domingo, 31 de julho de 2016



A vida, esse pequeno imenso ponto luminoso, num deserto infinito.
O desconhecido eternamente à nossa frente e às nossas costas.

Emergindo em cada esquina, em cada noite e em cada sorriso dado ou não dado. 

Permanecer eternamente imovel e livre. 

Neste ponto luminoso que a cada dia se esvanece mais, sem saber quando irá parar de repente.
Neste ponto, escuto os cachos dela e diante da agonia e angustia desse deserto me sumo e assumo que este ponto é tão belo enquanto existe. 


sexta-feira, 29 de julho de 2016

medalha para subdesenvolvido ou pódio de servo

Ligo a TV.
Vejo a propaganda que mais chama atenção. Segue olho e controle naquela chamada quase que constante de todos os canais da TV.
A chamada é para admirar, torcer e mais importante e essencial assistir aos jogos das Olimpíadas.
Aliado a estas chamadas e propagandas contínuas, os canais fazem questão de mostrar uns programas que pretendem atestar o quanto o esporte é essencial na educação, saúde e vida dos brasileiros.
Resta uma respiração profunda.
Quase parando o ar no cérebro. Respiração cheia de sedentarismo com certo enfado ou preguiça de engolir pela goela abaixo mais esta neste ano.
Nestas propagandas e programas nenhuma palavra ou poucos comentários restam para as constatações do óbvio, os pouquíssimos ou zero incentivo para os brasileiros serem como os demais países, onde os cidadãos são esportistas, atléticos e fãs incondicionais de quase todas as modalidades de esportes.
Não sai respiração sai um: que po$$a mano!
Vem outro desabafo: é um c$r$lho viu!
Desculpe, minha educação é precária.
E qual a parte destas estórias eu perdi?
Como disse noutro espaço gosto de esportes.
Principalmente quando estão nas escolas e periferias ou conforme o politicamente correto exige mencionar, gosto de esportes nas comunidades em vulnerabilidade social ou podemos dizer comunidades em nenhum ou quase nada de desenvolvimento.
Não tardará para o FMI alterar o termo em vulnerabilidade social para em desenvolvimento.
Daí tanto vem na cabeça.
Os discursos de urbanistas, geógrafos, historiadores, arquitetos, engenheiros, economistas, professores com total liberdade de ensinar e jornalistas fincados no esporte. E desde sempre aquela gana de que o esporte o investimento em urbanização não fosse vandalizado ou comercializado como uma mercadoria. Afinal eles são contrários ao vandalismo neoliberal, porque o mundo não se restringe a pessoas neutras que defendem o anarquismo entre os comércios e a livre atuação neoliberal.
E pensar nestes discursos é constatar que as Olimpíadas ou Copa servem apenas de vitrine para propagandas e venda de ativos, mercadorias ou trata-se somente de evento para comprovar através de medalhas o quanto alguns países (mediante exploração dos demais) investiram no bem-estar social, na educação e na saúde do seu povo.
Então promover uma “festa” dos esportes quando o próprio esporte não é valorizado no país pode ser chamado de que?
Tolice? Ingenuidade? Submissão? Exploração? Farsa? Golpismo? ETC.
Escolha. Palavras é o que não faltam.
Dá até dor de cabeça. Uma ânsia.
Cabe me perguntar se experimentamos recusar sediar a Copa ou Olimpíadas?
Para desespero e desamparo das esperanças vem aquele sonoro NÃO.
Lembro-me de poucos gatos pingados fazerem este papel árduo e insano de se posicionar contra, sob os olhares cheios de ódios de muitos.
Na Copa o comerciante muito se endividou para investir no que acreditavam ser justamente uma fase de oportunidades.
Acreditaram nesta falácia justamente devido a estas propagandas e programas da TV que incentivaram o investimento, mas sem qualquer esclarecimento dos riscos.
Mas o que esperar de gestores de PPPs (Parcerias Públicas Privadas) ou políticos e juízes donos da justiça e da última palavra quando está em curso a indução e cerceamento da crítica para pensamento único e neutro na educação.
O que esperar?
Há anos os abismos só reforçam o quanto os brasileiros pouco ou nada conhecem da própria história enquanto nação ou povo.
Aceitar educar-se através das TVs é uma prova disso.
Outra vez, vamos assistir os exploradores acumularem o que já tem demais: riquezas.
 Daquela forma deprimente e decadente vamos sentar e assistir o evento que como dizem é único não acontece todo ano neste país.
Novamente vamos sentar no sofá ou deitar na cama para aplaudir as vitrines, o show que será ver o desenvolvimento de outros países.
 Vamos ver até acabar e restar a sensação ou dizeres de queremos outra copa, outra Olimpíadas porque é tão legal ter as ruas lotadas de gente diferenciada falando tantas línguas.
Mais uma vez sentamos para assistir o ganho de poucos sobre muitos.
Para logo mais, assistirmos a derrubada dos poucos direitos sociais conquistados, com atualização da CLT ou terceirização entrarem em vigor, desmonte já consolidado da justiça do trabalho e demais setores de auxilio ao trabalhador, SUS para  ajuste de valores nada sociais para ter acesso a saúde, SUAS acabou assistencialismo chega de bancar vagabundos e privatização de todos recursos enquanto os países desenvolvidos firmam acordos de livre transação do comércio apenas entre eles.
Assistimos.
Assistimos o golpe acontecer.
Para  ver que o alvo sempre foi os trabalhadores, a CLT que custa tão caro aos empresários e os direitos sociais que se tornaram inviáveis para o Estado/País que deseja apenas servir e ser explorado.
Assistimos o golpe ser constantemente desmascarado para comprovar: é mesmo um golpe.
O golpe é e sempre será em nós. 


SÓ A LUTA MUDA A VIDA
DOMINGO 31/07/2016
Local: Largo da Batata às 14h.
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FORA TEMER

FORA GOLPISTAS

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Anotações de uma pessoa depressiva e ansiosa

Não é fácil ter uma doença que você não pode ver os sintomas.

Uma das principais dificuldades é entender (e fazer entender) que um transtorno mental não é uma frescura, que é tão grave quanto câncer ou diabetes. Doenças como depressão e ansiedade são o inferno, tanto para quem vive como para quem convive. 

É desgastante acordar se sentindo um lixo e com a mente cansada, sem ânimo pra sair da cama, sentindo que tudo te ameaça e te atordoa. É complicado para quem vê de fora entender que estas sensações são verdadeiras, que naquele momento o pior que você pode fazer é usar sua dose de "verdades", chamando a pessoa de incompetente, preguiçosa, que está fazendo drama.

Basicamente, é uma doença que resulta de desequilíbrios químicos no cérebro. Ou seja, não é algo que você vence por "força de vontade" ou se você "se esforçar um pouco mais". Falar isso para alguém com este problema é tão eficiente e legal quanto falar para alguém com câncer que esta pessoa poderia tentar não ter o tumor, pra variar. 


Acredito que os piores momentos que passei durante as minhas crises, foram aqueles em que recebia críticas. É preferível ter um ataque sozinha do que com alguém (além de você) que te ataca por perto. E nenhum ataque era pior do que os que a minha mente produzia, eu sou meu pior inimigo.

É frustrante não conseguir mais focar em nada, e me sentir um estorvo. Tirando minha cama, não existe zona de conforto, nenhum lugar é seguro. Perdi a conta de quantas crises tive nos últimos anos. Tem épocas em que contamos nos dedos quais são os dias bons, porque os dias ruins podem ser esmagadores. 

Geralmente as pessoas se surpreendem com uma notícia de suicídio, porque acham que foi do nada, entretanto, é uma luta constante contra este pensamento. É um bombardeio diário de como seria mais fácil pra você e para os outros se sua existência acabasse.


Períodos de baixa já me abalaram a ponto de ficar no limite de repetir em matéria por faltas, por conta de dias em que não conseguia sair da cama, o que dirá sair na rua e ir para a aula. 

Já tive que ouvir de professor que era melhor desistir da matéria, se eu não tinha capacidade de lidar com pressão. 

Já tive que explicar meu baixo rendimento e ter que ouvir que eu era uma pessoa fraca, que era falta de esforço. 

Já fiquei me cortando porque achava que merecia ser punida, por ser alguém tão incompetente, tão lixo. E também ouvi que o que tinha era chilique, que eu era uma oportunista.

Já ouvi que depressão é doença de rico, de quem está com muito tempo livre.

Não é fácil ter uma doença que você não vê os sintomas, mas que atrapalha toda a sua vida. Que te inibe de cumprir suas metas, de resolver seus problemas ou simplesmente relaxar. Não é fácil sentir dor o tempo todo, tanto física quanto mentalmente e estar sempre cansada. 

Mas tudo isto fica imensamente difícil sem ter apoio. Se você é estigmatizado o tempo todo, por procurar ajuda, por usar remédios. Que você tem que se esforçar pra ficar sem eles, já que você está melhor - quando é a medicação que está te fazendo ficar mais estável.


Então gostaria de deixar esta observação pra quem está lendo, porque talvez você se reconheça em algum pedaço disso tudo: nada disso é fácil,  a nossa mente pode ser extremamente tóxica, e reconhecer estes problemas e procurar ajuda não é um sinal de fraqueza, é de sensatez. Não ser babaca com quem sofre disto já é meio caminho andado. 

E se você tem alguma dessas doenças, quero que você saiba: você não está sozinho.


sexta-feira, 22 de julho de 2016

Luz

Tudo era escuridão.

(...)

O som que vinha do coração da mãe era tão constante quanto o silêncio. Constante também era o calor que vinha do meio líquido em que estava. Não havia pressa. O útero da mãe era alheio a estes caprichos do mundo de fora. O útero da mãe era o mundo inteiro. 

Naquele momento era tudo um grande vir a ser. 

E foi naquele momento que aconteceu. Nunca se saberá como, nem se chegará ao porquê, mas a verdade é que aquele minúsculo ser em formação, aquele pequeno amontoado de células, ouviu. Ouviu cada palavra. E cada palavra uniu-se ao ser. E cada palavra era o ser.

Elas diziam: Hoje tu és apenas espera, mas quando fores vida, nunca deixes de ser luz. Não importa com quem andarás, o que farás e como o farás. Tampouco importa tuas escolhas, se entre elas estiver esta, a de não deixar de ser luz. 

Por um longo tempo as palavras calaram e o único que se ouvia era o coração da mãe e o suave murmurar do meio líquido. As células não cessaram de se multiplicar e de imiscuírem-se nas palavras. O ser então indagou:

- Agora que sei o que fazer, devo partir ao mundo de fora? 

E ouviu como resposta, não se sabe de onde:

- Ainda é cedo. Ser luz  não é tudo que deves saber... 

E nada mais se ouviu por um longo tempo.

(...)

Já estava se acostumando a esperar. Tudo era espera. A vida fluindo entre o ser e a mãe. Entre o ser e a palavra.

Foi quando a voz (era mesmo uma voz?) ecoou uma segunda vez; Não basta ser luz se não fores também equilíbrio. Saibas ver os dois lados que há em tudo no mundo. Também há muito o que se ver na escuridão...

Novamente silêncio. 

 - Serei luz e serei equilíbrio. Tudo isso já está em mim. Devo partir agora? 
- Tampouco é agora que deves partir. O tempo se aproxima, mas ainda não é tudo...

(...)

Muito se passou sem que mais nada fosse dito. Os espaços se preenchiam. O ser e a mãe cada vez mais pertencentes. 

Mas ele ansiava mais.

Num átimo, água que se esvai. Torrente. 

Força. Movimento. Ritmo. Potência.

Súbito, a voz. 

- Chegará o tempo em que terás que partir. Tal qual uma vela, sutilmente deixes de ser, mas ilumine tudo e todos até o último lampejo. E quando chegar esta hora, não temas: como luz que terás sido, deixarás um lindo caminho iluminado às tuas costas. Nunca deixes de ser luz!

Os movimentos eram intensos e constantes. O tempo urgia. Ele precisava perguntar uma vez mais:

- Posso ir agora?
- Sim, agora sim você pode ir. Já é tempo de aprender...

(...)

E tudo tornou-se Luz.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Como conversar com um fascista

É possível afirmar que nesta obra a professora de filosofia usa seu potencial didático para dialogar com aqueles que não são seus alunos. Com uma linguagem clara Tiburi aborda temas correntes sob a ótica da filosofia, porém não utiliza estratagemas sofisticados para a produção de uma obra hermética.

A ironia não se restringe ao título. Mencionando, sem citar nomes, políticos e jornalistas contemporâneos, conhecidos pelas falas agressivas, o fascista do livro não é aquele adepto do movimento italiano da década de 1930, mas o cidadão de hoje, que extravasa seu ódio às diferenças através de palavras ou até mesmo agressões.

Pouco a pouco a autora mostra alguns fatos evidentes e outros que, de tão naturalizados, acabam passando despercebidos diante dos olhos daqueles que costumam ter pouco ou nenhum contato com a percepção crítica da filosofia. Ao que parece, o ódio em nossa sociedade está capilarizado, servindo de estrutura para o pensamento fascista de forma semelhante, e relacionada, às estruturas de poder descritas por Foucaut.

Talvez a forma como a autora descreve o amor como antagonismo a este ódio incomode aqueles que busquem uma análise filosófica mais aprofundada, entretanto cabe ressaltar que enquanto o ódio é uniforme, a ideia de amor é múltipla, servindo tanto para uma análise simplista aos que estão mais habituados com a filosofia, quanto para uma interpretação eficiente aos olhares leigos.

Livro: Como conversar com um fascista
Autora: Marcia Tiburi
Editora Record, 2015.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A Vida é Cheia de Som e Fúria

Aumentamos o volume da música quando o barulho da vida fica intenso, não é necessário nenhum botão, é automático. Tão automático como estender o “foda-se” pro que não importa mais, enquanto os nossos fones estouram os tímpanos.

Tocar a música que toca vidas sempre é prazer, não é trabalho. Melhor do que uma semana de regras, barreiras e gente suportável, é uma noite de Sábado na qual tocamos uma música que salvou a semana pra quem precisava extravasar, pra quem teve que aguentar as regras, barreiras e gente (in)suportável.

Play, pra quem tem barulho na alma e alma que não se acomoda e se aquieta. Nos fodemos muito na vida sim, mas a gente levanta já chutando, rindo e tomando mais uma. Depois, podemos escrever sobre isso também. Além de escrever, também rimar, isso é pra poucos e ousados... “Onde há muros há o que esconder.”

Os sorrisos dos que dançam e tocam a vida e na vida são vencedores, pois estes resistem e quem resiste sempre está vencendo. Podem não ter tudo que querem, podem não ter quem querem, mas são o que querem!

Ideais sem atitudes são hipocrisia ou covardia, isso não merece música. Mas pra quem tem ideias, ideais e atitudes, não precisamos chutar traseiros, apenas apertar o Play mais uma vez, com músicas de atitude.

Kick out the Jams, motherfucker!                                     
You Rock!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Sobre pais, psicólogas e o amor


(Essa não é uma história verdadeira)

Por Marina Alvarenga Botelho

Quando eu tinha 15 anos eu fui a primeira vez a uma psicóloga. As queixas vinham da família: eu era muito agressiva e não sabia lidar com o meu pai. A minha queixa pessoal era: eu odeio meu pai. Tentando entender porque eu odiava meu pai, a psicóloga ouvia os relatos: “uma vez, no meio da loja dele, ele gritou comigo e me disse: ‘você é o problema da minha vida, sua bosta’”. E mais, das minhas lembranças: “sábado de manhã ele mandou a gente arrumar a cama. Eu arrumei. Ele disse que não estava bom e que tinha que ficar igual a de hotel”. Ou também, de quando eu fiquei em 46º lugar, em um vestibular seriado com mais de mil concorrentes, e eu recebi apenas um “não fez mais do que a obrigação”.
Também contei para a psicóloga que uma vez meus pais me abandonaram no meio de uma rodovia na Bahia. Eu dividia o banco de trás com minha irmã mais nova, e como eu era maior, e ela miúda, eu achava que tinha o direito de passar um pouco da metadinha do banco. Ninguém achava isso e eu estava teimando. Aí meu pai disse: “E se você não calar a boca eu paro o carro aqui e te deixo na rodovia”. Eu, cheia de mim, falei: “então, para!”. Ele parou. Eu desci. O carro deu partida e saiu andando. Eu olhei para os lado procurando uma casa para ligar para minha tia. Me lembro do telefone dela de cor até hoje. Quando estava a perder de horizonte o carro parou e deu uma ré. Eu fui e entrei no carro. Para mim, essa situação foi traumatizante, mas para eles, não foi nada demais.
Foram vários os compartilhamentos de sentimentos e lembranças desse estilo. Mas não foi dessa vez, não deu certo com essa psicóloga. Não me lembro de ela ter ajudado, não me lembro de nada do que ela falava. A situação continuou sendo horrível. Continuei odiando meu pai.
Depois, quando voltei de um intercâmbio eu simplesmente não conseguia me adaptar novamente à vida de antes, e tive que procurar outra psicóloga.  Até que dessa vez foi um pouco melhor. Ela trabalhava com as crenças. Deus e família, principalmente. Bem, eu sou ateia, e na minha família estava difícil o relacionamento. Dessa vez, não só com o meu pai, que até hoje não passa de um oi, um beijinho no rosto e conversas burocráticas. Mas era também com minha mãe, que sempre foi o foco do meu amor em relação aos dois. A única que demonstrava afeto, a pessoa que participava da minha vida. Minha e da minha irmã.
A psicóloga falou umas coisas boas dessa vez. A principal para mim foi me colocar na seguinte situação: “você está andando na rua e vê uma pessoa conhecida passando ao seu lado. Ela não te diz oi. O que você acha que pode ser?”. Eu respondi: “porque ela não gosta de mim”. E aí ela disse: “mas será que não poderiam ser outras coisas? E se ela simplesmente não te viu? Ou, às vezes, ela está em um dia ruim”. E aí eu me toquei: “nossa, é mesmo! Nem tudo é sobre mim!”.
Lembro-me também que ela dizia: “eu posso fazer por você duas coisas: te ajudar a resolver um problema ou te ajudar a aceitar um problema que não pode ser resolvido”. O que mais me incomodava era ela tentar falar de Deus para mim. Do tipo: “se você acreditasse em Deus ele poderia ser uma força a mais para você”, sendo que eu já havia deixado claro minha visão sobre. Enfim, tive altas, voltei lá algumas vezes, mas nunca foi aquilo que eu esperava.
Me casei com um psicólogo. E em uma época muito difícil da nossa relação, ele me convenceu a procurar uma psicóloga behaviorista/comportamental.
Fui. E foi quando minha vida começou efetivamente a mudar. É quase como se fosse a abertura de um terceiro olho, no sentido de passar a ver as coisas totalmente diferentes, e de uma forma melhor, mais atenta, mais observadora.  
Aí eu acho que foi dessa vez que eu me dei bem com uma psicóloga. E entendi o quanto a psicologia é completamente mal interpretada pelo senso comum, e o quanto ela é essencial na vida das pessoas. Sério, todo mundo deveria ir!
Foi quando eu entendi que na minha criação, eu quase nunca fui reforçada positivamente – para quem não conhece o termo, quase nunca me deram um parabéns depois de fazer algo bacana. É como dar um petisco pro cãozinho que pegou e te trouxe a bolinha de volta. Esse “não fez nada além da sua obrigação” me deixou insegura, com a auto-estima baixa, buscando sempre uma perfeição que não existe, sempre com medo do que os outros vão pensar.
Percebi também que aquilo de eu “odiar” o meu pai era porque ele nunca fora uma fonte de afeto. Enquanto os meus quatro avós (paternos e maternos), foram fontes incondicionais – um carinho sem explicação!
Entendi também que, até então, os meus comportamentos operavam no segundo nível de seleção, ou seja, o ontogenético, ligado a minha história de vida. Em outras palavras, os meus comportamentos diziam respeito ao que é interessante para mim. E comecei a observar as pessoas e a entender que quase todo mundo opera nesse nível. Talvez esse seja um dos maiores causadores de problemas no mundo.
Foi também quando eu aprendi o que é o terceiro nível de seleção, o cultural, e entendi o que é amor de verdade. Que é quando seus comportamentos operam de acordo com o que é bom para o outro. Amar alguém é querer que essa pessoa seja feliz. É apoiá-la, mesmo quando você não concorda. É estar ao seu lado. E eu percebi que grande parte do que me fez sofrer muito é meus pais não operarem muito nesse nível. Meu pai, quase nada. Minha mãe, às vezes, mas isso tem mudado.
O meu pai opera totalmente na imposição da experiência soberana e incontestável dele. Para ele, tudo que sai da boca dele é um tecmérion. Mal sabe ele que eu sou um outro mundo, um mundo próprio, cheio de experiências e vivências!
Nas minhas sessões com essa psicóloga comportamental, a gente observa as minhas vivências, descrimina as coisas e cria estratégias para melhorar. Para melhorar a minha relação com o mundo, com as pessoas, mas, principalmente, comigo mesma. E isso só é possível operando no terceiro nível. Não vou mentir, é difícil para caralho! Mas tem dado bons resultados. É treino, é paciência, é quase como repetir um mantra: “terceiro nível, terceiro nível...”. Em uma briga, ao invés de contar até dez, tem sido o mantra.
Tenho os meus deslizes, e quando acontece alguma briga com meus pais, principalmente com a minha mãe, dói demais. Porque é um trabalho que tem muito tempo, amor (e dinheiro!) investido. Mas sei que é um trabalho para a vida toda – clichê, mas verdade.
Às vezes as pessoas falam: “nossa, mas você é casada com um psicólogo? Deve ser estranho, ele deve ficar te analisando toda hora”. Mas, cara, ele é meu marido, e não meu psicólogo! Os psicólogos não julgam as pessoas, muito pelo contrário! Eles são um território judgment free – tirando alguns charlatões, é claro, como em toda profissão. Acho que eu sou muito mais psicóloga do meu marido do que ele de mim. Nossas discussões são ótimas, cheias de termos técnicos, totalmente racionais – e isso é muito bom!
Na verdade, hoje eu só escrevi tudo isso porque eu estou triste pra caralho. Sempre escrevi melhor quando estou triste. Na minha sessão de ontem, eu e a psicóloga ficamos orgulhosas de como, trabalhando o terceiro nível, (que eu já apelidei de amor), consegui ter uma relação bacana com meus pais nos últimos dias. E aí hoje, tudo desmoronou, num deslize meu. Em um momento em que eu fui injustiçada – minha mãe achou que eu fui grossa em uma situação, mas eu não fui.
Era ela naquela historinha que contei no quinto parágrafo, tendo certeza que a pessoa não falou “oi” porque não gostava dela. Era ela tendo a certeza de que eu fui grossa, porque ela sempre acha que eu sou grossa. Quando, na verdade, uma das primeiras coisas que eu falei na minha primeira sessão com a psicóloga é – as pessoas falam que eu sou grossa. “Quem fala que você é grossa?”, perguntou ela. E eu disse, “minha mãe”. E ela perguntou novamente: “mas você é grossa?”, e eu entendi que eu não era grossa. Que minha mãe me achava grossa. E, pelo visto, até hoje. Ela já parte do pressuposto de que eu vou ser grossa, antes mesmo de eu responder. Enfim. Fiquei nervosa e esqueci do terceiro nível.  Acontece. E aí a gente se machuca.
A grande maravilha, para mim, da ciência do comportamento, é essa autonomia que ela nos dá de nos entender, de entender as coisas ao nosso redor. De reconhecer onde a gente errou e saber como mudar para a próxima vez. Estou numa relação séria de amor pela ciência do comportamento. Isso me dá forças demais para deixar o orgulho de lado e agir no terceiro nível. Aliás, vou ligar para minha mãe agora mesmo.



quarta-feira, 13 de julho de 2016

Na selva de pedra

Viver numa cidade grande é um aprendizado diário.

As dificuldades se potencializam se você morar longe da sua família ou da sua cidade natal.

Todo dia é um desafio.

É sofrer de dor, de amor, de saudade, de carência, de abstinência.

É lutar contra a inércia, o exagero e o desespero.

A miopia da metrópole cega os olhos e o concreto endurece o coração.

Algumas pessoas passam a ser invisíveis e algumas situações nos tornam insensíveis.

É preciso ficar alerta para não enrijecer. Atento para não esmorecer. Forte para combater.

Se não tiver fé em você, a cidade te engole.

Nessas horas, cultivar amores, mesmo que no árido cimento, funciona como o espantalho que afasta a solidão.



terça-feira, 12 de julho de 2016

Reciclando o amor


Me parece absolutamente normal tanta confusão diante da crise que se vive no planeta, a mudança de paradigmas e a quebra de valores.
Eu seria a última pessoa a dizer alguma coisa ruim, eu mesma não entendo nada destes tempos modernos, mas ainda me aferro a uma ideia, mesmo que romântica, parece que parte de mim ficou no século XVIII e não consegue entender tudo o que está acontecendo no planeta.

Conversando com umas conhecidas mais jovens, escutei elas dizerem várias vezes  ''ah, fulano não é amor sustentável''. Perguntei o que era ''amor sustentável'' e uma me disse:

-É quando uma pessoa é legal, você gosta, mas não quer namorar, então você ''recicla'' e deixa na apenas na amizade. 

Entendi.

E a moça continuou:

-Homens recicláveis são ótimos, ficam na mesma turma, namoram várias, mas eu ainda estou na idade de outro ciclo, o de consumo e descarte!

Mas esse seria o ciclo de vida de um produto, o conceito, a manufatura, consumo, descarte, reciclagem e reuso.

-É isso mesmo! Homem é produto não é?

Não, fazendo isso vocês estão apenas repetindo a ideia equivocada do machismo que mulheres são propriedades e tem dono. Seres humanos não são coisas, nem brinquedos, não são produtos descartáveis.

-Mas pelo menos reciclamos o discurso! Não são mais usados, são consumidos e não levam pé na bunda, são descartados. E não vai dizer que nunca se sentiu usada por nenhum homem....

Sim, mas não a ponto de nortear minha vida emocional pensando em homem como se fosse um produto e seu ciclo de vida.

-Eles gostam! Tenta tratar bem pra ver o que te acontece!

É, já passei mais de trinta anos escutando essa lenda urbana, homens que são bem tratados jogam fora a mulher, mas se ela for uma maldita o amor dele será eterno.

-Não é lenda, mas agora o discurso é mais  ''green'', todos nos consumimos e nos descartamos.

E vocês conseguem fazer isso emocionalmente?

-Dá sim! A gente faz todos os meses com algum objeto, não dá para ter apego a nada, vamos ter apego a homem?

É, acho que não dá, ainda não sei. Quando era adolescente eu tinha uma bolsa pequena para meus cosméticos, grudei adesivos, coloquei meu nome. Carreguei por anos, se estivesse em algum ensaio mesmo sem ver meu nome todos sabiam que era minha. Hoje vejo pessoas mudando de celulares em menos de três meses, não se apegam, não deixam seu registro ali, nada, é como se o objeto tivesse sido um copo de água.

-Ninguém morre por isso! É melhor trocar mesmo. Tenta reciclar homem que dá certo!

O problema não é reciclar homem, mas como reciclo o que sinto? Se eu gosto de um não consigo ir para outro assim tão rápido, não é como comprar um celular novo.

-Ah, mas apegando não dá mesmo.

É, se apegando. Mas tem outro jeito de gostar?

-Tem, você gosta ali na hora, um dia ou outro, mas não tem essa de  ''amanhã''.
Você parece aquelas românticas do século passado, sofrendo à toa!

Voltei caminhando, sentindo o vento na minha cara, vendo as pessoas nos bares e pensando como vou aprender essa nova forma de amar? Consumindo e descartando?

De repente me senti velha, ainda lembrando do jeito de amar do século passado, sem celular, sem recados sem páginas virtuais.

Fui muito feliz quando chegava em casa e tinha algum recado do Romeu, meu sorriso aparecia até no céu. Naqueles tempos a gente marcava um encontro e ia lá, esperando Romeu chegar. Hoje as pessoas controlam seus passos pelo celular e vão avisando onde estão cada segundo. O telefone da minha casa era mais cheio, eu tinha que brigar para que o deixassem livre, caso Romeu fosse ligar. E ainda no meio da conversa minha mãe mandava desligar porque tinha que fazer uma ligação. Hoje vejo meu celular solitário, silencioso, como se fosse uma pedra de gelo.

Estou atrasada no tempo, ainda nem me desapeguei dos meus ódios, não reciclei minhas amizades, imagina então consumir e descartar um Romeu.

Um amigo contava uma piada que não lembro, mas era sobre o dia que os homens  foram avisados que dali para frente os relacionamentos seriam monogâmicos e escolhendo uma mulher não poderiam ter outra. A piada era sobre a reação deles, mas em algum momento deve ter acontecido isso, mudanças sociais chegaram e pessoas tiveram que se adaptar as novas regras.

Assim estou, pensando em como me adaptar e muitas pessoas podem dizer que essas meninas estavam brincando, mas sinto essa mudança e leveza nos relacionamentos, é esse ritmo de consumo e descarte. 
Parece que insistir em outra maneira é como defender um objeto velho que a tecnologia já superou. E dizem que somos o reflexo do nosso consumo e na velocidade que estamos parece natural pensar que os relacionamentos são a mesma coisa que comprar um objeto novo, talvez por isso eles fiquem tão chatos e tediosos, como se fossem um aplicativo antigo tentando se adaptar a um objeto mais moderno.

Não critico quem pensa e ama assim, eu ainda nem tentei aprender, o ser humano, apesar de tudo, me parece um pouco mais do que um celular, ainda acredito mais na alma humana do que na velocidade da internet. Assumo meu lado tonta e romântica, sou boba ao achar que um ser humano vale mais do que mil aplicativos e merece mais respeito do que um carregador de celular.

Ainda vou aos lugares e vejo pessoas ao meu redor, seres humanos, não vejo produtos nem objetos. E talvez esse seja o motivo da minha solidão, estou enxergando o que não está mais lá, me esforço para mudar, mas nas ruas que ando ainda vejo pessoas, mesmo sabendo que não existem mais, ainda me recuso a tratar seres humanos como objetos e pensar que são para meu consumo e descarte.


Iara De Dupont


segunda-feira, 11 de julho de 2016

Rebelião das Palavras

Escrevo, senão não durmo. Sempre no mesmo horário, quando o corpo pede repouso e a mente lógica pede trégua de raciocinar. 

Basta a cabeça tocar o travesseiro e logo elas vem. Como numa tormenta de ideias sobre mil assuntos diferentes, elas invadem e se batem dentro do crânio. Ecoam pelos ouvidos como num barulho ensurdecedor. 

Como pode? Fazer barulho de dentro pra fora, sem sequer emitir um som?

Reviro na cama de olhos aberto. Viro de um lado pro outro e nada. Estou com sono, mas o barulho me vence. Resisto mais um pouco a fim de querer paz. A fim de que elas desistam, mas não desistem.

Eu, fraco me sento. Coloco-me diante do papel e me abro com ele como quem abre uma porteira pra uma rebelião que brada gritos de vitória. Correm por um dos meus braços e escoam em liberdade em busca de um sentido.

Lá ficam. Estática mas ordenadas e com semblante de missão cumprida. Estão fora. Ainda que presas em um outro mundo, já estão fora de mim.

Talvez agora elas gritarão em outros ouvidos, encherão de lágrimas de tristeza ou alegria outros olhos que não os meus.

domingo, 10 de julho de 2016

Compartilhar pode sim!

Por esses dias vi rolando na internet um vídeo do qual dizia algumas coisas que segundo eles, você deveria guardar para si. Dentre as muitas coisas que tinha, onde até havia algumas que fazia sentido, algumas me chamaram atenção:
''Não contar seus planos a ninguém
Não contar detalhes da vida pessoal
Não contar sobre conflitos dos quais você passa.''
Vendo esse vídeo, lembrei das tantas vezes que já ouvi isso, junto com aquela história de que a inveja mora ao lado e fiquei bem assustada.

Gente, mas que coisa é isso? Rs
Ter amigos é fazer totalmente o oposto disso, se você tem amigos e não pode contar seus planos para eles? Colega.... A coisa tá feia pra você!
Uma das coisas das quais nos faz  uma pessoa mais inteira é compartilhar, se não se pode compartilhar momentos e planos com alguém, que vida chata teremos.
Pode até ser que tenhamos sucesso fazendo isso, mas terá sucesso sozinho e isso colega, é bem triste.
Então, pra mim a coisa é a seguinte: Se sentir vontade de falar, gritar, cantar seja sobre sua felicidade, planos ou sobre sua vida faça. Desde que seja sincero.
Coisa chata essa de que não pode falar que tá feliz? Se uma das coisas que te deixa feliz é falar que está feliz, Faça.
O que me deixa mais triste de tudo isso é que se você esta fodido e mal pago, pode reclamar, mas é estar de bem com a vida e o mundo pronto, se falar vai estragar tudo...(cara de olhos virados fiz agora)
Gostaria de saber onde esta aquele discurso bonito de ''mais amor, por favor'' por que seguindo ele vc deve sim espalhar amor e felicidade por ai, como podemos perceber o mundo anda com muitos problemas então, espalhar energias  boas seja elas quais foram vai fazer muito bem. Eu acredito nisso.
Gente na boa, conversar sobre planos e conflitos faz bem, e evita um infarto.
Parem de propagar essa história de que a inveja vai acabar com sua felicidade, o que vai acabar com sua felicidade é você se privar de fazer coisas que gosta por causa dessa mania boba de ficar falando que se falar algo vai estragar tudo.
Isso me faz lembrar um conselho em uma palestra qualquer que nem lembro qual, das tantas que sempre vejo pelo YouTube, no qual o cara dizia: ''Pessoal, entendam uma coisa se você está fazendo uma coisa é não pode falar dela pra ninguém, dê uma pesquisada e preste atenção pois provavelmente é uma coisa que você não deveria estar fazendo.''

Então, minha gente linda! É isso que tenho para compartilhar com vocês.
Beijos de Luz!

sábado, 9 de julho de 2016

Abraço

Abro os braços
Sinto seu corpo me envolver
E sua alma me abrigar
Acolher
Sinto seu calor
Amor
Os corações pulsam em sintonia 
As respirações nos acalantam
Seu cheiro se funde ao meu
Bálsamo
Fecho os olhos
E habito em ti
Meu refúgio
minha morada
Namorada

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Educação (história real)


   Dia de prova.

  Silêncio na sala.


  Aluno preocupado com o tempo pergunta em voz alta:
  - Alguém sabe as horas?
  Aluno tão educado quanto burro responde:
  - São onze e quinze.

  Breve pausa.

  Professor observa os pulsos nus do segundo aluno e questiona:
  -Cadê o seu relógio?
  -          (...)









  Nota zero.


quarta-feira, 6 de julho de 2016

Flores e arbustos

Foi Paloma quem pediu João em casamento, ali no parque, entre arbustos e flores; e ele disse não.

Daí então é que começaram os encontros, primeiro ela começou a fazer caminhadas, o que nunca fez durante todo tempo do namoro. No inicio para encontrar João, casualmente, nas alamedas de cooper, mas acabou conhecendo Ana.

Ana fazia caminhadas já há algum tempo, anos, e foi ela quem se aproximou de Paloma, porque reparou que a novata, no esporte, não fazia alongamentos. Agora Paloma caminha porque pegou gosto e Ana porque gosta das coxas de Paloma.

João conheceu Rogério, homem casado, que o parabenizou quando ficou sabendo da recusa a Paloma. E começaram a se encontrar para caminhadas, sempre regadas a histórias de aventuras masculinas.

Gustavo não conhecia nem Ana, nem Rogério, nem Paloma, nem João, mas pediu Mário em casamento, não ali, no parque. Meses atrás, em uma boate gay. Mário, ao contrario de João, aceitou, e eles fazem caminhadas no mesmo parque que os outros, de mãos dadas.

Julia conhece Ana, Paloma, João, Rogério, Mário e Gustavo, mas nunca falou com nenhum deles, porque para seu desespero ninguém, ao fazer caminhadas, parava para falar com meninas de cinco anos, montadas em triciclos, e suas perninhas gorduchas de infância não pedalavam o suficiente para acompanhá-los. Sabia os nomes de todos porque Laura e Rodolfo, os pais, tinham um trato: um acompanhava a filha, enquanto o outro fazia a caminhada. Nessas idas e vindas acabavam acompanhando, por uma ou duas voltas, alguns dos pares presentes, mas nunca se ligavam a nenhum.

Laura ficava meio assim quando Rodolfo acompanhava Gustavo e Mário. Na vez de Laura, preferia a companhia de João e Rogério que apesar de só falarem sobre trabalho, eram simpáticos. Rodolfo é que sabia do trabalho dos dois e observava severo a caminhada da esposa.

Lisa não conhecia ninguém, nem de nome, caminhava sozinha, vinha de vez em quando.

O problema se deu quando Madre Maria resolveu fazer caminhadas. O médico, o qual não sei o nome, fora taxativo tinha que fazer exercícios. E ela começou pela caminhada, exercício difícil de fazer de hábito, depois pegou jeito e passou a corrida.

Corria atrás de todos tentando pôr as coisas no lugar, primeiro Laura e Rodolfo, o que Deus une o homem não separa, nada de acordos! Depois encrencou com Rogério, homem casado sem esposa que caminhasse sozinho; e Lisa, que andava sozinha, onde já se viu, devia andar com João, homem solteiro, se perde fácil.

Mas bagunça foi quando, depois de muito rezar e comprar tênis novos com amortecedores, ela resolveu correr atrás de Mário e Gustavo. Foi um corre-corre e quem não estava satisfeito aproveitou!

Julia ficou sozinha no seu triciclo, mas por pouco tempo: Lisa a levou pra casa.

Rogério ficou rindo, só, encostado em uma árvore. Laura encontrou Ana. Mário e Gustavo corriam a uma distância razoável de Maria, mas o suficiente para ela ver as mãos dadas. Rodolfo ficou procurando Lisa e depois se percebeu de Júlia. Paloma, que se perdeu de Ana, foi encontrar João escondido entre flores e arbustos. Ele comentou: que loucura aquela! E aproveitou para dizer que gostava de Paloma, mas que eram os homens que pediam as mulheres em casamento!

Paloma saiu em caminhada, sem responder, nem alongar, talvez tenha lançado um olhar duro de indignação. Depois, quando já estava longe, abriu um sorriso maroto, faria caminhadas com João na semana que vem, ou na semana seguinte, ou um dia desses.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Se o mundo parar!

Olá! Você meu amigo leitor, ainda não me conhece e justamente por esse motivo pode pensar que uma frase de efeito igual a do título não deve ser o melhor jeito de nos conhecermos. Francamente? Concordo plenamente contigo, mas o que quero abordar com esse título não é sobre o caos da vida ou a correria do dia a dia e coisas do gênero.

Quero apenas dizer que talvez o seu mundo já tenha parado! Veja bem, eu não disse que ele pode estar parado e sim que já tenha parado alguma vez. O meu por exemplo já parou por diversas vezes e eu adoraria que continuasse assim...

Vamos aos fatos: o mundo pode parar por diversos motivos e você já deve ter sentido essa sensação de que não havia mais nada ao seu redor. Ele para com tanta frequência quando somos crianças. Afinal, quem nunca teve o mundo parado pela alegria de um brigadeiro, tão saboroso e feito pelo mais renomado chefe de cozinha: nossas mães ou avós!

Interessante é saber que não importa a intensidade que faz tudo parar, mas como aproveitamos esse momento só nosso! Pode ser no nascimento da sua filha (foi realmente um dia inesquecível) ou na rebeldia de Kurt Cobain durante sua adolescência. E se falar da poesia de Renato Russo? Quantas vezes essas palavras pausaram tudo?

Pode ser lendo Pequeno Príncipe (o amor do primeiro livro) ou George Orwell e seus bichos e o futuro de 1984. Porque não tomando um vinho novo ou arrebentando em uma banda de garagem? Naquele sábado de manhã quando se casou e isso já fazem 5 anos! Quando descobriu a história da arte da faculdade e mesmo não tendo levado exatamente tudo o que aprendeu naquele ano na memória, sabe que adora o tema e "Guernica", "O grito", Salvador Dali e Rafael Sanzio ganharam outro significado para você.

Enfim, para não me estender ainda mais, o meu mundo pode parar com um jogo ou um bom dia! Claro que pode parar por coisas ruins também, mas as lições são sempre mais importante que as dores (não é demagogia).

Essa foi minha apresentação, pois agora estarei parando o meu mundo todos os dias 5 de cada mês para compartilhar e receber ideias de quem estiver a fim de interagir! Lembre-se que um cometa ou uma bolinha de gude podem parar o mundo, mas é das alegrias e experiências destas paradas que vivemos o mundo tão maluco que não para de girar!!

Fábio Fonseca

segunda-feira, 4 de julho de 2016

A idiossincrasia diária

Etimologicamente, idiossincrasia surgiu do grego idiosugkrasía, que significa “temperamento particular”. No dicionário é definida como, designação do feitio pessoal de cada indivíduo; ou caráter típico de determinado grupo. Cabe ressaltar que o termo tem vários sentidos, podendo variar de acordo com o contexto em que é empregado. No meu cotidiano, por exemplo, eu observo que a idiossincrasia é parte da criação de muitos estereótipos que pessoas do meu círculo pessoal de convívio ainda tomam como verdade. Um exemplo é quando escuto, ou leio pessoas dizendo frases como: Todo baiano é preguiçoso; todo português é burro; os ciganos são ladrões de galinha, cavalo e rouba criancinhas; tatuagem é coisa de bandido e por ai vai. 

Esses e outros esteriótipos estão presentes nos discursos e são refletidos em diversos meios, seja na televisão, nas redes sociais, livros ou jornais. As pessoas simplesmente criam uma ideia de como as outras são, devido a uma característica observada (ou inventada) em alguns pares comuns e tomam aquilo como verdade. Da idiossincrasia vem a criação de esteriótipos e neles habitam tanto o preconceito como o pré-conceito.

Caso você seja tão curioso como eu, já deve ter se perguntado de onde surge esses esteriótipos citados anteriormente. No exemplo da tatuagem, em uma simples pesquisa descobrirá que boa parte do preconceito contra tatuagens provém da cultura cristã, como citado acima, mas havia também uma grande questão social que embutia ainda mais preconceito contra os desenhos feitos na pele. Os primeiros homens a aparecerem em público com tatuagens eram os marinheiros, cuja má fama os precediam. Junte-se a isso o hábito que a Igreja Católica tinha de estigmatizar algumas pessoas que cometiam “pecados” com letras e desenhos tatuados, e temos aí uma união de ideias que levou a seguinte linha de raciocínio: Pessoas tatuadas pela Igreja eram pecadores, portanto indignos; Marinheiros tatuados eram prisioneiros condenados e que cometeram crimes diversos. Portanto, toda pessoa tatuada era um potencial criminoso ou pecador. Esse silogismo simplista deu à tatuagem o terrível estigma de “coisa de pessoas sem valor social”, ou simplesmente “coisa de bandido”. Atualmente, o principal foco de preconceito contra tatuagens ainda é o mercado de trabalho, mas setores mais conservadores da Igreja católica, seitas neoevangélicas e populações de cidades interioranas ainda cultivam o desprezo e ódio aos tatuados.

Já o esteriótipo criado em relação aos ciganos, é evidente que são coisas simplesmente inventadas. Sabe-se que quando Cervantes, no início do século XVII, criou o tema do roubo de crianças pelos ciganos, estava inaugurando um dos maiores filões da literatura ficcional sobre os ciganos. No século XIX, numerosos autores utilizaram o tema da criança roubada como objetivo "educativo". Acreditavam que o contraste entre o "mundo civilizado" dos jovens leitores e a "vida perniciosa" dos ciganos, por suposição, incitaria as crianças a apreciar mais sua própria cultura e a obedecer a seus pais. Essas “estórias” fantasmas contribuíram bastante para criar uma imagem extremamente negativa dos ciganos. Assim os autores manipulavam a imagem dos ciganos para valorizar as virtudes cívicas e civilizadas dos não-ciganos. Essa literatura sobre os ciganos foi uma estratégia de educação moral, portanto de dominação. E isso vem se perdurando durante época, pessoas de diversos lugares no mundo e em especial no Brasil, tem medo quando um grupo de ciganos chega em suas cidades. Por anos e anos vem ocorrendo perseguições, seja pelos próprios moradores, ou pelas autoridades das cidades que fazem de tudo para expulsá-los.

Poderia citar outros exemplos, mas esses dois retratam bem que não há mais sentido manter um conceito infundado sobre um determinado grupo social ou pessoa, sem nenhuma necessidade. Como eu não posso e não pretendo discutir com todo mundo que conheço quando escuto ou leio uma coisa que não é verdade, não é justo, ou não faz sentido, às vezes acabo me calando. Contudo, é preciso falar disso e ainda acredito que se todos nós fossemos um pouquinho mais críticos, mais céticos e abertos às mudanças, certamente o ambiente que vivemos, bem como nossas relações seriam muito melhores. Aceitar que não sabe tudo me parece o melhor caminho para saber cada vez mais. 

domingo, 3 de julho de 2016

Sintaxe

Eu só sei escrever sobre o que sinto e isso, muitas vezes, implica em escrever sobre o que eu também não entendo. São emoções transcritas, nem sempre fielmente traduzidas, em algumas palavras. Palavras com seus amplos significados, mas que nem sempre são capazes de sintetizar tudo o que se passa na minha alma. 

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Você não é um impostor. Ou não é mais do que todo o resto de nós.


 Admito: Nas últimas postagens que fiz para o blog escrevi, sem dúvida, textos que estavam aquém do que eu gostaria. Falta de tempo, eu alegaria. Esquecimento. Falta de inspiração. Problemas familiares, econômicos, sociais, todos. Eu poderia alegar todas essas coisas , e elas seriam verdade. E não, esse NÃO é um texto meritocrático-todo-mundo-consegue-sou-fã-da-Bel-Pesce. A vida fode a gente, cada um sofre do seu proprio jeito e eu não estou aqui para zombar das dificuldades de ninguém. 

Estabelecemos, portanto, que eu acho que a vida não é justa e que sempre há um monte de motivos verdadeiros e importantes para parar as coisas que se faz por amor e não para pagar as contas. E é aí que, nas palavras de uns chegados "o bagulho fica louco". A vida atropela, as coisas parecem não ser prioritárias , e ninguém de nós é o Stephen King, capaz de trabalhar incessantemente e disciplinado apesar de todas as crises do mundo. E como você não é capaz de chegar ao nível dessas maravilhosas anedotas , se sent eum fracasso. 

Eu entendo isso. Você  não é a pessoa que sonhou ser. Não alcançou tudo o que a sociedade diz que seria "sucesso". Você ouve todo esse discurso de "Empreendedorismo salvará o mundo" e "se você quer você consegue" e não se identifica. Isso não é um problema da geração Y, Z ou W. Isso não é você sendo mimado em relação ao mundo. Isso é você sendo uma das pessoas normais, a maioria delas para quem nem tudo dá certo. E eu vou te falar: nós somos a maioria.

Você não é medíocre porque sua arte não mudou o mundo, nem se nunca mudar. Não é um fracasso se não é milionário aos 25, aos 35 nem aos 80 anos. O lance não é baixar as expectativas, nem acreditar 100% que tudo dá certo. O lance é que você está vivo e dando conta das suas merdas, ou está sendo esmagado por elas. Mas os seus percalçoes e glórias são seus. Não deixe pessoas que não tem esse direito te cobrarem, te fazerem sentir menor ou ridículo. Não ache que você é um impostor porque não leu aquele livro, não fez aquele curso ou não trabalhou naquele projeto, porque ainda dá tempo de fazer, ao menos, algumas dessas coisas.

Se cobre, produza, escreva, leia, poste. Mas não deixe o processo de se cobrar se tornar maior do que a parte que te animou a fazer as coisas . Você é foda, e nunca deixe ninguém te dizer que não há mérito ou força em você. Arrasa, amigue, porque esse é o tipo de coisa que mais gente precisa de incentivo pra fazer.

Um abraço, e meus sinceros cumprimentos para vocês que, apesar de tudo, continuam tentando, mesmo tendo um ou trezentos dias ruins no ano.

João