terça-feira, 27 de outubro de 2020

A presença


A mulher estava assustada. Não conhecia as razões, mas no seu íntimo sabia que algo a perseguia. Ela só queria estar em paz, então ignorava a situação. Passava os dias realizando as tarefas diárias sem nunca deixar de sentir a presença invisível.

Enquanto o dia estava claro, a presença era mais escassa. Surgia de vez em quando atrás da mulher enquanto lavava louças, na janela do quarto, ao abrir a geladeira. Quando a noite surgia, porém, a presença se intensificava e se percebia com mais frequência. E para dormir? Se a mulher fechava os olhos e virava o corpo para a direita, a presença tocava seu ombro esquerdo, se o corpo estava para a esquerda, era seu ombro direito que era tocado como se uma criança que não consegue dormir chamasse a atenção da mãe. Por esse motivo, a mulher só se deitava quando estava realmente exausta e mesmo com a perturbação, dormia.

Apesar de sentir a presença claramente, a ponto de poder indicar o seu local exato, até aquele dia ela nunca tinha sido vista. Era um final de tarde iluminado quando a mulher foi ao banheiro. Ela estava quase fechando a porta quando sentiu aquele golpe na barriga, aquele que parece chacoalhar seus órgãos internos, um choque elétrico percorreu seu corpo ao ver a figura. Aterrorizada a mulher viu a si mesma do outro lado da janela. Não como um espelho. Era um corpo com vida própria, irreconhecível, indomável, que não lhe pertencia. Um corpo que zombava da figura pálida da mulher que o olhava atônita.

sábado, 24 de outubro de 2020

Pulso (um texto sem fim)

Há algo que subsiste à vida e à morte. Algo que está além do que é ser humano e de tudo aquilo que se pode perceber com os sentidos. Um invisível que se embrenha entre os carros em alta velocidade que cortam as avenidas e que também atravessa as pessoas que caminham pelas calçadas. Há “um algo” que justifica a dor, o amor e permeia todos os pensamentos mesmo quando não é pensado. Que não tem som, cor ou cheiro, simplesmente está lá porque, por alguma razão desconhecida, deve estar, e mesmo que não se explique por nenhuma razão que somos capazes de acessar, simplesmente o é.

Algo que dá sabor ao vinho, melodia às músicas, poesia às palavras. Algo que é transcendente e não se materializa pelo trabalho, nem pela tecnologia e que por isso não está em nenhum lugar que se busque, e ao mesmo tempo está em todos os lugares. Mas não tem crença, nem prisão, chega mesmo a ultrapassar o entendimento da fé. Que tece laços e une pessoas, persiste, que sobrevive a tudo, até mesmo ao tempo, porque quanto tempo já se passou desde que “nos tornamos humanos”, transformando hábitos, valores, ordens e castas... quantas coisas passaram e quantas outras apareceram, mas esse algo persistiu, atravessou os séculos. Isso que digo, evoco e não entendo, está além da apreensão dos sentidos e dos significados e por isso não pode ser descrito nem neste e nem em qualquer outro texto, que de tão abstrato nos move e nos traz (inconscientemente?) o desejo de continuar a sentir todo esse inexplicável que é viver, ainda que em sua incompletude.


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Botando seu livro no mundo - Da Ideia à Publicação

Hoje completo 9 anos de Blog das 30 Pessoas e, para comemorar a efeméride, quero compartilhar com vocês este vídeo que fiz, a convite da Poiesis, onde traço caminhos possíveis dentro da vida literária, desde a criação até as possibilidades de publicação (falando inclusive sobre este lindo blog). Espero que gostem (e que venham outros 9 anos)!



terça-feira, 20 de outubro de 2020

Os maias estavam certos

Mandala do povo maia

Vira e mexe surge um boato de que o mundo vai acabar. Datas redondas, como virada de século, invasões alienígenas e conspirações religiosas são clássicos do apocalipse, que nos acompanham há milênios. Parece até o Osmar Terra, que desde março prevê o fim da pandemia para a semana que vem. Um dia ele acerta.


Entre as teorias mais recentes, a data de maior repercussão foi 21 de dezembro de 2012, o 13º b'ak'tun do calendário maia. Não faço ideia do que seja um b'ak'tun, perdi os outros 12 e nem percebi. Mas tem uma peculiaridade na suposta profecia maia. Eles acertaram!

Lembro que à meia-noite, no famigerado dia 21, pipocavam posts dizendo que o mundo não havia acabado. Escrevi que estavam esquecendo do horário de verão, de repente ainda faltava uma hora. Hoje considero mais provável que um mundo inteiro não acaba assim, num estalar de dedos. Ou o estalar de dedos cósmicos é mais duradouro que nossa fração de segundos.

O fato é que desde a profecia vivemos ladeira a baixo. Em 2013 as manifestações, que diziam não ser só por 20 centavos, foram só por 20 centavos. Não tiveram nenhum ganho além de postergar um aumento de passagem, que quando veio não foi de 20, mas de 50 centavos. Foi ali que o caldo começou a entornar.

No ano seguinte ganhamos até um bordão para o fim do mundo. Já faz seis anos que “todo dia é um 7x1 diferente”. E ultimamente quando marcamos um gol de lambuja saímos no lucro.

Durante o apocalipse em curso vivemos um golpe de estado, quando satã assumiu presencialmente por dois anos. Um genocida em nível mundial foi eleito. Pequenos genocidas locais foram eleitos. Um genocida tupiniquim foi eleito.

As mudanças climáticas chacoalham o planeta. Em 2014 a água acabou por aqui, nos anos seguintes teve enchentes em grandes cidades, um tornado varreu Santa Catarina, a Sibéria registrou recorde de 38° e agora nossos reservatórios secam de novo. Nesse ano já tivemos uma onda de frio acima da média em agosto, uma onda de calor acima da média em setembro, calor e frio em outubro.

Para não dizer que ficamos de braços cruzados diante da mudança climática, a floresta amazônica e o pantanal ardem em chamas, com direito ao presidente insistir que a floresta não pega fogo e culpar índios e caboclos pelo fogo, que supostamente a floresta é imune. Não precisa tentar entender.

Desde criança ouço que só alguns insetos nojentos sobreviveriam a um apocalipse. Naquela época eu achava que eram as baratas, mas pelo visto são os banqueiros e latifundiários mesmo, já que os bancos e o agronegócio seguem com lucros de vento em popa, independente da destruição que proporcionam.

Os maias acertaram, só não nos avisaram que o mundo não acabaria com um golpe seco e preciso, mas teria um fim lento e doloroso. Foram tantos 7x1 desde o 13º b'ak'tun que já torço para que a Covid-19 seja a cereja do bolo, temendo que o bolo ainda esteja apenas assando, no forno à lenha, alimentado pelas matas nativas.

* Deixe nos comentários seu sinal do apocalipse favorito! *

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Conquistas

Minha trajetória como professora de inglês é relativamente curta. Eu me graduei em nutrição e, no meio do caminho, descobri que gostava de lecionar. Comecei a ensinar inglês pra melhorar de nível e, finalmente, descobri o que queria fazer da vida. Isso aconteceu em 2016.

No último dia 15 comemoramos o Dia dos Professores e, no meio das reflexões que sempre faço a respeito da educação em nosso país, decidi colocar em prática um projeto que venho 'namorando' desde que iniciei minha atual carreira: ter meu próprio canal no YouTube.

No primeiríssimo vídeo, postado no dia 15, eu falei sobre o processo de desistir de uma carreira pra começar outra do zero. Foi a forma que encontrei de celebrar uma data tão especial e significativa.

Considero essa troca de profissão minha primeira conquista. Ao longo do tempo fui conquistando tantas outras coisas até chegar aqui. Trabalho em uma escola que possui princípios nos quais eu acredito, sigo aprendendo e melhorando meu nível de inglês, tenho esse espaço aqui pra me expressar e comecei um novo projeto. Muitas conquistas.

Mas ainda há tanto! Meu maior sonho é ver nosso país valorizando a educação da maneira que ela realmente merece. Sonho com professores bem qualificados, engajados e felizes. Sonho com brasileiros que desenvolvam pensamento crítico e que conquistem empregos nos quais eles se sintam bem e que façam nosso país crescer.

E espero que as minhas ações como professora nos ajudem a chegar lá. Quem sabe um dia...




Meus outros textos aqui no blog:


domingo, 18 de outubro de 2020

respirar galáxias

São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2020

- respirar galáxias - Cristina Santos - post 6 - Blog das 30 pessoas - 

título: respirar galáxias

   Quando respirou felicidade pela primeira vez, tossiu e até teve falta de ar.
   Passados alguns minutos, seus pulmões acostumaram-se com aquelas novas partículas, que passaram a fazer parte do seu sistema, agora, galáctico.
   Enfim sorriu.

   Oiê! Espero que estejam bem. Escrevi esse pequeno conto em março de 2017. E essa é a primeira vez que ele sai do caderno.
   Por hoje é só, pessoal. Sintam-se abraçadas e abraçados. Sorriam. Cuidem-se. E até    
 o próximo post.
   Beijos
   Cristina Santos 

sábado, 17 de outubro de 2020

Descobrir formas de me achar

Inventei uma forma de passar despercebida em lugares estranhos. Embrenho-me nas ruas, vielas, multidões que me são estranhas do mesmo jeito: fingindo que sei exatamente para onde estou indo. Como se estivesse andando na minha cidade, na minha rua, apossada do conhecimento do trajeto. Evito abordagens estranhas, porque não sou identificável como uma turista, estrangeira, outsider. Perco, talvez, a capacidade de observar as paisagens diversas como se fosse a primeira vez, com olhar de estranhamento. 
Por vezes inverto. Na minha cidade, na minha rua, no meio da multidão a que estou adaptada, atrevo-me a olhar em volta como se não estivesse acostumada aos mesmês. Arrisco-me descortinar a padaria da esquina, o gato que me espreita da varanda em frente, os berros do carro do abacaxi como se eu os visse ou ouvisse naquele instante, de imediato. Estando eu fora, finjo ser nativa, com medo de passar por perdida em lugar em que não saiba de onde voltar.
Descobrir formas de me encontrar não é esquecer como deixar de ser.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

GLÓRIA

 

Ainda reverberava em mim as luzes que vira no correr do carro, a cidade acontecendo enquanto estive por seis meses entocado, me lançando, quando muito, a duzentos metros do prédio onde moro. Qualquer aspiração de uma esticada pelo bairro era logo contida pela ansiedade em retornar imediatamente ao apartamento, como se uma força me mantivesse gravitando na órbita dos meus cômodos. Preocupado com o vírus, acabei me acostumando com o mundo filtrado pela tela e me espantei quando, ao andar de carro, meu conhecimento teve um pequeno soluço sobre o funcionamento da máquina: como liga, quais os barulhos, quanto acelerar, para onde vamos? Então o telefone tocou. Não o celular, mas o fixo, aquele aparelho que eu já considerava morto, servindo somente de enfeite na parede. Atendi sem muita ansiedade, a voz confirmando meu nome e anunciando:

 - Aqui é da central de memória da Glória.

 

Muito mais de seis meses não pensava em Glória. Sua imagem, que um dia foi uma tela de fundo fixada em meus dias, agora era um fragmento que vez ou outra deixava-se entrever em segundos súbitos de aparição e sumiço sem vestígio. Glória e nossas horas. Glória e os planos que não pude considerar naquela época. Glória e seu beijo que quase me engolia o rosto – e como foi que me acostumei àquilo e queria ser engolido pelo enigma que ela me apresentava?

- Glória... é você mesma?

- Não, senhor. Aqui é da central de memória da Glória.

- Como assim?

 

Como assim? Era uma curiosidade que beirava o gracejo o jeito de Glória me perguntar sobre assuntos os mais variados que, sabe-se-lá como, surgiam após o sexo, o cigarro, o chocolate e o ventilador. Como assim, somos antigos, recordo de ela me indagar quando contei de um documentário que vira em alguma quarta de insônia. Eu também não tinha certeza de ter entendido o programa e expliquei gaguejante, como se fosse inquirido por um professor que me testasse a atenção: somos feitos de átomos, nós, tudo que existe. E os átomos que nos constituem são basicamente os mesmos desde que o universo nasceu. Ela baforou a fumaça em direção ao teto e esperou que o ventilador dispersasse todos os vestígios. Sem me encarar, continuou: como assim, nasceu?  Foi a vez do meu pensamento titubear, confuso entre o orgasmo recente, o álcool boiando por dentro e as palavras querendo me dar uma rasteira. Nasceu é modo de falar. Quando o universo surgiu, quando teve o Big Bang e tudo mais, quando foi surgindo nosso planeta e a vida, os átomos que estavam aqui no início ainda continuam aqui. Então nosso corpo é feito de resto de estrelas e também de qualquer algo. Você pode ser feita, nesse momento, de átomos que já foram do cachorro de estimação da infância de sua avó. Lembro da sensação de perceber o insólito dessa ideia quando a disse em voz alto, eu mesmo sem ter certeza do que falava. Ela sorriu e disse: bonito, isso. Bonito e assustador.

 

- A senhora Glória contratou nossa empresa para gerenciar sua memória de longo prazo. Somos especialistas em arquivar e administrar a memória das pessoas.

- Desculpa, não sei se...

- Conforme o senhor vai envelhecendo, suas recordações começam a perder a nitidez, correto? Algumas até se perdem por desuso, outras se enleiam com guardados de pouca importância e acabam por se contaminarem.

- Eu sei, eu acho que sei de tudo isso... Não sabia que era possível...

- Sim, é. Por isso a senhora Glória nos contratou e estamos implementando formas mais viáveis de arquivo.

- E por que estão me ligando?

 

Foi por telefone que nos despedimos, nossas pistas se bifurcando nos desejos, ela querendo o que não era minha vontade. Sem mágoas, sem promessas, da mesma forma que começou e aconteceu toda a relação, tão rápida no calendário quanto lenta na força da experiência. Quase agradeci, mas soaria feito um contrato.

 

- No momento a nossa cliente possui um pacote de serviços que não tem muito espaço, o que significa que estamos dando prioridade somente para o fundamental. O senhor deve imaginar onde se encontra nesse momento.

 

Onde é que me encontro, Glória? Seguimos nossos passos, encontrei outros corpos onde instalar minha imagem, outras vozes para ritmar meu cotidiano. Ainda te procurei nas redes sociais, segui seus rastros em um misto de curiosidade e nostalgia, mesmo sabendo que não haveria mais o que ser dito: nosso encontro foi acontecimento irrepetível cujas energias se guardaram, de certa forma, em algum lugar de nós. Como assim, dez anos? Ela saindo do banho, o assunto já era outro, mas o espanto ainda ecoava nela, uma onda vibrando sutil no pensamento: como assim, dez anos? Eu me entretinha com as pessoas que andavam lá embaixo, indiferentes à nossa existência. Precisei resgatar a frequência em que ela estava na conversa para retomar o assunto: é entre sete e dez anos. Nesse período todos os átomos do nosso corpo se trocam, se renovam, são outros. Não todos de uma vez, mas a ideia é essa. Glória sorriu de canto e perguntou entre um gole e outro de vinho branco quantos átomos teríamos trocado naquela noite. Agora, nessa noite penso que já trocamos tanto cada mínimo do que somos que podemos considerar como se esses corpos que agora somos nunca tivessem se encontrado. Não foi o seio que você tem agora que tive nas mãos; não foi essas costelas que agora me coçam que você marcou com sua unha. E, no entanto, ainda seria capaz de te reconhecer apenas com as pontas dos dedos. O que é que ficou de nós?

 

- Ela vai me esquecer? Completamente?

- Esse é o motivo de nossa ligação, senhor. Estamos com a promoção Revés. Adquirindo esse pacote de serviços o senhor pode manter sua presença com maior constância nas histórias da senhora Glória.

- Pago para que ela se lembre de mim?

- Se o senhor assim desejar.

- E se ela não quiser mais lembrar de mim?

- No momento ela possui só algumas cenas que ficaram retidas nos olhos dela. Mas com mais instantes chegando, ela não perceberá que você desapareceu de suas introspecções.

 

A voz robótica apresentou as vantagens do pacote que me oferecia, a validade do combinado e a duração que os clarões com minha imagem teriam. Poderia, se quisesse, acrescentar um upgrade há cada ano para que, talvez, crescesse nela o interesse em saber como estaria minha vida. Nossos átomos, novos e antigos, poderiam se encontrar como se inaugurassem outra relação, prenhe de descobertas. Seríamos nós outra vez, Glória. Ou o melhor seria deixar que nos espalhássemos para formar outros seres, outras perguntas, outros abraços, flores de antúrio, praias do Japão, chão marcado com pegadas? Não posso manter um pacote com esse valor, disse ao telefone, apreensivo com o raio que entrava pela janela e retratava naquele momento um homem em pé, segurando o telefone em uma das mãos e um cigarro na outra. Distraído com o passado, fechei um acordo sem perceber os detalhes, esses minúsculos grãos que mal registramos na consciência.

 

- Com esse plano eu ainda permanecerei nela?

- Uma vez por mês, em média, numa repentina memória entre um gole e outro de vinho branco.

Apaguei o cigarro, soprei uma última baforada em direção ao ventilador e me dei por satisfeito.

 

 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Chevening Application: Networking e Plano de carreira

Olá pessoal,

Estamos há menos de 20 dias do encerramento das inscrições Chevening. Como prometi, no post de hoje eu vou compatilhar com vocês exemplos das minhas redações. 

Antes de compartilhar os textos, vale relembrar que nessa fase da seleção, devemos escrever quatro redações com no mínimo 100 e no máximo 500 palavras cada uma. As redações são sobre: 
a) suas habilidades de liderança
b) suas habilidades de networking
c) motivação para o curso que você quer fazer
d) seu plano de carreira pós estudos

Bem, compartilharei duas das minhas quatro redações com vocês, em inglês mesmo. Decidi não traduzir os textos para o português, pois assumi que os candidatos Chevening devem ter uma certa familiaridade com a leitura de texto em inglês, certo? 

O outro motivo para não traduzir (e também para não corrigir) os meus textos é para que vocês consigam perceber que o inglês não precisa ser perfeito. O meu não era quando me inscrevi. Lendo os textos novamente fiquei com vergonha de alguns erros bobos que cometi na época, mas fiz questão de mantê-los para acolher aqueles que ainda não dominam o idioma tanto assim. Você não está sozinho! :) Para os que dominam, não me julguem hehe

Obviamente, podemos e devemos aprimorar o nosso conhecimento do idioma. Mas para essa fase do processo seletivo, é mais importante que você tenha uma narrativa forte e convincente do que um inglês perfeito. Nesse momento, o inglês precisa ser suficiente para se comunicar / entregar a mensagem, ainda que com pequenos deslizes. Então, não se acanhe.

Sem mais delongas, vamos aos exemplos.


Exemplo 1 - Networking

Escolhi essa redação em homenagem ao dias dos professores, que é hoje! Parabéns aos nosso mestres. Na minha redação de networking, eu usei um exemplo fofo (e simples) de uma fala da minha professora de Matemática do Ensino Fundamental. 

I consider myself a communicative person and I believe the verbal communication is one of my strongest interpersonal skills. I can easily express my ideas, opinion, thoughts and feelings. Another strong networking ability I have is the long relationship I have been developing with my teachers and colleagues from school-college and people from job and church. I am 27 years-old and until today I keep contact with my Math teacher, Marilena,  from elementary school. Even after many years, she present me as pride example of her students. During her classes the students needed to make many exercises. I was normally the first one to finish and then I started to get close to my friends and help them to finish their exercises. She tells this story with a kind of excitement because this is not what usually happens. 

- When students finish the exercises, they start to talk about different subjects and do not let their colleagues finish - she says - but not Jacqueline. She went to help her friends, explained them how to do the exercises, and as a consequence, she helped me. 

These skills are naturally in me. Early I was invited by my colleague mothers to help their children with the studies. It continued even during my college. 

My colleagues always reached me for help with the studies and I always was pleased to help them as much as I could. Sometimes, some of them asked me for private classes, which helped me to make some money and also helped me to make new friends. Joyce and Tuani, from elementary school, and Tatyanne, from college, deserve to be mentioned here because our friendship started with the private classes and we are still good friends.

The relationships I have built during my life opened to me some opportunities, for example: writing some chapters of different books in partnership with colleagues, getting a scholarship in a specialization course, English classes for free with a native English teacher, the position I have in the BALANCE Program Trial and many volunteer jobs. 

I hope to employ not only my networking skills, but all my skills to strengthen the UK Science and Innovation Network in Brazil, to improve the Data Science in Brazil, and even to develop new and good data scientists.



Exemplo 2 - Plano de carreira

Acredito que essa é uma das redações mais difíceis, especialmente porque temos que explicar como o nosso plano de carreira está alinhado com os objetivos do UK no nosso país. Percebo muita gente com dificuldade aqui e por isso decidi compartilhar. 

UK is a leader on Science and Innovation worldwide and Brazil is becoming one of the world’s science powerhouses.  Areas of UK expertise complement many of the objectives of Brazil and I believe the UK expertise on Data Science could help my country to develop this science and increase its quality. 

With that in mind, after my studies in UK, I intend to return to Brazil prepared to work with Data Science and Health, if possible in partnership with the Brazilian Ministry of Health, as I do nowadays. I also plan to become a leader in Health Data Science in Brazil and apply my experience in the UK to train new and high qualified Data Scientists in my country. I do believe this kind of interchange will strengthen the UK Science and Innovation Network in Brazil and I am willing to apply all my skills to further UK-Brazil cooperation on Science and Innovation. A long term career goal is to apply the Data Science, more specifically Big Data and Machine Learning, to provide evidence on the efficacy of health interventions, complementing the evidences from clinical trials. Another long term career goal is to reproduce in Brazil the UK Big data initiative to impact on health.


É isso, pessoal. Espero que os textos ajudem vocês. Como de costume, fico disponível para bater papo e ajudá-los pelo twitter (@silvajacqueline).


Até o próximo post ;)


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Sutilezas

Eu gosto dos detalhes, das coisas pequenas, tímidas e sutis.
Daquilo que a vida corrida atropela, quase imperceptível.
Perceber o sutil me dá a sensação de ter descoberto um segredo, um tesouro, que estava ali enterrado, sem demarcação.
Quero dividir este tesouro, compartilhando algumas sutilezas da vida, que podem facilmente passar despercebidas.


O aroma da camomila que desabrochou esses dias.
A suavidade do caminhar da minha gata por entre os frascos de cremes e perfumes amontoados na cômoda.
O brilho do sol refletido na teia de aranha sobre a porta. 
O bater asas da pequena borboleta alaranjada que veio visitar o jardim.
O barulhinho da fonte de água das gatas.
A sensação do ar entrando, preenchendo os pulmões, e em seguida saindo pelas narinas.
A leitura de uma história antes de dormir, recordando um hábito da infância.
O vento brincando com os cabelos.
O cheiro de terra molhada após chover.
O gosto delicado da pera.
A voz macia da mãe cantando uma canção de ninar para o bebê. 
A água do chuveiro caindo sobre a cabeça e escorrendo pelo corpo todo.
A folhinha nova que nasceu na samambaia e ainda está toda enroladinha...



Que tesouro você descobriu hoje?






P.S.: Enquanto escrevia este texto me lembrei do filme "O gosto de cereja" (1997), de Abbas Kiarostami. Você já viu? Que filme lindo, delicado e comovente, indico demais!
P.P.S.: Também lembrei de uma cena do filme "Cidade dos anjos" (curiosamente lançado no ano seguinte), na qual Maggie descreve para Seth o sabor de uma pera: "Doce, suculenta, macia ao paladar, granulosa, areia doce dissolvendo na boca".




quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Obsolescencia programada

Quiero decir que obsolescencia programada y que qué piola las señales de humo en épocas pasadas porque lo único que había que recambiar era la leña;


y que qué piola las charlas cara a cara por accesibles sólo superar la vergüenza de hablar con otro, otra, otre;


y que qué piola las juntadas con sanguchitos y cerveza porque la risa y los gestos sin emoticón también pueden ser sintéticos,


y que un celular no nos robe la alegría porque es darle demasiado a un aparato obsoleto porque no es una persona, porque no siente y no piensa, porque no abraza y no ríe,


porque es un aparato.



segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A FACA, O QUEIJO E A PANDEMIA — DIÁRIO DO ISOLAMENTO

Gostaria de compartilhar contigo um pouco dos meus dias de isolamento. Basta clicar aqui e ler trecho do meu diário. 

colagem: augusto tenório




domingo, 4 de outubro de 2020

Led

Agora, só, encaro a luz vermelha do mouse.
Ela reflete na parede do meu quarto.

Lembro vinho do mais simples
Tua ideia abstrata.
Boca cheia de intenções 
Você de ouro, eu prata.

O meu suave com gelo
Exala o cheiro da uva.
Me acompanha no pelo
Esquece o medo da chuva.

Largo essa taça no chão 
Enquanto escuto partindo.
Vejo o perigo nos cacos
Sinto meu sangue fluindo.

Fumaça nos denuncia 
Corpos se pegam no fogo.
Ebulição de prazeres 
Térmica, mente o dobro.

Cheio de ideias tão líquidas
Fumando caro vapor. 
Quando tu vai embora 
Abro a porta pra dor. 

Faz parte do desapego 
Já estava dentro do plano. 
Passagem das estações
Destino, deus, desengano.

Agora só encaro a luz vermelha do mouse.
Ela reflete na parede do meu quarto. 




sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Sobre o momento de mudança

Vira e mexe chega na nossa vida um momento de mudança, um momento que é necessário fazer uma escolha, um momento de fechamento de ciclo para abertura de um novo ciclo.

Esses momentos são momentos chaves, por que são momentos recalcular a rota ... onde você precisa estar atento/atenta para saber como direcionar e como tomar as decisões coerentes com o momento da sua vida. 

Quando você passa por um fechamento de ciclo é importante colher os aprendizados daquele ciclo e ir seguindo com o fluxo da vida. 

O novo está chegando... 
Ânimo, novos ares, novos relacionamentos, novas pessoas, novos lugares... 
Novas perspectivas que abrem a mente para a capacidade de acionar e ativar novas conexões, e que podemos não estar acostumados ou não temos usado há muito tempo ou já nem usamos mais. 

E isso pode provocar medo, insegurança, ansiedade... são sentimentos naturais da nossa experiência humana.

Talvez sentir uma insegurança do que vai chegar e que é importante estar em atenção, centrado e em amor próprio, pra não se deixar levar e se perder nesses sentimentos.

O ponto de mudança é um ponto chave, é um ponto que requer um estado de presença e de consciência. 

O início de um ciclo impacta todo o resto do seu percurso e a vida vem nos ensinar em ciclos.

As experiências são cíclicas e impermanentes, mas nunca são a mesma coisa. Elas estão sempre numa outra vibração, numa outra elipse da espiral.
 
Os ciclos da vida vêm nos ensinar e cabe a cada um de nós aprender com eles e estar atento ao ponto de mudança, e mais do que o ponto de mudança externo, ao ponto de mudança interno. 

O que dentro de si está morrendo, e o que está nascendo ou renascendo. 

O que dentro de si está deixando ir (o desapego) e o que dentro de si está florescendo (pra você saber o que precisa nutrir). 

Vamos nutrir com amor próprio a nossa vida, nutrir com amor as nossas relações, pra que os ciclos se fechem e novos ciclos se abram. <3 

Aline Duarte


_Eu fecho aqui um ciclo com o Blog das 30 pessoas, feliz com essa experiência e pela oportunidade. 
Quem sabe retorno num outro momento.
Grata a todo o grupo. Beijos, Aline Duarte



quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Eu não gosto de receber visitas

“Nossa casa é um templo”.


Eu nunca tinha entendido muito bem o que essa frase significava quando morava com meus pais. Eu não via problema em receber visitas e não me incomodava tanto com bagunça, até que me mudei.


Morar sozinho é uma grande odisseia, um novo desafio praticamente todo dia. São contas para pagar, casa para arrumar, comida para cozinhar... e quando chega a noite e só queremos preparar um miojo e cair na cama, nos deparamos com uma geladeira vazia porque simplesmente esquecemos de fazer compras no caminho de volta do trabalho. E o que nos resta é enfrentar a dura realidade de gastar dinheiro com delivery.


Não é fácil! Não vai ter ninguém para fazer por você, comprar para você ou pagar seus boletos. O lado bom é que passamos a dar muito valor ao que construímos, ao lugar onde moramos, e às coisas que temos. Começamos a perceber que não é fácil fazer a manutenção de um lar.


Ser responsável por todas as tarefas da casa te dá uma dimensão maior das responsabilidades. Sabemos quanto tempo gastamos para manter uma casa limpa e confortável, e queremos mantê-la assim pelo maior tempo possível. E AI DE QUEM sujar e não limpar!


Quando entendemos isso, visitas passam a ser sinônimo de “bagunça”. 

Objetos que sairão do lugar, farelos e gotas que cairão no chão, sem falar a sujeira que tantos pares de sapatos vão trazer para dentro de casa. 

Quer uma conta simples?

Pegue o número de convidados e multiplique pela quantidade de louça na pia. Se isso não te desestimula, não é você quem está lavando.


Outra possível situação é estarmos naquelas semanas corridas: trabalho, faculdade, mil cursos, e sem tempo hábil para cuidar da casa. De repente chega um final de semana e você recebe mensagens dos amigos/familiares/contatinhos querendo marcar alguma coisa na sua casa. Você olha ao redor e tem cueca até na pia. Aí é correr pra limpar tudo nos 15 minutos que o uber leva até sua casa. 


É tanto trabalho que vem antes e depois das visitas, que passamos a pensar duas vezes antes de querer receber alguém. Cansa.


Morar sozinho é se acostumar a viver com você mesmo. Passamos a saber o quanto de bagunça suportamos, quando queremos algo mais limpo, a quantidade de louça na pia que consideramos suportável, e com que roupa nos sentimos confortáveis - adeus calças em casa! -. Mas é um filtro muito particular, que na visão de quem é de fora pode parecer desleixado. 



No fim do dia acabamos entendendo porque a nossa casa é um templo, e que às vezes é mais cômodo apenas sair para um barzinho com os amigos e deixar a sujeira por lá mesmo.