  • Estação Mooca Antarctica (tem uma antiga fábrica do lado da estação)
  • Estação Angélica Veuve Clicquot  

As estações com nome de time de futebol podem colocar o nome dos patrocinadores dos times:
  • Estação Corinthians-Itaquera Neo Química
  • Estação Palmeiras-Barra Funda Fiat
  • Estação São Paulo-Morumbi BMG

As estações que ficam juntas ou próximas de shoppings, podem incorporar o nome de uma vez:
  • Estação Shopping Metrô Tatuapé
  • Estação Shopping Metrô Santa Cruz
  • Estação Prefeito Celso Daniel-Santo André Grand Plaza Shopping 

Enfim, vocês entenderam a ideia, né?


Alckmin, não precisa me pagar nada pela idéia, aceito um bilhete único que me deixe andar de graça como forma de agradecimento.


***

 Por falar em metrô, anúncio que saiu ontem no Metrô News:

DESQUITADO 1,76M; 76KG dos Jardins, procura moça, + de 50 anos, magra, alta, saiba informát. e inglês, não trab., não fume, não tenha filhos menores nem animais. Goste de viajar, viver e amar. Carta c/foto p/cx postal 27014 CEP 04007-970 a/c de Sonhador, todas serão respondidas.
Só não descobri ainda se ele quer uma namorada ou uma secretária. Talvez as duas coisas, né?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

abandono e reencontro no semáforo

até o rapaz verde 
do sinal de pedestres
às vezes parece 
estar com pressa

embora ainda peça
que a gente continue à sua espera
os pedestres da faixa não
gostam desse tipo de brincadeira

o rapaz em pé do outro lado
verde e vermelho pra sempre parado
sem nenhuma paciência 
pra ficar

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Detrás do casebre melancólico


Bem além das avenidas intragáveis, dos conglomerados amargos;
Distante da muralha impenetrável;
Longe da incompreensível montanha,
Da intolerante cordilheira,
E daquele descampado raquítico;
Depois das águas nebulosas;
E além do céu tempestuoso, enfurecido;
Afastado de toda construção bárbara;
De qualquer paisagem atroz, qualquer caminho desumano...

Deve haver uns lampejos de cores. Depois do casebre melancólico.


'Vivamos em paz
Porque tanto faz
Gostar de coelho
Ou de coelha...'
Cidadão-Cidadã (Jorge Mautner)



Na fotografia (de Laura Ralola): Paulo e Camila Dias

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Convite: open house

Convido os amigos e amigas que escrevem, lêem e comentam nesse blog coletivo para a festa de inauguração do meu novo apartamento.

Dada a dificuldade em marcar uma data e horário compatível para todos e todas, sintam-se à vontade para visitar quando for mais conveniente. Nem precisa avisar antes! Basta descer no terceiro ponto de ônibus após o cruzamento da avenida e subir ao terceiro andar à esquerda.


 Se eu não estiver por ali, por favor não hesite abrir a porta, entrar e tocar os dedos na parede cor tomate seco do corredor, observando nossa coleção de quadros e penduricalhos.

Espero que você tenha gostado do meu enfeite que imita um tapete árabe e contém aquele símbolo turco que espanta olhares malvados.

 
Escolhemos esse para a porta da frente porque só queremos que entre quem nos deseja bem.

Sente onde quiser. Pode ser no sofá-cama, na poltrona decorada com meu pano de Angola ou na poltrona branca. Mas já aviso que essa é um pouco desconfortável...

Desculpe não ter televisão. Ouço o jogo pelo rádio, agora. Sempre foi mais emocionante né?

Você tem sede? Quer algo para beber? Temos pisco chileno (clássico, envelhecido ou sour), mas se você preferir algo mais cremoso tem essa garrafa de crema de orujo, um licor delicioso que vem lá da Galícia.

Se tiver fome, podemos pedir uma pizza, já que o fogão ainda não chegou. Mas olha, água tem à vontade, acabamos de instalar o filtro novo.

Vem aqui, vou te mostrar meu quarto, fica no fim do corredor.



domingo, 8 de maio de 2011

Verborrágica:

Pessoa que fala sem parar, normalmente coisas de pouco conteúdo ou importância.
Algo que dava para resumir em uma frase.
Mas ela não consegue concluir, e continua.
Quando você dá graças a Deus por pressentir um ponto final,
era só uma vígula,
E a essa altura você já parou de prestar atenção.
Sua cara de desespero parece cara de interesse, e a pessoa se empolga.
Fala, fala e fala.
Não tem fim, ela se perde, começa a repetir o que dizia no início.
Diz tudo o que passa pela cabeça,
coisas que você não quer saber,
sobre gente que você não conhece.
E quando parece que dessa vez realmente vai acabar.
Começam as palavras difíceis, eloquacidade exagerada, logomania.
Falar, falar, falar...

sábado, 7 de maio de 2011

Tem fogo?

Texto de: Marcelo Antunes.

Começar a escrever, mesmo para quem gosta, nem sempre é tarefa agradável. Confesso que, nos últimos tempos, dona Inspiração não tem dado muito as caras para o lado de cá, e produzir um texto, por mais bobinho que seja, tem sido trabalho árduo para mim. Na realidade, meu grande problema é mesmo o início. Depois, eu pego no tranco e, quando vejo, lá o ponto-final, cravado e, graças a São Machado, mais um trabalho concluído.

Quando o Luís me contou sobre o convite para escrever no Blog das 30 Pessoas, a primeira pergunta que me ocorreu foi essa: “Eu posso escrever sobre qualquer tema ou há um assunto determinado?” . Ele então, me explicou que variava muito. Em alguns meses, o tema era livre, em outros, a equipe escolhia um. Para maio, por enquanto, não havia nada fechado, embora houvesse uns buxixos que o tema das postagens seria ele. A chaminé do diabo. A chupeta do capeta. Ou, para os mais íntimos, o bom e velho cigarro.

Eu sou de um tempo - quem espalhar, leva porrada - em que comerciais de cigarro eram exibidos, em qualquer horário, na tv. Lá estava o moleque assistindo a Turma do Balão Mágico ou o Xou da Xuxa quando entrava no ar a propaganda do Hollywood, com seus caras bonitões cercados de moças gostosonas, todos felizes, andando de jipe, saltando de paraquedas ou voando num balão, embalados por uma trilha sonora bem chiclete. Uma que ainda está bem viva na minha memória era a que tinha Miles Away, do Winger: “Miles away, no, you're turnin' back/ And I just can't wait anymore/ Miles away, nothing left of what we had/ Just when I needed you most/ You were miles away”. Eu me amarrava na propaganda e, ficava ali, me imaginando no meio dos bonitões e das gostosonas, ora no jipe, ora no paraquedas, ora no balão. E nem por isso me tornei fumante. Prova de que uma coisa, nem sempre, tem a ver com a outra. By the way, se tivesse que ter sofrido algum tipo de influência, nesse sentido, ela teria vindo de dentro da minha própria casa: minha mãe fumou por 30 anos, a despeito da turma do contra - marido e filhos. Cresci vendo meu pai lhe oferecendo mundos e fundos - casa na praia, carro novo, viagem nas férias - para que ela abandonasse o “maldito”. Ela dizia que começou a fumar por vontade própria, e se, um dia, tivesse que abandonar o “hábito”, seria da mesma forma. Vale ressaltar que no tempo da mamãe, não havia as propagandas sedutoras do Hollywood (“Hollywood, o Sucesso”). Tá, havia o cinema com seus astros e estrelas, sempre ostentando um cigarrinho charmoso entre os dedos, quase como um coadjuvante. Afinal, como esquecer de “A Estranha Passageira” (ok, mamãe ainda nem tinha nascido), onde o Paul Henreid acende dois cigarros na boca, entregando um para a Bette Davis? - confesso, sempre quis fazer isso. Reza a lenda, aliás, que o gesto foi improvisado por Henreid na hora e que o jeito de Davis fumar foi imitado por décadas pelas mulheres e travecos americanos.

Hoje há patrulhamento para tudo e é raro encontrar personagens fumantes em filmes e novelas. Comercias do gênero foram banidos. Não tenho exatamente uma opinião formada a respeito, mas admito que tenho saudades desse tipo de propaganda. Foram as mais bonitas que já vi. Pelo menos, é o que a minha memória de criança guarda.

Minha mãe parou de fumar do jeito que sempre quis. Um belo dia levantou, deu na veneta e falou que não queria mais saber daquilo. Jogou o maço fora e nunca mais pôs um cigarro na boca.

Ah, só pra constar: ela não ganhou casa na praia, nem carro novo, nem viagem nas férias, coitada.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Respeito.

E aí pessoal do Blog 30 Pessoas? Bom, como eu tive que entrar correndo para o post desse primeiro mês, vou deixar aqui um texto meu bem recente, na verdade escrito ontem, porque não tive tempo de preparar algo especial. Pra quem não me conhece, sou cinéfilo dedicado e fã de música ao extremo. Especialmente música pop. E, como vocês já devem saber, ontem, sob a esperada chuva de críticas, saiu “Judas”, obra daquela que é, na minha humilde opinião, a grande artista pop do nosso século: Lady Gaga. Não me importo com as críticas. Só não gosto de julgamento precipitado. E é pra algumas dessas pessoas cheias de preconceitos que vai o texto abaixo. Veja bem, não é para todo mundo que não gosta de Gaga ou não gostou de “Judas”. É só pra certos argumentos. Se a carapuça servir… Façam bom proveito e até mês que vem. (:

Só é respeitado quem respeita. Eu não queria lavar a roupa suja nem aqui nem agora, mas foi você quem a sujou, e já é ruim o bastante que eu tenha que ser aquele que vai limpá-la. Então vai ser do meu jeito. Antes de qualquer coisa, deixe-me contar sobre mim mesmo um pouquinho: a coisa que eu mais desprezo nesse mundo cheio delas se chama preconceito. E não só comigo: tomo as dores dos outros, mesmo! Eu não me importo que você desaprove o comportamento de alguém, as escolhas de vida de alguém, mas liberdade acima de qualquer coisa. E por mais que você não concorde com alguém, esse alguém tem a mesmíssima liberdade de expressão que você, e o seu Deus (que é também o meu, lembre-se) deu a ele o mesmíssimo livre arbítrio.

E pode ser que não para você, que não as viver, mas pergunte por aí e você vai descobrir que toda forma de amor vale a pena, sim. O amor é algo belo demais para caber num livro de regras. Amor não se dita, não se prende, não se julga (por favor, ênfase no ‘não se julga’): amor se vive, se sente, e jamais se explica. Então não saia por aí dizendo o que é certo e o que é errado, o que é amor e o que não é. Você, em toda sua vida, assim como eu e qualquer outro ser humano, vai ter ou já teve a sorte de conhecer muitos tipos de amor, mas nem o boêmio mais sábio do mundo vai poder chegar perto de dizer “eu sei o que é”. Porque o amor é muitos em um. É um infinito dentro de outro, e mais outro, e mais outro… E quem é alguém para dizer que conhece o infinito?

Então, talvez seja isso que eu queira dizer: que fingir se conhecer e estar seguro de absolutamente tudo é uma enorme besteira. Eu às vezes me surpreendo com as linhas na palma da minha mão, que dirá com os recônditos do meu espírito. Não diga “sou forte”, porque isso te faz um fraco por não ter admitido a própria fraqueza. Ao contrário, brade com orgulho: “eu erro!”. Só se admitindo frágil você é capaz de encontrar alguma resistência as agruras do mundo. E deixe que ele atire suas pedras: antes um homem massacrado pela própria honestidado do que um sobrevivente mentiroso.

Eu lhe pergunto: quem queres ser? Seu (nosso) Deus, cuja língua não mentir nem quanto as próprias fraquezas, e acabou crucificado? Ou Judas, o mentiroso recompensado? Então pare, pense, veja, forme uma opinião, mas acima de qualquer coisa, respeite! Todo mundo tem direito a se expressar, inclusive você. Inclusive ela. E inclusive eu.

Lady-GaGa-Judas

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Economia política dos afetos


Troca-se a sala de estar ou a sala do cinema pelas salas dos chats. Troca-se a rede de dormir pelas redes sociais. E assim o coração vai ficando cada vez mais digital. O amor através de logins e senhas. Oferta-se flores nas janelas do MSN em vez de comprá-las na floricultura da esquina com perfume e presença. Não há contemplação nas janelas das casas. Há dezenas de janelas abertas nas telas dos computadores. Eros através de milhões de pixels, acertando flechas a cada teclada, em cada discurso platônico, cada imagem multifacetada. Hoje não se segue por ruas compridas a fim de que se possa receber um abraço. Segue-se no twitter. Ninguém dá bom dia boa tarde boa noite, mas todos querem ser seu amigo no Facebook, Orkut. Quepassa?

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Cleyton Cabral

terça-feira, 3 de maio de 2011

Respeito o cacete

Eu sou meio desconfiada mesmo. Não a ponto de não querer tomar a vacina para gripe suína como muitos por aí, mas não é qualquer remédio que vou colocando na boca.
Meu irmão ri de mim quando digo que não acredito que o homem pisou na lua. Culpa de uma revista que eu li ainda jovem que contestava a autenticidade daquelas fotos da marca do pé do astronauta, da bandeira americana fincada em solo lunar, entre outras. É, fazia sentido. Mas e.t de varginha? Sim, eu acredito.

Adoro todas essas polêmicas e teorias conspiratórias bobas. Paul McCartney morreu e foi substituído por um sósia? Os filmes da Disney são cheios de mensagem subliminar? Elvis não morreu? O aquecimento global é uma fraude? E agora por último: Bin Laden continua vivo?

Poxa vida, né? Bin Laden é supostamente morto, junto com seu filho, esposa e o diabo a quatro e o exercito depois de atirar em quem estivesse na frente resolve respeitar o algoz e enterrá-lo conforme manda sua religião, antes de 24 horas, e ainda por cima joga o corpo ao mar. Ah, vá. Quase uma piada pronta.

Quero fotos! Quero corpos! Estilo Tiradentes se for possível. Por que as cabeças dos filhos Saddam Hussein estamparam jornais do mundo inteiro e com o Osama tem esse protocolo todo?

Não chocar a população? Qualé, temos Datena na rede aberta de TV. Só se for pra não chocar o Bush. Porque sim, às vezes eu acredito naquela teoria que os dois eram super amigos.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

20 formas de um jornalista sentir um orgasmo

Gostaria de dividir com vocês um texto sensacional de um blog que eu venero chamado Desilusões Perdidas http://desilusoesperdidas.blogspot.com/. Vale muito a pena conferir.

Aí vai:

20 formas de um jornalista sentir orgasmo

1. Publicar aquela “puta história” antes de qualquer outro jornalista.

2. Pegar o jornal do dia e ver o seu nome estampado na capa.

3. Mostrar o seu nome estampado na capa para o vizinho invejoso.

4. Entrevistar aquele cara que odeia falar com a imprensa depois de três meses de insistência.

5. Acabar a matéria a 1 minuto e 37 segundos do fechamento.

6. Saber que a(o) nova(o) estagiária(o) gostosa(o) vai trabalhar ao seu lado.

7. Desligar o computador após um longo dia de ralação.

8. Pagar todas as contas do mês sem atraso.

9. Ter qualquer credencial pendurada no pescoço.

10. Ter a pergunta elogiada pelo entrevistado numa coletiva de imprensa.

11. Receber o pagamento de um frila no dia combinado.

12. Comer pra caramba numa boca-livre chique e ainda deixar o local com uma quentinha.

13. Descobrir que vai folgar justamente no fim de semana da tão esperada viagem com os amigos.

14. Ser rendido por um colega após 12 horas de plantão na porta de um hospital.

15. Ter a confirmação de que seu nome não está na lista do passaralho da vez.

16. Escutar de um leigo: “Deve ser o máximo ser jornalista, hein?”.

17. Saber que o doutor Gilmar Mendes foi assaltado.

18. Chegar em casa às 5 da manhã depois de um pescoção e encontrar sua mulher sozinha na cama.

19. Chegar em casa às 5 da manhã depois de um pescoção e conseguir fazer sexo.

20. Ouvir do editor: “Parabéns, você está contratado. Pode começar agora?”.

domingo, 1 de maio de 2011

primeira pessoa

de repente você acha que está se expondo demais e tenta ficar mais recluso. face aos vários acontecimentos recentes, você decide falar somente o necessário. não quer se envolver afetivamente com ninguém, nem mesmo estabelecer fortes laços de amizade ou manter um emprego fixo. quer passar um tempo vivendo na superficialidade das coisas, sem compromisso ou cobrança. você vai morar com pessoas estranhas, vai conviver com pessoas estranhas e, de repente começa a ler a respeito do amor romântico e seus desdobramentos. de repente você vê que está ligado muito mais do que queria. aqueles colegas se tornam amigos de infância, aquele curso te cobra mais do que imaginava e aquela paixão fica cada vez mais séria. não, obrigado, não quero cometer o mesmo erro duas vezes seguidas. medo, pode ser. os doces bárbaros já disseram há anos, o seu amor, ame-o e deixo-o viver em paz. a distância parece colaborar. o coração, não. as mensagens pelo facebook, não. o celular, não. de repente aparece alguém para atrapalhar. uma terceira pessoa. você tem a sensação de que está sobrando, mas não quer atrapalhar o instinto natural-animal. você tem a certeza que está sobrando. você sai, vai dar uma volta e de repente aparece alguém para atrapalhar. uma quarta pessoa. e daí você percebe que paixão é muito mais que uma noite na festa de um amigo do amigo de um amigo qualquer. você é cobrado, você é alvo de ciúme, você é chamado para dar uma volta. você é questionado se quer trocar alguém por alguém. você diz que não e as coisas parecem se repetir a cada dia. insegurança, paixão, insegurança, amor. aí você percebe que não tem mais controle da situação e entrega os pontos. porque na verdade não existe segunda, terceira, quarta pessoa. o que existe somos nós e nós somos primeira pessoa. que seja do plural, mas ainda assim, somos primeira pessoa. e nós, como primeira pessoa, decidimos que segunda, terceira, centésima milésima pessoa do singular ou do plural, não importa, nenhuma delas vai acabar com o que já está feito, com o que já está consumado, com o que foi criado por nós. e então decidimos seguir juntos, perto ou distante, se expondo ou não, curtindo ou não, badalando ou não. mas juntos. até que a vida - a nossa vida - nos separe.