quinta-feira, 30 de julho de 2020

A Lenda da cobra dourada

A lenda da cobra dourada

               Que te motiva se rastejar tanto dona cobra?...Indagou o arruaceiro javali ... do fundo da alva mata ela vem e acende tudo com seu grande porte dourado... convoca a bicharada da floresta para observar alcovites de um casal de porcos-espinhos, queria comê-los... a anta  toda matreira, pasma com a festa da novidade, perdeu a oportunidade... não conseguiu mostrar seus dotes incríveis pra toda a selva, antes aproveitou para adicionar leves palpites de maldade... se perdeu... a macacada riu por cima, fingiu condolências pela dor do cotovelo que não tinha a coitada da cobra... arrastava-se com tanta dor o seu dourado corpo, que nem se preocupou em saber o quão indigesto seria comer porcos-espinhos... Na ânsia do sibilar, esperou que o macho do casal ficasse sozinho e com toda a sua raiva o atacou, sem mastigar o engoliu... 
              A macacada inconformada com tamanha falta de racionalidade, temeu pela vida da fêmea; que  mesmo abalada com tamanha atrocidade, não saiu do lugar... pois sabia que antes mesmo de receber o avisado bote, a cobra morreria indigesta e sem saber o quanto era reluzente sua cor dourada. Uma noite de luto na selva... todos se doeram pela cobra que iluminava por onde passava... menos a macacada sarrista que cuidou de ajudar a afiar um a um os espinhos da sua querida e tão amiga porquinha. Naquela mesma noite foi editado uma lei que valeria por todos os lugares onde a natureza tocava água, terra e céu. "Proibido sair da cadeia alimentar."

Dikamor...





domingo, 26 de julho de 2020

minha sílaba


"estava cortando a cebola quando o celular tocou"
imagina rasgar a vida pelo meio
minhas dores em mise en place
o sal hidrata os meus lábios rachados
lágrimas tão brancas como o sêmen do meu homem
perdi o olfato a vontade a viagem 
meus cavalos estão trocando sozinhos as selas e os arreios
os cachorros tomam seus banhos
escravos escarro cuspo e menosprezo
enquanto atendo este telefone
queria ir embora com as nuvens
mas vivo sempre deslocada como a terra
ofegante e interessada
a vida aqui é um mangá sentida de trás pra frente
alô


sexta-feira, 24 de julho de 2020

As teias da vida

E de repente... ali estávamos nós. Depois de tantos anos nos reencontramos com tal intimidade de quem nunca havia se separado. Foram tantos livros começados, difícil até reordenar as folhas soltas escritas à mão no papel já amarelado. Mas também estavam aqueles “filhos da tecnologia crescente”, impressos, bem grampeados, mas com algumas rasuras feitas em caneta preta com indicação das páginas que deveriam ser reimpressas. Tantos capítulos 1, incontáveis enredos de histórias, o mesmo sobre as personagens bem descritas (idade, cor dos olhos, nacionalidade, ocupação, traços da personalidade)... e que saudade de quando eles ocupavam grande parte dos meus dias nas horas vagas da escola. E eram muitos!

Hoje à tarde todos eles me fizeram companhia, revistei aquela Fernanda que, aos 11 anos, escreveu um romance adolescente (esse terminado!) chamado “Dias de Tempestade”. Também a Fernanda que 1 ou 2 anos depois rascunhou suas primeiras impressões sobre a política brasileira como algo a ser explorado, em um esboço que ainda tem uma linha de título a ser preenchida, e que seria uma história contada durante o Regime Militar. O primeiro capítulo, chamado "Manifestando Idéias" (sim, ainda era acentuado), tomava lugar em 1964, na Praça da Sé, e tinha em seu primeiro parágrafo “Era um domingo de sol, uma barulhenta manifestação reunia estudantes e trabalhadores. Era a época do regime militar, conhecida como Ditadura. Foi uma reunião de decretos, repressão policial e intimidação política. Época em que se modificaram as leis trabalhistas, as censuras teatrais, literárias, e principalmente a imprensa. Foi também aí que apareceram revoltas, comícios para todas as opções e uma grande queda no fim da indústria do café”, sendo que esta última frase aqui grifada, foi atenciosamente colocada entre parênteses com um ponto de interrogação ao lado, como fazem os professores dedicados não somente a corrigir mas, sobretudo, incentivar seus alunos, como o fez minha professora de português na época, a quem pedi uma leitura da minha “mais nova grande obra”.

Hoje, revisitando esse texto, num momento em que venho tentando deixar fluir essa energia criativa engavetada por tantos anos, percebo que a mágica repousa justamente na ingenuidade daquela menina de 13 anos que misturou a Era Vargas com o Regime de 1964. Quanta coisa mudou desde aquela época! Talvez aquela menina nunca pudesse imaginar seus futuros caminhos, não fazia ideia que se dedicaria a estas questões, que o Regime Militar (e a política de uma maneira geral) emergiria com tanta força ao longo dos anos, a ponto de se tornar sua escolha (mais difícil) de vida.

Mas não foi somente isso que veio à tona junto com as memórias e o cheiro das folhas antigas, reencontrei uma Fernanda que acreditava que tudo aquilo era muito importante, aliás, “a coisa mais importante a se fazer na vida”, sentada no fundo de casa, com os cadernos e folhas no colo, inventando inúmeras histórias. Isso significava reinventar-me também, buscar outros lugares, novos mundos, era como criar para mim diferentes personalidades a cada nova personagem, num período da vida em que estamos buscando nos colocar no mundo. O que não podia ser previsto, claro, era que esses papeis se inverteriam, a menina que ingenuamente escrevia sobre o Regime Militar sem ter a mínima noção do que se tratava (para além de perceber aquele período como algo muito odioso que deveria ser discutido) se tornou a mulher que amadureceu tudo aquilo profissionalmente em troca de relegar à prisão a poesia da escrita.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Enigma

E ao desligar a televisão, você se assustará ao ver a imagem do Divórcio se formando na tela preta. Ele olhará fundo para você e não te dará escolhas (ele nunca te dá) a não ser ouvi-lo.

Eu não sou o que você vê. Eu não sou nada além do que você mesmo, envolto em sua ciranda de medos, de lugares já visitados, de filmes repetidos, de projeções caducas, carcomidas, eu não sou nada além do que projeções de sombras na caverna. Você não é sequer capaz de me ver por inteiro, minhas concavidades, pregas, sinuosidades. Você não vê mais do que meus contornos falaciosos, fantasmagóricos, espectrais. Qual é o meu enigma? Eu já sei o que você vê, o que você pensa quando ouve falar sobre mim, mas o que te escapa? O que é aquilo que sua visão, cega de tanto ver, deixa evadir-se? Onde está o não dito, o obscuro, o encoberto? Ao olhar para mim, é preciso procurar pelos brancos da página, pelos silêncios da música, pelos matizes. Olhe para mim como quem busca algo além do que já vê e demore-se nessa busca. Não procure o liso, o esférico, o transparente, o homogêneo. Busque antes as arestas, os atritos, as tensões, as rugosidades, o translúcido, as cambiâncias. Busque pelo erro, pelos desvios, pelas inconstâncias. Eu estarei lá também, só que de um jeito que a visão saudável não vê. Veja como o cego, Antônio! Tateie, machuque-se em terrenos ásperos, esfole-se, sangre, pois também há vida na morte: Morra, Antônio! Se sou sua primeira morte, aproveite e faça disso sua primeira ressurreição. Basta deslocar um milímetro o olhar e a mudança se verá. Uma cor que estava lá e você não percebia, uma pincelada mais leve, mais sutil. É preciso calibrar a visão, regular os ângulos, mudar a posição, os pontos de fuga. O que te faz único, Antônio? Qual é o modo de ver o mundo que é só teu, não reproduzível, aquele que não cabe em moldes? É só quando olhar para mim de um jeito teu, é que fará sentido ter morrido. E olhe para você mesmo como quem busca se desencontrar. Mas lembre-se de bagunçar tudo antes de começar a arrumar. Aprendizados demasiado rápidos são pedras que voltarão a rolar e triste será Sísifo mais uma vez! Diante de soluções fáceis, eu prefiro a indeterminação que reside nos canais mal sintonizados, nas imagens distorcidas, nas regiões de fronteira, nos interstícios, nos desenquadramentos, nos estilhaços. Eu prefiro o “não sei” ao “tenho certeza”, o “talvez” ao “jamais”, o titubeio à segurança irremovível. Ser mutável antes de ser estanque. Cecília dorme no quarto ao lado. Com o que ela estará sonhando? Com o que os bebês sonham? Será possível perceber um som, um muxoxo, uma garatuja de sentido? Há mais verdade num monossílabo sonâmbulo de um bebê do que no discurso inflamado de um ditador. Há mais vida na dúvida, terreno das possibilidades infinitas, do que nas certezas, com tudo o que há nelas de esterilidade. O que te faz crer que sabe tudo de Silvana é ser casado com ela? É ter uma certidão de casamento? As pessoas não são monocromáticas, homogêneas, não possuem perfeição trigonométrica, são antes números irracionais, dizimas não periódicas, são ruidosas em suas imprecisões. Há que se respeitar a singularidade complexa dos seres, Antônio. O que importam as coisas além do que aquilo que elas fazem mudar em nós? De que importa um divórcio senão por aquilo que nos divorcia das versões repetidas de nós mesmos?

terça-feira, 21 de julho de 2020

É, minha gente...

Perdão, galera.
Escrevo esse minipost direto do app do blogger no meu celular.
Dia corrido, umas coisas importantes a resolver, várias me tirando a atenção... Não vou conseguir dar a atenção merecida pro post de hoje. Não quis, entretanto, faltar com vocês.
Um grande abraço!
Bom final de noite!
E aos queridos e queridas que estão estreando com a gente, meus mais sinceros votos de boas-vindas! 
Aquele abraço! 

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Cidadão, não. Idiota.

Nívea del Maestro disse uma das frases mais polêmicas das últimas semanas. E olha que a concorrência é grande. Abordada junto ao marido por um fiscal conscientizava sobre medidas mínimas para evitar o contágio por Covid-19, Nívea reagiu com a famosa “Cidadão, não. Engenheiro civil, formado, melhor que você”. A também engenharia, porém sem registro profissional, pode não estar totalmente errada.

Na Grécia Antiga o cidadão patriota era aquele que zelava pelo bem comum. Atuando na esfera pública e tomando decisões políticas, os patriotas trabalhavam para que a sociedade se desenvolvesse como um todo, de forma harmônica e equilibrada.

No caminho contrário estavam os cidadãos idiotas. Estes abriam mão da participação em decisões coletivas e colocavam os próprios interesses acima do bem comum. Em pouco tempo, já na antiguidade, os idiotas passaram a ser vistos como pessoas sem muita instrução.

Mais de dois mil anos depois, parece claro que as pessoas que insistem em sair de casa sem necessidade, se aglomerando sem máscaras para tomar um chope, não estão preocupadas com o bem comum. Olham para os interesses particulares e ignoram as medidas coletivas. Comportamentos muito mais próximos dos idiotas que dos cidadãos.

Inspirados pelos gregos, mas já no século 20, os existencialistas apontavam a particularidade dos seres humanos. Diferente dos animais, restritos a serem da única forma que os instintos permitem, a razão nos torna capazes de sermos autores da própria existência. Essa característica permite que os humanos sejam múltiplos e diversos, ao invés de restritos a uma única definição.

Curioso que diante de uma infinidade de possibilidades em nosso destino, algumas pessoas prefiram se restringir a uma única definição. Um engenheiro e nada mais. Que agindo pelo impulso, fecha os olhos para a razão e coloca o bem comum em perigo com suas atitudes egoístas.

Por uma dessas ironias da vida, o fiscal, supostamente pior que o engenheiro, era Flávio Graça, não apenas formado, mas doutor em ciências veterinárias. Se arriscou ao sair de casa durante a pandemia para fazer seu trabalho, tentando conscientizar a população sobre a importância de uma simples máscara, para colocar o bem comum acima dos interesses individuais.


* Menção honrosa ao desembargador Eduardo Almeida Rocha Prado de Siqueira, que sintetizou com perfeição meu texto deste mês e o do mês passado.

domingo, 19 de julho de 2020

Estreando

Oi 😊

       Esse é meu primeiro texto aqui no blog. Conheci o projeto há pouco tempo através de uma grande amiga que também escreve aqui, Jacqueline Silva. Assim que conversamos sobre o assunto fiquei pensando no que escrever, como contribuir, o que mais gostaria de expressar. Daí veio a ideia de falar sobre minha profissão.
    Escrevi um texto sobre uma experiência recente que vai precisar ficar na gaveta, pois, lendo alguns dos textos publicados anteriormente, me deparei com o post do Thiago Matiolli, Estreia, e senti vontade de falar sobre uma das minhas muitas estreias.
    Sou professora e, quando li o texto do Thiago, me lembrei da sensação de comandar uma sala de aula pela primeiríssima vez. Naquele momento eu não fazia ideia de que iria me apaixonar por uma profissão jamais cogitada e que, por conta disso, minha carreira e, consequentemente, minha vida iriam mudar.
    Naquele momento meus sentimentos eram vários, bons e ruins, mas devo confessar, eu estava A-P-A-V-O-R-A-D-A! Morrendo de medo dos alunos não gostarem de mim, que eu não iria conseguir controlá-los, que eles não iam aprender nada comigo... Drama Queen!
    Fiquei pensando em toda a energia que gastei ficando com medo de algo que até o momento tem sido incrível. Eu AMO ensinar, AMO meus alunos, AMO minha profissão. E é por isso que não vou encarar minha estreia aqui no blog da mesma forma.
    Quero que seja um espaço de expressão, troca, aprendizado... Um espaço que pode me guiar, nos guiar, para coisas incríveis. Que, a partir dessa estreia, todas as outras sejam recheadas de bons. Que eles sejam as estrelas das estreias.





sábado, 18 de julho de 2020

os beijos dos ventos



São Paulo, sábado, 18 de julho de 2020

- os beijos dos ventos - Cristina Santos - post 3 - Blog das 30 pessoas - 

   Oi! Espero que estejam bem 💛 Vamos para o poema de hoje. 


título: os beijos dos ventos

canto no campo
os beijos dos ventos
magnético sol
amor perfeito

canto a poesia no peito
no céu da boca eu não invento
sou pássaro guerreiro
e amante do tempo

canto poesia aurora
danço prosa boreal
respiro romance de cinema
amor perfeito é Aurora Boreal


   Esse poema também escrevi em maio de 2020, no curso on-line: Encontros de Escrita Criativa. 
   E por hoje é só, pessoal. Sintam-se abraçadas e abraçados. Cuidem-se. E até o próximo post.
   Beijos
   Cristina Santos 



O Mundo É Grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

- Carlos Drummond de Andrade - poema: O Mundo É Grande - que faz parte do livro: Amar Se Aprende Amando - 

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Estado de Pausa

Composição com o céu do relógio, e da floresta por Rene Magritte ...


    Agora os relógios podem parar seus ponteiros, essas lâminas fatiando pouco a pouco os futuros esquecimentos. Números, parem suas mudanças calculadas. A Terra piscando dias e noites não pode mais nos enganar. Anuncio a quem quiser: estamos vivendo um refrão. Pronto, podemos parar de fingir que não percebemos que, em algum lugar, o calendário engasgou e estamos presos no mesmo dia. Há dias. Não, não há dias, apenas um único dia contínuo. Eu sei, você sabe: estamos morando em uma data que tem se repetido. E se você insiste em não ver que a vida gaguejou, tire pelas notícias. A qualquer momento policiais atacam a população negra pelo mundo afora. A qualquer momento membros do governo dizem alguma bobagem capaz de levar as pessoas a morte. A qualquer momento o fim do mundo é notícia fresca.
     Estamos presos há tanto tempo (não se deixe hipnotizar pela linguagem, essa sereia) no mesmo dia, que já deixamos de escutar a voz de quem avisa Os absurdos cotidianos são imagens tão passageiras quanto um meme, uma sirene, uma propaganda subliminar. Baudelaire, na Paris do século XIX, já avisava que a paixão por uma passante era intensa na duração de alguns metros, até a moça dobrar a esquina. A novidade engolindo o novo, criando a fantasia de que os minutos avançam. E mais à frente Chico Buarque viu a mesma passante espelhadas nas vitrines. Mais uma demonstração de que estamos nos repetindo.
    Talvez você esteja pensando que estou entediado com a quarentena e não note as transformações. As vejo, claro: sei de nascimentos e mortes, de amores que explodem e se apagam feito estrelas. Porém, ainda assim, garanto que é um único e interminável dia que copia a si. E não falo de eterno retorno. Não falo da cobra mordendo o próprio rabo. Esse dia não retorna com pequenas metamorfoses nem nos convida ao aprendizado do que já foi. É EXATAMENTE o mesmo dia. Se ainda não te convenci, dou mais exemplos: nos últimos três meses (que só parecem três meses) já vi a atriz Ruth de Souza morrer, no mínimo, cinco vezes. Naná Vasconcelos também. E Umberto Eco, idem. Todos mortos com seus respectivos admiradores lamentando a perda mais e mais e mais uma vez. Até meu aniversário tem durado o que convencionamos chamar uma semana, com congratulações afetivas recorrentes. Agradeço, mas sei bem que todos nós estamos aniversariando a qualquer instante.
    Esse mito de Sísifo pode ser fruto do mundo capitalista e seu quintal: a Modernidade. Walter Benjamin deu a dica: um tempo vazio de experiências. Um tempo vazio de experiências. Um tempo vazio de experiências. De tão vazio, ribombando infinitamente. Aliás, ribombar é palavra tão antiga que agora retorna porque sabe que ainda é época dela. Sabe que essa espécie de feriado sem comemoração é um perene presente. Um presente sem nenhuma surpresa.
    Se o ofício do cronista é lidar com o dia a dia, como fica quando Cronos está sem fome e a horta das horas virou gramado? É como dizia Clarice Lispector ou qualquer mensagem recorrente das redes sociais: a história se repete como farsa. Depois como tragédia. E, finalmente, como GIF.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Ser negra no UK

No mês de junho, o mundo assistiu um triste caso de abuso, violência e racismo que gerou uma mega campanha nas redes socias: black lives matter. Saiba mais aqui: https://blacklivesmatter.com/ (site em inglês).

Infelizmente, o racismo ainda é muito presente no nosso dia a dia. Na maioria das vezes de maneira mais sútil e disfarçada, outras vezes de maneira mais grosseira e cruel.

Então, eu pensei em contar para vocês um pouco da minha percepção sobre o racismo no UK, com base no que observei durante os 12 meses que morei lá. 

Primeiro, percebi que em Manchester tem gente de todos os lugares do mundo, uma diversidade de grupos e raças enorme! Embora todos esses povos e raças convivam na mesma cidade, os grupos étnicos e raciais andam, vivem, moram bem segregados: europeus costumam andar com europeus, africanos com africanos, chineses com chineses, árabes com árabes e assim por diante. Inclusive os bairros são diferentes. Tem bairro de negro, bairro de árabe, bairro de inglês. Eu acredito que exista um componente sutil de racismo aí, mas o principal motivo para isso deve ser identificação cultural mesmo. Pelo menos essa foi a minha impressão.

Segundo, essa segregação de raças no UK faz com que algumas misturas sejam raras. Veja o meu caso, por exemplo. Eu sou uma mistura de várias coisas (nem sei bem quais) e, embora tenha a pele mais clara, tenho traços negros bem marcantes. Então, eu era muito diferente de tudo na Inglaterra porque lá você dificilmente encontra alguém de pele clara com traços negros. O negro costuma ter a pele bem escura, o branco costuma ser completamente branco, sem misturas. As pessoas lá me olhavam com curiosidade, querendo entender o que eu era, de onde eu era. Esse olhar curioso se assemelhava muito ao nosso olhar quando vemos um gringo andando no Brasil. Eu achava engraçado. Nunca me senti hostilizada em situações como essas.

Terceiro, os negros (a maioria africanos) que conheci no UK se ofendiam quando eu dizia que era negra. Para eles, eu não era negra de verdade, já que a minha pele é clara. Por outro lado, os brancos (geralmente europeus), diziam que eu era negra. 

Eu diria que ao longo de 12 meses, vivi algumas situações bem pontuais que de alguma forma se relacionaram com racismo:

1) Eu morava na casa de uma australiana e do filho dela de 5 anos. Eu fazia parte da rotina da casa, fazia as refeições com eles, conversava, saia junto e etc. Às vezes, eu ia buscar o menino da escola. Um dia, ele chegou da escola me chamando de Jackie Black. Eu estava de calça preta nesse dia e, sinceramente, eu realmente achei que ele estava se referindo à minha calça, não me ofendi. Entretanto, a minha host e mãe do menino, ficou muito constrangida, deu várias broncas no menino e disse que ele nunca mais poderia me chamar de "black". O comportamento dela me gerou mais desconforto do que o comportamento do menino em si. Mas depois conversamos e ficou tudo bem. Nunca mais fui chamada de black naquela casa.

2) Um dia eu estava num pub com um grupo enorme de pessoas e eu circulava entre todas elas, conversando sem parar. Em algum momento parei do lado de um menino negro do Zimbabue e começamos a conversar. Ele perguntou se eu tinha namorado, e depois que eu disse que não, ele perguntou o que eu tinha feito para que o meu namorado me deixasse. Detalhe, eu nunca mencionei que um suposto ex namorado tinha terminado comigo. Daí eu perguntei porque ele achava que eu tinha sido "deixada" e ele me disse que eu era "too open" (muito dada, a melhor tradução que pude encontrar). Nesse caso, acho que foi mais um sexismo do que um racismo. 

3) Outra vez num pub, um inglês me disse: sabia que você é a única negra nesse pub? Ele não foi hostil, mas tinha um tom enorme de racismo na fala dele. Isso foi dito depois que eu recusei uma bebida. 

4) O pior caso de racismo veio de uma mulher negra! Até hoje não acredito. Eu estava num treino de handebol com outro time (tipo um amistoso). No time adversário tinha um menina negra. Eu fiz um arremesso e perdi o gol. Essa menina negra do outro time comentou "she´s not black enough" (ela não é negra o suficiente), como se a cor da minha pele definisse a minha competência em jogar handebol. Para piorar, ela fez esse comentário ridículo para uma mulher branca! Enfim. No próximo arremesso, eu acertei. Daí voltei para ela e disse: não preciso ser negra.

E você, já passou por algum caso de racismo, sexismo, ou qualquer outra discriminação? Como você lidou com isso?

Abraços e até a próxima.


terça-feira, 14 de julho de 2020

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ali frágil
um pássaro ferido
não
um pássaro se desfazendo
as delicadas juntas se separando
peça a peça
osso a osso
pássaro que se desmonta


construir talvez uma casca de ovo
no entorno
para proteção
mas nenhum humano pode
construir cascas de ovo
tudo que um humano pode
com cascas de ovo
é quebrá-las




.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

9 trocas sustentáveis

No mês passado, concluí um curso de extensão sobre Saúde Planetária. O curso me possibilitou ter conhecimento teórico de como as alterações no mundo natural causadas pelas atividades humanas estão mudando a terra, a atmosfera e os oceanos, e como estas mudanças acabam afetando significativamente a nossa saúde.
É um tópico urgente, que busca tratar a questão da sustentabilidade e da vida humana no planeta sob ótica cada vez mais integrativa, transdisciplinar e global.
Hoje quero comentar alguns aspectos, no âmbito individual, que tenho empregado em busca de gerar menor impacto ambiental e que me levaram a fazer o curso. Aproveito também para divulgar o "julho sem plástico", movimento para aumentar nossa conscientização sobre o problema do plástico (sobretudo o descartável), e colocar a mão na massa.
Assim, apresento a vocês nove trocas sustentáveis que fiz nos últimos anos. 

1) Absorvente descartável por coletor menstrual

Já começo com algo "polêmico". Mas a verdade é que, antes de recusar as sacolas plásticas no supermercado e de andar com minha caneca de fibra de coco na bolsa, já ouvia falar dos tantos benefícios de deixar os absorventes descartáveis pra lá e testar o famoso "copinho". Foi uma das melhores decisões da minha vida, e sempre que tenho a oportunidade incentivo as amigas a fazerem essa troca. Além de deixar de gerar todo esse lixo (que não é nem reciclável nem compostável), o coletor menstrual é muito mais confortável e econômico que os absorventes descartáveis, e me propiciou um conhecimento mais íntimo do meu corpo e minha menstruação.

2) Copos descartáveis por canecas reutilizáveis

Acredito que seja uma das primeiras coisas que pensamos quando o assunto é gerar menos lixo. Em casa uso copo de vidro, minha caneca favorita ou minha garrafa de inox. Quando saía (em uma saudosa época pré pandêmica), levava a garrafa de inox ou, quando queria levar algo menor e mais leve, uma caneca de fibra de coco.

3) Sacolas descartáveis por sacolas ecológicas reutilizáveis

Levo sacolas ecológicas sempre que vou ao mercado, feira ou comprar qualquer outra coisa. Apesar de ser poética a cena da sacola plástica dançando ao sabor do vento, no filme "Beleza Americana", as sacolas plásticas podem causar entupimentos nas passagens de água nos bueiros e córregos, contribuindo com a retenção de lixo e inundações. Também são responsáveis pela poluição dos mares e rios, e demoram cerca de 200 anos para se degradarem na natureza.

4) Filtro de papel por filtro de algodão para coar café

Diferente dos plásticos, o filtro de papel é compostável, então seu descarte não é um problema, por assim dizer, mas o quantos recursos são utilizados em sua produção e distribuição? E as embalagens? Quantos filtros de papel uma pessoa que toma café todo dia vai usar em um ano? O de pano é um só e dura até mais que isso. 
E nem entrarei no mérito de discutir as famigeradas cápsulas, dessas eu me recuso a falar! rs

5) Água engarrafada por água da torneira

A água da torneira é tratada e tão potável quanto a água engarrafada. E sem gerar lixo algum. Há também a opção de tomar água filtrada, para os mais desconfiados.

6) Amaciante de roupas por vinagre de álcool

Vi na internet a dica de usar vinagre na lavagem de toalhas, e hoje uso em todas as lavagens. Por mais que pareça que vai ficar com cheiro de vinagre, não fica. As roupas ficam limpas, macias e cheirosas. Deixa as roupas brancas mais claras, é biodegradável e atóxico.

7) Desperdício de alimentos por planejamento e aproveitamento integral dos alimentos

O planejamento é uma parte chatinha, mas é só não comprar mais do que precisa, congelar o que sobrar e utilizar as cascas, talos e raízes para fazer caldos. Eu congelo os caldos em forminhas de gelo, e quando vou cozinhar só acrescento os cubinhos de caldo de legumes (substituo aqueles ultraprocessados cheios de sódio e ingredientes cancerígenos).

8) Esponja de lavar louça por bucha vegetal 

Uma troca que penso no porquê demorei tanto para fazer... tão simples! Você já leu a embalagem da esponja de lavar louças, para saber do que é feita? Basicamente uma mistura de plásticos cuja reciclagem é muito difícil e pouco viável economicamente.  A bucha vegetal é uma planta. Vende na feira. O vendedor até me deu umas sementes, que plantei e as ramas já estão se espalhando pelo quintal.

9) Contas via correios por verões digitais

Por último, algo extremamente fácil, que nem tinha me atinado para esta troca. Apesar de já receber a maioria das minhas contas por e-mail, só solicitei no mês passado o recebimento da conta de luz pela internet. Infelizmente recebemos contas todos os meses, então pense na quantidade de lixo que deixa de ser gerada com uma troca tão banal.

* Bônus: Canudo de plástico por... Não usar canudo

Pra quê comprar canudo de bambu ou de inox, se eu posso encostar minha boca no copo e beber? Salvo casos de pessoas com limitações físicas ou neurológicas, acho o canudo totalmente dispensável.

E sempre dá para ir além

Quando se começa a pensar em sustentabilidade, é um mundo de trocas possíveis! Ainda quero fazer compostagem doméstica, produzir produtos de limpeza naturais e reduzir cada vez mais o consumo de carne, fazer uma hortinha... Este mês iniciei um curso de sustentabilidade em casa com a intenção de ter um estímulo para aplicar novas mudanças em minhas práticas diárias e aprender mais sobre o tema.

Agora eu gostaria de saber de você 

Já fez alguma dessas trocas? Fez alguma que não está listada? Qual vai fazer primeiro? Já tinha ouvido falar em Saúde Planetária?
Claro que não se trata de uma competição, mas de cada um fazendo o que é possível e praticável, dentro de sua realidade, visando um objetivo comum.

Vamos trocar!


Carolina feliz com sua bucha

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Utopías de la cuarentena



(Utopías de la cuarentena)
En el bar
/Tomaba una cerveza en la barra con mis amigas. Un hermoso muchacho se acercó a mí. Lo sentía raro, sudoroso, nervioso…estuvo un rato así hasta que me habló “Hola, te vi en una fiesta el otro día…quería hablar con vos….me tengo que ir…”
¿?
El escrito
Se fue…un momento después se acerca un amigo de él a darme un escrito de él… escribía bien, me parecía entre interesante y extraño... le doy al amigo un papel con mi nro de teléfono para que le acerque…y le dije “que me escriba cuando quiera y tomamos algo”.

El final sin final.
No me escribió. A un año de este episodio, llegué a dos posibles conclusiones:
1- El amigo perdió el papel con mi nro. y el muchacho nunca se enteró de que podía contactarme.
2- El muchacho se dio cuenta de que un amor imposible se volvió posible y se aburrió.
Yo tampoco le hablé de nuevo. También pensé que si lo conocía, se iba a perder la magia que tienen los amores imposibles. Y eso que hoy existe internet. /

Laura Paez

terça-feira, 7 de julho de 2020

La sociedad será mejor en la medida que yo sea mejor



La sociedad será mejor en la medida que yo sea mejor

Hace aproximadamente 2551 años nacía el filósofo y político Confucio en China. Este ejemplar ser humano dedicó su vida a reflexionar sobre la justicia, sobre cómo ser una persona justa y cómo lograr una sociedad justa.

Es llamativa la coincidencia entre las enseñanzas de este filósofo chino y las de Platón en Grecia, sobretodo aquellas relatadas en el diálogo La República. Para ambos personajes, que velaron por encontrar la forma de llevar adelante ciudades arquetípicas o ideales, la clave estaba en cada uno de los seres humanos. Si una ciudad es el conjunto de mujeres y hombres, es lógico pensar que cada sociedad va a tener las características de aquellos que la conforman.

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Así como una pintura será armónica en la medida de que cada uno de los colores sea bello; que los trazos sean estéticos; que la relación entre los colores y las texturas sea equilibrada, lo mismo con las ciudades. Una ciudad sería ordenada, bella y justa, mientras cada uno de sus habitantes también lo fueran. Y ser ordenado no es ser estructurado; ser bello no es estar a la última moda o responder a los cánones de cada país y de cada tiempo; ser justo no es ser moralista.

Para ambos filósofos, la política y la ética estaban estrechamente relacionadas. La ética era encontrar la conducta justa en uno mismo, mientras la política consistía en plasmar la justicia a nivel social. Y para Platón no había persona más cobarde que aquel que sabía que era lo justo no lo hacía. Esta misma frase fue atribuida a Confucio.


El problema es que, en nuestra pérdida global de ideales, de principios y de fines, también olvidamos qué es ser justos. ¿Cómo aprender sobre la justicia, la ética y la coherencia? Para Confucio y para Platón la educación era el único modo de lograrlo. La educación y la voluntad de uno mismo en poner en práctica lo aprendido. Una educación basada en los valores humanos y en las virtudes; una educación que tomara a la naturaleza como máximo ejemplo a seguir y a las generaciones que nos contiúan, como aquellos en quien depositar el ejemplo.

La política, tan vapuleada al día de hoy, destrozada por políticos que más se asemejan a animales que a seres humanos, era el eje para alcanzar la concordia entre mujeres y hombres. Esta disciplina iba a ser el arte y la ciencia de guiar a los seres humanos. ¿Pero guiarlos a dónde? A que cada uno lograra dar lo mejor de sí mismo en pos de la convivencia.

Podríamos plantear numerosas definiciones sobre la ética y la conducta moral de los seres humanos, pero una característica que probablemente sea común a todas las definiciones, es que la ética viene de la mano de la coherenciaLa coherencia entre pensamientos, sentimientos y acciones es fundamental para considerar que uno es ético.

Pero con esto no es suficiente, ya que uno podría ser un estafador. Supongamos que pensamos muy bien la estafa; regulamos nuestras emociones para poner “cara de póker” mientras la realizamos y finalmente concretamos la estafa. Nos sentimos George Clooney en “Ocean’s Eleven”, pero aquí estaríamos siendo coherentes y no éticos.

George Clooney SLAMS Ocean's Eleven – 'Have you ever seen it ...

La ética además debe surgir desde los valores humanos, aquellos que se encuentran en el fondo de nuestras personalidades y que nos unen como personas. Estos valores como la honestidad, la valentía, la humildad, la perseverancia, la constancia, la paciencia y así podríamos seguir por largo rato, son tan válidos hoy como lo fueron hace 2500 años como lo serán dentro de 2500 años.

Por mas que los tiempos, las sociedades y las modas cambien, los valores humanos seguirán presentes en el interior del ser humano. Y unir nuestros pensamientos, nuestras emociones y nuestras acciones a estos valores, nos convertirá en seres humanos capaces de llevar adelante una ciudad ideal.



Mientras buscar la armonía en la sociedad sea nuestro centro y sea más importante que los deseos egoístas de cada uno, más cerca estaremos de lograr sociedades justas. Mientras cada uno de nosotros sea mejores, mejores serán nuestras ciudades. Recordamos una vez más a Confucio cuando decía que: “Una sociedad será mejor en la medida que cada uno de sus individuos sea mejor”.

Franco P. Soffietti


domingo, 5 de julho de 2020

Dia 108


já estou familiarizado com cada cômodo da casa
sei onde a poeira deita e dorme sorrateira
o horário em que o sol fica mais forte quando invade a sala e esquenta minha perna esquerda
o lugar preferido das gatas nas manhãs, tardes, noites e madrugadas
os livros pela metade
os livros que não param de chegar
os livros pedindo resgate para serem lidos
as máscaras amontoadas na estante
como acordam os travesseiros, os vincos do lençol
as embalagens de xampu disputando espaço no box
as infiltrações (não só das paredes)
os panos de chão abandonados no tanque
a roupa suja empilhada no cesto
o pão dormido em cima da geladeira criando bolor
as bandejas de gelo fazendo iglu no congelador
as plantas crescendo em direção ao elevador
nossos chinelos do lado de fora sentindo-se em casa, mas lembrando-se que não estão

01/07/20

sábado, 4 de julho de 2020

Black lives matter?

Desculpa Guilherme
esses caras vivem.
Cães de burguês
Eles não nos ouvem.

Um ledo engano
Militares armados? 
Num carro, outro preto 
Entrando nos dados. 

Dois tiros na mão
Outro tiro na cara.
O coração da tua mãe 
Enterrado na vala.

Difícil como a vida 
Escorrendo pelo esgoto.
Jovem cheio de sonhos 
Queria ser piloto.

Mas morremos juntos
E a cidade cala.
Chuva, frio, soluço
Bomba, tiro e bala. 

Não é covid,
Ninguém mais fala. 



quinta-feira, 2 de julho de 2020

Sobre poder de escolha e além

Dia desses ouvi a frase: “Toda crise tem uma oportunidade”. Gosto desse pensamento.

Eu partilho dessa visão e no caminho do autoconhecimento eu consegui despertar para a consciência do meu poder de escolha. Principalmente quando diz respeito sobre onde coloco a minha atenção.

E especialmente nesse momento que estamos vivendo, já ouvi coisas do tipo “você não quer enxergar a realidade!”. Mas aí eu pergunto: que realidade? Realidade pra quem?

Não penso que todos vejam a “realidade” da mesma forma. Acredito que cada um enxerga o mundo de forma beeem diferente... Ainda que a gente compartilhe mesmos pontos de vista e paradigmas.

Então hoje eu quero compartilhar essa reflexão (sem julgamento do que é certo e errado): Você tem exercido seu poder de escolha de uma forma que te nutre, te abre possibilidades e te faz bem?

Sinto que é uma reflexão muito importante, porque estamos escolhendo o tempo todo. Até não escolher, é uma escolha. E o ponto chave que eu vejo é se a escolha vem de um lugar consciente, se estamos presentes quando escolhemos, ou se ela é feita pelo piloto automático.

Porque se não estamos escolhendo conscientemente, nossos condicionamentos estão escolhendo por nós e criando a tal “realidade”.

Por outro lado, se escolhemos conscientemente, nossa vida é mais autentica e verdadeira pra nós.

É verdade que estar consciente das suas escolhas pode envolver outros sentimentos, como se sentir vulnerável, ter medo de não agradar e por aí vai. Porém eu percebo que os ganhos são maiores, porque inclusive quando escolhemos o que é verdadeiro pra nós, também nos abrimos para aceitar o que é verdadeiro para o outro.

Então concluo que o poder de escolha tem a ver também com aceitar que o outro pode fazer uma escolha diferente da sua, por mais desafiadora que essa escolha seja pra nós. E quando conseguirmos nos relacionar dessa forma no mundo, viveremos a real diversidade que tanto falamos (que na minha visão está mais na teoria do que na prática).

Nesse momento eu começaria a refletir sobre pertencimento e zona de conforto... mas essa conversa vai longe. Quem sabe num outro mês.

Bom mês de Julho pra todx! =)

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Deus não dá asas a burro


O mundo não dá voltas, ele capota.


Se antes ter um passaporte brasileiro representava alguma vantagem, permitindo que seus portadores pudessem visitar determinados países sem a necessidade de visto, na situação atual… bem, ele não vai te levar muito longe.

Nos últimos meses vimos o mundo inteiro enfrentar uma situação sem precedentes recentes, uma pandemia letal que ceifou a vida de milhares de pessoas. 

Alguns países rapidamente perceberam a seriedade da situação e junto aos esforços da OMS estabeleceram um ‘lockdown’ para resguardar sua população e enfrentar o corona.

Infelizmente, nem todos os países tem o privilégio de ter um asno no poder, e enquanto outros presidentes tentavam combater o vírus, o nosso viu no corona a chance de resolver de uma vez por toda todos os seus problemas, afinal, como o excelentíssimo Rei do Gado já tinha dito “tem que morrer uns 30 mil” para resolver os problemas do Brasil, e a pandemia era o momento perfeito para colocar o plano em prática.

E olha como deu certo! além de atingirem a meta, dobraram a meta e hoje 60 mil mortes já somam na conta do governo. E crescendo.

E apesar de tantas mortes, um fenômeno engraçado acontece: Os burros continuam se multiplicando!
E com o discurso de “É só uma gripezinha” todo o gado decidiu ir pastar. Pastar na praia, pastar nos parques, pastar e se multiplicar. O famoso efeito manada nunca fez tanto sentido, juro!

Alguns países como a Itália, que permitiram essa situação, viram seus números de casos e de óbitos dispararem exponencialmente em pouquíssimo tempo, mostrando que levar isso tudo de maneira leviana não era uma boa estratégia. 

Mas burros falam com a gente? Não! Eles entendem dados e fontes confiáveis? também não. Esses animais têm uma forma de comunicação muito específica e limitada: Só obedecem mensagens do Whats App E com vários emojis nela. Então o recado teve que ser mais direto.

Em propriedades rurais é comum o uso de  Mata-burros, dispositivos que impedem a fuga do gado mesmo quando a porteira está aberta. São uma espécie de grade onde os animais não conseguem andar devido aos seus cascos, e caso tentem, ficam presos. Agora imagine isso em escala global? E os brasileiros sendo os burros.

Essa foi a forma que os outros países conseguiram para se defender de pessoas que possivelmente poderiam ser novos vetores da doença, afinal, os casos de COVID-19 é o que mais cresce no Brasil, seguido pelas desigualdades sociais e fanatismo religioso. E ninguém em sã consciência gostaria de ter qualquer um desses itens no seu país.


A Europa já proibiu a entrada de brasileiros em seu território e é uma questão de tempo até os demais seguirem o exemplo. Como dizia o ditado, com a devida licença poética, "Deus não da asas a burro", e essa pandemia escancarou o motivo disso pro mundo inteiro.

Ah! E se antes você reclamava que empregadas domésticas estavam indo pra Disney, e viajando demais, parabéns pela atitude! Agora ninguém mais vai viajar, inclusive você.

Agradecimentos a Alexei Kain pelo debate sobre o tema