sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Querer



Quisera ir-me

Ao lado oposto

Do bem querer

No desencontro

Do meu gostar

Alí afora

Do meu sentir

E me encontrar

No esquecimento

Por onde andam

Minhas lembranças...

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

" A música me ensina profundamente uma audácia no mundo de sentir-se a si mesmo "

Ainda tenho tempo, mesmo atrasada escrevo. Escrevo por necessidade, por liberdade e amor. Amor que só eu entendo, amor pela vida, amor simplesmente. Escrevo por ser minha forma de liberdade. Por vezes, bem melhores quando escritas, rascunhadas em papéis que não rasgam, assim as palavras me cabem melhor. Sei lá, a tempos não sentia isso, vontade de escrever, assim e aqui. Hoje, diferente dos outros dias a vontade bateu, cresceu, vingou e está aqui, em ação. Então escrevo...

E como sempre, é na hora, é o que é, é o que eu sinto, é o que vem a mente. E lendo mais um livro da Lispector (só pra variar um pouco) Um Sopro de Vida me deparei com a frase que se fez título. Parei, pensei, lembrei. E como sempre a salve, salve tem toda razão, tenho aprendido tanto com a música, com a disposição em ouvir ou melhor saber ouvir ou aprender a escutar. Por que embora não pareça existe uma diferença enorme entre ouvir e escutar. Mas isto é história, assunto de Assistente Social e agora não tá!? Noutra vez explico, hoje é música, a importância da música, o espaço ocupado pela música.

Eu não sei se alguém consegue, mas eu não consigo ficar um dia sequer sem ouvir alguma música. O meu dia começa e termina com música. Desde São Sebastião da Grama, quando meu pai nos acordava com barulho de rádio. É de lei, meu pai ao acordar a primeira coisa a fazer é ligar o rádio, e ouvir música. Toma banho, faz barba, penteia o fiapos de cabelo, com rádio ligado, agora mais muderninho é cd. Nunca desde o tempo que convivi com ele a rotina foi alterada. E dali nos ouvidos Roberto Carlos, Amado Bastista, Fagner, Wando (ainda existe? joga calcinha pra mulherada? afi) Chitãos e Chororos, Zezés di Carmargos e duplas e mais duplas e o bendito do forró e perolas mil. De todos o que mais lembro é Tetê Espíndola e aquela música horrível que na voz dela, voz mufina é feia demais "Escrito nas Estrelas", enfim nenhum apreço as canções do pai, que até hoje é alegria de toda manhã rs.

Vamos para a mãe, na fita cassete era Roberto Carlos, Simone, Elton John, David Bowie e uma série de "cantores internacionais" que não lembro nome, mas só de ouvir na hora sai "ahhh minha mãe adora essa canção/cantor rsrsr". Ok, melhorou, tinha o rádio também e aquela coisa hiper brega de Love Sons Cidades, lê a carta e tal, e chora as pitangas do coração e bláblá e aquela cara de quem viu o pássaro fugir, o suspiro apertado no peito e "ufaaaaa" que romântico! Tinha a Alpha FM, Nova FM, Antena 1 e não sei quantas mais, mas não deu de novo!

Crescendo, crescendo, ouvindo, escutando, escutando, ouvindo. Cidades e mil e uma mudanças, feito nômade sabe? Filha de caseiro é assim mesmo, não tem chão, casa, não tem segurança é mudança. Chegamos em Caraguatatuba e a vizinha e suas músicas estranhas, Gal Costa, Marina Lima e Marisa Monte e mais outras tantas. Espiava do buraco que tinha no muro e o começo do ouvir/escutar algo que muito agradava. A ponto de chegar da escola, e ir para o muro, prá saber que música ela estava escutando ou ovindo...passou, não gravei mudei de novo e perdeu-se.

Agora em Diadema, mocinha querendo amigos, agora era de tudo. Toda e qualquer música. Era Rap, Black, House (ainda existe?) Eletrônico e não sei quantos ritmos, músicas possa sonhar. Uma mistura de tudo e nada, classificação zero. O lance era dançar fechar os olhos e ouvir, nada de escutar, era ouvir, ficar perto da caixa de som e deixar aquilo tudo dominar. Talvez por isto, a surdez de hoje, mal de um ouvido. Mudanças de bairros até chegar o Chico, ah Chico, Chico seu Buarque. Escutei, quer dizer ouvi e escutei, gostei e escondi por anos. Ninguém da minha idade ouvia isso, e se eu fosse pega ouvindo, seria o fim. Nada de fins de semana virados, curtindo de tudo. E mais uma vez foi-se, passou, mudei de novo, agora São Bernardo do Campo.

Para quê tudo isso? Pra dizer que não havia classificação e tudo requer paciência, tempo para saber a diferença entre ouvir e escutar. Classificar o que de fato agradava, fazia brisar, sair de mim. Hoje mantenho o hábito do pai, herança boa a gente não nega, mas sem a lista que julgo brega, sem nenhuma das canções da mãe, sem quase nenhuma quando adolescente. Tudo sofrendo uma reviravolta, se transformando e sendo transformado, conhecendo gente e aprendendo a escutar, ouvindo e guardando, e sabendo que isso não para nunca. E hoje morando em São Paulo...

Sempre tem aquela música que lembrou aquela fase, aqueles amigos, aquele tempo. Algumas foram, outras ficaram, outras por vir. Mas sabe o que deixa mais feliz? Saber que hoje aprendi a ouvir e a escutar, mas principalmente "a audácia no mundo de sentir-se a si mesmo" através da música, sendo constantemente alterada, às vezes ouvindo e listando fora, às vezes escutando e listando para vida toda e vice e versa.

E acabou meu tempo. E sim! Mesmo com a mistureba do Rock in Rio, queria estar lá e ouvi-los cantar (só pra mim tá! :)



Coisa Linda !


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

a estrangeira da vez

Vou começar esse post com a cara do Gato de Botas do Shrek pedindo perdão pela ausência macabra do mês passado.


Mas, por maior drama que seja esses olhinhos, eu tive meus motivos. Estou morando na Argentina, cidade de La Plata, até dezembro. Vim por intercâmbio de universidades. E próximo ao dia 28 do mês passado, a vida estava um caos. Não tinha casa, o hostel que eu estava não tinha mais vaga e só me restou ir passar uns dias de favor na casa de uma amiga, sem internet.
Enfim, agora tá tudo lindo, tenho casa e vida :D

E a vida, essa sim, está bem louca. E nesse post vou apresentar um pouco dela para vocês.


Essa é minha cara de alegria ao me deparar com esses 16 bichinhos incrivelmente maravilhosos, pelo gracioso preço de 8 dólares. Com o dólar a R$1,60 , foi como ouvir sininhos de alegria tilintando enquanto eu vomitava arco-íris. Um prazer sem tamanho no freeshop do Uruguay.


Um choque. Não entendo o porque de inventarem um novo nome pros Smurfs. E não é dificuldade de fala. Juro que não entendo. Da mesma maneira que eu não entendo porque raios a Chiquinha do Chaves chama Chiquinha no Brasil, enquanto nos outros países latinos ela chama Chilindrina.


Oi, meu nome é Tábata Romero. Ou melhor, Tábata Alecrim.


Isso é mate. Uma garrafa térmica com água quente, um pote com açúcar e outro com herva. E isso é uma praça. Uma das coisas mais lindas daqui é as pessoas se encontrarem na praça pra tomar mate. E isso é diário! Aos domingos é ainda mais lindo, pois vai a familia toda, levam comida, sentam no chão, jogam bola, empinam pipa... É lindo, mesmo!


Loucademia de Polícia versão argentina. Pelotudo é uma expressão para, aproximando bem, pé-no-saco. Mas é mais forte, pois pelotas = saco escrotal. Então, não é nada suave.


Isso são arepas. Um bolinho assado ou frito de fubá. Se prepara como se prepara o angu, mas depois faz bolotinhas e coloca na frigideira com ou sem óleo. E se recheia com o que quiser! Essa comida é típica da Colômbia e Venezuela, não existe na Argentina. Conheci com três venezuelanas encantadoras que estavam no hostel. Elas disseram que comem no café da manhã, almoço e janta. A todo tempo. Eu entendo, pois é uma delícia, fato.



Bom, tenho muito mais o que postar, mas né. E eu juro que no mês que vem eu compenso com um texto bacanudo! ;)

domingo, 25 de setembro de 2011

Títulos nunca foram o meu forte

Final de ano, final de curso. Isso tudo tem me dado uma sensação tão grande de final de vida. Como se eu já tivesse velha o suficiente para não ter mais chance às possibilidades e maravilhas Dela. Tá bem, eu conheço aquelas antigas amigas frases “nunca é tarde demais”, “o que conta é a juventude do espírito”. E, quer saber? O problema é exatamente esse. Ganhei de aniversário um livro do Gabriel García Marquéz que se chama “Memórias de minhas putas tristes”. O senhorzinho, no ano de seus noventas anos, quer se dar de presente uma noite de amor com uma adolescente virgem. Sua mãe, antes de falecer, pediu que ele se casasse cedo e, aos noventa anos, ele não se julgava velho, por isso a negligência quanto ao pedido materno. Ele diz em alguma parte do livro, que agora não me vem à cabeça, a seguinte frase – que, por sinal, caiu feito uma luva – “A idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente." Vocês devem estar se perguntando “Que idade essa pessoa desesperada tem? 97?”. Bom, exatamente no dia 06 de setembro, às duas horas da manhã, completei meus 22 outonos. Mas desde novinha sinto o peso de uma idade muito antiga nas minhas costas, ou melhor, na minha cabeça. O motivo, que nunca soube, me arrasta sempre pra essa fossa irracional. Por que, afinal, eu estou nova e tem esse mundão todo de meu deus me esperando para provar cada detalhe – seja doce ou amargo. E como nunca é tarde (ou cedo) para fazer listinhas de metas para o ano, vou tatuar o presente na minha alma, corpo e boca e tentar (e por que não? SER) feliz, nesse acende-apaga contínuo.

Chavão Abre Porta Grande

Ney Matogrosso

(...)

Lembre-se

Quem não vive tem medo da morte

Quem não vive tem medo da morte

Quem não vive tem medo da morte

http://www.youtube.com/watch?v=wS2nSaUW5aw&feature=player_embedded

Ps. Bárbara Mançanares ainda está tentando se convencer.

sábado, 24 de setembro de 2011

Anos depois

- Alô.
- Oi. Boa tarde, eu gostaria de falar com a Fabíola.
- Fabíola? Não tem nenhuma Fabíola aqui.
- Esse não é o telefone da Fabíola, fisioterapeuta?
- Não, este é o celular da Daniela.
- Ah, desculpa. Eu peguei esse número com uma amiga. Bom, desculpa.- Tudo bem.
- Tchau.
- Tchau.



- Alô.
- Oi. Sou eu de novo.
- Eu já falei que esse telefone não é da Fabíola.
- Não, eu sei. É que...você não sabe quem tá falando?
- Olha, eu não tenho tempo pra isso...
- Não, espera.
- ...
- Daniela, é o Paulo.
- Que Paulo?
- Ô, Dani. O Paulão!
- ...eu não conheço nenhum Paulão.
- O Caxias.
- Não!
- Eu mesmo, Dani!
- Paulão! Quanto tempo!
- Eu sei! Anos, né?
- Pelo menos uns cinco...
- Quatro. Teve a vez na casa do Caveira.
- É...nossa. É muito tempo, Paulo. Que coincidência estranha!
- Então...Acho que não foi coincidência, não.
- Ah, não?
- Não...Eu tô precisando fazer fisio por causa do meu joelho e a Márcia falou que conhecia uma mulher que podia me ajudar.
- Peraí. Qual Márcia?
- A Marcinha. Figueiras.
- A que estudou com a gente? Vocês ainda se falam?
- A gente se vê de vez em quando. Ela acabou casando com o Serginho.
- Eu lembro de ter encontrado ela numa festa ano passado. A gente trocou telefones, mas nunca se ligou.
- Então. Eu acho que ela me deu seu número de propósito.
- ...
- Dani?
- Oi. Tô aqui.
- Que foi?
- Nada.
- Achou ruim ela ter me dado seu telefone?
- Não. É que...
- O quê? Fala.
- Faz muito tempo, Paulo.
- Eu sei, Dani.
- Aconteceu muita coisa.
- É...inclusive quando a gente tava junto.
- Bastante coisa.
- Então.
- Eu casei, Paulo.
- ...
- Pronto, falei. Casei.
- Como casou, Daniela?
- O que aconteceu com "Dani"?
- Me responde. Como assim, você casou?
- Casei, ora. Você não quis mais nada comigo, casei.
- Não, Dani...
- Casei.
- Com quem?
- Ah, Paulo...
- Daniela.
- Hmm.
- Com quem?
- Com o Gerson.
- Ah, não.
- Foi.
- Eu que apresentei vocês!
- É.
- Puta que o pariu. Você não tem vergonha?
- Vergonha. Vergonha de quê? Você que terminou comigo, Paulo!
- Mas faz tempo isso. Ah, eu não acredito!
- Claro que faz tempo! E era pra eu fazer o quê? Ficar sozinha?
- Não, mas...Porra. o Gerson?
- O Gerson. E para de falar palavrão, que eu não gosto.
- Vá se foder.
- Idiota.
- Sou mesmo. Sou mesmo. Te liguei agora todo contente e você me dá uma dessas!
- Ah, e tudo gira ao seu redor, né? Se eu casei com o Gerson, foi só pra poder te falar isso, quando você eventualmente me ligasse, anos depois.
- Cadê ele? Eu quero falar com ele.
- Mané falar com ele.
- Nossa, Daniela. Eu arrebento ele. Eu mato.
- Mata? Faz-me rir. VOcê não mata nem mosca, Paulo. Nunca matou.
- Pois eu mato ele. Bota ele no telefone aí.
- Cala a boca. Não tem nada que falar com ninguém.
- Cadê esse merda? Eu juro, Daniela. Faço uma loucura.
- Faz então. Faz. Tô nem aí.
- Cacete.
- Para.
- ...
- Olha, vou desligar. Tenho mais o que fazer.
- Escuta. Espera. A Márcia passou seu número pra mim por uma causa.
- Foi. Porque ela sempre foi uma enxerida.
- Tá. Mas espera.
- Hmm.
- Ela deve querer que a gente se reencontre.
- Ai. Ainda com essas ideias de destino?
- Não. Me ouve.
- Se falar em alinhamento dos planetas eu desligo.
- Escuta, cacete.
- Para.
- Ela sempre gostou de você. E de mim. Lembra? A gente sempre tava junto.
- Porque você tinha carro, só. Aquela interesseira.
- Mas a gente se divertia.
- Se divertia, mas passou. E eu casei.
- Eu casei. Eu casei. Troca esse disco, Daniela. Já entendi, porra.
- Para de falar assim.
- E cadê ele? Cadê o merda do Gerson?
- Num interessa.
- Como não interessa? Hoje é sábado e ele não tá aí?
- Paulo.
- Cadê? Tá no jogo?
- Droga, Paulo. Eu separei dele.
- Como é que é?
- Separei. Divorciei. Tá contente agora?
- Separou. Separou por quê?
- Porque era um lixo. Idiota. Tá contente agora?
- ...
- Paulo!
- O que, Dani?
- Você tá sorrindo, né?
- ...
- Seu filho da puta.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nem luz, nem câmera.

Eu gosto de sentar na praça e observar as pessoas. Não só com os olhos, eu gosto de analisar cada característica e montar a vida, o jeito, os costumes delas. Uso os olhos só como lente que capta, o cérebro faz a parte divertida.

Vi uma mulher que me chamou atenção. Usava roupas coloridas e meio maltrapilhas, mas não era mendiga. Andava bem devagar, como que fraca por alguma doença e pela idade, devia ter lá seus 55 anos. As pessoas muito pobres, com 55 anos, aparentam 70 ou mais. As rugas mostram, cada uma, um grande sofrimento.
De repente, atravessou a rua e comprou uma coxinha, às 7 da manhã. Provavelmente era a primeira coisa que comia no dia. O que ajudaria também explicar a aparência, alimentação ruim não prolonga a vida. Tinha um semblante triste, devia ser sozinha, imaginei que tivesse tido filhos que cresceram e foram viver suas vidas. Pra isso, ela teria que não ter sido uma boa mãe. Parecia realmente ser desleixada, descuidada. Difícil uma pessoa que não se cuida cuidar dos outros. Sua expressão, seus movimentos, me passaram alguma espécie de arrependimento, rancor, algum sentimento derivado de experiências difíceis. 

Pode até parecer preconceito, julgar as pessoas pelo que aparentam. Mas acho que é um exercício de percepção, ao mesmo tempo que tenho que lembrar que pode não ser nada do que eu imaginei. A vontade que dá é de ir lá e puxar qualquer assunto, pra ver o que dá pra colher, na esperança de confirmar pelo menos uma parte da pintura que fiz. Escrevo romances, comédias e dramas instantâneos, em milésimos de segundos, durante o tempo que uma pessoa passa por mim na rua. Interessante é imaginar quantas pessoas fazem a mesma coisa e de quantos filmes eu já fui protagonista. Cada um com sua lente, seu elenco, seu roteiro.

Só pra ilustrar, mas juro que não me inspirei nessa música, acabei de lembrar dela.


ME SENTO NA RUA

Me sento na rua em frente às horas
Como a qualquer hora, assim mesmo eu sou
Sou de qualquer jeito, nem tudo eu respeito
Pr'onde for o vento eu vou

Pano de mesa, pano de chão numa metrópole rasgada
Sou filho do nada costurada em meio-fio
Desfilando pela calçada
Todos num vão cheios de vazio
Divagando na estação, mas nem tão devagar
Saí com tanta pressa que larguei meu anjo da guarda por lá

(...)

Tô cercada de vizinhos e cada um sabe um lado meu
Todos, tantos, um só, nenhum
Fui me compondo, todos eu
Se você ainda quiser saber como eu sou, me encontrar
Pode me procurar

(Ana Carolina)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Espetáculo

Se quer mesmo me amar
Que seja nos bastidores
Assim discreto, na surdina
Não deixa a platéia subir no palco
E ver por trás da cortina

Mas não.
Você adiantou suas falas
Fez do monólogo um desabafo
Quis as rosas antes das palmas
Deixou o público estupefato

Então desce desse palco
Se esconde no camarim
Enquanto eu rasgo e jogo ao vento
Esse esboço de roteiro
Que desisti de dar um fim

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um velho de ouro com um relógio de luto

Um velho de ouro com um relógio de luto. Era assim que todos descreviam Geraldo na vizinhança desde que sua esposa falecera. O relógio, que foi seu último presente de aniversário à amada, nunca mais sairia de seu punho. Não gostava muito do título "de ouro". Ele nunca gostou muito de dourado. Mas não contestava pois sabia que a intenção era carinhosa.


Todos se preocupavam com Geraldo. Sua esposa sempre foi a pessoa mais querida do bairro. Ela sempre presenteava os vizinhos com os bolos deliciosos que ela adorava confeitar. Os domingos eram disputadíssimos. Eles sempre tinham mais de um convite para almoçar.


Depois da morte da esposa, todo o carinho e preocupação se transferiu para Geraldo. Os vizinhos sabiam a falta que a esposa fazia e preocupavam-se em não deixá-lo sozinho. Passava o dia todo visitando os antigos amigos da esposa. Ele adorava. Sempre chegava em casa com a sensação de saber como a esposa se sentia sendo tão querida.


A noite, em casa, Geraldo trancava todas as portas e janelas, fechava as cortinas, e colocava ao lado da foto da esposa, no criado mudo, o objeto que havia tirado sua vida.


No fundo falso da gaveta Geraldo guardaria para o resto de sua vida seu maior segredo. Um punhal prateado.

sábado, 17 de setembro de 2011

Meu Papai é Noel


Acho que falo tanto no meu pai que algumas pessoas pensam até que não tenho mãe. Eu tenho sim e ela é fantástica. Mas, convenhamos, disputar o cargo de progenitor mais referenciado com o Papai Noel não é mole não. Por isso, minha mãe vive um pouco no anonimato e eu sou Tatiana, mais conhecida como a filha do Papai Noel do Brasil.

Meu pai estudou pouco, mas sabe muito. Não fez faculdade de Marketing e nem deve saber o que significa ‘case’, mas meu pai é um puta case de Marketing Pessoal. Há 12 anos, trabalha como Papai Noel. Sem ONG, sem equipe, sem patrocínio. Sem grana. Esse é seu trabalho, o ano todo. E, por se tratar do meu pai, essa não é a única informação incomum a seu respeito. Ele não é Papai Noel de shopping, que faz bicos para ganhar uma graninha. Meu pai encarna o personagem e quando ele faz HOHOHO, você acredita mesmo que São Nicolau existiu.

Ele descolore a barba, cabelo e sobrancelhas, deixa tudo branquinho, não sem antes assinar um termo de compromisso na cabelereira responsabilizando-se por qualquer problema. Leia-se morte. Ele quase já morreu por intoxicação durante a descoloração. No primeiro ano como Papai Noel, ele pediu um CEP próprio aos Correios. E ganhou. É só escrever 89990-960 no envelope que as cartas (milhares) chegam a minha casa. Até da Rússia.

Eu já respondi bem umas 300 mil cartas. Ao todo, desde 2000, ele recebeu 1 milhão delas, todas respondidas. E tem mais. Ele tem registro nas Marcas e Patentes como Papai Noel do Brasil. A primeira vez que ele fez o pedido, um cara disse: isso é domínio público, é como alguém tentar se registrar como Jesus Cristo do Brasil. Meu pai conseguiu.

Todo ano ele quer que seja diferente. Todo ano ele tem uma ideia nova. Todo ano eu acabo me envolvendo. Há um tempo ele está profundamente ligado a causas ambientais. Em parceria com uma universidade, ele distribui sementes de árvores nativas a crianças nas escolas. O objetivo é chegar a 1 milhão. Depois de criar uma história para sua revista em quadrinhos (sim, ele tem uma), em que o personagem Papai Noel decidiu entrar em uma gaiola protestando contra o aprisionamento e tráfico de animais silvestres, ele decidiu colocar a ideia em prática. Em um dia inteiro na gaiola, ele apareceu, apareceu, apareceu, apareceu.

Um dia eu pensei que não era justo essas histórias não serem espalhadas. Então, ele começou a palestrar em TEDs. Primeiro foi o TEDxPortoAlegre. Depois, o TEDxCuritiba. Agora, ele quer ir para o TEDxESPM, em São Paulo. Ele enviou um vídeo com uma ideia que merece ser compartilhada. E você acha que ele não conseguiu ter MAIS uma ideia? Pois sim, ele tem. Pedir que cada criança escreva o que poderia ser melhor em suas cidades. O Papai Noel vai transformar isso em uma sugestão de políticas públicas aos governantes. A ideia dele foi selecionada. Será palestrante quem tiver mais votos. Você duvida que ele vai ganhar?

Para ajudar, acesse http://www.espm.br/redes/tedx/facebook/canvas/speakerx/speaker-x-elio.aspx e Clique em ‘Like’. O Papai Noel agradece.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Meio dia em São Paulo

Tardiamente, nessa última semana, assisti ao Meia Noite em Paris. Mais uma vez, quero deixar claro que não acho isso ruim, o Woody Allen quer provar que é um intelectual fodão que manja pra caramba de cinema, literatura, artes, música e história.
 
Embora o filme seja bom, não quero falar sobre isso e sim sobre a era de ouro. Jamais quis viver noutra época ou mesmo tive a pretensão de voltar no meu tempo, não sou um saudosista, gosto de deixar as coisas nos seus devidos tempos: a infância passou e que fique lá. A adolescência foi um saco, a pós adolescência foi boa e que permaneça assim, a vida de adulto está sendo melhor. O futuro sim, esse será melhor.
 
Como Sabato diz, o que é a vida se não uma coleção de recordações, pretendo lembrá-las de vez em quando, tomando umas cervejas.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Post-it amarelo

Sim, eu estou desempregada. Sim, eu estou investindo meus dias úteis em estudo e o dinheiro dos meus pais em concursos. Aham, eu continuo mandando currículos loucamente, fique sossegado. Mas você pode falar de outros assuntos comigo, viu? Não sei se você esqueceu, mas eu continuo tendo uma vida que, apesar de medíocre, não se resume só a isso.



(Favor colar na sua geladeira)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Polemizando na net

Se você ainda não percebeu, a moda agora é ser polêmico; e eu não estou falando em Mamééééélos, pois este sim é um assunto polêmico.

Algum tempo atrás eu tive o desprazer de assistir um vídeo anônimo que criticava o tal do kit gay que estão querendo distribuir para as escolas. O vídeo narrado por alguém que se intitula “O mascarado polêmico” deixa claro que seu objetivo é lutar por uma sociedade igualitária e mais justa – mesmo que isso seja feito por trás de uma máscara e pela militância virtual.

Pra quem ainda não se interou do assunto, o conjunto de materiais didáticos que tratam sobre a homoafetividade, apelidado de “kit Gay”, tem o objetivo de discutir a temática dentro das escolas e contribuir para esclarecimento e educação sexual das crianças. Acho interessante a iniciativa de trazer a discussão para dentro das escolas de um assunto que a vida toda existiu por baixo dos panos. O que não vejo nada de interessante é a forma como vem sendo feito, precocemente, com uma temática que é complicada para adultos e mais ainda para crianças de 7 a 10 anos.

Esse é apenas um dos pontos em que não concordo, assim como não concordo com a forma e as práticas de implementação da maioria dos projetos feitos pelo governo atual e pelo anterior. Inclua aí a já famosa cartilha didática com a (boa) intenção, entre outras coisas, de diminuir o tão presente preconceito linguístico em nosso país.

Apesar de ser uma longa e complexa discussão, o fato maior que me chama a atenção é o fenômeno da não autoria. Com a internet colaborativa 3.0, 5.0 ou #1milhãopontoodiaboaquatro, o número de pessoas que produz conteúdo ainda é muito pequeno e isso faz com que a maior parte das pessoas repassem, divulguem e dêem respaldo a conteúdos de outras pessoas. Até aí tudo normal. Quantas vezes não citamos Chico Buarque, nos descrevemos no profile do Orkut usando Vinícius de Moraes, ou exteriorizamos nosso dia no MSN com frases do Pessoa, Drumonnd ou repassamos os famosos textos que supostamente são do Jabor.

O que eu vejo de perigosos nisso é o fato das pessoas repassarem um vídeo nas redes sociais de um ser que fala em “ditadura influenciativa” e compara o ensino nazista no período de Hitler com o ensino da educação sexual – que por si só envolve as questões homoafetivas – afirmando que precisamos proteger nossos filhos dessa moda para não serem influenciados a virarem gays, como se isso pudesse ser ensinado.

Será que todos os que adoram uma polêmica e postam vídeos como esses sabem que eles estão assinando seus nomes junto de uma pessoa que se propõe a uma discussão séria e sequer tem algum conhecimento mínimo sobre o assunto, sequer tem leitura ou informação, como diz um texto de Silvio Teles que li no site do O Globo, para saber que a grande repulsa da maioria das pessoas que não aceitam a homoafetividade é pensar que ela é uma escolha, uma opção. Entendo que um programa de conscientização da sociedade quanto a esse tema precisa, primeiramente, demonstrar que as pessoas nascem, ou não, homo ou bissexuais. Não se trata de escolha, nem de opção. É mais uma característica do ser, como o é ser negro, ser alto ou ter temperamento tal. Gostar de pessoa do mesmo sexo é uma reação instintiva, somática, de atração física, de desejo sexual, que, de modo algum, pode ser ensinado ou aprendido.”

Ainda na linha do polêmico que não são maméééloss, vi um outro vídeo que defendia a legalização da maconha usando como argumento os possíveis impostos e taxas tributárias que o uso legalizado da erva poderia gerar e consequentemente, tais valores, seriam revertidos em outros benefícios para a população em geral. Claro que muitos curtiram e milhares de “LIKES” foram distribuídos; Eu pergunto que argumento é esse? Alguém acredita mesmo nisso? E mais uma vez várias pessoas deram respaldo para um assunto que sequer leram a fundo e procuraram ter uma opinião mais profunda.

Claro que de certa forma também faço isso e minha timeline do facebook está cheia de vídeos e coisas que eu concordo e repasso.

A internet facilitou e muito a vida das pessoas, encurtou distâncias e proporcionou grande disseminação de boas ideias, mas por outro lado, facilitou a superficialidade em grande parte de assuntos. Grande exemplo disso é a popularização que aconteceu nas redes sociais envolvendo os nomes de autores como o Caio Fernando de Abreu e Clarice Lispector. Dois grandes escritores complexos e profundos que as pessoas “amam” aos montes e uma grande parte sequer leu qualquer uma de suas obras. Ótimo que a internet ajude a divulgação deles e de todos os outros bons autores, mas que haja incentivo para se aprofundarem.

Agora, voltamos com nossa programação normal.

http://www.youtube.com/watch?v=uJpUhN8WW80


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

11 de Setembro

Inhotim (Brumadinho, MG) - 11 de Setembro

                                                                                                        por Beatriz Noronha

'Onde é que eu fui parar? Aonde é isso aqui?' - Longe (Arnaldo Antunes)



Quem não chora não mama!

Minha avó achava que a coisa mais importante do mundo era a dignidade.Por isso ela podia passar por qualquer coisa,mas não dizia nada .Uma vez o médico se surpreendeu com a resistência dela a dor .Doía ,mas ela não dizia nada e o médico achava ela resistente a dor , ela ficava quietinha.
Mas neste mundo quem não chora não mama .Se tiver algum alienígena assistindo televisão ele vai achar que Nova York é o centro do mundo.Todo o planeta parou para assistir as cerimônias pelos dez anos dos atentados.
E os outros países que também foram prejudicados e enterraram muitos ?Ah, eles estão quietos, na sua dor, então ninguém ficou sabendo.
O mundo está desenhado assim, quem chora, bate o pé, exagera, consegue mais coisas.Quem sofre em silêncio como minha avó some no vento .
As pessoas acreditam no que dizem a elas .Os americanos tem dez anos querendo convencer o mundo que ninguém sofreu mais do que eles .Três mil pessoas foram enterradas e eles não vão deixar ninguém esquecer isso.
Lamento pelos que morreram,mas não são os únicos que morreram .Em dez anos milhões morreram no mundo inteiro, pela fome, pela violência, pela falta de medicamentos .Mas eles não tem ninguém para chorar por eles, morreram no escuro da noite mesmo.
Durante anos os americanos fizeram o que queriam e tentaram direcionar o mundo nas suas dores .Agora vamos assistir durante uns cinqüenta anos filmes sobre os atentados.
Filmes sobre o mal que eles fizeram ao planeta não existem e não vão existir .Filmes sobre as torturas e mortes de inocentes em territórios que eles consideram inimigos também não serão feitos .
O que eles querem é o mundo chorando ao ver aquelas torres caindo ,uma e outra vez.Se o mundo acabar, provavelmente será a única imagem que eles vão deixar , um legado para a nova civilização, o dia que América foi atacada .
Bom, as torres não estavam no meu jardim .Triste o que aconteceu,mas o que acontece até hoje no seus campos de tortura é pior . Mas eles choram alto e todo mundo fica constrangido .Vemos as imagens e pensamos- Que pena! Mas na verdade pensamos que duas torres caíram na cidade deles,mas eles já derrubaram coisas demais no planeta e não choraram nem fizeram cerimônia pelos mortos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O Silêncio.


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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sobre O Tempo

 “A Máquina do Tempo” é um filme, da década de 1960, baseado no romance de H. G. Wells, que conta a história de um cientista inglês que constrói uma geringonça capaz de transportá-lo ao longo dos séculos.  É um dos filmes preferidos do meu pai que, ainda moleque,”gazeteou” (como ele diz) aula, por uma semana, pra ir ao cinema, rever o filme, de tanto que gostou.

    Em “Operação Cavalo de Tróia”, J.J. Benitez descreve uma missão secreta da Força Aérea Americana que retorna à Jerusalém, do início da Era Cristã, para provar a existência de Jesus.  Gasta bem umas cinquentas páginas para provar, por a+b, que é, cientificamente possível, viajar através da História.

    Confesso que esse foi um tema que sempre me atraiu.   E tenho pensado muito em como seria foda ter uma máquina dessas, ultimamente.  Vocês já notaram como o tempo anda passando rápído demais? Putz, noutro dia ainda era julho, agora já estamos quase na metade de setembro!  Tá, estamos na Era da Informação, blábláblá, mas tô com a teoria de uma amiga e não abro:  há algo muito estranho acontecendo.  Vai ver é com os movimentos da Terra...

    Noutro dia mesmo, estava vendo tv, e vi que vão reprisar, mais uma vez, a telenovela “Mulheres de Areia”.  O remake, com Glória Pires no papel de Ruth e Raquel, foi ao ar no já distante 93 e foi exibido novamente no Vale A Pena Ver de Novo, em 97.  Gostei da ideia, porque é uma novela que me traz boas lembranças, me faz lembrar da adolescência.  Mas aí, a ficha caiu:  Porra, já se vão 18 anos!  Isso quer dizer que já tem quase 20 anos que fui adolescente?!  Caraca.

    Juro que se esse papo de máquina do tempo fosse real, ia dar umas voltinhas aí nela e aproveitar pra dar uma atrasadinha no relógio.  Porque, fala sério: daqui a pouco já é Natal, Ano Novo, Carnaval e Natal outra vez...  Enfim:  foda.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

No que acredito.

Eu vou lhe dizer no que eu acredito. E talvez para isso deva começar por lhe dizer no que eu não acredito. Eu não acredito em nada que não me mova nem me comova. Eu não acredito em nada do que me dizem até o momento em que eu posso encarar o silêncio, repetir aquelas palavras na minha mente, e fazê-las soar como se fossem minhas, e honestas. Por outro lado, paradoxalmente, eu acredito e muito no poder do simples ato de escutar, e não só com os ouvidos abertos. Com a mente também. Eu não acredito em etereótipos, e acredito que deveríamos nos treinar desde cedo para ignorá-los. É do estereótipo que nasce o julgamento. E não há nada mais baixo para um ser humano fazer do que julgar outro.

Eu acredito na força das palavras como meio de expressão, mas jamais de imposição. Opinião não se forma: se expressa. Quem forma opinião é a mente de cada um, com todo o seu milhão de particularidades e limites. Eu acredito que a visão privilegiada é a daquele que não deixa de defender sua própria posição, mas é capaz de entender a do outro, se confrontar e aprender com ela. Eu acredito que nós nunca deixamos de aprender. E acredito que nunca aprendemos de verdade. Eu acredito que existe algo que não entendemos, algo além de nós, algo que não é “desse mundo”, ou qualquer expressão que você possa querer usar. Mas eu não acredito que saibamos o bastante desse algo para doutriná-lo em qualquer tipo de religião. Eu acredito que não é preciso ser religioso para ter espiritualidade.

Eu acredito que devamos aceitar quem somos do jeito que nascemos. Eu acredito em casar-se com a própria escuridão, carregá-la com algum orgulho e a cabeça erguida. Eu acredito que devamos fazer as pazes com o Judas dentro de cada um de nós. Eu acredito que os sonhadores, os loucos, os idealistas, são aqueles que mudam o mundo. Mas eu também acredito, e sei, que o caminho para tanto vem a custo de muito realismo. Eu acredito na eterna não-definição de nós mesmos. Acredito no amor imperfeito que é um infinito dentro de outro, e mais outro, e mais outro… e que, como tudo o mais, não podemos jamais entender. Eu acredito que estamos todos aqui para tentar, não para conseguir.

E eu acredito tanto na beleza do incompleto que vou passar a minha vida inteira buscando algo que nunca vou alcançar: a essência. Eu acredito nela. E acredito de tal maneira que, mesmo sabendo que jamais serei capaz de vê-la, continuo acreditando. Me digam: existe fé maior?

Só pra não perder o costume, uma dica musical pra vocês. Primeiro single do Alex Boyd, que lança disco ainda esse ano.
Bom Setembro pra todo mundo! ;D

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

sábado, 3 de setembro de 2011

Eu, a Elaine e a manga

É estranha essa tal de amizade. Por que com um rola, com outro não? Falam tanto dos hormônios responsáveis pela aproximação de casais, cheiros, instintos, reprodução e blá. Mas e amizade, gente? Que hormônio faz com que eu ache o Zé legal e o Pedro chato?

Por muito tempo eu pensei que era afinidade cultural. Se a pessoa gosta das mesmas músicas que você, os mesmo filmes, ela será sua amiga. E lá ia eu perguntar para aquela pessoa que tinha acabado de conhecer: qual seu diretor favorito? Ah, quanta bobagem.

Hoje eu sei que me atraem pessoas com um certo tipo de humor, que gostam de conversa fiada e das coisas simples da vida, mas claro, não é uma ciência exata. Mas quem nunca se decepcionou com um amigo, seja por motivos sérios, ou uma bobagem, uma conta de bar, uma palavra atravessada? Se bem que eu sempre achei que nos pequenos descuidos é que as pessoas se revelam.

Fico pensando nessas coisas quando vejo a Elaine, que trabalha comigo. Trabalho com umas trinta pessoas, mas com ela é diferente, ela eu considero minha amiga, não minha colega. Foi desde o primeiro dia, desde o primeiro oi - porque tem amigo que a gente reconhece assim, logo de cara – e tem sido assim desde então.

Lembro do dia que ela veio toda alegre me dizer que tinha um presente no meu armário pra mim. Cheguei lá e dei de cara com uma manga. Uma manga? (Até parece aquela comunidade que tinha no Orkut). Não entendi muito bem e então ela me disse que tinha colhido uma baciada para trazer pro pessoal, mas que tinha guardado a maior pra mim. Eu sei que é piegas pra caramba, mas achei tão sincero aquilo, tão admirável.

A noite eu comi a manga e fiquei pensando entre um fiapo e outro: vai ver é esse o segredo da amizade, é mais do que uma companhia agradável, afinidades e gostos, vai ver uma verdadeira amizade é querer pro outro a fruta mais bonita.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Hitler perde a paciência com o zagueiro Welinton

O meu texto desse mês vem em forma de legenda. Fiz uma paródia com o momento atual do Flamengo no campeonato Brasileiro. Espero que gostem.

Link do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=cIlNvuAehao

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

ah, o amor

[paris, 12 de fevereiro de qualquer ano, mas tem que ser 12 de fevereiro em paris]

mente quem diz que muito ama. eu te amo muito, eu te amo de montão, eu te amo pra caralho. mentira. se o amor é em si uma hipérbole, ora, logo é redundante dizer que ama muito. amo e pronto. amo e ponto. sendo assim, eu sigo acreditando nas mentiras que eu mesmo invento e me iludo a cada dia nessa lógica fantasiosa que é o amor.

e é por isso que a mitologia, a filosofia, a arte, a religião e tudo mais que há nesta vida, querem explicar a existência deste sentimento, quando na verdade é tudo uma desculpa pra rotular o irrotulável, o inexplicável, o misterioso. é por isso que tentam decifrar o transcendente.

não há lógica na transcendência, há?

[a merda toda é que nem aquele filme idiota me fez esquecer a tua ausência, nem por um segundo sequer. entretanto, a tua não-presença já não me denota a falta. falta sim tua mão, tua pele, teu sexo. falta o ar em movimento da tua boca no meu ouvido, mas não me falta tua presença. eu ainda te sinto. e eu sinto muito.]

você pode fugir do amor, mas ele não vai fugir de você. e não falo desse falso romantismo das novelas ou livros de banca de jornal. mesmo que você não procure, mesmo que você nem acredite, mesmo que você negue, um dia você vai se apaixonar e vai sofrer e vai sentir e dar prazer. um dia você vai amar.

e isso vai se repetir em cada amor. é uma apunhalada nas costas. um truque da vida, um golpe baixo, uma música embalada no rádio desligado. um equívoco dos mais equívocos dos equívocos que já existiram.

é como um peixe enfeitiçado pela isca.

agora basta se saber se você quer ou não lançar o anzol.
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