segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Dia de finados

Diferente do que pode-se supor, o dia de finados não me remete à tristeza, ou sofrimento. Pelo contrário, tenho memórias afetivas muito alegres com o dia de finados.

Mas antes de falar do dia de finados estabelecido no Brasil em 2 de novembro, quero falar sobre a ideia de um dia específico para prestar homenagem aos mortos. 
A parte japonesa da minha família tem influência budista e comemora o dia de finados em outra data, 14 de julho, conhecido por Obon¹. E utilizei o termo "comemora" de propósito, porque é isso mesmo, uma festa! Muita comida gostosa, reunião de todos os parentes, conversas alegres e abraços carinhosos. É isso que me vem à cabeça quando penso em Obon, além dos rituais de acender senkô, oferecer comida e rezar para os antepassados. 
Esta vivência me mostrou uma forma diferente -mais alegre- de lidar com a morte e com os mortos.

Mesmo do lado brasileiro, o dia de finados era divertido. Isso porque minha avó materna mora bem perto de um grande cemitério da Z/L de São Paulo, e, antigamente, a rua de sua casa, assim como um trecho da avenida do cemitério, ficavam fechadas para carros, e abertas para pedestres. Ambas as vias são muitíssimo movimentadas, com trânsito de ônibus, inclusive, mas, ao menos uma vez por ano -no dia de finados- podíamos brincar livremente, sem risco de atropelamento, tão temido por minha avó.
Em minhas memórias, era um cenário quase idílico. Sol, alegria, barracas e vendedores ambulantes de flores, de pintinhos coloridos², brinquedos e muitos cacarecos. Gostava de brincar com as outras crianças de pega-pega, rouba bandeira e descer a rua de patins ou em carrinho de rolimã emprestado. E isso só era possível no dia de finados, quando a rua ficava colorida e ironicamente aberta para a vida. Essas pessoas estava indo ao cemitério visitar os túmulos de pessoas queridas que se foram, mas não me lembro de ver ninguém chorando. 
As crianças têm um mundo particular, e nesse mundo, o dia de finados era de brincadeiras e alegrias.

O tempo passou, eu cresci, e as ruas não são mais restritas aos carros no dia de finados. No entanto, surgiu um novo motivo para eu amar esse dia, o nascimento do meu sobrinho! Continuamos comemorando a vida em dois de novembro!!!  

E você, que lembranças tem do dia de finados? Você ou sua família homenageia os falecidos? De que forma?










1- Obon é uma tradição budista para consagrar os antepassados. O festival Obon é o segundo maior feriado japonês e pode durar 3 dias ou mais, variando em cada região. Nesta época (em julho, no calendário antigo ou agosto, no calendário atual) os espíritos dos ancestrais retornam ao mundo para visitar suas famílias, e os japoneses os recebem acendendo insensos (senkô) e rezando em altares domésticos (hotokesama).

2- Quando criança eu não tinha consciência, mas esses pintinhos coloridos vendidos em feiras sofriam maus tratos, inclusive intoxicação pelas tintas spray utilizadas para deixá-los mais atrativos, e por isso muitos morriam poucos dias após serem comprados. Além de toda questão ética por trás disso, hoje essa prática configura crime de maus-tratos, previsto no artigo 32 da Lei 9.605 de 1998, com pena de 3 meses a 1 ano. 

2 comentários:

  1. Eu me lembro de que irmos ao cemitério onde meu avô paterno foi enterrado. Na volta para cara, tinha que tirar toda a roupa, tomar banho de cabeça e tudo par tirar a contaminação rsrs

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    1. Nossa, sim! Sempre tem a tal limpeza após retornar do cemitério. No meu caso bastava jogar um punhado de sal para trás antes de entrar. Seu caso era mais hard core, pelo visto, rs.

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